Deus já emitiu todos os
seus juízos sobre nossa época? Tudo indica que pelo menos a maioria, sim;
faltando se cumprir o último deles que seria apenas o cumprimento dos castigos.
Vejamos que tipos de pecados mais clamam pela culminação de tais juízos.
A)
Pecados que clamam aos Céus
Os chamados pecados que “clamam aos céus e pedem
a Deus por vingança” são aqueles que envolvem uma especial malícia e
repugnância abominável contra a ordem social humana criada por Deus.
São estes:
1º.
O homicídio voluntário, como o praticado por Caim (Gn 4, 10), de cujo
pecado Deus disse: “voz do sangue do teu irmão clama da terra por mim”. A avalanche
de pecados desta natureza ocorre com tanta freqüência hoje em dia que dispensa
maiores comentários. O único agravante é que tais pecados sejam praticados pelo
Estado em nome da própria sociedade e para a implantação de regimes
ditatoriais, materialistas e ateus. Estamos numa época em que o homicídio
voluntário é praticado como arma de guerra psicológica, como método de terror,
como vingança entre quadrilhas, como meio para se fazer extorsões e se adquirir
riquezas e, finalmente, como tortura e perseguição religiosa. As modalidades de
homicídios vão se requintando e se tornando coisas tidas como normais, ocorridas
também entre familiares, entre irmãos, de pai para filho e de filho para pai.
Vivemos numa época em que os homicídios são cometidos por atacado, em toda a
terra, sob os diversos motivos e às vezes até mesmo sem motivo nenhum... Não já estão clamando a Deus por vingança?
Como ponto máximo desse pecado, tornou-se já rotineiro a ação de “serial
killer” que saem matando as pessoas a esmo, a maioria deles se suicidando em
seguida.
2º.
A sodomia, pecado abominável condenado no Antigo e no Novo Testamento.
É comum o entendimento de que o pecado de
sodomia só se refira ao relacionamento homossexual. No entanto, é bom que se frise que a sodomia
se refere a todo pecado que é contrário à natureza e à procriação, tendo o
homossexualismo como ponto máximo, porém não o único. Pode ser chamado também
ato de sodomia qualquer pecado de sexo que seja contrário ao ato natural, hoje
praticado pela sociedade moderna de uma forma protuberante, maciça, estonteante
mesmo.
Assim, inscrevem-se neste rol de pecados
contra natureza aquilo que São Paulo chama de “inversão sexual” ou então o que,
não só os homens, mas as próprias mulheres romanas faziam (hoje também um
pecado comum) ao “mudarem o uso natural em outro uso, que é contra a natureza”.
(Rom 1, 24-32). Comentando essa epístola
de São Paulo São João Crisóstomo diz: “Considerai
como o Apóstolo reputa aos pecados de sodomia indignos de perdão, da mesma
forma que os dogmas errôneos. E das mulheres diz: “Trocaram o uso natural”.
Porque essas não podem alegar que foi por falta de união conforme a natureza
que recorreram a essa depravação; e nem que, por não poder satisfazer sua
inclinação natural que caíram nesses furiosos desejos alheios a seu próprio
sexo, porque a troca é própria de quem já possui algo...”
O principal
pecado de Onan (Gn 38, 8-10) foi o de impedir a procriação e, por isso, tido
como um ato abominável por Deus e punido com a morte. Porém a Igreja não
circunscreve tal pecado (impedir a procriação) como aqueles que clamam aos céus
por vingança e sim o de sodomia. Deste
modo, é provável que Onan tenha praticado num só pecado duas ofensas a Deus: o
impedimento da procriação (que interrompia a continuidade hereditária que
geraria o Messias, pois tratava-se da tribo de Judá) e o ato contrário à
natureza, este sim, a sodomia, que clama a Deus por vingança e sujeito ao
castigo de morte. E deve ter sido este último que clamou a Deus por vingança.
De que modo Onan impediu sua esposa de
conceber? A Sagrada Escritura não o diz,
mas ele deve ter usado um recurso compatível aos atos contrários à natureza.
Alguns moralistas dizem que ele usou um recurso para bloquear o sêmen, algo
talvez difícil de se proceder em seu tempo a não ser por métodos grosseiros.
Teria ele forçado sua esposa a “mudar o uso natural” como se refere São Paulo e
praticado a sodomia? Ou teria usado algum recurso contraceptivo ensinado por
feiticeiros? Qualquer que tenha sido o recurso, sofreu tamanha repulsa divina
que lhe provocou a morte.
O pecado de sodomia, e não somente o de
homossexualismo, teria motivado os conhecidos castigos de Deus, matando não só
uma pessoa como Onan, mas cidades inteiras como Sodoma e Gomorra, ou até mesmo
as cidades romanas Herculano e Pompéia, destruídas pelo vulcão Vesúvio, pois
eram ninhos de abominações de pecados contrários à natureza, como sodomia e
homossexualismo. Se a tanto chegou Deus por causa de um ou outro homem, o que
não dizer hoje de cidades ou até mesmo povos inteiros que praticam impune e
atrevidamente tais pecados?
3º.
A opressão dos pobres, viúvas e órfãos. De tal forma este pecado mancha o nosso tempo
que dele assim falou o Papa Pio XII: “Que
nenhum de vós pertença ao número daqueles que, na imensa calamidade em que há
caído a família humana, não vêem senão uma ocasião propícia para enriquecer-se
iniquamente, tomando pé da miséria de seus irmãos e aumentando mais e mais os
preços para obter um lucro escandaloso. Contemplai suas mãos! Estão manchadas
de sangue, do sangue das viúvas e dos órfãos, das crianças e adolescentes, dos
impedidos ou atrasados em seu desenvolvimento por falta de nutrição ou pela fome,
do sangue de milhares e milhares de infortunados de todas as classes do povo
que derramaram seus carniceiros com seu inglório tráfico, Este sangue, como o
de Abel, clama ao céu contra os novos Cains”
(AAS 37 (1945) 112).
4º.
Defraudação do salário do
trabalhador, que clama a Deus por vingança conforme o Apóstolo São Tiago: “Eis que o salário dos trabalhadores, que
ceifaram os vossos campos, o qual foi defraudado por vós, clama, e o clamor deles
subiu até aos ouvidos do Senhor dos exércitos” (Tiago 5, 4). A maior
defraudação do salário do trabalhador se deu quando o Estado se arrogou no
direito de se apropriar dos frutos deste salário, os bens socializados pelos
regimes comunistas e socialistas implantados no decorrer do século XX. Embora o
regime comunista esteja hoje diluído, a legislação moderna, toda ela socialista
até mesmo em países como os Estados Unidos, sofre do bafejo dos ideais
marxistas, o qual propugna a tese igualitária da expropriação de todos os bens
(que é o fruto do salário do trabalhador) pelo Estado. Não há um país moderno
que não tenha sofrido a influência de tal legislação, justificando a afirmação
da Santíssima Virgem em Fátima: “A Rússia espalhará seus erros pelo mundo”.
Um quinto tipo de pecados que bradam aos
céus e clamam a Deus por vingança seria o da idolatria satânica, revestido este
com o maior grau de maldade e malícia que se pode imaginar. No entanto, tal
pecado se inscreve como aqueles cometidos contra o Espírito Santo e cuja
vingança Deus deixa para a outra vida com um castigo ainda pior, a condenação
eterna. O satanismo, ou o pecado de Revolução, é um ato que envolve malícia
especial e se reveste de repugnância abominável contra toda a ordem social (humana,
angelical e divina), da qual Deus é expulso e colocado Satanás em seu lugar. É
a inversão da Ordem que Deus colocou no Universo. Deste modo, tratar-se-ia de um pecado que
brada aos céus e clama a Deus por vingança, mas vingança exigida pela própria
Ordem que Deus estabeleceu no Universo e punível com as penas eternas.
B) Os pecados contra o
Espírito Santo
São aqueles que se cometem com refinada
malícia e desprezo formal dos dons sobrenaturais que nos livrariam diretamente
do pecado. São como blasfêmias contra o
Espírito Santo, a Quem compete a nossa santificação.
Constituem-se pecados contra o Espírito
Santo:
A desesperação:
obstinada persuasão da impossibilidade de conseguir de Deus o perdão dos
pecados e a salvação eterna. Este foi o pecado de Judas e é um pecado, hoje,
comum aos drogados, roqueiros, ateus, etc. A desesperação é um prato comum nos
dias atuais com a pregação de suicídios,
a prática de abortos e da eutanásia, o desengano geral com a
desintegração dos Estados e grande frustração por não se encontrar ninguém mais
falando em solução para os problemas de nosso tempo. Um exemplo de tal estado de espírito pode ser
caracterizado pela declaração de um jornalista: segundo ele, seu pai, ateu
confesso, estando já velho chamou seus filhos e lhes disse que se por acaso ao
chegar o momento da morte chamasse um sacerdote, pedia firmemente que negasse
atender tal pedido, pois considerava que isso seria um desvio mental. O
jornalista conta isso como afirmação categórica do “fundamentalismo ateu” e se
diz satisfeito pelo fato do pai ter morrido sem haver solicitado a presença de
um padre. No entanto, este estado de espírito não é próprio apenas daquele
jornalista e de seu pai, mas de toda a sociedade moderna.
A presunção:
temerária e excessiva confiança na misericórdia de Deus, esperando a
salvação eterna sem arrepender-se dos pecados e mudar de vida. Este é um pecado
hoje praticado por protestantes de todas as seitas e membros das chamadas
igrejas ortodoxas orientais. O mesmo pode se dizer dos judeus empedernidos que
não querem aceitar Nosso Senhor Jesus Cristo como o Messias e se julgam mesmo
assim merecedores da vida eterna. É claro que há também uma infinidade de
católicos que pecam por presunção, continuando sua vida de pecados na esperança
de que, apenas na hora da morte, obtenha a graça da contrição e a salvação
eterna.
A heresia:
ou “impugnação da Verdade conhecida”.
Desta forma se peca desprezando o dom da Fé, dado pelo Espírito Santo, e
contra a mesma luz divina. São tantas as heresias e hereges que existem em
nosso tempo que seria difícil enumerar a todos ou ao menos os principais.
Trata-se de um pecado coletivo que clama a Deus por reparação.
A inveja
da graça fraterna: segundo São Tomás de Aquino é um dos pecados mais
satânicos que se pode cometer, porque com ele “não só se tem inveja e tristeza
do bem do irmão, senão da graça de Deus que cresce no mundo”. Entristecer-se da santificação do próximo é
um pecado direto contra o Espírito Santo, que concede benignamente os dons
interiores da graça para a remissão dos pecados e santificação das almas. É o
pecado cometido por Lúcifer, pecado dos demônios, por isso chamado de satânico.
Em escala mundial este tipo de pecado é mais comum entre os muçulmanos e outros
pagãos, os quais odeiam visceralmente todo o Ocidente pelo que ainda resta de
cristão. É também o pecado dos
agnósticos, céticos e ateus que odeiam a Santa Igreja Católica Apostólica
Romana e A querem destruir por inveja da proteção divina que lhe é própria.
A obstinação
no pecado: recusa das insinuações
interiores da Graça divina e os sãos conselhos das pessoas sensatas e cristãs,
não tanto para entregar-se com mais tranqüilidade a toda classe de pecados
quanto por refinada malícia e rebelião contra Deus. Perante os reiterados
avisos, ameaças e até de castigos incontestáveis os homens da atualidade
comportam-se com a mais terrível das obstinações em seus pecados.
A impenitência
deliberada: determinação de não arrepender-se nunca dos pecados e resistir
a qualquer inspiração da graça para o arrependimento. É o mais horrendo pecado contra o Espírito
Santo, já que a pessoa se fecha voluntariamente e para sempre as portas à Graça
divina.
Tais pecados são irremissíveis? O pecado contra o Espírito Santo não será
perdoado, nem neste nem no outro mundo, conforme se lê em São Mateus : “Por isso vos digo: Todo o pecado e
blasfêmia serão perdoados aos homens, porém a blasfêmia contra o Espírito Santo
não será perdoada. Todo o que disser alguma palavra contra o Filho do homem,
lhe será perdoado; porém o que disser contra o Espírito Santo, não lhe será
perdoado, nem neste século nem no futuro (Mt 12, 31 -33). De modo geral não
há nenhum pecado que seja tão grave que a misericórdia infinita de Deus não
possa perdoar, desde que o pecador dele se arrependa. Porém, como precisamente
o pecado contra o Espírito Santo rechaça a graça de Deus e se obstina
voluntariamente em sua maldade, é impossível que, enquanto permaneça nessas
disposições, se lhe perdoe seu pecado, perdão que o próprio pecador se
recusa obstinadamente a pedir.
C) A conjuração contra Deus
O termo “conjuração”, aqui usado, não se
refere às tramas universais de certas sociedades movidas consciente e
deliberadamente contra Deus e Sua Igreja, mas, por analogia, às inclinações que
os homens têm de se unirem para, juntos, pecarem e ofuscar a Obra divina.
Quando Nossa Senhora previu em Fátima que
várias nações seriam aniquiladas Ela deixou implícito que tal se daria com a
morte das pessoas que comporiam tais nações. Tais castigos trarão então a morte
como moeda corrente, que seria o ponto principal deles. A morte será vista pelo ímpio como o ápice de
seu desespero, enquanto pelo justo será como uma dádiva de Deus e uma porta
para o Paraíso. Seria como último juízo de Deus contra os homens envolvidos
numa conjuração universal contra Deus e sua glória aqui na terra.
Os pecados coletivos ofendem mais e atraem
mais os castigos divinos. Quando uma pessoa peca individualmente afasta Deus de
seu coração e nele entroniza Satanás.
Quando esta mesma pessoa procura uma outra e juntas praticam o pecado,
aí então a malícia aumenta. Isto porque:
1º. Ocorre entre ambas uma espécie de
conjuração contra Deus (impedindo que exerça Sua regência sobre aquelas almas),
contando também com a participação do demônio;
2º. Os males que os demônios antes
praticavam em cada pessoa separadamente, agora o fazem em conjunto, portanto
com mais força;
3º. Quando grupos de pessoas cometem tais
pecados, atingindo então famílias, cidades, sociedades inteiras, tal conjuração
atinge a universalidade e clamam a Deus por castigos coletivos.
Se Eva tivesse pecado sozinha não teria
feito tanto mal à humanidade e à glória de Deus, pois Adão teria ficado fora
daquela “conjuração” contra Deus. O difícil é para nós imaginar como conviveria
futuramente aquele casal, um no Paraíso terrestre e outro fora. Deus certamente
estabeleceria outros planos para a Humanidade.
No sentido que analisamos, há uma conjuração
contra Deus no mundo moderno?
Quando a prática de todo tipo de pecado sai
do âmbito pessoal e passa a ser cometido por casais, por famílias, por
sociedades inteiras;
Quando os pecados se transformam em leis,
como o divórcio e o aborto, praticados ou aceitos por todos;
Quando se praticam coletivamente pecados
contra a natureza, mesmo que se entenda que muitos perderam a noção do mal que
fazem;
Quando enfim todas as nações da terra
praticam ou toleram o adultério, a avareza, a inveja, a ganância, o
homossexualismo, etc.
Aí então, pode-se dizer que estão todos
envolvidos numa enorme conjuração universal contra Deus. Uma conjuração de
homens e demônios contra Deus e Sua glória. Como frisamos acima, não se trata
aqui da conjuração das forças secretas para destruir a Igreja e a Cristandade,
esta uma empreitada (portanto, uma ação consciente, deliberada e premeditada)
dos inimigos de Deus comandados por Satanás a partir de seu “trono”.
Princípios básicos dessa
“conjuração”
A “idéia” dessa conjuração contra Deus
começa no interior de cada alma. O pecado não é um simples ato de deleite, mas
um estado de revolta contra Deus. Até
mesmo sem o saber, o pecado conta com um “sócio” em seus atos, que de início é
o próprio demônio, mas logo encontra outra pessoa. E a referida “conjuração” tem início num ato
que é fruto de uma “união”, de uma quase combinação de interesses, entre o
pecador e o demônio, efetivando-se futuramente com a adesão de uma outra
pessoa. Aí teremos um pecado coletivo em sentido “minor”, cometido por apenas
duas pessoas. Mas aqueles dois procuram outros e em breve aquele pecado será
coletivo em sentido “major”.
Temos alguns exemplos de pecados que
envolvem conjuração contra Deus. Coré, Daton e Abiron se uniram contra Moisés
numa conjuração tríplice e louca; os velhos que tentaram contra a casta Susana
se conjuraram para o pecado, mas encontraram a nobre resistência dela; Judas
conjurou explicitamente com os judeus da sinagoga contra Nosso Senhor. Neste
ponto Judas consumou num pecado coletivo os diversos pecados individuais de
avareza e poder que vinha cometendo; São Pedro não cometeu propriamente pecado
de conjuração quando negou Jesus por três vezes perante os criados, haja vista
que não houve participação de uma ou mais pessoas. Por isso seu pecado foi
menos grave e obteve o perdão; toda a perseguição e morte de Nosso Senhor Jesus
Cristo não passou de uma enorme conjuração que envolvia homens ímpios e Satanás.
Com relação aos homens que participaram daquela conjuração, note-se que estavam
eles cheios de pecados de malícia, de avareza, de inveja, enfim, de tudo o que
há de mal que eles já praticavam entre si, conjurando-se mutuamente contra
Deus.
Depois da terrível conjuração contra o
Salvador, os homens fizeram diversas conjurações contra os cristãos e a
propagação do Cristianismo. A ponto de se chegar ao ápice da conjuração para a
destruição da própria Igreja que tomou corpo após o declínio da Idade Média.
E nós, caro leitor, quando procuramos alguém
para cometer com ele um pecado não praticamos também uma conjuração? Será que,
ao praticarmos aquele pecado, naquele mesmo instante não estamos sujeitos ao
juízo de Deus sobre a conjuração coletiva que se faz contra Ele? Precisamos ver
que a natureza do pecado é diferente, a individual e a coletiva. Também é bom
imaginar que tanto os vícios coletivos (que mourejam na outra pessoa com quem
se peca) quanto os demônios podem passar para nosso interior. Pode ser que,
naquele momento, cresça um grau a mais o poder satânico sobre a sociedade
inteira, e por nossa culpa!
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