Fundada
por Guilherme, o Pio, duque da Aquitânia, em 910, numa época em que a Europa
estava consolidando o Cristianismo, a abadia beneditina de Cluny, no leste da
França, tornou-se o maior e mais esplêndido dos mosteiros europeus do século
XI. Cluny foi a responsável por ampla
reforma em toda a Europa. Sob a direção
de uma série de abades brilhantes e devotados, a abadia cresceu em prestígio e
se tornou uma das mais influentes instituições da Cristandade.
Os
monges de Cluny, muitos dos quais eram aristocratas, viviam sob a observância
estrita da regra de São Bento. Os abades de Cluny logo ganharam uma reputação
de santidade que ajudou a disseminar sua influência em toda a Europa.
Governantes desejosos para reformar casas da Ordem existentes ou fundar novas,
pediam que Cluny enviasse monges para supervisionar o processo. Dessa forma, a célula mater criou várias centenas de
dependências. Todos seus monges deviam obediência diretamente ao abade de
Cluny. Era ele que escolhia os priores, e quem quisesse se tornar membro pleno
da Ordem tinha de tomar seus votos diante dele, em Cluny.
Cluny
chegou a ter monges transformados em bispos, cardeais, e até papas, e alguns
abades foram conselheiros de reis. Em 1077, no Concílio de Roma, o Papa São
Gregório VII afirmou: “Entre todas as abadias do além-Alpes, brilha em primeiro
lugar e sobre todas a de Cluny” .
São
Hugo, abade de Cluny entre 1049 e 1109, aumentou o número de monges de sessenta
para trezentos, aumentou as dependências da abadia e construiu a igreja.
Iniciada em 1088, a
igreja tornou-se a maior do mundo até o ano de 1612, quando foi concluída a
Basílica de São Pedro em Roma.
Fez
parte da reforma de São Hugo a construção de novo refeitório. Haviam outros
prédios no conjunto, como oficinas, cozinhas, estábulos, dependências de hóspedes,
enfermaria e hospedaria para viajantes.
Ora et labora
Segundo
relato de um monge chamado Ulrich, de 1083, lá pelas 02:30 da manhã os monges
levantavam-se ao som de um sino, vestiam-se à luz de três lamparinas mantidas
acesas toda a noite, e desciam para a igreja a fim de cantar as Noturnas.
Depois disso voltavam brevemente para a cama, levantando-se de novo para rezar
as Vigílias e as Matinas ao amanhecer do dia.
Antes
das Matinas lavavam as mãos e os rostos e penteavam os cabelos. Em seguida,
seguiam para realizar suas tarefas do dia: portaria, biblioteca, carpintaria,
agricultura, etc. Outros se dedicavam apenas às orações e permaneciam na
igreja, os quais se encarregavam de tocar o sino para chamar os outros monges,
ora para as refeições, ora para as orações costumeiras que faziam em comum no decorrer
do dia.
O Capítulo
Era
uma reunião diária para tratar de diversos assuntos. O mais importante, porém,
era disciplinar os infratores. Todos tinham obrigação de acusar os pecados, de
si ou de outro. Aquele que houvesse cometido um pecado venial, era disciplinado
com um bastão, proibido de comer com seus irmãos e teria de prostrar-se diante
do altar durante os serviços religiosos até que o superior o absolvesse. Se o
pecado era mortal, era-lhe acrescida a proibição de entrar na igreja. Após a
absolvição, o infrator era disciplinado ainda com o bastão e poderia cumprir
penitências de trabalhos humildes, como varrer o chão, lavar os pratos, etc.
Quando o infrator era absolvido, recebia ordem de entrar na igreja e admitido
na presença de seus irmãos, os quais tinham de se curvar perante ele para
evitar que fossem tentados pelo orgulho de achar que não cometeriam os mesmos
pecados do infrator.
A igreja
A
igreja românica, construída por São Hugo, media 140 metros , da entrada à
abside. Suas paredes estavam decoradas com pinturas. O edifício tinha cinco
naves laterais, dois transeptos e aproximadamente quinhentas colunas com capitéis
esculpidos. Na nave central apareceram – pela primeira vez na Cristandade –
arcos ogivais em estilo gótico.
Dizia-se que a igreja fora idealizada por
santos. De acordo com uma crônica, São Pedro, São Paulo e Santo Estêvão tinham
revelado o desenho em sonho para um abade chamado Gunzo, que vivia em Cluny. Quando os
monges viajavam para outras localidades, eram chamados a opinar sobre as construções
das igrejas. E aí sugeriam ou desenhavam o estilo gótico, que se propagou por
vários países.
Os monges passavam muito mais tempo na igreja
do que em qualquer outro lugar. Após as Matinas, as Horas Canônicas continuavam
com a Prima, a Terça, a Sexta – por volta do meio-dia, a Nona, as Vésperas ao
crepúsculo e as Completas, cerca de uma hora depois. Entre esses haviam ofícios
adicionais, em particular nos dias de festas; e havia duas missas matinais,
durante as quais os monges ficavam de pé o tempo inteiro. A primeira era entre
a Prima e o Capítulo e a segunda, a Missa Solene, acontecia usualmente após a
Terça.
O refeitório
Foi outro
dos muitos prédios reconstruídos por São Hugo. Em geral, os monges
encontravam-se ali duas vezes por dia, para o almoço após a Sexta, ao meio-dia,
e para a janta após o pôr-do-sol, entre as Vésperas e as Completas; durante a
Quaresma, só havia uma única refeição. Depois de lavar as mãos, ocupavam seus
lugares entre as seis mesas arrumadas no salão e permaneciam de pé até que o
abade assumisse seu lugar na cabeceira.
A
refeição era feita em silêncio, enquanto um dos monges lia as Escrituras. A
regra de silêncio proibia que os monges pronunciassem qualquer palavra aos
domingos. Durante a semana, podiam conversar somente por breves períodos após o
Capítulo e antes da Sexta e do almoço.
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