sexta-feira, 12 de março de 2021

O VÍNCULO MATERIAL POR ONDE LÚCIFER PRETENDE REGER OS HOMENS

 


            1)    Como os demônios são puros espíritos, necessitam de vínculos materiais para usar sua influência sobre os homens, assim como precisam também dos homens para externar em atos seu ódio contra Deus; não teria havido o pecado original nem a morte de Cristo na Cruz sem a participação dos homens, assim como os atos cometidos contra a Sagrada Eucaristia e outras profanações;

2)    Este vínculo material poderá ser útil para: a) reger os homens: b) instaurar seu corpo místico; c) implantar seu reino entre nós.

3)    Este vínculo material poderia ser o quê? Assim como os mandingueiros e feiticeiros usam de patuás, objetos enfeitiçados e outros recursos para atingir seus objetivos, da mesma forma os demônios usam de vínculos materiais para usar suas influências, e tais vínculos vão desde os simples objetos de uso pessoal dos homens como até mesmo árvores ou acidente geográficos (como vulcões ou crateras). A partir dali eles comandam o exército satânico que age sobre toda a terra, mas o principal vínculo é mesmo o próprio homem.

 

A Doutrina Católica sobre o inferno

“Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos: “Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele”  (I Jo 3, 14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao encontro das necessidades graves dos pobres e dos pequenos que são seus irmãos. Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este o estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os Bem-aventurados que se designa com a palavra “inferno”.

“Jesus fala muitas vezes da “Geena”, do “fogo que não se apaga”, reservado aos que recusam até o fim de sua vida crer e converter-se, e no qual se pode perder ao mesmo tempo a alma e o corpo.  Jesus anuncia em termos graves que “enviará seus anjos, e eles erradicarão de seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade, e os lançarão na fornalha ardente” (Mt 13, 41-42), e que pronunciará a condenação: “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno!” (Mt 25, 41).

“O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos que morreram em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, “o fogo eterno”.  A pena principal do Inferno consiste na separação eterna de Deus, o Único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira”[1].

O inferno é denominado com vários nomes na Sagrada Escritura. Assim, o  Profeta Isaías o chama de "Tofet"  nesta passagem: "Praeparata est enim ab hero Thopheth, a rege praeparata, profunda, et dilatata. Nutrimentum  eius, ignis et ligna multa: flatus Domini sicut terrens sulphuris succedens eam"  - Desde muito tempo, Tofet[2] tem sido preparada por seu dono, pelo rei foi preparada, profunda e larga. Seu alimento é o fogo e muita lenha; o sopro do Senhor, como uma torrente de enxofre, a mantém acesa. (Isaías 30, 33).  "Sheol" era outro termo usado no Antigo Testamento, que queria dizer inferno, mas no sentido apenas de "mansão dos mortos", sem indicar que se referia ao lugar dos suplícios eternos. No entanto, já no Deuteronômio, o termo habitação dos mortos era tido como lugar de suplício, como se vê nesta frase:  Um fogo se acendeu no meu furor, e arderá até ao fundo da habitação dos mortos, devorará a terra com todos os seus germes e abrasará os fundamentos das montanhas. (Deut. 32, 22). 

Foi no Novo Testamento que surgiu o termo "geena", palavra hebraica originada da fusão das expressões "ge-hinnon", isto é, vale de Hinnon. Era um lugar considerado maldito pelos hebreus por causa do sacrifício que se faziam das crianças ao ídolo Moloch . O santo rei Josias, na restauração que fez de Israel destruiu o templo de Moloch e transformou o lugar em depósito de lixo (II Reis 23, 10).  Por motivos higiênicos mantinham ali um fogo constantemente aceso. Com o tempo, a palavra "geena"  passou a ser utilizada como símbolo da maldição e Jesus usou-a para designar o próprio inferno.

Segundo a Doutrina Católica, há dois tipos de penas principais que sofrem os condenados no inferno: a pena do dano (ou da privação) e a  pena do sentido (suplício dos sentidos). À primeira corresponde o afastamento voluntário de Deus, que é a essência do castigo infernal, consistindo em ver-se a alma privada da visão beatífica de Deus. Segundo São Tomás de Aquino “A inveja de ver uma criatura feita de barro ocupar o seu lugar, faz sofrer mais o demônio que as chamas do inferno”, quer dizer, neles a pena do dano é maior por causa do Sumo Bem que perderam, tendo em troca apenas ódio e inveja. À pena dos sentidos (não sofrida pelos anjos maus, mas pelos réprobos) consiste nos tormentos causados externamente por meios sensíveis, que a Escritura chama de o “fogo eterno”, quando todos os sentidos são privados de sua função. São as penas corporais. Ao sentido da visão é concedida uma tremenda escuridão; ao da audição, alaridos, gritos estridentes, ranger de dentes. etc.; ao olfato, o cheiro nauseante do enxofre e de outras substâncias sufocantes;  ao paladar, é concedido o saboreamento de substâncias ácidas, azedas, tórridas, etc. E assim, a cada sentido, o réprobo terá uma correspondente substância que o sufoca e suplicia. E isto para sempre, eternamente...

Santa Francisca Romana, que foi privilegiada pelas constantes visões de Anjos, teve também uma visão do inferno. Mas o Arcanjo Rafael esteve sempre ao seu lado para explicar os mistérios da morada infernal. Na entrada, Santa Francisca viu escritas estas palavras: “É aqui o lugar infernal, sem esperança nem intervalo, onde não há nenhum repouso”. Em poucas palavras está dito que o inferno é “um lugar”, quer dizer, não é uma coisa simbólica ou fruto de imaginação mas “um lugar”, algo real e não fictício, onde não há nenhuma esperança porque o destino ali é eterno, sem intervalo porque as coisas se sucedem continuamente sem parar e sem repouso porque lá se sofre todos os males sem nenhum alívio.

Também no inferno há uma certa divisão, como se fosse uma “hierarquia”. Está ele dividido por três espaços.  No inferior, ou no fundo do inferno, encontram-se os piores demônios. Aqueles que foram criados por Deus como Serafins, Querubins e Tronos antes da queda. No espaço superior a estes estão os demônios que eram Dominações, Potestades e Principados, e no de cima encontram-se os demônios que eram simplesmente Virtudes, Arcanjos e Anjos.

Lúcifer, que é o chefe supremo dos demônios, antes da queda era um Serafim. Imediatamente subordinados a ele encontram-se os três maiores príncipes infernais. Em ordem decrescente de maldade, temos primeiramente o demônio chamado Asmodeu, promotor do vício da carne, que era um Querubim. Em seguida vem Mamon, o demônio da avareza, que tinha sido um Trono antes da queda no inferno. Finalmente, temos Belzebu, que promove a idolatria, sortilégios e encantamentos, e antes da queda era uma Virtude.

O domínio de Lúcifer é de terror e de ódio. Ele tem poder absoluto sobre todos os demônios, mesmo os de escalas intermediárias. Sua cabeça toca a parte superior do inferno, e seus pés vão até às últimas profundezas, estando ele assim presente em todas as três divisões infernais.  

Nem todos os demônios estão no inferno. Segundo foi revelado a Santa Francisca Romana, um terço deles não sai dos abismos infernais senão com permissão especial de Deus, quando às vezes cumprem desígnios divinos castigando a humanidade.  Os dois terços restantes estão espalhados pelos ares e sobre a terra onde, contudo, sofrem as dores do inferno.  Segundo a Santa, os demônios dos ares desencadeiam saraivas, tempestades e outros fenômenos atmosféricos com o objetivo de enfraquecer as almas, especialmente aquelas apegadas aos vícios. São Tomás de Aquino diz que referidos demônios serão finalmente precipitados no inferno juntamente com os réprobos após o Juízo Final.

Quando alguém peca, mesmo sem que tenha havido tentação diabólica mas apenas um impulso das más inclinações, um demônio pode ser solto das masmorras infernais. Isto não quer dizer que ele saia literalmente do inferno, mas apenas que passará a agir e influir entre os homens, a começar daquele que pecou. Assim, quanto mais os homens ofendem a Deus com seus pecados, seja por tentação ou não, mais demônios “saem” do inferno e passam a nos tentar ou tentar nos reger. De outra parte, os chamados “demônios dos ares”  crescem em poder para agir sobre a matéria.

Deste modo, quando uma pessoa comete um pecado mortal o demônio passa a exercer grande poder sobre ela, pois o pecado afasta Deus da alma daquela pessoa. Não é somente no momento de pecar que ele está como que na posse daquela pessoa, mas todo o tempo em que durar o pecado sem que ela o confesse e obtenha a absolvição do Sacerdote. Da mesma forma, quando toda uma sociedade ou nação comete determinados pecados faz aumentar o poder dos demônios sobre ela, perdurando tal poder até o momento em que tais pecados forem reparados perante Deus. É por isso que o espiritismo, a umbanda, a magia negra, a cabala e tantas formas de bruxedos podem surtir certos efeitos no mundo de hoje, porque as almas, cheias de pecados, estão sujeitas às influências mefistofélicas. Se todos, ou a grande maioria, vivesse em estado de graça, estas coisas nunca teriam eficácia entre os cristãos. O poder do demônio reside, pois, no fato de estarmos afastados de Deus, de Sua Igreja e de Seus Sacramentos.

Ninguém deve se impressionar com este poder, pois Deus coloca à disposição do homem os recursos com que ele poderá derrotar tal inimigo. Através das orações, de um sincero arrependimento e confissão de seus pecados, comunhão, etc., a pessoa pode se reconciliar com Deus, introduzir novamente Nosso Senhor Jesus Cristo em seu coração e, com o auxílio da Graça divina e do Anjo da Guarda, perseverar sem pecados e manter-se puro até à morte. Da mesma forma, qualquer povo ou nação que tenha cometido vários pecados e estiver sob influência do poder diabólico pode livrar-se dele fazendo penitências e desagravos coletivos a Deus. Foi para isto que Nossa Senhora apareceu em Fátima e pediu a todos que rezassem e fizessem penitências.  Penitência! É este o maior pedido que Nossa Senhora fez em Fátima.

 

Onde fica o inferno e a razão de suas penas na visão de São Boaventura

Muitos indagam sobre a localização tanto do inferno quanto do purgatório e do Paraíso celeste. Embora seja um assunto de pouca importância, alguns teólogos dignos de crédito, como São Boaventura, falam principalmente sobre a localização do inferno. Trata-se, como se vê abaixo, de um lugar material determinado e não apenas uma situação espiritual de aflição e ausência de Deus como muita gente imagina:

"Com relação à pena infernal há de saber isto: a pena infernal se verifica num lugar material situado debaixo da terra, no qual serão atormentados eternamente todos os réprobos, tanto homens como espíritos malignos.  E serão atormentados por um mesmo fogo material, que abrasará e afligirá espíritos e corpos – sem consumir, contudo, os corpos, apesar de os atormentar sempre – a uns mais, a outros menos, conforme o tenham merecido. E com este tormento do fogo terão também seu tormento todos os demais sentidos, e se acrescentará a pena do verme e a privação da vista de Deus, de maneira que nessas penas haverá variedade, e junto com a variedade haverá acerbidade, e junto com a acerbidade haverá interminabilidade, a fim de que se verifique para suplício dos réprobos, que “o fumo dos tormentos deles subirá pelos séculos dos séculos”.[3]

 

O templo do demônio

O poder do corpo místico de Satanás está, desta forma, baseado em diversos “templos” (corpos humanos), isto é, pessoas humanas que o acolheu em suas entranhas com a prática de atos abomináveis contra Deus e a Ordem do Universo. E quando tais atos se tornam público, sem que haja uma reação contrária dos verdadeiros filhos de Deus, o poder do corpo místico de satanás aumenta entre os homens.

Não se fala abertamente num templo ou construção destinada ao culto de satanás. Nunca se falou senão de templos dedicados aos ídolos, que eram demônios que se faziam ser adorados como entidades sobre-humanas. Somente a partir do império da Revolução se passou a falar em seita diabólica e templos satânicos, alguns existentes no mundo atual.

Com relação ao interior da alma humana, porém, o templo de satanás sempre existiu e lá predominou em algumas pessoas. Desde que a pessoa faça de seu corpo e de sua alma instrumentos dos desígnios de satanás, estará “ipso facto”  construindo seu templo interior. E isto pode ocorrer quando a pessoa atenta contra a glória de Deus, se revolta contra a Ordem do Universo e rejeita o Reino de Deus.

Existem outros que vão mais longe e se entregam a satanás para conseguir fama e poder, fazendo-se instrumento para dar ao príncipe das trevas e para si maior poder, prestígio e influência entre os homens. Chegam a ter verdadeira submissão a satanás.  Alguns chegam até a lhes prestar culto.

Como edificar então o templo de satanás no interior de sua alma?  Inicia-se com a destruição do templo de Deus que há no seu interior: sufocando-se as virtudes com a prática de vícios e pecados, rejeitando dons e inspirações da graça divina e dando ouvidos às insinuações diabólicas. Pratica-se toda a inversão de valores, seja na fé, com o sincretismo ou a heresia, ou mesmo com os pecados contra natureza, como a sodomia. Estava nesta situação o povo quando Moisés escreveu no Deuteronômio: “Sua vinha vem da vinha de Sodoma e dos subúrbios de Gomorra; sua uva é uva de fel, e seus cachos amargosíssimos. O seu vinho é fel de dragões e veneno incurável de áspides. Porventura não estão guardadas estas coisas junto a mim e seladas nos meus tesouros?  A mim pertence a vingança e eu lhes darei a paga a seu tempo, para que o seu pé resvale; está próximo o dia da perdição e os seus tempos se apressam a chegar” (Deut 32, 32-35)

Tudo isto acarreta mais força e poder para construir o reino de satanás e seu corpo místico. Ver o exemplo da bruxaria e das missas negras.que têm suas cerimônias de iniciação com atos de luxúrias desbragadas, desde o estupro de crianças até o homossexualismo. O prazer nestes atos abomináveis é o da satisfação em desonrar as leis naturais de Deus e com isso atrair a posse diabólica. Praticam tais atos para mais demonstrar o ódio a Deus naqueles rituais e assim atrair mais a força e o poder satânico sobre si. Existem vários relatos que falam da prática de tais atos, inclusive em rituais de iniciação de bruxaria.

            A blasfêmia, porém, é o ato de maior ódio contra Deus e no Antigo Testamento era punida com a morte: “Qui blasphemaverit nomem Domini, morte moriatur: lapidibus opprimat eum omnis multitudo” – O que blasfemar o nome do Senhor, seja punido de morte: todo o povo o apedrejará.  (Lev 24, 16). São Tomás de Aquino diz “Omne peccatum comparatum blasphemie levius est” – Qualquer outro pecado se torna leve comparado com a blasfêmia. Confirma-o Santo Agostinho: “Pecam mais os que blasfemam a Deus triunfante no céu, do que aqueles que o crucificaram vivo nesta terra”. E da mesma forma São Bernardino de Sena: “A  língua do blasfemador é uma espada que traspassa o coração de Deus”.  E ainda São João Crisóstomo “Propter blasphemias, et fames, et terremotus, et pestilentiae fiunt” – Por causa das blasfêmias vêm à terra as fomes, os terremotos e as pestes.

O poder do corpo místico de satanás está, desta forma, baseado em diversos “templos” (corpos humanos), isto é, pessoas humanas que o acolheu em suas entranhas com a prática de atos abomináveis contra Deus e a Ordem do Universo. E quando tais atos se tornam público, sem que haja uma reação contrária dos verdadeiros filhos de Deus, o poder do corpo místico de satanás aumenta entre os homens.

O templo divino mais perfeito é o próprio Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por extensão, os corpos dos demais homens, desde que participantes do Corpo Místico de Cristo. Conforme São Paulo, este é o verdadeiro templo de Deus:  “Porventura não sabeis que os vossos membros são templo do Espírito Santo, que habita em vós, que vos foi dado por Deus e que não pertenceis a vós mesmos?” (I Cor 6, 19).

 

A regência através dos corpos místicos

 

Definição: O que é um corpo: algo feito da matéria, portanto, visível, com massa, componentes e estrutura material. Místico é algo que se refere ao sobrenatural, à vida espiritual, sobrepairando sobre a matéria. Um corpo místico é algo que é visível, tem componentes e estrutura material, mas sua vida  própria é sobrenatural (ou preternatural), quer dizer, está acima da simples matéria. Diz-se que é um corpo porque é uma unidade, embora formada de variedade e diversidade, como costumeiramente falamos de um corpo social, de um corpo docente, corpo discente, corpo de bombeiros, etc.

Tipos de corpos místicos:  Existem apenas dois corpos místicos – um autêntico, o de Cristo; e um outro que quer aparentar misticismo, que é o corpo místico de satanás. Só existem estes dois corpos místicos porque só há um antagonismo universal irreconciliável, e eles se manifestam para ficar visíveis aos homens que queiram aderir a um ou a outro.

Composição: O Corpo Místico de Cristo é composto pelos membros da Igreja de Cristo, sendo Ele mesmo a Cabeça deste corpo. O corpo místico do demônio é a oposição a este corpo de Cristo, que o combate, formado pelos seus sectários ou que obedecem suas ordens. Seria uma espécie de “igreja de satanás”, por antonomásia a de Cristo, formada por um exército de ímpios e precitos.

Qualidades dos membros: Para pertencer ao Corpo Místico de Cristo é necessário pertencer à Sua Igreja, quer dizer, ser batizado e professar a Doutrina Cristã, mantendo-se unido à Cabeça pela fidelidade nas obras. Pertence ao corpo místico de satanás aquele membro que morreu (espiritualmente) e se separou da Igreja de Cristo, podendo ser um membro ativo ou passivo, quer dizer, fazer guerra declarada contra o Corpo Místico de Cristo ou então agir veladamente. Tendo sido um que já foi batizado, haver renegado sua fé e passar a ter uma vida pagã e contrária aos princípios cristãos.

Dois passos seguem quem vai participar do corpo místico de satanás: primeiro morrer no Corpo Místico de Cristo (se já for cristão) e, em seguida, separar-se do mesmo Corpo. A morte de um membro do Corpo Místico de Cristo se dá com o pecado, e sua separação se dá através do não arrependimento, pertinácia no erro e impiedade, ou mesmo a heresia e o cisma declarados. Assim como as virtudes pessoais se refletem no corpo social e beneficiam outros membros do Corpo Místico de Cristo, da mesma forma os vícios e pecados (tanto de quem é deste Sagrado corpo quanto de quem é do corpo oposto de satanás) influenciam também para alimentar o corpo de satanás.  O pecado, mesmo o individual (sem a adesão do próximo) faz a alma morrer para o Corpo Místico de Cristo, mas ela pode renascer pelo Sacramento da Confissão e voltar imediatamente a ser um membro vivo. Porém, quando o pecado é social, coletivo (tem a adesão de outros), aí teremos uma participação efetiva na construção do corpo místico de satanás. Uma alma assim morta pode também ser renascida pelo Sacramento da Confissão, embora a pessoa possa ter ficado instantaneamente fazendo parte daquele corpo estranho. Só se pode dizer que ela fará parte efetiva na construção do corpo místico de satanás se, além de morta, manter-se propositadamente separada da Igreja e não aceitar a reconciliação. A alma da pessoa nessa condição pode renascer, mas o corpo místico a que pertence e contribui com seus pecados sociais, não; por isso, aquele que se reconciliou com o Corpo Místico de Cristo não pode continuar contribuindo com seus pecados, individuais ou sociais, para com o de satanás, mesmo indiretamente, pois estará caracterizando uma situação de completa incompatibilidade entre os dois corpos místicos.

 

Em que situação pode-se dizer que um pecado é “social”?

Um pecado pode ter a participação de uma outra pessoa, de duas ou mais pessoas, e também por toda a sociedade, daí podendo-se chamar de “pecado social”. E a participação nesse pecado social pode ser de forma ativa ou passiva. De forma ativa é quando a pessoa comete com outra ou individualmente um pecado que é comum na sociedade, é visto como coisa natural por todos. O adultério, por exemplo, é visto hoje como a coisa mais natural do mundo, mas se a pessoa o rejeita não somente em seu interior, mas se recusa a praticá-lo, está em oposição a um pecado social. Se, pelo contrário, a pessoa o pratica, mesmo em desejo, mesmo sem ser com outra pessoa, estará participando de um pecado coletivo, que é cometido por toda a sociedade de uma forma ativa. Ele poderá ser um pecado que chamamos de “passivo” quando a pessoa o tolera, cala-se diante dele e não procura corrigi-lo, por exemplo, dentre as pessoas que estão sob sua direção. De uma forma ou de outra é um pecado social, e ao praticá-lo a pessoa estará não somente deixando de participar do Corpo Místico de Cristo (torna-se um membro morto), mas contribui para a construção do corpo místico de satanás. Se permanecer cometendo vários pecados sociais poderá, um dia, ser membro efetivo deste maldito corpo místico, mesmo que não seja de maneira formal. Quando isso poderá ocorrer, somente analisando cada caso, pois a adesão ao corpo místico de satanás é algo muito difícil de se caracterizar, a não ser naqueles que fazem propósitos explícitos ao participar de seitas diabólicas.

No entanto, podemos dizer que há alguns pecados sociais que fazem com que viva na sociedade o corpo místico do demônio, como, por exemplo, o pecado do liberalismo e do relativismo. Pelo liberalismo as pessoas se julgam livres do jugo da Lei Divina e completamente livres para as práticas de tudo o que sua vontade determinar. E pelo relativismo cria-se a concepção, coletiva e comum a todos, de que o mal se confunde com o bem, tudo é normal, não há uma Religião verdadeira, todas são válidas, a moral é o que cada um julga ser válida para seu convívio social, a moda imoral pode ser aceita sem nenhuma objeção, etc. Não há predomínio maior do corpo místico de satanás sobre todos do que através destes dois pecados sociais.

 

O corpo místico de satanás

Em rigor, Corpo Místico é apenas a Igreja, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo como continuação d’Ele mesmo. Ela é um Corpo porque constituída de pessoas humanas, portanto de uma sociedade inteira de pessoas, e é Místico porque tem natureza sobrenatural e é alimentado pelas graças divinas. Diz-se, assim, que o Corpo Místico de Cristo é a Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana.  Este Corpo Místico é assim chamado porque Nosso Senhor fundou a Sua Igreja com características mais místicas do que terrenas, mais sobrenaturais do que naturais. Segundo São Paulo, Ele é a Cabeça dessa Igreja e nós, como seus membros, somos o Corpo, portanto, a continuidade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Lúcifer, o chefe dos demônios, cuja pretensão era que  ele mesmo fosse o ser a se encarnar como homem e formar um corpo místico, sempre teve como objetivo copiar, macaquear, as coisas divinas e desta forma enganar os homens e levá-los a uma total perdição. Sempre com essa funesta pretensão, está em seus planos fundar também um corpo místico que seja algo parecido com Aquele fundado pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. O corpo místico do demônio, pois, existe: seria a igreja satânica. Mas, não de uma forma oficial como a Igreja Católica; não com características bem claras do satanismo; não tão visível, mas um corpo místico obscuro, invisível, secreto, sem uma denominação própria para não chamar a atenção.

Dir-se-ia que é impossível que existam dois corpos místicos: o de Jesus Cristo e o de satanás. De um certo modo, apenas o Corpo Místico de Cristo é autêntico e preenche os requisitos de um verdadeiro corpo místico; enquanto que o do demônio, embora possa ser chamado como tal por assimilação, não é um verdadeiro corpo místico, pois as qualidades do mesmo são obscuras e secretas e não possui os requisitos essenciais para tanto. Desta forma, a designação de corpo místico de satanás, aqui dada, é por assimilação ao verdadeiro Corpo Místico, que é o de Cristo, e não por ser verdadeiro.

Assimilação de que modo? Assimilar é se assemelhar, se parecer com algo em um ou mais aspectos. Poderíamos classificar essa assimilação em dois aspectos principais: a institucionalização e fim a que se destina. Quanto à institucionalização, dir-se-ia que não há assim tanta assimilação, pois nunca satanás fundou uma igreja, pelo menos oficialmente, como o fez Jesus Cristo. No entanto, como se trata de algo secreto, não visível, isto é, um corpo místico inteiramente contrário do de Cristo, essa institucionalização poderia ter ocorrido de uma forma reservada sem que os homens o soubessem. Mas, como não se sabe que a mesma já ocorreu poderemos dizer que nesse particular não há nenhuma assimilação.

Não, não foi feita uma fundação formal, mas pelos fatos ocorridos na História da humanidade poderemos deduzir que essa igreja satânica foi, verdadeiramente, criada. Quando e como? Não se sabe, e talvez nunca chegue a se saber. O que se deduz que ela tenha sido criada é sua ação perante os homens: há séculos que homens se congregam secretamente para combater o Corpo Místico de Cristo através de agremiações, de braços místicos armados em conluios secretos e, para tanto, contam com auxílio de forças preternaturais poderosas. A existência dessas organizações com ares de corpo místico satânico é incontestável, elas existem há muitos séculos. Quando deu-se seu início, sua criação, não se sabe exatamente. Talvez tenha sido já quando Elias combateu os chamados falsos profetas que seguiam a bruxa Jesabel e o Rei Acab, ou tenha sido a partir daí que surgiu o embrião desse corpo místico, a ponto de Deus haver poupado Santo Elias e o colocado, vivo, no Paraíso a fim de voltar para os combates no fim do mundo. 

Mas há uma outra assimilação que não deve ter ocorrido naqueles tempos. Trata-se da assimilação quanto à finalidade. O fim de ambos os corpos místicos é a adoração de seus fundadores: o de Cristo visa adorá-Lo e glorificá-Lo, e o de satanás também visa a adoração a Lúcifer. É provável que até a vinda de Cristo não tenha sido definida ainda tal finalidade no corpo místico de satanás, pois foi com este fim que o demônio tentou Jesus no deserto. Era necessário que alguém o adorasse para que tal finalidade fosse estabelecida em sua “igreja”. Então, quando isso se deu início?  No período de 5 séculos de Revolução.

Desde a Antiguidade até à Idade Média havia na humanidade a adoração de ídolos, mas nunca se falou em adorar o próprio demônio. Com o advento da Revolução, no final da Idade Média, foi-se, aos poucos, sendo pregada aos homens a adoração de satanás. De inicio, não de uma forma explícita e declarada, para não assustar. Mas, aos poucos, os homens foram admitindo esta finalidade até que no século XX ela se tornou mais clara e aceita por muitos.  Vivemos, pois, numa época em que o corpo místico de satanás já cumpre dois requisitos de assimilação macaqueada com o de Cristo: sua institucionalização e sua finalidade.

Mas há outros requisitos. Um deles é a mística. O corpo místico ou a igreja de satanás tem sua mística, não se trata de algo meramente físico e material, composto só de homens, seus objetos, seus locais, seus prédios, etc., mas de uma instituição que tem rituais, iniciações, segredos, poderes metafísicos e preternaturais, com os quais rege as ações de seus membros. Nem é preciso falar da mística da Igreja, toda ela visível e estuante de vitalidade, através dos santos mistérios, dos rituais, dos sacramentos, da adoração divina, etc. A Igreja Católica, o Corpo Místico de Cristo, é uma instituição essencialmente mística e divina.

 



[1] Catecismo da Igreja Católica - questões n. 1033 a 1038

[2] Tofet - Significa fogo: lugar famoso situado na confluência da torrente de Cedron com o vale de Enon, onde sacrificavam crianças a Moloch (2Rs 23, 10).  Tofet ou Moloch torna-se um dos lugares que simboliza o inferno.

[3] “Obras de San Buenaventura” – Editora BAC -  volume I – pág. 511.

 

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