A agricultura como técnica do uso da
terra para cultivo de lavouras sempre foi a base das culturas desde os primórdios
da humanidade, assim como a criação de animais, chamada de pecuária. Daí chamar-se
agropecuária a conjugação dessas duas atividades na mesma terra e mesmo
proprietário. Tão antiga que ocupa lugar
de destaque nas narrativas bíblicas, já desde o tempo de Adão, Caim, Noé e os
patriarcas mais antigos como Isaac e Jacó. A atividade chamada de “catadores de
frutos” em árvores para a alimentação humana (imaginada por estudiosos da
chamada “História Natural”), parece nunca ter existido, segundo a Sagrada
Escritura
A primeira referência a essas atividades
é feita quando se fala de Caim e Abel, o primeiro agricultor e o segundo
criador de ovelhas (Gen 4, 2).
O rei de Gerara, Abimelec, já a
praticava no tempo de Abraão:
“Tomou pois Abimelec ovelhas, bois,
escravos e escravas, e deu-os a Abraão; e restituiu-lhe também Sara sua mulher”
(Gen 20, 14). Possuir gado, ovelhas e bois, juntamente com escravos, era sinal
de poder no Patriarcado antigo. E o fato de se doar a alguém tais bens era
sinal de maior poder ainda
Também era sinal de bênçãos de Deus a
riqueza proveniente da terra, como ocorreu com o Patriarca Isaac: “Ora, Isaac tendo
semeado naquela terra, colheu no mesmo ano cento por um: porque o Senhor o
abençoou. Ia enriquecendo e seus bens aumentavam, e cresciam cada vez mais, de
modo que veio a ser muito poderoso” (Gen 26,12-13).
O Patriarca Jacó também foi agricultor
e criador, destacando-se mais nesta ultima atividade, de onde se originou toda
a sua riqueza. E foi com grande astúcia que herdou uma fortuna de seu sogro,
Labão, conforme narra as Sagradas Escrituras:
“Faze
revista de todos os teus rebanhos e põe à parte todas as tuas ovelhas de velo
malhado, e de diversas cores. E tudo o que nascer escuro, malhado e vário, tanto nas ovelhas
quanto nas cabras, será a minha recompensa. E quando chegar o tempo de fazer essa
separação, segundo nosso ajuste, a minha inocência me dará testemunho diante de
ti. E tudo o que não for malhado, de
diversas cores, ou dum escuro misturado com o branco, assim nas ovelhas como
nas cabras, me convencerá de furto. Labão lhe respondeu: Eu venho no que tu me
propões.
E
no mesmo dia separou Labão as cabras e as ovelhas, os bodes, os carneiros, que
eram malhados e de diversas cores: e deu a guardar a seus filhos todos os
rebanhos, que eram duma só cor; isto é, que eram todos brancos, ou todos negros.
E pôs o espaço de três jornadas entre si, e seu genro, o qual apascentava os
rebanhos. Jacó pois tomando umas varas
verdes de choupo, de amendoeira, e de plátano, tirou-lhes parte da casca: com o
que os lugares, de que se tinha tirado a casca, apareceram brancos; e os que se
tinham deixado com ela, ficaram verdes; o que
causou nas varas uma variedade de cores. Depois pô-las nos canais, onde
se lançava água: para que vindo ali beber os rebanhos, tivessem eles estas
varas diante dos olhos, e concebessem olhando para elas. Com efeito sucedeu,
que estando as ovelhas no fervor do coito, e olhando para estas varas,
conceberam uns cordeiros malhados, vários, e de diversas cores. Dividiu Jacó o
seu rebanho, e pôs estas varas nos canais diante dos olhos dos carneiros. E
feito isto, estando separados os rebanhos, o que era todo branco, ou todo
negro, pertencia a Labão; o resto era de Jacó. Quando pois as ovelhas haviam de
conceber na primavera, punha Jacó estas varas nos canais, onde se lançava água,
diante dos olhos dos carneiros, e das ovelhas, para que concebessem olhando
para as varas. Mas quando elas haviam de conceber no outono, não lhas punha diante. Assim o que fora
concebido no outono, foi para Labão: e o que concebido na primavera, para Jacó.
Desta sorte veio Jacó a ser sobremaneira rico; teve muitos rebanhos, um grande
número de escravos, e de escravas, camelos e jumentos” (Gen 30, 32-43)
É preciso notar que o sogro de Jacó
havia agido anteriormente não somente com esperteza, mas com desonestidade para
com o genro. Como não tinha dote, Jacó se ofereceu para trabalhar de graça
durante 7 anos a fim de se casar com a filha dele, Raquel (Gen 29, 18). Mas, no
dia das bodas Labão introduziu a irmã Lia no quarto de Jacó, em vez da esposa
recém casada, exigindo mais sete anos de trabalho escravo, gratuito, a fim de
consumar o novo casamento (Gen 29, 22-27). O trabalho de Jacó (14 anos,
supõe-se) fez com que Labão ficasse mais rico ainda (Gen 30, 29),
Tudo indica que a técnica de fazer
nascer as ovelhas com as cores malhadas foi inspirada por um anjo ao Patriarca.
Quando abandonou a companhia do sogro, continuou a atividade de criador em
outras terras: “Comprou parte do campo, onde tinha posto as suas tendas, por
cem cordeiros, aos filhos de Hemor” (Gen 33,19). Os habitantes de Siquém, para
onde tinha ido morar Jacó já eram criadores, pois possuíam “..bois e jumentos ” (Gen 34,28)
E o Patriarca José, num sonho,
demonstra que praticava a agricultura: “Parecia-me que eu estava atando no
campo uns molhos de trigo; que o meu molho se levantava e ficava de pé, e que
os vossos, postos em redor do meu, o adoravam” (Gen 37,7).
Muitas vezes a agricultura progredia em
meio a certo período de escassez, mas logo vinha a fartura: “numa terra fértil
de trigo, de cevada, de e de vinhas, onde se dão figueiras, e romeiras, e
olivais: numa terra de azeite e de mel” (Dt 8,8).
No ano jubilar, as dívidas eram
perdoadas e muitas terras voltavam às mãos dos antigos donos: “No ano do
jubileu tornarão a entrar todos na posse dos bens, que antes tinham” (Lev 25, 8-16). Era costume que quando o
sujeito não tivesse com que pagar suas dívidas se oferecia como escravo durante
determinado tempo até quitar seu débito, ou então entregava seus bens como
pagamento. A cada 50 anos se comemorava o dia em que o povo eleito saiu da
escravidão do Egito, chamado jubileu, e nesse ano todas as dívidas eram
perdoadas, e quem as tinha pago com suas terras as recebia de volta. Daí a
expressão usada por Nosso Senhor Jesus Cristo no Pai Nosso, “perdoai as nossas
dívidas”.
É provável que o profeta Isaías assim
tenha lamentado aqueles que resistiam à observância desta lei, acumulando bens:
“Ai de vós os que ajuntais casa a casa, e ides acrescentando campo a campo” (Is
5,8).
As abundantes reservas de Canaã foram
tão rapidamente reduzidas pelos israelitas que em muito pouco tempo passaram a
importar tanto madeira quanto operários que nas suas terras trabalhassem, como
no tempo de Salomão: “Dá ordem pois a teus servos que me cortem cedros do
Líbano, e os meus servos estarão com os teus: e eu darei a teus servos qualquer
paga que tu me peças: porque tu sabes que no meu povo não há ninguém que saiba
cortar madeira como os sidônios” (III Rs 5, 6-8). Quando necessitavam de
madeira para alguma emergência ou oferecer holocaustos recorriam a fontes
extraordinárias, como a lenha de Abraão para o sacrifício de Isaac (Gen 22,3-7),
as sobras de um carro de guerra usadas
no tempo de Josué (I Sam 6, 14), um carro de bois no tempo de Davi (II Sam
24,22), ou ainda o arado que Santo
Eliseu usou para cozer as carnes do sacrifício (III Rs 19,21).
Havia muitos recursos hídricos na antiga
Palestina:
“Porque o Senhor teu Deus te há de
introduzir numa terra excelente, numa terra cheia de regatos de águas e de
fontes: em cujos campos e montes arrebentam os abismos dos rios: numa terra
fértil de trigo, de cevada, e de vinhas, numa terra de azeite e de mel” (Dt 8,7-8);
Mesmo assim recorriam também aos métodos de irrigação do Egito: “Porque a terra
que vais possuir não é como a terra do Egito, de onde saíste, na qual lançada a
semente se conduz água para regar, como se faz nas horas” (Dt 11,10-11).
Há referências a chuvas temporãs e seródias
(que produzem frutos fora da estação) (Dt 11,14; Jer 5,24; Os 6,9; Zac 10,1).
Também se fala em colheitas de produtos específicos, como trigo, cevada, uva,
azeitona e figos (Jó 15,33; 24,5; e 31,40). A irrigação, a grade e o arado eram
conhecidos desde longa data entre os hebreus (Jz 3,31; Jó 39,10; Prov 24. 30; Is
15,5; 32, 20; e Jer 4,3), mas era proibido semear um campo com sementes
diferentes (Dt 22,9). Prevê-se que
usavam fertilizantes por uso de termos correlatos (IV Rs 9, 37; Sl 82,11, e Jer
8,2). Os vinhedos eram sempre cercados por um muro e tinham uma torre para
guarda e proteção, além de outras edificações (Num 22,24; Sl 79, 13; Is 5,5; Mt
21, 33). Na colheita do grão, estendiam-no na eira, e o método para o separar
da palha era fazer os bois andarem sobre ele (Dt 25, 4; II Sam 24,180, ou então
batiam os grãos com uma vara (Is 28,27; e 41,15). Usavam também o ventilabro
(espécie de abanador grande) para ajudar
na debulha (Rut 3,2; Jó 21,28; e Mt 3,12).
Havia também um sistema de parceria,
como a dos rendeiros que pagavam importância fixa para uso da terra (Cânt 8,11)
ou uma parte estipulada da colheita de frutos ou qualquer outro produto da
terra, em geral a metade ou um terço (II Sam 9,10; Mt 21, 34). Um viajante
podia comer dos frutos do lugar onde passasse, mas não podia levá-los consigo
(Dt 23,24 e ss e Mt 12, 1). Os pobres tinham certos direitos sobre a terra,
como o de respigar, isto é, apanhar as espigas que caíam dos cestos dos ceifadores
e ficavam espalhadas pelo chão (Lev 23,22; Dt 24, 19; Jz 8,2; e Rut 2, 6-9),
como ocorreu na história de Rute que, por humildade, se ofereceu para apanhar o
trigo que caía no chão.Os pobres podiam também se aproveitar dos cantos dos
campos, onde não eram ceifados para deixar para eles (Lev 19,9. Em geral tais
leis eram rigorosamente cumpridas (Jó 24, 10), embora não houvesse muita
pobreza em Israel (I Sam 22,2). De outro lado, a favor dos pobres havia a
cobrança de um segundo dízimo a favor deles a cada três anos (Dt 14, 28 e ss;
26, 12; Tob 1,7; Am 4,4).
Nenhum comentário:
Postar um comentário