ANTES DA COMUNHÃO
1)
Humilhar-vos-eis profundamente diante de
Deus.
2)
Renunciareis ao vosso fundo tão corrompido e
às vossas disposições, por melhores que vosso amor-próprio as faça parecer.
3)
Renovareis vossa consagração, dizendo: “Tuus
totus ego sum, et omnia tua sunt”: Sou todo vosso minha querida Senhora,
com tudo o que tenho.
4)
Suplicareis a essa boa Mãe que Vos
empreste seu coração, para nele receberdes seu Filho com as disposições dela.
Dir-lhe-eis que a glória de seu Filho exige que não seja recebido num coração
tão manchado como o vosso e tão inconstante, que não tardará a privá-lo da sua
glória ou perdê-lo. Mas, se Ela quiser vir habitar no vosso coração para
receber seu Filho, poderá fazê-lo pelo domínio que tem sobre os corações. E seu
filho será assim bem recebido, sem mancha nem perigo de ser ultrajado ou
perdido: “Deus in médio ejus non
commovebitur”.
Dir-lhe-eis confiadamente que tudo o que lhe
oferecestes dos vossos bens é bem pouca coisa para honrá-la, mas que desejais
dar-lhe, pela santa Comunhão, o mesmo presente que o Pai Eterno lhe deu, e que,
deste modo, Ela será mais honrada do que se lhe oferecêsseis todos os bens do
mundo.
Enfim, podeis dizer-lhe que Jesus a ama de
modo único, e que ainda deseja ter nela suas complacências e seu repouso, mesmo
que seja agora na vossa alma mais suja e mais pobre do que o estábulo, onde
Jesus não pôs dificuldade em vir, porque Ela ali estava.
Pedir-lhe-eis seu coração com estas carinhosas palavras: “Accipio te in mea omnia. Praebe mihi cor
unum, o Maria!” (Tomo-vos como toda a minha riqueza. Dai-me o vosso
Coração, ó Maria!).
NA COMUNHÃO
Prestes a receber Jesus
Cristo, depois do Pai-Nosso, dir-lhe-eis três vezes: “Domine, non sum dignus” (Senhor, eu não sou digno), etc.
A primeira vez será para
dizer ao Pai Eterno que não sois digno de receber seu Filho único, por causa
dos vossos maus pensamentos e ingratidões para com um Pai tão bom. Mas eis que
Maria, sua serva: “Ecce ancilla Domnini”, vos representa e vos dá uma confiança
e uma esperança singulares junto da Divina Majestade: “Quoniam singulariter in spe constituisti me”.
Direis ao Filho: “Domine, non sum dignus”, etc., não sois
digno de o receber por causa de vossas palavras inúteis e más, e vossa infidelidade
no seu serviço. No entanto, rogais a Ele
que tenha piedade de vós, porque o introduzireis na casa de sua própria Mãe e
vossa, e que não o deixareis partir sem que venha morar nela: “Tenui eum, nec dimittam, donec introducam
illum in domum matris meae, et in cubiculum genitrix meae” (Cant 3, 4).
Pedir-lhe-eis que se levante
e venha ao lugar de seu repouso, à arca de sua santificação: “Surge, Domine, in requiem tuam, tu et arca
santificationis tuae”.
Dir-lhe-eis que não pondes
de modo algum vossa confiança em vossos méritos, na vossa força e preparação,
como Esaú, mas nos de Maria, vossa querida Mãe, como o pequeno Jacó nos
desvelos de Rebeca. E que, embora sendo pecador e Esaú, ousais vos aproximar de
sua santidade, apoiado e adornado dos
méritos e virtudes de sua santa Mãe.
Direis ao Espírito Santo: “Domine, non sum dignus”, que não sois
digno de receber a obra-prima de sua caridade, por causa da tibieza e
iniqüidade de vossas ações e de vossas resistências às suas inspirações. Mas
que toda a vossa confiança está em Maria, sua fiel Esposa. E dirás com São
Bernardo: “Haec máxima meã fiducia; haec
tota ratio spei meae” (Ela é a minha grande confiança, é toda a razão da
minha esperança).
Podereis até rogar-lhe que
venha mais uma vez a Maria, sua Esposa inseparável; que seu seio é tão puro e
seu coração tão abrasado como sempre; e que sem a descida dele na vossa alma,
Jesus e Maria nela não poderão ser nem bem formados, nem dignamente alojados.
DEPOIS DA COMUNHÃO
Depois da santa comunhão,
estando interiormente recolhido, com os olhos fechados, introduzireis Jesus
Cristo no coração de Maria.
Vós o direis à sua Mãe, que
o receberá amorosamente, o instalará honorificamente, o adorará profundamente,
o amará perfeitamente, o abraçará estreitamente , e lhe prestará, em espírito e
em verdade, várias homenagens que são desconhecidas por nós em nossa espessa
ignorância.
Ou então, permanecereis
profundamente humilhados em vosso coração, na presença de Jesus residindo em
Maria.
Ou permanecereis como um
escravo à porta do palácio do Rei, onde Ele se encontra a conversar com a
Rainha. E enquanto conversam, sem precisarem de vós, ireis em espírito ao céu e
pela terra inteira, pedir às criaturas que agradeçam, adorem e amem Jesus e Maria
em vosso lugar; venite, adoremus, venite,
etc.
Ou então, vós mesmos
pedireis a Jesus, em união com Maria, a
vinda de seu reino sobre a terra, por meio de sua santa Mãe. Ou pedireis a
divina sabedoria, ou o amor divino, ou o perdão de vossos pecados, ou qualquer
outra graça, mas sempre por Maria e em Maria. Olhareis para vós com
desconfiança, e direis: “Ne respicias,
Domine, peccata mea”.
Senhor, não olheis meus pecados; “sed oculi tui videant aequitates Mariae”: mas que vossos olhos não
vejam em mim senão as virtudes e méritos de Maria.
E lembrando-vos de vossos
pecados, acrescentareis: “Inimicus homo
hoc fecit:
Eu mesmo sou o maior inimigo
com que tenho de lutar; fui eu que fiz estes pecados; ou então: “Ab homine iníquo et doloso erue me” (Livrai-me,
Senhor, do homem iníquo e doloso), ou então; “Te oportet crescere, me autem minui”: Meu Jesus, é preciso que
cresçais em minha alma e que eu diminua.
Maria, é preciso que cresçais em mim, e que eu seja
menor do que nunca.
Crescite
et multiplicamini: Ó Jesus e Maria, crescei em mim,e
multiplicai-vos fora de mim nos outros.
Há uma infinidade de outros
pensamentos que o Espírito Santo fornece, e vos fornecerá caso sejais interior,
mortificado e fiel a essa grande e sublime devoção que acabo de vos ensinar.
Mas, lembrai-vos de que,
quanto mais deixardes agir Maria em vossa comunhão, mais Jesus será glorificado.
E tanto mais deixareis agir Maria por Jesus e Jesus em Maria, quanto mais
profundamente vos humilhardes e os escutardes em paz e silêncio, sem vos preocupar
em ver, provar, nem sentir. Pois o justo vive, em tudo, da fé, e
particularmente na santa comunhão, que é um ato de fé; Justus meus ex fide vivit.
(“Tratado da Verdadeira
Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de Montfort, tópicos
266 a 273 Editora Retornarei, 2016, págs. 203/208 );
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