(Excerto de discurso pronunciado na Universidade
Federal do Ceará em outubro de 1957)
Devo confessar que em Fortaleza tenho recebido uma
verdadeira multidão de impressões novas, que ao meu coração de brasileiro, são
das mais alentadoras.
Conhecendo cearenses por todos os pontos do
território nacional por onde tenho estado, já tinha muito desejo de conhecer a
matriz do espírito cearense, que é esta bela terra de Fortaleza e este belo
Ceará onde me encontro. Queria conhecer como que na sua fonte a nascente deste
espírito de empreendimento e combatividade, de iniciativa e de inteligência lúcida
e arrojada, que, por todos os lados, tenho admirado no Brasil e, presente aqui,
em Fortaleza, tive a oportunidade de tomar contato com várias classes da
população.
O que mais me chamou a
atenção foi, de um lado, o caráter polimórfico do talento cearense e, de outro
lado, a extensão deste talento por todas a camadas da população.
Lembro-me de que visitando a cidade de Paris,
alguns anos atrás, um amigo brasileiro dos mais perspicazes com que tenho
viajado, me chamava a atenção para o fato de que, embora em todos os povos haja
pessoas mais ou menos inteligentes, era extremamente difícil encontrar pelas
ruas ou pelos logradouros públicos de Paris uma pessoa que tivesse uma
fisionomia positivamente ininteligente. Ora, a mesma observação, literalmente,
se poderia fazer de Fortaleza. Tenho examinado tipos populares, tenho olhado
especialmente para as pessoas das camadas onde a instrução é menos desenvolvida
e, em todos, noto uma chama de olhar, um fogo interior de animação, de vida, de
espírito de crítica, de jovialidade que faz com que cada cearense tenha uma
personalidade inteiramente individualizada e destacadíssima e cuide de seu
destino pessoal com uma espécie de originalidade de métodos e de pensamentos
que caracteriza a verdadeira inteligência. Se por inteligência não se deve
apenas entender o espírito de raison raisonante, [mas] toda luz interior
que dá ao homem clareza maior a respeito da realidade objetiva, devemos dizer
que os cearenses realmente apresentam um índice de inteligência extraordinário.
Mas inteligência que tem a seu serviço
um vigor de ação, um misto de arrojo e de prudência, de doçura e de violência,
de cordura e de exaltação que fazem da alma cearense um dos fenômenos mais
curiosos para serem analisados dentro da vida psíquica brasileira.
(Revista “Dr. Plínio”, outubro de 2007.)
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