segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O DEMÔNIO NUNCA DÁ O QUE PROMETE

 




Exemplo Histórico de Napoleão

Numa reunião dada a seus discípulos no ano de 1957, Dr. Plínio Corrêa de Oliveira comentou longamente sobre o livro “A Oração, o Grande Meio da Salvação”, de Santo Afonso Maria de Ligório. Extraímos a parte em que comenta sobre um dos motivos do encalhamento espiritual muito comum em nosso tempo, que é o da pessoa aceitar as promessas do demônio em benefício próprio e as conseqüências disso. Vejam a facilidade com que Dr. Plínio percebe os aspectos psicológicos em fatos históricos.

 “Ninguém escapa disto: quando o demônio promete algo a uma pessoa – escrevam o que eu digo! – é o que ele vai tirar.

Prometeu o andor ao X e não deu. Feliz do X, porque seria pior se o demônio tivesse cumprido parcialmente a promessa, dando o andor. Quando o demônio não dá nada, ainda é uma lição, mas a alguns o demônio no primeiro momento dá algo.

- Faz favor, aqui está o seu andor. O senhor vai ser aclamado pela multidão. Levanta o sujeito, mas depois quando prepara a queda dele, faz pagar o andor em que andou.

Há um modo especial de apresentar certas coisas humanas e certas compensações do demônio, e as pessoas vão na onda.

O exemplo de Napoleão Bonaparte

O demônio a Napoleão prometeu algo. O demônio não deu a Napoleão? Na primeira parte deu. Mas, ninguém estudou os pormenores prosaicos da queda dele. E não se trata de fazer digressões a la Manfredo Leite: “Napoleão está em Fontainebleau. Neste momento tens o remédio, o veneno com que te vais matar. Não! Oh, não! Não te propines o líquido assassino! Oh! Detém-te, mão do corso...”

O caso de Napoleão não é narrado com essas elevações. É preciso entrar, bem direitinho, no caso; é preciso ver os seus aspectos psicológicos.

O desconjuntamento paulatino do poder do corso

Em primeiro lugar Napoleão não caiu de repente. Caiu aos poucos. Ele foi vendo, com apreensões cada vez maiores, a glória dele se desconjuntar, como um homem que está navegando numa jangada e vê, lentamente, as várias madeiras da jangada se separando. Ele trabalha para segurar aqui, mas abre lá, e assim passa anos tentando segurar a jangada. Na aparência, ele está na plenitude de sua glória. Do lado de fora todo mundo bate palmas, mas ele já sabe que o barco está furado.

Pelo menos, a partir do momento em que Napoleão fez aquela sem-vergonhice com os reis da Espanha, é histórico, ele já sabia que a jangada dele estava desconjuntada.

O circuito do demônio

Embora ele percebesse não ter remédio, estava colocado, justamente, num desses circuitos do demônio, sem saída: a glória dele era feita à custa da guerra. Para se manter, precisava guerrear sempre; para guerrear sempre, ele sabia que acabaria derrotado, porque os outros se cansariam. À medida que ia vencendo, ia percebendo o cansaço que já ia se formando em torno dele. Se parasse de combater, caía, e se continuasse, caía também.

No alto de seu poder não houve o Napoleão que nós imaginamos, com um império firme. Houve o contrário, um Napoleão consciente de ter um crescimento canceroso, em velocidade acentuada. A certa altura tudo aquilo deveria acabar.

Depois, ele se encontrava na seguinte alternativa: se ele dotasse bem os generais dele, era obrigado a contar com o fato de, em determinado momento, os generais já não quererem combater, porque se emburguezavam. Por outro lado, se ele não os dotasse bem, os oficiais “nodosos” não o seguiam.

Resultado: ele foi obrigado a dotar bem os seus generais, que mais tarde o abandonaram.

Com o correr do tempo, os povos conquistados por ele iam consolidando o movimento de resistência, e não adiantava lutar contra eles. Havia uma efervescência crescente, ele percebia bem.

A cena da abdicação de Napoleão em  Fontainebleau, não imaginem ter sido nova para ele. Foi uma cena na qual ele  pensou 100 vezes antes de abdicar, porque tinha percebido estar caminhando para a sua própria ruína.

Eu garanto que no dia do casamento de Napoleão, ele já tinha diante de si o espectro do fim que o havia de aguardar.

A inglória queda no vazio

Napoleão cai. Ele não tem por onde se agarrar ao poder, como um homem que cai ao longo de um prédio com muitos florões de arquitetura, vai-se arranhando e procurando se agarrar naquilo.

Os generais o traíram. Ele tentou chamá-los, pediu... Depois vêm as cenas do suicídio. Pior, ele não teve coragem de se suicidar direito. Ele tomou algo, mas a dose não era suficiente. Vieram os médicos, deram-lhe o remédio, ele aceitou, e sarou de novo. Até a morte ele rateou.

A seguir é a famosa cena da viagem dele através da França, incógnito, rumo à ilha de Elba, para ser imperador daquele lugar.

O horror na ilha de Elba! Quem estuda a História pensa que é tudo muito bonitinho: a ilha de Elba, Napoleão com um reinozinho, uma porção de soldados...

Eu, durante muito tempo, não compreendi por que ele fugiu de Elba. Algum tempo atrás li um livro sobre o assunto. Os servidores de Napoleão começaram a achá-lo cacete, com aquela vidinha, e foi uma deserção geral. Aqueles que ele tinha levado para Elba estavam desertando, e ele ameaçado de fica sozinho. Sem falar que o rei Luís XVIII não mandou a pensão combinada, e ele nem tinha dinheiro para segurar aquela gente em torno de si.

Ele fugiu para evitar a pior das situações, ou seja, ficar morando quase sozinho em Elba com dois ou três funcionários.

Restaura o Império, cai de novo, e vai para Santa Helena. Eu li, no mesmo livro, que a briga em torno dele em Santa Helena era tão indecente, e a vontade de ir embora era tal que ele chegava a dizer para cada um: “Olhe! Eu estou morrendo. Fiquem só até o fim. Porque para vocês vai ser uma grande glória, mas não me deixem sozinho. Não percam o negócio que vocês estão fazendo”.

Só para conseguir não ficar sozinho, Napoleão passou todo o tempo lutando. Olhem o que esse demônio deu para ele. Deu, não é? Mas, o que é que deu?

Um dos últimos comentários dele foi o seguinte: “Afinal de contas eu sustive o mundo, e não tenho forças para manter minhas pálpebras abertas”. Ficava longas horas de olhos fechados, sem estar dormindo, porque não tinha nem força para manter as pálpebras abertas. Agora, sabem bem como são as coisas, com o demônio sentado no peito e falando-lhe a respeito do Inferno.

Feliz do X a quem o demônio deu uma mentira completa. Desgraçado aquele que recebe a metade da promessa”.[1]

 NOTA: Lendo tais comentários não há como não lembrar-se de tantos outros ditadores ou reizinhos, por algum tempo detentores de glórias e poder, mas, ao final, mortos em desgraça. A lista é grande após Napoleão, chegando até o nosso tempo com a enorme quantidade de líderes comunistas que tiveram fins terríveis após certo tempo na posse das promessas parciais do demônio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Opúsculo de circulação interna “Comentários do Livro A Oração, o Grande Meio da Salvação, de Santo Afonso Maria de Ligório – compilação de seis conferências do ano de 1957 –págs. 36/38


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