quinta-feira, 4 de junho de 2020

A BONDADE E A NOBREZA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS







Não me custou perceber que Nosso Senhor Jesus Cristo, especificamente enquanto fazendo ver seu Coração aos homens, era a fonte infinita da qual emanava todo o bem. E n’Ele realizavam-se todas as perfeições e maravilhas de alma possíveis, de um modo que eu jamais poderia ter imaginado! E, ao discernir o bom espírito que havia em todas as coisas da Igreja, pensava: “Este ambiente é o reflexo d’Ele! A harmonia que encontro aqui é o próprio Deus. Ele é isso num grau supremo, extraordinário, perfeito e infinito”.
Às vezes, permanecia diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus que existe num altar lateral da igreja. Via-O em pé, muito nobre e com um sorriso ligeiramente triste, mas imensamente convidativo, tocando com a mão no Coração e olhando para quem estava embaixo, como se dissesse:
“Queres um lugar aqui dentro? Não me aceitas? Olha que tesouro! Isto é para ti!”
Eu olhava e pensava: “Bem sei que isto é uma imagem e não um homem, mas as pessoas que construíram a igreja querem que Deus seus visto assim e, por isso, representaram Nosso Senhor dessa forma. Ora, Deus visto assim, é completo! Percebo que Ele é de fato assim.
“Que fisionomia! A beleza de que ouço falar por aí não vale nada! Se um dia eu quisesse analisar a idéia de formosura, eu viria aqui para olhar a fisionomia d’Ele, pois só Ele é bonito! Esse é o padrão: uma beleza de alma, mais do que de corpo. Mas, que corpo...! E por detrás dele,, que alma....! Que maravilha!
“Dado que essa imagem coincide de um modo inteiramente satisfatório com o ambiente da igreja e com o que me ensinaram a respeito de Nosso Senhor, olhando a sua fisionomia, suas mãos, seu traje, seus cabelos e seu gesto, terei uma idéia global a respeito d’Ele, que posso tornar mais precisa e mais rica em contornos, se examinar cada ponto. Sobretudo seus divinos olhos e seu Sagrado Coração”.
Começava, então, a fazer a análise psicológica d’Ele e assim O discernia. Hoje vejo o quanto eu “arquetipizava” a imagem por efeito da minha inocência, pois ela está realmente distante daquilo que a graça me fazia ver. Numa atitude de respeito e de adoração, eu compunha a mais alta das idéias que minha mente de criança podia formar. De maneia que, quando muito mais tarde conheci o Santo Sudário, exclamei: “É Ele!”
Posso dizer que aquilo que eu via na infância representava ainda mais fielmente a Nosso Senhor do que o próprio Santo Sudário, o que se compreende facilmente, pois este O mostra enquanto morto e vítima, e na imagem do Sagrado Coração Ele Se me apresenta vivo, acolhedor e afável.
Eu via n’Ele algo de uma bondade insondável, e essa idéia era requintada pela impressão que me causava a cor vermelha de seu Coração. Encantavam-me, também, em Nosso Senhor, o asseio e as boas maneiras, expressas no feitio da sua face e ainda mais no seu corpo, que parecia emitir luz. Sua túnica dava-me a idéia de uma pessoa perpetuamente limpíssima, sem mancha alguma na alma ou na própria indumentária. E havia no seu traje uma discreta bordadura que me parecia indispensável à sua elevação. Sem ouro, Ele não teria reverenciado sua própria grandeza como devia. Essa consciência d’Ele a respeito da sua majestade me deixava encantado.
Eu me dizia: “Como Ele está em pé com distinção! Como o modo de segurar o Coração é o de uma pessoa bem-educada! Como a impostação da cabeça é de alguém que recebeu boa formação! Como a barba está bem-arranjada, sem faceirice! Que supremo aristocratismo natural nos cabelos! Tem-se a impressão de que Ele nem pensa nisso, mas não há um cacho, nem um fio, que não estejam inteiramente no lugar apropriado, para dar uma idéia perfeita d’Ele mesmo!
“Muita gente viveu em ambientes mais distintos dos que Ele frequentou. Mas... distinção é aquela! Os outros são todos insignificantes em comparação com Ele!”
E eu chegava à conclusão: “Como Ele é amigo da ordem universal!  Como é coerente com essa ordem! Ele ama todas as coisas na sua ordenação própria e no mais belo aspecto que podem dar de si mesmas. E com quanto carinho! Ele gosta dessa rosa que foi posta em seu altar, assim como também gosta de mim que estou igualmente aos seus pés. Ele é afim com tudo o que é reto! A Igreja Católica é santa porque é como Ele; é um hífen entre Ele e nós; é a própria auréola que nimba a cabeça d’Ele e por isso eu a amo! A influência, a mentalidade e a presença d’Ele estão neste ambiente”.
Essas graças foram de tal profundidade e alcance que não creio ter podido, naquela idade, conhecer d’Ele mais do que conheci.

(“Notas Autobiográficas – Plínio Corrêa de Oliveira – Editora Retornarei – Vol. I, págs. 510/512).


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