Longe de ser um povo laxo e despreocupado com os sérios
problemas nacionais, nosso povo parece ter manifestado que possui ideal
político. A prova parecia estar, no ano que passou, nas manifestações públicas
contra a corrupção e os políticos demagogos. Antigamente se dizia que ideal
político se confunde com ideologia, isto é, com um sistema ideológico de
doutrinas de alguma seita, corrente filosófico-religiosa ou partido. Ideologia,
como o nome diz, é um sistema de idéias que, estruturadas, formam um corpo de
doutrina. Assim, podemos dizer que o nazismo era uma ideologia; o socialismo é
uma ideologia, o comunismo é uma ideologia. Já o capitalismo não, não é uma
ideologia, pois trata-se do meio natural do homem viver, ninguém vive sem
capitalismo, não é necessário se criar um corpo de doutrinas pois ele existe
espontaneamente no mundo. O comércio, o ato de vender e comprar, ou de trocar
mercadorias, nasceu com o homem, existe desde o começo do mundo.. O próprio
comunismo a si mesmo se denominava de “capitalismo de estado”, porque era o
governo fazendo o exercício do capitalismo que é imanente na natureza humana.
Ao se respeitar a natureza humana que pede constantemente o exercício do
capitalismo, e ao mesmo tempo se for estruturada suas concepções em forma de
princípios filosóficos, da maneira de se viver, pode-se até aceitar que se
torne uma ideologia política, chamada de “ideologia capitalista, com a vantagem
de não ser uma coisa artificial como o socialismo e o comunismo.
Mas, qual o ideal político de nosso povo? Vazio de
princípios e idéias, o ideal político de nosso fica pulverizado na celeuma em
torno da torcida que se faz por um ou outro candidato, e quase nada em torno de
algum partido. A maioria de nosso povo “torce” por alguém, e essa torcida é
meramente emotiva. Um exemplo tivemos agora com o falecimento de Eduardo Campos,
o qual serviu emotivamente para ascender sua vice na chapa. Foi simplesmente a
emoção do impacto causado pela morte, e de forma tão desastrosa, que levou a
candidata ao topo da preferência, tanto de seus correligionários quanto dos
eleitores de seu partido em geral.
Diante deste vazio de ideal que papel exercem os partidos
na atual conjuntura? Apenas de alianças e conchavos. O povo continua alheio ao
que rezam os estatutos e os programas partidários. Aliás, não há muita
diferença, por exemplo, entre o estatuto do PSDB e o do PT, ou entre os demais
partidos. Todos falam em democracia e coisas banais sem muita consistência,
coisas que o povo nem sequer entende direito. De fato, há diferenças fundamentais
entre alguns programas partidários, pois o PT talvez seja o único que pleiteia,
dentre outras coisas, o aborto em seu programa. Já os outros partidos têm
programas semelhantes, mas divergindo em muitos pontos, embora se pareçam nas
linhas gerais, como a tendência socialista que há em quase todos. E o povo nem
opina, nem toma conhecimento dos estatutos e dos programas partidários, coisa
que somente algumas pessoas têm acesso, e por mera curiosidade.
É claro que muita gente ainda perde tempo em se postar
diante dos aparelhos de TV para assistir os barulhentos debates (que parecem
mais shows de TV, com torcidas de um e de outro lado, do que palanque
político), mas os temas escolhidos são, em geral, superficiais e vazios. Temas
candentes da atualidade são evitados, como o aborto, o direito de propriedade,
a privatização das empresas estatais (a Petrobras é um exemplo, se fosse
privada não teria dado chance do escândalo de Pasadena) e, principalmente, as
bolsas sociais (capitaneadas pela bolsa-família, ninguém fala em extinguir tais
medidas demagógicas e ineficazes para o progresso do país). E depois dos
debates vêm as empresas de pesquisa perguntando aos abobalhados
telespectadores: quem venceu o debate? É evidente que tudo gira em torno de se
torcer por alguém. Parecido com futebol,
não há seriedade nisso. Antigamente, as chamadas plataformas políticas
dos candidatos exibiam programas de crescimento social e econômico, com planos
de expansão de nossas estradas e ferrovias, portos e hospitais. Hoje, não se fala mais nisso, mas
simplesmente em inflação, inflação, inflação.
Se Dilma pensa em ganhar a eleição é , de modo
primordial, levantando a bandeira da “ação social” através de bolsas
“caritativas” para auxílio a populações carentes, e se os demais candidatos não
têm coragem de falar abertamente contra tais medidas, é porque a maioria dos
eleitores não vota pelos interesses maiores do país, não votam por causa de
algum princípio ideológico e social, mas, por causa de sua barriga. Pensam no
que vão comer amanhã no almoço e não no que vai acontecer daqui a alguns anos,
quando, por falta de verbas para manter estes programas (os contribuintes estão
sendo exauridos e desencorajados a pagar os impostos que sustentam essa gente e
a arrecadação vai diminuir e minguar) o governo terá que, forçosamente, a
deixar de distribuir esmolas para eles.
E aí, quando a barriga começar a doer, vai explodir uma revolta popular
sem nome. Igualzinho ao que já está ocorrendo na Venezuela: o socialismo só
prospera enquanto dura o dinheiro que o governo arrecada da população que
produz – quando este começa a minguar, morre o socialismo! Talvez por isso é
que o lema de Hugo Chávez era “socialismo ou morte!”
E onde está o ideal político de nosso povo? O que ele
pensa de democracia? Será que o povo sabe o que é isso ou apenas uma minoria de
intelectuais, da classe média e das “zelites” (como a chama o Lula)? Como essa fabulosa classe média é a mola
motora que faz o povo agir (e pensar muito pouco) talvez consiga fazê-lo
segui-la, mas não de forma consciente. Não, o povo não sabe o que é democracia,
não sabe o que é, por exemplo, “estado de direito”, e outras tantas expressões
usadas pelos políticos e juristas. Foram os expoentes das correntes ideológicas
de certos partidos que forjaram tais expressões e nunca saídas do meio do povo.
Antigamente, o candidato que oferecesse mais favores à
população ganhava as eleições. Era comum eles oferecerem empregos, cirurgias
gratuitas, cadeiras de roda, telhas e tijolos para casas populares,etc., Essas
coisas hoje são proibidas por lei, mas surgiram em seu lugar coisas piores: o
bolsa família e as “ações sociais” dos políticos que estão no poder. Isso na
área federal, porque nos municípios, especialmente nas pequenas cidades, o que
os políticos mais falam é na merenda escolar. Como se vê, a ideologia de nosso
povo não é gerada na mente, na consciência e na ética moral, mas na barriga. E
quando os orçamentos para pagar tais esmolas começarem a faltar, exatamente por
causa da inadimplência da classe média, o povo vai se revoltar, e muito!
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