A COLUNA PRESTES
SEGUNDO DOUTOR PLÍNIO
Vamos encontrar numa
obra autobiográfica, a melhor descrição sobre o papel ridículo das elites
brasileiras que permitiram um punhado de revoltosos passear pelo Brasil, de
trem ou não, querendo divulgar o comunismo. Se Lampião se unisse a eles talvez
fizesse uma guerrilha mais eficaz para a vitória do comunismo...
(Vejamos
o que falou Dr. Plinio sobre a tão malfadada “Coluna Prestes”. De início, comenta
ele sobre a revolução de São Paulo, ocorrida em 1924)
“A
fogueira da Revolução de 1924, fortemente burguesa-liberal, parecia extinta.
Mas dela se desprendeu uma centelha e começou o mais prodigioso “show”
revolucionário da história do Brasil.
Quando
os rebeldes perceberam que estavam cercados e não poderiam mais se sustentar em
São Paulo, apoderaram-se de muitos trens da Inglesa[1]
e da São Paulo-Jundiaí, nas estações da Luz, Sorocabana e do Norte, os quais
estavam imobilizados[2].
Formaram várias composições ferroviárias e embarcaram silenciosamente, sem as
forças do Governo perceberem, enchendo gôndolas inteiras com tropas armadas,
levando canhões à vista nos vagões, obuses, todo tipo de armamentos e munições,
víveres e tudo quanto fosse necessário para lutar, inclusive dinheiro tirado
dos cofres públicos. Segundo os jornais da época, foi uma retirada de eficácia
modelar.[3]
Partiram
sem rumo definido, para o interior do Estado de São Paulo, numa imensa viagem
de tempo indeterminado, a fim de continuar a resistência. Devido à idade, o
General Isidoro Dias Lopes não os acompanhou, mas fugiu para a Argentina e não
me lembro o que foi feito dele. Saiu do quadro e a poeira da História o
devorou.
A Coluna Prestes
E a
figura de maior destaque nessa marcha, entre os combatentes revolucionários,
foi um jovem tenente, insolente e facinoroso, que haveria de ter grande renome:
Luís Carlos Prestes, o qual ainda não se dizia comunista, mas seria conhecido
depois como um dos chefes do Partido Comunista Brasileiro.[4]
Prestes
tomou o comando de um setor dos rebeldes e formou uma coluna de exército, que
passou a ser chamada de Coluna Prestes e começou a percorrer todas as estradas
de ferro, numa enorme volta por todo o território nacional, do Rio Grande do
Sul até o nordeste. Nos locais do interior onde paravam, os destacamentos
militares eram insignificantes e fugiam diante deles. Então os revolucionários
se abasteciam do que precisavam, embarcavam em outros trens que requisitavam e
continuavam a viagem.
Em
várias ocasiões foram perseguidos – preguiçosamente – por tropas do Governo.
Havia escaramuças em que os revolucionários sempre venciam,, embora muito
inferiores em número, e o exército nunca conseguia capturá-los, de maneira que
eles iam avançando. Ora, para esmagar essa guerrilha bastaria derrubar uma
ponte, e assim acuá-los e liquidá-los. Nunca acontecia isso com a Coluna
Prestes!
Essa
marcha percorreu o Brasil durante alguns anos[5]
e, ao longo desse tempo, a fama do nome de Luís Carlos Prestes foi crescendo e
consolidando-se. Eu lia as notícias dos jornais e notava que ele era elogiado
como personagem muito interessante, pois conseguia driblar o Exército Nacional.
Assim, apesar de os revolucionários não obterem muitos partidários, a grande
caravana ferroviária tomou aos olhos do povo o caráter de uma verdadeira
odisséia, um feito heróico de tempos mitológicos. Os militares revoltados eram
vistos como a mocidade que representava o dia de amanhã, como um grupo de
bravos inconformados, brilhantes e invencíveis, inspirados por idéias avançadas
e terríveis, que lutavam exprimindo e polarizando a indignação das massas
sofredoras. Verdadeiros anjos do povo, com o prestígio de cavaleiros andantes.
Entretanto,
tratava-se de uma simples excursão, durante a qual eles paravam onde queriam e,
num país em que a vida era baratíssima, compravam ou roubavam, às vezes
nutrindo-se com o que lhes davam as populações entusiasmadas. Faziam comícios
de propaganda para tentar levantar e revolução no Brasil, com manifestos
demagógicos sobre voto secreto, liberdade, igualdade política e abolição do
regime de coronelato, e alguns já falavam de distribuição de terras, com vagas
palavras de igualdade social. Depois continuavam a viagem em trem, sem encontrar
resistência.
Por
fim, a marcha dos revolucionários foi acabar pela zona das fronteiras com a
Argentina, Paraguai e outros países, nos quais eles se exilaram. Era uma
aparente derrota, depois da qual tudo voltou à calma, mas a odisséia da Coluna
Prestes havia sido o primeiro sintoma e a má semente do câncer comunista no
organismo nacional.
Resultado da revolução: difusão de mitos
De modo
muito jeitoso, a Revolução de 1924 abalou e sacudiu a estabilidade do País,
pois deu à população brasileira, em geral, a impressão da proximidade do perigo
comunista, o que antigamente era uma realidade existente apenas na Rússia.
Por
outro lado, o interior pôde comprovar a debilidade do regime do coronelato,
impotente para acabar com essa guerrilha, o que levava a opinião pública a
aceitar que uma modificação seria legítima, necessária e inevitável.
Ao
mesmo tempo, para minar a ordem social vigente, começaram a ser espalhadas
certas idéias que se tornaram verdadeiros mitos, como este: “Nosso regime é
ilegítimo, pois há uma fraude à democracia e somos uma república falsificada!”
Ou também: “A nação inteira está indignada com a podridão do regime”.
Amolecimento das resistências: ceder para não perder
O corpo
geral dos coronéis, muito amedrontado, passou a ter a convicção de sua própria
fraqueza e, com a falta de princípios e de ideologia que já caracterizava a
época, começou a germinar neles a idéia de ceder para não perder, e de aceitar
uma composição.
Assim,
o “show” da Coluna Prestes não obteve uma vitória militar, mas amoleceu nas classes
dirigentes o desejo de resistência, tirou-lhes e vontade de lutar e
convenceu-as da impossibilidade de sua própria vitória.
E, por
esta forma, aquilo que começara numa casinha da Rua Coronel José Euzébio
passava a ser um perigo para o País inteiro.[6]
(Extraído
de “Plínio Corrêa de Oliveira - Notas Autobiográficas” – vol. IV, Editora
Retornarei, 2014 – págs. 328/334)
(Em outra oportunidade, assim falou Doutor Plínio sobre a aparição do
PCB em São Paulo, quando ele não tinha nem 10 anos ainda)
“...Não
posso me esquecer que, um dia, passando em frente àquela rua, a caminho da
Avenida Paulista, olhando para fora, eu vi, de repente, uma casinha muito
modesta, prédio térreo de moradia, provavelmente de operários, a qual tinha na
porta uma placa de metal em cuja parte superior estava escrito: “Partido
Comunista do Brasil” ou “Partido Comunista Brasileiro” – não me lembro bem –
com um emblema.
Eu
estava com a mente e os ouvidos lotados das ressonâncias da proclamação do
comunismo na Rússia, e de tudo quanto se lhe seguiu. Então, quando li aquele
título, a minha primeira idéia foi: “O governo deveria mandar fechar
isso”. Mas, também imediatamente,
pensei: “Se eu já fosse homem feito, e procurasse as autoridades, pedindo-lhes
que fechassem esse partido, as pessoas dariam risada e diriam: “Plínio, não se
preocupe! É um grupinho, numa ruela de nada! Uma casa de operários! Você dá
importância a isso? É uma coisa ridícula! Isso nunca se espalhará num país
católico como o Brasil!”
(op.
cit. vol III, págs. 636/637)
[1] A
companhia ferroviária São Paulo Railway.
[2]
Doutor Plínio está narrando o movimento como ele viu surgir em São Paulo,
porque, na realidade, os revoltosos já se movimentavam em outros estados,
especialmente no Rio Grande do Sul, com a mesma intenção que deu origem à
famosa Coluna.
[3] Na
noite de 27 de julho.
[4]
Luís Carlos Prestes foi aclamado presidente de honra da Alinça Nacional
Libertadora (ANL), e ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1934,
sendo Secretário-Geral deste entre os anos de 1943 e 1980;
[5]
Até 1927
[6] O
Autor se refere à primeira noção que teve sobre a ação do comunismo no Brasil,
ao saber do funcionamento do Partido Comunista numa pequena casa da rua acima
mencionada.
2 comentários:
Olá, boa tarde.
É sempre bom ver textos publicados sobre a chamada "Coluna Prestes". Alguns são realmente muito bons, outros, nem tanto e outros podem ser melhorados, como é o caso do texto dessa postagem. O mito da tal coluna já foi desfeito em 2010, nos dias de hoje nem se chama mais de "Coluna Prestes", apenas e sim de Coluna Miguel Costa & Prestes, porque essa coluna só se formou pela junção das tropas do Prestes (Exército Brasileiro/RS) com as tropas do Miguel Costa (Força Pública Paulista/SP).
Quanto a Revolução em São Paulo, poderia ser acrescentado ao texto mais informações e também à marcha da Coluna.
É uma história ainda pouco estudada, requer mais atenção por parte de quem se propõe a falar dela.
De qualquer modo, é um texto a mais, que contribui para a historiografia
att
Lixo de texto tendencioso
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