sábado, 11 de dezembro de 2021

A NECESSIDADE DO NOME

 




Diz-se que há 4 coisas que não temos opção ao nascer: a família (pai e mãe), o nome, o sexo e a religião. Esta última a própria pessoa pode mudar quando crescer, mas não a família nem o sexo e o nome, a não ser, neste último caso, quando tiver recebido um nome indigno que precise renunciar ao mesmo; mas, só o faz judicialmente. Todos os homens têm necessidade de um nome, logo ao nascer, tornando-se o primeiro sinal de identidade de uma pessoa. No Antigo Testamento, os nomes próprios de pessoas tinham origens diversas, sempre relacionados com alguma circunstância particular ao nascer.

Um dos filhos de Jacó tomou o nome de Judá para louvar a Javé (Gên 29, 35). Geralmente os nomes eram dados em homenagem a Deus, particularidade notada pelas letras “el” (Deus) no início ou final do nome: Natanael (dom de Deus), Elimelec (meu Deus é rei), Ezequiel (Deus consola), Israel (Deus forte), Gabriel (mensageiro de Deus), Rafael (medicina de Deus), Miguel (quem como Deus). Diz-se que os anjos não possuem nomes próprios como os homens, mas eles assim são chamados para indicar qual missão exercem. Quando o patriarca Jacó lutou com um anjo (Gên 32, 24-32), perguntou-lhe seu nome, mas ele respondeu: por que me perguntas o meu nome? E o abençoou sem dizer o nome (ou porque não o tinha ou porque não interessava dizê-lo naquele momento), embora tenha mudado o nome de Jacó para Israel. Vários personagens bíblicos tiveram seus nomes mudados: Abrão mudou para Abraão; Sarai para Sara; Jacó para Israel, etc, que indicava uma vocação ou uma missão a seguir.

Algumas pessoas também eram chamadas pelo gentílico: Nazareno (de Nazaré), Madalena (de Magdala), ou pelo patronímico como Bar-Jonas (fiho de Jonas), Bar-Teimeo (filho de Timeo), Bar-tolomeu (filho de Ptolomeu), etc. Nosso Senhor Jesus Cristo mudou o nome de alguns Apóstolos, indicando, às vezes, qual a vocação pessoal de cada um: Tiago e João foram chamados de Boanerges (filhos do trovão – Mc 3, 17); Simão foi chamado de Pedro (Mt 16, 18). Conservando esta tradição, algumas ordens religiosas têm o costume de mudar o nome do religioso quando faz seus votos. O mesmo ocorre com o Papa quando é eleito. Estes novos nomes indicam a vocação de cada um.

 Nomes de origem terrena e nomes de origem divina

 “O Anjo disse-lhe: "Não temas Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás a luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó e o seu reino não terá fim." (Lc 1, 30-34)

 E aí o significado de “nome” é mais profundo, indicando boa fama e poder; Quando se diz “fulano tem nome a zelar”, quer dizer também boa fama e, em alguns casos, poder. Em várias partes das Sagradas Escrituras se fala em honrar, em venerar ou adorar o “nome de Deus”, quer dizer, embora Deus não tenha nome deve-se ter honra, respeito, veneração ou adoração pelo que Ele é e atua entre nós, que é como se fosse sua boa fama e poder.

Vê-se que o Anjo fala em “casa de Jacó”, mas o patriarca teve seu nome mudado por um Anjo para Israel (Gên 32, 28). Poderia ter dito “casa de Israel”, mas na linguagem corrente entre os hebreus o nome Jacó estava ligado à descendência real através da tribo de Judá, enquanto Israel tinha sentido mais espiritual e divino. O Anjo, portanto, falava claramente também numa descendência real terrena. É como se estivesse definido aí a diferença entre o poder temporal e o e spiritual, que, no entanto, devem reger unidos.

O Profeta Isaías chama a dinastia que dominava os hebreus de “Casa de Jacó” e não “Casa de Israel”, indicando um reinado meramente terreno: “Casa de Jacó, vinde e caminhemos à luz do Senhor. Pois tu (ó Senhor) rejeitaste o teu povo, a casa de Jacó, porque eles se encheram (de superstições) como noutro tempo tiveram agoureiros como os filisteus, e se uniram aos filhos dos estranhos” (Is 2, 5-6).  Note-se que quando o Profeta fala “rejeitaste o teu povo”, logo a seguir completa, “a casa de Jacó”, quer dizer, Deus recusou os dirigentes, os filhos de Judá, judeus, e não o povo israelita. Mais adiante, o Profeta dá a entender essa distinção entre governantes e o povo quando diz: “Agora, pois habitantes de Jerusalém, e homens de Judá, sede vós os juízes entre mim e a minha vinha” (Is 5, 3). Habitantes de Jerusalém eram apenas os que moravam na capital, dominada por duas tribos, Benjamin e Judá, e “homens de Judá”, claramente, eram os dirigentes, os príncipes e reis que lá dominavam.

Quando se refere à “casa de Jacó” sempre dá a entender que está falando dos reis, da dinastia real, e não do povo eleito em geral, como nestes textos: “E acontecerá isto naquele dia: Os que tiverem ficado de Israel e os da casa de Jacó, que se tiverem salvado, não se apoiarão mais sobre aquele que os fere; mas apoiar-se-ão sinceramente sobre o Senhor, o Santo de Israel” (Is 10, 20-21). Em seguida o profeta fala que se converterão apenas “as relíquias”, isto é, uma pequena porção, tanto da “casa de Jacó” quanto do povo em geral.

Em outra passagem, diz: “Apesar dos que investem com ímpeto contra Jacó, Israel florescerá” (Is 27-6), deixando bem claro a diferença entre o poder temporal (Jacó) e o  espiritual (Israel)

“Por esta causa, o Senhor, que resgatou Abraão, diz isto à casa de Jacó: Agora não será confundido Jacó, nem agora se envergonhará o seu rosto; mas, quando vir no meio dele os seus filhos, obra das minhas mãos, dar glória ao seu nome, também eles santificarão o Santo de Jacó e glorificarão o Deus de Israel” (Is 29, 22-23). O “Santo de Jacó” é, pois, Jesus Cristo, descendente da “casa de Jacó” e o “Deus de Israel” nem precisa dizer Quem é.

E, no entanto, as profecias diziam “E tu Belém de Efrata, tu és pequenina entre as milhares de Judá; mas de ti é que há de sair aquele que há de reinar em Israel”. (Miq 5, 2). Há, portanto, dois significados nos títulos reais dados a Jesus Cristo: o terreno e o divino, sendo rei da “casa de Jacó” o faz com o título meramente terreno, mas como “Rei de Israel” (nome com que o Anjo mudou o nome de Jacó) ele reina sobre todos os homens, pois este título é divino. Estão bem definidos os poderes temporal e espiritual.

“Ao Nome de JESUS todo joelho se dobre no céu, na terra e nos abismos; e toda língua proclame, para glória de Deus Pai, que Jesus Cristo  é Senhor!” (São Paulo, Fil 2,10)

 

Nomes e títulos

 
Há nomes e há títulos. Nome é como comumente se é chamada a pessoa, em geral já desde o nascimento. Agora, título é aquele apelativo que se dá quando cria fama cumprindo um desígnio ou uma missão. Assim, Nosso Senhor Jesus Cristo já nasceu com nome e título, Jesus e “Filho do Altíssimo”. Foi acrescentado ao seu nome o de “Cristo” que é também um título, pois significa, Messias. Cristo é a tradução grega da palavra hebraica “mashiah”(Jo 1, 41), que quer dizer “O Ungido”, ou “O Ungido de Deus”, o rei esperado para salvar toda a nação. “Cristo” tornou-se, portanto, o título oficial de Nosso Senhor, acrescido logo após seu nome. Pode ser utilizado “Jesus, o Cristo”, ou então, como é comum no nosso idioma, apenas Jesus Cristo, pois o título incorporou-se ao nome através dos tempos.

No entanto, no Evangelho Nosso Senhor se autoproclama com outro título, o de “Filho do Homem” (Mt 26, 63-64), com dois objetivos: primeiro não ser acusado pelos fariseus de blasfêmia por se chamar de Filho de Deus; em segundo lugar porque o título de “Filho de Homem”, segundo São Tomas de Aquino, é título de juiz, (v. Ez 20, 3-4).; lê-se em São João: Deu-lhe o poder de julgar, porque é o Filho do Homem  (Jo 5, 27).e será na qualidade de juiz que Ele aparecerá no dia do Juízo Final. São Tomás também diz que Nosso Senhor aparecerá aos homens para julgá-los na sua aparência humana, com a finalidade de ser visto por todos como Homem e não como Deus, pois é necessário que um homem julgue outro homem: o juiz tem que ter natureza semelhante aos que vai julgar. Por isso, um anjo não pode julgar os homens, somente um homem pode julgar outro.

Quando Pilatos mandou fazer aquela placa irrisória na Cruz de Cristo não colocou que Ele era “Rei dos israelitas”, e sim, “Rei dos judeus:” Porque os que o condenavam eram apenas os judeus, isto é, pertencentes à Judéia, e não o povo hebreu ou israelita, com suas tribos dispersas. E aí também estava se cumprindo o que disse o Anjo, “casa de Jacó” (Lc 1, 34) e não de Israel. Embora o reino de Cristo seja eterno e se estabeleça sobre todos os povos e não somente sobre o povo de Israel.

 

 

 

 

 


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