sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (VI)

 





Sexta-Feira da primeira semana

 

I - COMENTÁRIOS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

 

“QUE UTILIDADE TEM O MEU SANGUE”?

 

Quaeutilitas in sanguinemeo,dum descendo in corruptionem. Que utilidade tirarás da minha morte,quando eu descer à corrupção? (Sl 29,10). Nosso Senhor revelou à venerável Águeda da Cruz que,no seio de Maria, a sua mais cruel pena foi de ver a dureza dos corações dos homens que, depois da redenção, desprezariam as graças que viera difundir sobre a terra. Segundo a interpretação comum dos Santos Padres, Ele próprio exprimira muito antes a mesma coisa pela boca de Davi: Que utilidade tirarás da minha morte, quando eu descer à corrupção? Segundo Santo Isidoro, as últimas palavras significam: Quando eu descer do céu para tomar a natureza humana corrompida pelos vícios e pecados. — Eis, pois, o que o Verbo divino parece ter dito: MeuPai, vou revestir-me da carne humana e derramar depois todo o meu sangue pelos homens; mas de que servirá esse sacrifício? A maior parte dos homens não fará caso do meu sangue econtinuará a ofender-me como se nada eu fizera por meu amor. Essa pena foi o cálice amargo de que pediu Jesus ao pai o livrasse, quando disse: Afastai de mim este cálice. Que cálice? O ver tanto desprezo de seu amor. A mesma previsão arrancou ainda, do alto da cruz, este grito de dor: Meu Deus, meu Deus,por que me abandonastes? — Seu Pai sofreria o desprezo da sua paixão e morte por parte de tantos homens pelos quais Ele morria; segundo a explicação do próprio Salvador a Santa Catarina de Sena, era do abandono que Ele se queixava então. Ora, essa mesma pena atormentava a Jesus Menino no seio de Maria: via, desde então, dum lado, tantas dores, tantas ignomínias, tanto sangue derramado, morte tão cruel e infame, e de outro, tão pouco fruto! O divino Menino antevia muitos homens, e mesmo a maior parte, calcar aos pés o seu sangue, e desprezar a graça que esse sangue lhes merecera, pois que tal é, segundo S. Paulo, a conduta de cada pecador. Entretanto se formos do número desses ingratos, não desesperemos: Jesus nascendo veio oferecer a paz aos homens de boa vontade, como fez cantar os anjos: Mudemos pois a nossa vontade, arrependamo-nos dos nossos pecados, propondo-nos amar esse bom Salvador, e acharemos a paz, isto é, a amizade de Deus.

 

(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 147/148)

 

II – COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 

A FILIAÇÃO DIVINA

 

Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1:12). Os homens se tornam filhos de Deus por assimilação a Ele e, portanto, são filhos de Deus por uma assimilação tripla.

1ª) Pela infusão da graça; pela qual todo mundo que tem a graça santificante torna-se filho de Deus: “E porque vós sois filhos, Deus enviou aos seus corações o Espírito de seu Filho” (Gal 4, 6).

2º) Nos assimilamos a Deus pela perfeição das obras, pois quem faz obras de justiça é filho, como diz o Evangelho: “Amai vossos inimigos ... para que vocês sejam filhos de seu Pai que está nos os céus” (Mt 5, 44-45).

3º)Também nos assimilamos a Deus, alcançando a glória; e em quanto à alma pelo “lúmen gloriae”: “Quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele”(1 Jo 3, 2); e quanto ao corpo: “ reformará nosso corpo abatido” (Fil 3:21). Portanto, dessas duas maneiras é dito na Epístola aos Romanos: “Esperando a adoção de filhos de Deus” (8, 23).

Mas se pelo poder de se tornarem filhos de Deus se entende a perfeição das obras e realização da glória, não há dificuldade alguma, porque quando se diz: “Deu-lhes poder” (Jo 1,12), entende-se poder da graça, pelo qual o homem pode fazer obras de perfeição e alcançar a glória.Mas se se entende da infusão da graça, “deu-lhes o poder de ser feitos filhos de Deus”, porque Ele lhes deu o poder de receber graça, e isso de duas maneiras:

1º) Preparando a graça e oferecendo-a aos homens; assim como se diz quem faz um livro e o oferece a alguém para que o leia, dando a este a faculdade de ler.

2º) Movendo o livre arbítrio do homem para que ele consinta em receber a graça. É por isso que Jeremias diz: “Voltemo-nos, Senhor, para Ti” (movendo nossa vontade de te amar), e voltaremos (Lam 5, 21). E isso se chama movimento interior, do qual diz São Paulo (Rom 8:30): “E aos que chamou” (estimulando internamente a vontade de consentir na graça), estes também justificou infundindo-lhes a graça”.

Mas visto que por esta graça o homem tem o poder de se preservar na filiação divina, pode-se dizer em outro sentido: Ele os deu, isto é, para aqueles que receber, o poder de se tornarem filhos de Deus, isto é, pela graça, através que pode ser preservado na filiação divina. O mesmo Evangelista diz em outro lugar: “Todo aquele que é nascido de Deus não peca, mas que a graça de Deus (pela qual somos regenerados, como filhos de Deus) o preserva” (1Jo 3, 9).

Assim, lhes deu poder para se tornarem filhos de Deus, pela graça santificante, pela perfeição das obras, pela obtenção da glória; tudo isso preparando, agindo e preservando a graça.(In Joan., I)

 

(Título original em latim “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

  

III – COMENTÁRIOS DE SANTA TERESA BENEDITA DA CRUZ (EDITH STEINE)

 

O CORPO MÍSTICO DE CRISTO

1 União com Deus

Não sabemos o que o divino Menino tem reservado para nós nesta terra e não devemos nos perguntar antes de nosso tempo. Só uma coisa é certa: tudo o que acontece aos que amam o Senhor é para o seu próprio bem. E, além disso, que os caminhos que nos conduzem ao Salvador extrapolam os limites da vida terrena.

Ó admirável troca! O criador da raça humana nos apresenta sua divindade tomando um corpo. O Salvador veio ao mundo para realizar esta admirável obra. Deus se tornou o Filho do Homem para que todos os homens se tornassem filhos de Deus. Alguém de nossa raça havia quebrado o vínculo de nossa filiação divina e um de nós teria que se unir novamente para alcançar a remissão de pecados. Ninguém da velha raça doente poderia ter feito isso; portanto, um rebento novo, saudável e nobre estava para florescer. Assim, Ele se tornou um de nós, mas não apenas isso, mas também "um conosco".

Aqui está o que há de maravilhoso na raça humana: somos todos um. Do contrário, se todos vivêssemos separados, independentes uns dos outros, a queda de um não significaria a queda de todos. Por outro lado, a expiação de um não poderia ser aplicada a todos: se sua salvação não pudesse ser transmitida a todos, então a justificação não seria possível. Mas Ele veio para formar conosco um corpo místico, para se transformar em nossa Cabeça e nós em seus membros. Coloquemos as mãos nas mãos do Menino Divino, respondamos com um "SIM" ao seu "SIGAM-ME" e então seremos verdadeiramente seus e o caminho estará livre para que a sua vida divina nos alcance.

2 Este é o início da vida eterna em nós. Ainda não é a visão beatífica da luz da glória, mas sim as trevas da fé, mas que já não pertencem a este mundo, mas sim ao Reino de Deus. Quando a Bem-Aventurada Virgem Maria pronunciou seu "fiat", então o reino dos céus começou na terra, e ela foi sua primeira serva; e todos aqueles que, com palavras e atos, antes e depois do nascimento do Menino, se proclamaram seus - São José, Santa Isabel com seu filho e todos os que estavam ao lado dele na manjedoura - passaram a fazer parte desse reino celestial .

Tudo aconteceu de uma forma muito diferente do que se poderia pensar depois de ler o que dizem os salmos e profetas sobre a implantação do Reino de Deus. Os romanos continuaram a ser os dominadores do país, e os sumos sacerdotes e escribas continuaram a subjugar os pobres do povo, sob o pesado jugo da lei.

3 Todos os que pertenciam ao Senhor, porém, carregavam imperceptivelmente o Reino de Deus em seus corações. A carga terrestre não foi tirada deles, ficou ainda mais pesada, mas o que aquele reino oferecia era uma força encorajadora que tornava o jugo macio e o fardo leve. O mesmo é verdade hoje com todo filho de Deus. A vida divina que se ilumina na alma é a luz que brilha nas trevas, o milagre da véspera de Natal. Aquele que carrega essa luz com ele entende o que é dito sobre isso; para os outros, no entanto, tudo o que se diz dela é uma tagarelice ininteligível. Todo o Evangelho de São João é um canto à Luz eterna que é ao mesmo tempo vida e amor. Deus em nós e nós Nele, esta é a nossa participação no Reino de Deus, cujo fundamento foi lançado com a Encarnação do Verbo.

 (“EL MISTERIO DE LA NOCHEBUENA”  - SANTA EDITH STEIN – págs. 5/6 www.alexandriae.org)

 

 

 

 

 

 

 


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