segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

DESFAZENDO O MITO DA "COLUNA PRESTES"

A COLUNA PRESTES SEGUNDO DOUTOR PLÍNIO



Vamos encontrar numa obra autobiográfica, a melhor descrição sobre o papel ridículo das elites brasileiras que permitiram um punhado de revoltosos passear pelo Brasil, de trem ou não, querendo divulgar o comunismo. Se Lampião se unisse a eles talvez fizesse uma guerrilha mais eficaz para a vitória do comunismo...

(Vejamos o que falou Dr. Plinio sobre a tão malfadada “Coluna Prestes”. De início, comenta ele sobre a revolução de São Paulo, ocorrida em 1924)

“A fogueira da Revolução de 1924, fortemente burguesa-liberal, parecia extinta. Mas dela se desprendeu uma centelha e começou o mais prodigioso “show” revolucionário da história do Brasil.
Quando os rebeldes perceberam que estavam cercados e não poderiam mais se sustentar em São Paulo, apoderaram-se de muitos trens da Inglesa[1] e da São Paulo-Jundiaí, nas estações da Luz, Sorocabana e do Norte, os quais estavam imobilizados[2]. Formaram várias composições ferroviárias e embarcaram silenciosamente, sem as forças do Governo perceberem, enchendo gôndolas inteiras com tropas armadas, levando canhões à vista nos vagões, obuses, todo tipo de armamentos e munições, víveres e tudo quanto fosse necessário para lutar, inclusive dinheiro tirado dos cofres públicos. Segundo os jornais da época, foi uma retirada de eficácia modelar.[3]
Partiram sem rumo definido, para o interior do Estado de São Paulo, numa imensa viagem de tempo indeterminado, a fim de continuar a resistência. Devido à idade, o General Isidoro Dias Lopes não os acompanhou, mas fugiu para a Argentina e não me lembro o que foi feito dele. Saiu do quadro e a poeira da História o devorou.

A Coluna Prestes
E a figura de maior destaque nessa marcha, entre os combatentes revolucionários, foi um jovem tenente, insolente e facinoroso, que haveria de ter grande renome: Luís Carlos Prestes, o qual ainda não se dizia comunista, mas seria conhecido depois como um dos chefes do Partido Comunista Brasileiro.[4]
Prestes tomou o comando de um setor dos rebeldes e formou uma coluna de exército, que passou a ser chamada de Coluna Prestes e começou a percorrer todas as estradas de ferro, numa enorme volta por todo o território nacional, do Rio Grande do Sul até o nordeste. Nos locais do interior onde paravam, os destacamentos militares eram insignificantes e fugiam diante deles. Então os revolucionários se abasteciam do que precisavam, embarcavam em outros trens que requisitavam e continuavam a viagem.
Em várias ocasiões foram perseguidos – preguiçosamente – por tropas do Governo. Havia escaramuças em que os revolucionários sempre venciam,, embora muito inferiores em número, e o exército nunca conseguia capturá-los, de maneira que eles iam avançando. Ora, para esmagar essa guerrilha bastaria derrubar uma ponte, e assim acuá-los e liquidá-los. Nunca acontecia isso com a Coluna Prestes!
Essa marcha percorreu o Brasil durante alguns anos[5] e, ao longo desse tempo, a fama do nome de Luís Carlos Prestes foi crescendo e consolidando-se. Eu lia as notícias dos jornais e notava que ele era elogiado como personagem muito interessante, pois conseguia driblar o Exército Nacional. Assim, apesar de os revolucionários não obterem muitos partidários, a grande caravana ferroviária tomou aos olhos do povo o caráter de uma verdadeira odisséia, um feito heróico de tempos mitológicos. Os militares revoltados eram vistos como a mocidade que representava o dia de amanhã, como um grupo de bravos inconformados, brilhantes e invencíveis, inspirados por idéias avançadas e terríveis, que lutavam exprimindo e polarizando a indignação das massas sofredoras. Verdadeiros anjos do povo, com o prestígio de cavaleiros andantes.
Entretanto, tratava-se de uma simples excursão, durante a qual eles paravam onde queriam e, num país em que a vida era baratíssima, compravam ou roubavam, às vezes nutrindo-se com o que lhes davam as populações entusiasmadas. Faziam comícios de propaganda para tentar levantar e revolução no Brasil, com manifestos demagógicos sobre voto secreto, liberdade, igualdade política e abolição do regime de coronelato, e alguns já falavam de distribuição de terras, com vagas palavras de igualdade social. Depois continuavam a viagem em trem, sem encontrar resistência.
Por fim, a marcha dos revolucionários foi acabar pela zona das fronteiras com a Argentina, Paraguai e outros países, nos quais eles se exilaram. Era uma aparente derrota, depois da qual tudo voltou à calma, mas a odisséia da Coluna Prestes havia sido o primeiro sintoma e a má semente do câncer comunista no organismo nacional.

Resultado da revolução: difusão de mitos
De modo muito jeitoso, a Revolução de 1924 abalou e sacudiu a estabilidade do País, pois deu à população brasileira, em geral, a impressão da proximidade do perigo comunista, o que antigamente era uma realidade existente apenas na Rússia.
Por outro lado, o interior pôde comprovar a debilidade do regime do coronelato, impotente para acabar com essa guerrilha, o que levava a opinião pública a aceitar que uma modificação seria legítima, necessária e inevitável.
Ao mesmo tempo, para minar a ordem social vigente, começaram a ser espalhadas certas idéias que se tornaram verdadeiros mitos, como este: “Nosso regime é ilegítimo, pois há uma fraude à democracia e somos uma república falsificada!” Ou também: “A nação inteira está indignada com a podridão do regime”.

Amolecimento das resistências: ceder para não perder
O corpo geral dos coronéis, muito amedrontado, passou a ter a convicção de sua própria fraqueza e, com a falta de princípios e de ideologia que já caracterizava a época, começou a germinar neles a idéia de ceder para não perder, e de aceitar uma composição.
Assim, o “show” da Coluna Prestes não obteve uma vitória militar, mas amoleceu nas classes dirigentes o desejo de resistência, tirou-lhes e vontade de lutar e convenceu-as da impossibilidade de sua própria vitória.
E, por esta forma, aquilo que começara numa casinha da Rua Coronel José Euzébio passava a ser um perigo para o País inteiro.[6]

(Extraído de “Plínio Corrêa de Oliveira -  Notas Autobiográficas” – vol. IV, Editora Retornarei, 2014 – págs. 328/334)

(Em outra oportunidade,  assim falou Doutor Plínio sobre a aparição do PCB em São Paulo, quando ele não tinha nem 10 anos ainda)
“...Não posso me esquecer que, um dia, passando em frente àquela rua, a caminho da Avenida Paulista, olhando para fora, eu vi, de repente, uma casinha muito modesta, prédio térreo de moradia, provavelmente de operários, a qual tinha na porta uma placa de metal em cuja parte superior estava escrito: “Partido Comunista do Brasil” ou “Partido Comunista Brasileiro” – não me lembro bem – com um emblema.
Eu estava com a mente e os ouvidos lotados das ressonâncias da proclamação do comunismo na Rússia, e de tudo quanto se lhe seguiu. Então, quando li aquele título, a minha primeira idéia foi: “O governo deveria mandar fechar isso”.  Mas, também imediatamente, pensei: “Se eu já fosse homem feito, e procurasse as autoridades, pedindo-lhes que fechassem esse partido, as pessoas dariam risada e diriam: “Plínio, não se preocupe! É um grupinho, numa ruela de nada! Uma casa de operários! Você dá importância a isso? É uma coisa ridícula! Isso nunca se espalhará num país católico como o Brasil!”

(op. cit. vol III, págs. 636/637)




[1] A companhia ferroviária São Paulo Railway.
[2] Doutor Plínio está narrando o movimento como ele viu surgir em São Paulo, porque, na realidade, os revoltosos já se movimentavam em outros estados, especialmente no Rio Grande do Sul, com a mesma intenção que deu origem à famosa Coluna.
[3] Na noite de 27 de julho.
[4] Luís Carlos Prestes foi aclamado presidente de honra da Alinça Nacional Libertadora (ANL), e ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1934, sendo Secretário-Geral deste entre os anos de 1943 e 1980;
[5] Até 1927
[6] O Autor se refere à primeira noção que teve sobre a ação do comunismo no Brasil, ao saber do funcionamento do Partido Comunista numa pequena casa da rua acima mencionada.

2 comentários:

Yuri Abyaza Costa disse...

Olá, boa tarde.
É sempre bom ver textos publicados sobre a chamada "Coluna Prestes". Alguns são realmente muito bons, outros, nem tanto e outros podem ser melhorados, como é o caso do texto dessa postagem. O mito da tal coluna já foi desfeito em 2010, nos dias de hoje nem se chama mais de "Coluna Prestes", apenas e sim de Coluna Miguel Costa & Prestes, porque essa coluna só se formou pela junção das tropas do Prestes (Exército Brasileiro/RS) com as tropas do Miguel Costa (Força Pública Paulista/SP).
Quanto a Revolução em São Paulo, poderia ser acrescentado ao texto mais informações e também à marcha da Coluna.
É uma história ainda pouco estudada, requer mais atenção por parte de quem se propõe a falar dela.
De qualquer modo, é um texto a mais, que contribui para a historiografia
att

Carlos disse...

Lixo de texto tendencioso