Diz-se que há 4 coisas que não temos opção ao
nascer: a família (pai e mãe), o nome, o sexo e a religião. Esta última a
própria pessoa pode mudar quando crescer, mas não a família nem o sexo e o
nome, a não ser, neste último caso, quando tiver recebido um nome indigno que
precise renunciar ao mesmo; mas, só o faz judicialmente. Todos os homens têm
necessidade de um nome, logo ao nascer, tornando-se o primeiro sinal de
identidade de uma pessoa. No Antigo Testamento, os nomes próprios de pessoas
tinham origens diversas, sempre relacionados com alguma circunstância
particular ao nascer.
Um dos filhos de Jacó tomou o nome de Judá
para louvar a Javé (Gên 29, 35). Geralmente os nomes eram dados em homenagem a
Deus, particularidade notada pelas letras “el” (Deus) no início ou final do
nome: Natanael (dom de Deus), Elimelec (meu Deus é rei), Ezequiel (Deus
consola), Israel (Deus forte), Gabriel (mensageiro de Deus), Rafael (medicina
de Deus), Miguel (quem como Deus). Diz-se que os anjos não possuem nomes
próprios como os homens, mas eles assim são chamados para indicar qual missão
exercem. Quando o patriarca Jacó lutou com um anjo (Gên 32, 24-32),
perguntou-lhe seu nome, mas ele respondeu: por que me perguntas o meu nome? E o
abençoou sem dizer o nome (ou porque não o tinha ou porque não interessava
dizê-lo naquele momento), embora tenha mudado o nome de Jacó para Israel.
Vários personagens bíblicos tiveram seus nomes mudados: Abrão mudou para
Abraão; Sarai para Sara; Jacó para Israel, etc, que indicava uma vocação ou uma
missão a seguir.
Algumas pessoas também eram chamadas pelo
gentílico: Nazareno (de Nazaré), Madalena (de Magdala), ou pelo patronímico
como Bar-Jonas (fiho de Jonas), Bar-Teimeo (filho de Timeo), Bar-tolomeu (filho
de Ptolomeu), etc. Nosso Senhor Jesus Cristo mudou o nome de alguns Apóstolos, indicando,
às vezes, qual a vocação pessoal de cada um: Tiago e João foram chamados de
Boanerges (filhos do trovão – Mc 3, 17); Simão foi chamado de Pedro (Mt 16,
18). Conservando esta tradição, algumas ordens religiosas têm o costume de
mudar o nome do religioso quando faz seus votos. O mesmo ocorre com o Papa
quando é eleito. Estes novos nomes indicam a vocação de cada um.
Vê-se que o Anjo fala
em “casa de Jacó”, mas o patriarca teve seu nome mudado por um Anjo para Israel
(Gên 32, 28). Poderia ter dito “casa de Israel”, mas na linguagem corrente
entre os hebreus o nome Jacó estava ligado à descendência real através da tribo
de Judá, enquanto Israel tinha sentido mais espiritual e divino. O Anjo, portanto,
falava claramente também numa descendência real terrena. É como se estivesse
definido aí a diferença entre o poder temporal e o e spiritual, que, no
entanto, devem reger unidos.
O Profeta Isaías
chama a dinastia que dominava os hebreus de “Casa de Jacó” e não “Casa de
Israel”, indicando um reinado meramente terreno: “Casa de Jacó, vinde e
caminhemos à luz do Senhor. Pois tu (ó Senhor) rejeitaste o teu povo, a casa de
Jacó, porque eles se encheram (de superstições) como noutro tempo tiveram
agoureiros como os filisteus, e se uniram aos filhos dos estranhos” (Is 2,
5-6). Note-se que quando o Profeta fala
“rejeitaste o teu povo”, logo a seguir completa, “a casa de Jacó”, quer dizer, Deus
recusou os dirigentes, os filhos de Judá, judeus, e não o povo israelita. Mais
adiante, o Profeta dá a entender essa distinção entre governantes e o povo
quando diz: “Agora, pois habitantes de Jerusalém, e homens de Judá, sede vós os
juízes entre mim e a minha vinha” (Is 5, 3). Habitantes de Jerusalém eram
apenas os que moravam na capital, dominada por duas tribos, Benjamin e Judá, e
“homens de Judá”, claramente, eram os dirigentes, os príncipes e reis que lá
dominavam.
Quando se refere à
“casa de Jacó” sempre dá a entender que está falando dos reis, da dinastia
real, e não do povo eleito em geral, como nestes textos: “E acontecerá isto
naquele dia: Os que tiverem ficado de Israel e os da casa de Jacó, que se
tiverem salvado, não se apoiarão mais sobre aquele que os fere; mas
apoiar-se-ão sinceramente sobre o Senhor, o Santo de Israel” (Is 10, 20-21). Em
seguida o profeta fala que se converterão apenas “as relíquias”, isto é, uma
pequena porção, tanto da “casa de Jacó” quanto do povo em geral.
Em outra passagem,
diz: “Apesar dos que investem com ímpeto contra Jacó, Israel florescerá” (Is
27-6), deixando bem claro a diferença entre o poder temporal (Jacó) e o espiritual (Israel)
“Por esta causa, o
Senhor, que resgatou Abraão, diz isto à casa de Jacó: Agora não será confundido
Jacó, nem agora se envergonhará o seu rosto; mas, quando vir no meio dele os
seus filhos, obra das minhas mãos, dar glória ao seu nome, também eles
santificarão o Santo de Jacó e glorificarão o Deus de Israel” (Is 29, 22-23). O
“Santo de Jacó” é, pois, Jesus Cristo, descendente da “casa de Jacó” e o “Deus
de Israel” nem precisa dizer Quem é.
E, no entanto, as
profecias diziam “E tu Belém de Efrata,
tu és pequenina entre as milhares de Judá; mas de ti é que há de sair aquele
que há de reinar em Israel”. (Miq 5, 2). Há, portanto, dois significados
nos títulos reais dados a Jesus Cristo: o terreno e o divino, sendo rei da
“casa de Jacó” o faz com o título meramente terreno, mas como “Rei de Israel”
(nome com que o Anjo mudou o nome de Jacó) ele reina sobre todos os homens,
pois este título é divino. Estão bem definidos os poderes temporal e
espiritual.
“Ao Nome de JESUS todo joelho se dobre
no céu, na terra e nos abismos; e toda língua proclame, para glória de Deus Pai,
que Jesus Cristo é Senhor!” (São Paulo, Fil 2,10)
Nomes e
títulos
No entanto, no Evangelho Nosso Senhor se
autoproclama com outro título, o de “Filho do Homem” (Mt 26, 63-64), com dois
objetivos: primeiro não ser acusado pelos fariseus de blasfêmia por se chamar
de Filho de Deus; em segundo lugar porque o título de “Filho de Homem”, segundo
São Tomas de Aquino, é título de juiz, (v. Ez 20, 3-4).; lê-se em São João: Deu-lhe o
poder de julgar, porque é o Filho do Homem
(Jo 5, 27).e
será na qualidade de juiz que Ele aparecerá no dia do Juízo Final. São Tomás
também diz que Nosso Senhor aparecerá aos homens para julgá-los na sua
aparência humana, com a finalidade de ser visto por todos como Homem e não como
Deus, pois é necessário que um homem julgue outro homem: o juiz tem que ter
natureza semelhante aos que vai julgar. Por isso, um anjo não pode julgar os
homens, somente um homem pode julgar outro.
Quando Pilatos mandou fazer aquela placa
irrisória na Cruz de Cristo não colocou que Ele era “Rei dos israelitas”, e
sim, “Rei dos judeus:” Porque os que o condenavam eram apenas os judeus, isto
é, pertencentes à Judéia, e não o povo hebreu ou israelita, com suas tribos
dispersas. E aí também estava se cumprindo o que disse o Anjo, “casa de Jacó”
(Lc 1, 34) e não de Israel. Embora o reino de Cristo seja eterno e se
estabeleça sobre todos os povos e não somente sobre o povo de Israel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário