segunda-feira, 6 de agosto de 2018

MANEIRA DE PRATICAR A DEVOÇÃO Á SANTÍSSIMA VIRGEM NA COMUNHÃO






ANTES DA COMUNHÃO

1)             Humilhar-vos-eis profundamente diante de Deus.
2)             Renunciareis ao vosso fundo tão corrompido e às vossas disposições, por melhores que vosso amor-próprio  as faça parecer.
3)             Renovareis vossa consagração, dizendo:  “Tuus totus ego sum, et omnia tua sunt”: Sou todo vosso minha querida Senhora, com tudo o que tenho.
4)             Suplicareis a essa boa Mãe que Vos empreste seu coração, para nele receberdes seu Filho com as disposições dela. Dir-lhe-eis que a glória de seu Filho exige que não seja recebido num coração tão manchado como o vosso e tão inconstante, que não tardará a privá-lo da sua glória ou perdê-lo. Mas, se Ela quiser vir habitar no vosso coração para receber seu Filho, poderá fazê-lo pelo domínio que tem sobre os corações. E seu filho será assim bem recebido, sem mancha nem perigo de ser ultrajado ou perdido: “Deus in médio ejus non commovebitur”.
Dir-lhe-eis confiadamente que tudo o que lhe oferecestes dos vossos bens é bem pouca coisa para honrá-la, mas que desejais dar-lhe, pela santa Comunhão, o mesmo presente que o Pai Eterno lhe deu, e que, deste modo, Ela será mais honrada do que se lhe oferecêsseis todos os bens do mundo.
Enfim, podeis dizer-lhe que Jesus a ama de modo único, e que ainda deseja ter nela suas complacências e seu repouso, mesmo que seja agora na vossa alma mais suja e mais pobre do que o estábulo, onde Jesus não pôs dificuldade em vir, porque Ela ali estava.
Pedir-lhe-eis seu coração com estas carinhosas palavras: “Accipio te in mea omnia. Praebe mihi cor unum, o Maria!” (Tomo-vos como toda a minha riqueza. Dai-me o vosso Coração, ó Maria!).

NA COMUNHÃO
Prestes a receber Jesus Cristo, depois do Pai-Nosso, dir-lhe-eis três vezes: “Domine, non sum dignus” (Senhor, eu não sou digno), etc.
A primeira vez será para dizer ao Pai Eterno que não sois digno de receber seu Filho único, por causa dos vossos maus pensamentos e ingratidões para com um Pai tão bom. Mas eis que Maria, sua serva: “Ecce ancilla Domnini”, vos representa e vos dá uma confiança e uma esperança singulares junto da Divina Majestade: “Quoniam singulariter in spe constituisti me”.
Direis ao Filho: “Domine, non sum dignus”, etc., não sois digno de o receber por causa de vossas palavras inúteis e más, e vossa infidelidade no seu serviço.  No entanto, rogais a Ele que tenha piedade de vós, porque o introduzireis na casa de sua própria Mãe e vossa, e que não o deixareis partir sem que venha morar nela: “Tenui eum, nec dimittam, donec introducam illum in domum matris meae, et in cubiculum genitrix meae” (Cant 3, 4).
Pedir-lhe-eis que se levante e venha ao lugar de seu repouso, à arca de sua santificação: “Surge, Domine, in requiem tuam, tu et arca santificationis tuae”.
Dir-lhe-eis que não pondes de modo algum vossa confiança em vossos méritos, na vossa força e preparação, como Esaú, mas nos de Maria, vossa querida Mãe, como o pequeno Jacó nos desvelos de Rebeca. E que, embora sendo pecador e Esaú, ousais vos aproximar de sua santidade, apoiado e adornado  dos méritos e virtudes de sua santa Mãe.
Direis ao Espírito Santo: “Domine, non sum dignus”, que não sois digno de receber a obra-prima de sua caridade, por causa da tibieza e iniqüidade de vossas ações e de vossas resistências às suas inspirações. Mas que toda a vossa confiança está em Maria, sua fiel Esposa. E dirás com São Bernardo: “Haec máxima meã fiducia; haec tota ratio spei meae” (Ela é a minha grande confiança, é toda a razão da minha esperança).
Podereis até rogar-lhe que venha mais uma vez a Maria, sua Esposa inseparável; que seu seio é tão puro e seu coração tão abrasado como sempre; e que sem a descida dele na vossa alma, Jesus e Maria nela não poderão ser nem bem formados, nem dignamente alojados.
DEPOIS DA COMUNHÃO
Depois da santa comunhão, estando interiormente recolhido, com os olhos fechados, introduzireis Jesus Cristo no coração de Maria.
Vós o direis à sua Mãe, que o receberá amorosamente, o instalará honorificamente, o adorará profundamente, o amará perfeitamente, o abraçará estreitamente , e lhe prestará, em espírito e em verdade, várias homenagens que são desconhecidas por nós em nossa espessa ignorância.
Ou então, permanecereis profundamente humilhados em vosso coração, na presença de Jesus residindo em Maria.
Ou permanecereis como um escravo à porta do palácio do Rei, onde Ele se encontra a conversar com a Rainha. E enquanto conversam, sem precisarem de vós, ireis em espírito ao céu e pela terra inteira, pedir às criaturas que agradeçam, adorem e amem Jesus e Maria em vosso lugar; venite, adoremus, venite, etc.
Ou então, vós mesmos pedireis a Jesus, em união  com Maria, a vinda de seu reino sobre a terra, por meio de sua santa Mãe. Ou pedireis a divina sabedoria, ou o amor divino, ou o perdão de vossos pecados, ou qualquer outra graça, mas sempre por Maria e em Maria. Olhareis para vós com desconfiança, e direis: “Ne respicias, Domine, peccata mea”.
Senhor,  não olheis meus pecados; “sed oculi tui videant aequitates Mariae”: mas que vossos olhos não vejam em mim senão as virtudes e méritos de Maria.
E lembrando-vos de vossos pecados, acrescentareis: “Inimicus homo hoc fecit:
Eu mesmo sou o maior inimigo com que tenho de lutar; fui eu que fiz estes pecados; ou então: “Ab homine iníquo et doloso erue me” (Livrai-me, Senhor, do homem iníquo e doloso), ou então; “Te oportet crescere, me autem minui”: Meu Jesus, é preciso que cresçais em minha alma e que eu diminua.
Maria,  é preciso que cresçais em mim, e que eu seja menor do que nunca.
Crescite et multiplicamini: Ó Jesus e Maria, crescei em mim,e multiplicai-vos fora de mim nos outros.
Há uma infinidade de outros pensamentos que o Espírito Santo fornece, e vos fornecerá caso sejais interior, mortificado e fiel a essa grande e sublime devoção que acabo de vos ensinar.
Mas, lembrai-vos de que, quanto mais deixardes agir Maria em vossa comunhão, mais Jesus será glorificado. E tanto mais deixareis agir Maria por Jesus e Jesus em Maria, quanto mais profundamente vos humilhardes e os escutardes em paz e silêncio, sem vos preocupar em ver, provar, nem sentir. Pois o justo vive, em tudo, da fé, e particularmente na santa comunhão, que é um ato de fé; Justus meus ex fide vivit.


(“Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de Montfort, tópicos 266 a 273 Editora Retornarei, 2016, págs. 203/208 );







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