Plínio Corrêa de Oliveira, em sua magistral obra “Revolução e Contra-Revolução”, divide o ciclo revolucionário em 3 fases: a primeira foi a Revolução Protestante, a segunda a Revolução Francesa e a terceira fase a comunista. Na mesma obra ele define o que se seria uma quarta fase, que seria uma revolução tribal transformando toda a sociedade numa comunidade autogestionária[1]. Esta quarta fase já foi iniciada com a revolução da Sorbone de 1968 Uma quinta revolução seria um tribalismo todo voltado para o curandeirismo, etc.
O islamismo poderia servir de "caldo de
cultura", poderia ter elementos que servissem para a quarta ou até mesmo a
quinta Revolução?
Vejamos.
1. O aspecto tribal. A estrutura social de
quase todos os povos dominados pelos muçulmanos é ainda tribal. De modo geral,
tais povos conservaram seus aspectos primitivos como reação à ocidentalização
da cultura. Embora tenha crescido o progresso tecnológico em muitos daqueles
países, a estrutura social ficou estagnada e presa a valores tribais seculares.
Da mesma forma, a legislação islâmica conserva todo o seu primitivismo mantendo
tais povos numa quase barbárie.
2. O ódio ao Ocidente. Cada vez mais cresce
o ódio ao Ocidente cristão, alimentado pelos aiatolás e mulás islâmicos, o que
faz com que tais povos mais se distanciem do verdadeiro progresso social e se
mantenham em seu primitivismo. Este ódio é alimentado pela revolta contra o Estado
judeu na região.
3. O fascínio que desperta. Talvez desperte
muito mais certo fascínio no Ocidente do que as reservas tribais de alguns
povos indígenas. Isto porque possuem algo parecido com hierarquia social e uma
certa riqueza cultural. Pelo menos em alguns aspectos. São mais numerosos;
defendem causas universais; poderiam algum dia influir todos os povos da terra
talvez pelo binômio “medo-simpatia”.
4. A autogestão islâmica. A Revolução
islâmica, pois, nada mais é do que a IV Revolução tribal e autogestionária
aplicada na prática. Nos mesmos moldes em que aquela Revolução foi idealizada
pelos seus ideólogos: autoctonismo, falta de governo (tantas são as tribos que
ás vezes alguns daqueles governos têm tido problemas para se manter no poder),
curandeirismo (há muito disto no islamismo), etc. E aqui haveriam elementos
mais facilitadores para um passo adiante: a quinta fase da, pois a religião
islâmica abre grande espaço para a ação da feitiçaria, da magia, do
curandeirismo, que é muito praticado em suas tribos arredias...
Este aspecto tribal está sendo o grande empecilho
para concluir o que os americanos chamam de "democratização" de
alguns países islâmicos. Esta tal "democratização" exigiria que
aceitassem o costume ocidental de eleger seus governantes e que elaborassem uma
Carta Magna, uma Constituição, a fim de que a nação tivesse um texto legal
básico de sua existência. Mas nada disto estão dispostos a fazer: na realidade
quem manda são os chefes tribais, os mulás e aiatolás, muitos deles sob
influência direta dos ideólogos muçulmanos do Irã, Arábia Saudita, ou qualquer
outro centro de propagação do islamismo no mundo. Apesar disso há consenso entre
eles quando se trata de fazer guerra contra Israel ou o Ocidente cristão.
O historiador inglês Bernard Lewis, professor
emérito da Universidade de Princenton, nos EUA, especialista em história do
islã, com mais de 20 livros publicados, fala sobre estas dificuldades. Segundo
Lewis a palavra democracia sequer existe entre os muçulmanos. Quando eles
começaram a falar sobre democracia no século XIX se utilizaram de um termo
emprestado da Europa. Nesta época houve algumas tentativas de
"democratização" baseada em alguns modelos europeus, com constituição
e parlamento, mas nenhuma funcionou a contento.
A Turquia foi um exemplo. A república foi
proclamada em 1923, sendo eleito seu primeiro presidente. Tentou este romper
com o passado islâmico e oriental, abolindo o califado e impondo a
"laicização" das instituições, que nos países islâmicos são ligados á
religião. Após a década de 50 a Turquia elevou ao poder o Partido Democrático,
fazendo com que se fortalecessem seus vínculos com os EUA. No decorrer do
século XX houve golpes de estado, eleições e tentativas de eliminar o
crescimento da influência islâmica nas leis do país. Hoje, a Turquia pode-se
dizer que mantém uma certa "democracia" nos moldes ocidentais, mas
convivendo com múltiplos problemas internos provocados por muçulmanos e curdos.
Não há outro país muçulmano que tenha regime político semelhante. A própria
Arábia Saudita, por exemplo, é uma monarquia absolutista, “teocrática",
como se diz, e de cunho ditatorial. Lá, a família real detém 40% de toda a riqueza
do país e consegue se manter no poder graças a uma rígida legislação islâmica,
que agrada aos ideólogos muçulmanos mas mantém o povo numa situação de quase
escravidão e de ignorância crassa. O estilo de vida tribal secular deste povo é
que o mantém preso às tradições islâmicas e obedientes aos ditames da
aristocracia "sacerdotal" da religião. Tal modo de vida não condiz
com o espírito ocidental e cria dificuldades para o funcionamento de uma
democracia tipo americana.
O mesmo ocorre em outros países muçulmanos, como,
por exemplo, o Marrocos, que tem uma monarquia islâmica liberal e moderada e
com laivos de simpatias pelo Ocidente. Naquele país também foram promulgadas
algumas leis para amenizar a ditadura islâmica, como uma constituição e certas
liberdades para as mulheres. Há também um parlamento eleito através do sistema
democrático de votos. Em 2003, o rei Mohammed IV e o parlamento aprovaram uma
nova legislação sobre a família, os direitos individuais, e, obviamente, um
estatuto dando proteção às mulheres e crianças. Mas fica por aí, havendo poucas
possibilidades da monarquia ser menos rigorosa em outros aspectos. Há, porém,
quem diga que o Marrocos é o único exemplo de um país muçulmano que se adaptou
a certos costumes ocidentais e civilizatórios.
Já o mesmo não ocorre com os demais. O próprio
historiador Lewis reconhece que há uma grande dificuldade para vencer as
resistências seculares dos povos sob domínio islâmico para aceitar qualquer
ocidentalização, da qual a "democracia" faz parte. E um fator a mais
é a grande influência que tem lá dentro os aiatolás, principalmente os do Irã,
onde impera uma Revolução Islâmica há mais de 40 anos tentando ser exportada
para além de suas fronteiras.
O certo é que provavelmente veremos surgir ou se expandir no Iraque e nas circunvizinhanças um amontoado de regimes tribais, meio autóctones, revestidos na capa de um caráter de autenticidade, mas no fundo governados por uma rede bem urdida de mentores da Revolução Islâmica. Talvez tenha surgido aí a criação do famoso grupo terrorista denominado “Estado Islâmico”, que a partir de 2014 tentou impor um “república islâmica” entre a Síria e o Iraque, assim como outros grupos semelhantes, como o Hamas, etc.
Qual a
distinção entre árabe e muçulmano?
É comum confundir-se o termo "muçulmano"
com "árabe", ou até mesmo com a palavra "Islã". Na
realidade, o Islã é todo o conjunto de povos que praticam a religião muçulmana,
e o termo é usado também como o movimento político de expansão do maometanismo
; muçulmano é todo indivíduo que pratica aquela religião, seja árabe, turco ou
marroquino. Agora, árabe é apenas aquele que nasceu na península arábica, a
famosa Arábia, formada pelos países Arábia Saudita, Iêmen, Omã, Emirados
Árabes, e os principados de Catar, Barein e Kuwait. Podem ser chamados de
árabes todos os povos que falam o idioma árabe, mas também o termo significa
todos aqueles que descendem dos ismaelitas, povo semita de origem comum com os
israelitas. Então, o sujeito pode ser árabe quanto à raça, quanto à língua e
quanto ao país onde nasceu, mas nem todo muçulmano é árabe quanto à nação nem
quanto à língua. A maior parte das populações muçulmanas, atualmente, não é
árabe nem quanto à língua nem quanto à raça.
Além dos países acima citados, temos de língua árabe os que formam o Magreb, Argélia, Tunísia e Marrocos, além da Jordânia, Líbano e Síria . Numa população mundial superior a 700 milhões de habitantes (onde a maioria vive na Ásia, com mais de 400 milhões, e em segundo lugar na África), a maior população muçulmana do mundo é a da Indonésia, 85% de seus duzentos milhões de habitantes, mas nem falam árabe nem são de origem árabe. Em seguida, temos os muçulmanos oriundos do poder otomano no Egito e na Turquia, porém nem são árabes quanto ao idioma ou quanto à raça. Na Europa oriental, no Iraque, no Afeganistão, na Índia e em diversos outros países é a mesma coisa, em alguns inclusive eles são minoria.
Os sábios
muçulmanos só por exceção eram árabes
Vejamos as observações abaixo feitas por uma historiadora moderna:
“É digno de nota o fato de que, com poucas
exceções, a maioria dos sábios muçulmanos, tanto nas ciências religiosas como
nas intelectuais, não terem sido árabes. Quando um sábio é de origem árabe, não
é árabe de linguagem e criação e não teve professores árabes. Isto é assim, a
despeito de o Islã ser uma religião arábica e o seu fundador ter sido um árabe.
“A razão deste fato foi o Islã não ter tido de
início ciências, nem indústrias, o que era devido às condições simples da vida
no deserto. As leis religiosas, que eram os mandamentos e proibições de Deus,
estavam inscritas no coração das autoridades. Conheciam as suas fontes, o Corão
e os Sunnah (1) , por informação que tinham recebido diretamente do próprio
Maomé e dos homens que o rodeavam. A população nessa altura era árabe. Não
sabia nada acerca da instrução científica, da escrita de livros ou de trabalhos
sistemáticos. Não havia incentivos ou necessidades para isso. Esta era a
situação na época dos homens que rodeavam Maomé e dos homens da segunda
geração...
“No reinado de Al-Rashid (2), a tradição (oral)
estava já muito distante. Foi necessário escrever comentários ao Corão e fixar
por escrito as tradições, porque se temia que elas se perdessem... Além do
mais, a língua (arábica) começava a corromper-se e era necessário estabelecer
regras gramaticais.
“Os fundadores da gramática foram Sîbawayh e
depois dele al-Fârisî e al-Zajjâj. Nenhum deles era de ascendência árabe (3)...
“Muitos dos doutores dos hadiths (4) que
preservaram as tradições para os muçulmanos também não eram árabes, mas persas,
ou persas na língua ou educação, porque a disciplina era profundamente
cultivada no Iraque e nas regiões vizinhas. Também todos os doutores que
trabalharam na ciência dos princípios da jurisprudência não eram árabes, mas
persas, como é bem sabido. O mesmo se aplica aos teólogos especulativos e à
maioria dos comentadores do Corão.
“...Os árabes que entraram em contato com esta
florescente cultura sedentária e trocaram por ela a sua atitude beduína eram
afastados da escolaridade e do estudo pela sua posição de chefia na dinastia
Abássida e pelas tarefas que lhes cabiam no governo. Eram os homens da
dinastia, simultaneamente os seus protetores e os executores da sua política.
Além do mais, nessa época, eles consideravam como uma coisa desprezível ser um
mestre, porque o ensino é um ofício e os chefes políticos são sempre
desdenhosos dos ofícios e profissões e de tudo o que a eles conduz...”
Notas: 1) "Corão" e "Sunah" eram compilações das tradições e costumes de acordo com as quais atuava a comunidade muçulmana. 2) Herum al-Rashid, califa de Bagdad entre 786 e 809. 3) Eram todos muçulmanos de origem persa. 4) "Hadiths" era o registro dos ditos e ações de Maomé, e de alguns de seus companheiros e sucessores. [2]
O
sufismo, modelo de vida para os que praticam o islamismo
Que é o sufismo? Trata-se de regras e práticas
ascéticas e místicas de um conjunto de escolas, de seitas e de confrarias
muçulmanas. Em geral, a prática consiste em se despir de tudo o que é cultura,
tudo o que é conforto, tudo o que leva o homem a se elevar em busca de
aspirações mais altas para a alma, e se entregar inteiramente a uma vida de
misérias, de fome, de quase completa inanição e indolência espiritual, em busca
de uma suposta "perfeição". Com esta prática de vida, tais
"monges" adquirem uma aura de "santidade" entre os crentes
de sua seita e podem assim se impor em suas comunidades como verdadeiros
conselheiros, pajés, feiticeiros, xamãs, guias espirituais, gurus, etc. Além
disto, eles são um exemplo vivo da prática de sua religião a ser seguido pelos
crentes.
Os sufistas sempre combateram os filósofos e
"teólogos" do islamismo, criando uma imagem material do fundador de
sua religião. As primeiras escolas do sufismo foram criadas no século IX em
Bagdá. A partir do século XIII se espalharam várias confrarias (chamadas de
"Tariqas"), onde os seus membros (denominados de "murid")
se colocavam em busca de uma identificação com o seu deus, Alá, guiados por um
espécie de guru, chamado de "cheilich" ou "murchid",
praticando uma técnica chamada "dhikr", o elemento central do ritual
sufista. Assim, surgiram várias organizações ou confrarias sufistas: os
"quadiriyya" em Bagdá (séc. XII), os dervixes mawlawis (séc. XIII),
os "naqchbandiyya", na Ásia central (séc. XIV), os
"sanusiyya" no Magreb (séc. XIX). Da mesma forma, os marabutos do
Norte da África pertencem à mesma confraria.
Quando os muçulmanos dominavam a Península Ibérica,
a partir do século XI começaram a surgir as primeiras confrarias de inspiração
sufista, como a que foi adotada pela dinastia dos Almorávidas. Provinham do
continente africano, mas logo invadiram a Andaluzia e se tornaram um dos piores
perigos para o domínio do resto da Europa. De onde vieram? Como surgiram?
Em 1039, o faquir Abdállah Ben Yássin (Abd Allah
ibn Yasin), da tribo de Jazula, no Magreb, começou a reislamizar as tribos
nômades do Saara. Seus primeiros adeptos passaram a se chamar “almorávidas”
(al-morabetin) porque estavam ligados com voto especial para fazer guerra santa
em “la rábida” (ou castelo fronteiriço) que o faquir havia fundado numa ilha do
rio Níger. Na realidade, o castelo era uma espécie de “convento”, onde os
discípulos do faquir eram recrutados entre os berberes saarianos para serem ali
treinados, com formação religiosa e militar.
Abdállah levou seus discípulos à guerra santa
contra os que não escutavam sua pregação, islamizando rapidamente a região do
Saara. Entre as 70 cabildas irmãs da grande tribo de Sanhaja que pastoreavam
seus camelos através do deserto, a dos Lantunas se distinguiu pelo zelo
religioso, assim que Abdallah a escolheu e selecionou dentro dela os primeiros
emires, completando a conquista do Saara e indo depois em busca do Sudão. O
emir principal guiava os almorávidas na guerra, porém Abdallah era o verdadeiro
soberano, pois era quem mandava no emir, sobre cujas costelas desnudas
descarregava o açoite da penitência quando tinha que repreendê-lo por alguma
falta cometida. Vê-se bem que há uma dupla dominando a tribo, representando o
poder civil e religioso, mas é o faquir, detentor do poder religioso, quem
manda realmente. Em alguns casos, como ocorre com as tribos de índios
americanos, o próprio faquir é quem governa, absorvendo ele os dois poderes.
Estes primeiros almorávidas eram rigorosamente fiéis aos princípios islâmicos e moviam atroz perseguição religiosa nas terras por eles conquistadas. Impunham as leis mais absurdas, como a do matrimônio polígamo, queimavam as tendas que vendiam vinho, destruíam instrumentos musicais que julgavam corruptores dos costumes, aboliam todos os impostos que não estavam previstos no alcorão, permitindo só cobrar os dízimos e as esmolas dos muçulmanos, os tributos devidos pelos fiéis de outras religiões e o quinto do butim de guerra, isto é, da guerra santa. É exatamente desta forma que os muçulmanos agem hoje no Sudão e em alguns países onde imperam estas confrarias sufistas e fiéis aos princípios maometanos até suas últimas conseqüências.
A
filosofia islã
O termo islã, em árabe, quer dizer "obediência
a Alá" Mas esta “obediência”
precisa ser melhor esclarecida, pois vem da crença de que o destino do homem é
imposto arbitrariamente pela vontade daquele “deus”, sendo impossível opor-lhe
a nossa vontade. O termo “islã” é usado, também, com o significado de abandono
e resignação na vontade de Alá. Como se vê, uma “resignação” inteiramente
fatalista.
Antes do maometanismo, os árabes daquela região
(principalmente Meca e Medina, onde nasceu o movimento) mantinham tradições
antigas de crença em Deus e nos Profetas do Antigo Testamento, como Abraão, de
quem descendem através de Agar e Ismael. Mantinham um santuário, chamado Caaba,
onde as diversas tribos adoravam seus ídolos juntamente com Alá. Não se sabe se
nesta época o termo Alá já era designado como Deus, ou se era apenas um dos
ídolos pagãos ali adorados. É provável que em tempos bem remotos aquele povo
adorasse o verdadeiro Deus, mas aos poucos a idolatria pagã misturou seu culto
com os demais. Há historiadores que afirmam que haviam naquele santuário mais
de 360 ídolos pagãos, dentre eles o próprio Alá. O ídolo principal no tempo de
Maomé, chamava-se Hubal e era venerado também na Caaba. [3].
Maomé, um esperto comerciante, fez-se passar por
profeta de um único Deus e o impôs pela força das armas. Dizia a seus
partidários: “Fazei guerra aos que não crêem em Alá, nem no seu profeta;
fazei-lhes guerra até que paguem tributo e sejam humilhados”. Por isso, a
chamada “guerra santa” é quase um dogma entre eles. Pelas armas Maomé impôs sua
religião aos povos daquela região, começando por massacrar os habitantes de
Meca que o rejeitaram no início. Depois, foi pelas armas que o islamismo foi se
impondo aos outros povos, até invadir a própria Europa no século VIII,
dominando toda a Península Ibérica.
Em sua origem o islamismo não era monoteísta, no
sentido de um só Deus verdadeiro como crê o Cristianismo. Poderíamos dizer que
era "monodeísta", isto é, Maomé mandou destruir todos os outros
falsos deuses que haviam em Medina, erigindo um deles como o único, que era Alá.
Então, Alá é um deus pagão escolhido como entidade venerativa e adorativa pelos
maometanos. Depois que o islamismo dominava vários países e crescia no mundo,
tornou-se necessário criar seu primeiro "dogma", afirmando que o deus
Alá seria um ser supremo e único, infinitamente perfeito, criador do universo e
juiz soberano dos homens[4].
Com o tempo a palavra Alá passou a significar "Deus", assim como se
com o tempo algum povo que adorasse Júpiter ou Diana fizesse com que o nome de
um desses deuses passasse a significar o termo "Deus". As mesquitas
muçulmanas não expõem imagens ou qualquer figura que represente Alá. Nem sequer
Maomé tem sua figura representada em alguma estátua ou pintura. Mas dizem que
Alá é o único deus verdadeiro.
Onde os muçulmanos aprenderam este
"dogma"? Foi, mais ou menos, a partir do século X, quatro séculos
depois do surgimento do movimento, que os seus filósofos idealizaram as suas
normas que hoje predominam, inclusive o "dogma" acima, em parte
copiado do Cristianismo, mas tido como reflexo de estudos da filosofia
aristotélica. Estes filósofos foram Alfarabi, Avicena, Averrós, e outros
citados acima. Mas se estes idealizaram a "estrutura" filosófica e,
digamos assim, "teológica" do islamismo, era necessário alguém criar
os rituais, as leis, etc. E foi aí que surgiu o sufismo, o islamismo na
prática.
Ao longo dos anos foram então criados cinco códigos
legais, ou cinco atos pelos quais o muçulmano manifesta sua fidelidade ao seu
ideal religioso. O primeiro é uma espécie de profissão de fé, pelo qual ele se
obriga a crer que Alá é o único deus que existe no mundo. No mesmo código o
fiel é obrigado a declarar que o único profeta deste deus é Maomé. Sua prece
(ou "Salat") tem que ser feita virada para a cidade de Meca, umas
cinco vezes ao dia, num conjunto de prosternações (com mãos no chão e de
quadris para cima) e fazendo abluções. O fiel é também obrigado a cumprir o
preceito de fazer uma peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida (o
"hajdj'). No mês chamado de "ramadã" ele é obrigado a fazer o
jejum, que é apenas diurno. Há também a obrigatoriedade da esmola legal
("zakat"), costume que hoje não existe mais. Antigamente existia o
dízimo, que era direcionado unicamente para a guerra santa, ou
"jihad".
Não existe um clero muçulmano propriamente dito, mas informalmente se formam o que se chama de "marabutos" ou dervixes, espécies de faquires, com rigorosas práticas de asceses através de jejuns rigorosos e vestimentas de andrajos. O livro principal deles, chamado "corão" ou "alcorão", é apenas um amontoado de frases e conselhos supostamente ditados por Maomé, mas que alguns autores supõem que foram inventados por seus seguidores. Algumas destas frases foram copiadas de outras religiões ou filosofias.
São Tomás de Aquino diz o seguinte sobre o
Islamismo:
“Maomé
seduziu os povos prometendo-lhes deleites carnais. .... Introduziu entre as
poucas coisas verdadeiras que ensinou muitas fábulas e falsíssimas doutrinas.
Não aduziu prodígios sobrenaturais, único testemunho adequado da inspiração
divina. ....
Afirmou que era enviado pelas armas, sinais estes que não faltam a ladrões e
tiranos. Desde o início, não acreditaram nele os homens sábios nas coisas
divinas e experimentados nestas e nas humanas, mas pessoas incultas, habitantes
do deserto, ignorantes de toda doutrina divina. E só mediante a multidão
destes, obrigou os demais, pela violência das armas, a aceitar a sua lei.
Nenhum
oráculo divino dos profetas que o precederam dá testemunho dele; ao contrário,
ele desfigura totalmente o Antigo e Novo Testamento, tornando-os um relato
fantasioso, como o pode confirmar quem examina seus escritos.
Por isso, proibiu astutamente a
seus sequazes a leitura do Antigo e Novo Testamento, para que não percebessem a
falsidade dele. (“Summa
contra Gentiles”, L. I, c. 6. )
[1] “Revolução
e Contra-Revoluçao”, Plínio Corrêa de Oliveira – Chevalerie Artes Gráficas e
Editora, págs. 210/229.
[2] Apud Ibn Khaldûn. The
Muqadeimah, “History of the Arabs”, de Hitti, P. K, p. 428-30, extraído do
livro “História da Idade Média”, de Maria Guadalupe Pedrero-Sánchez, Ed.Unesp,
pp. 66/67
[4] No Alcorão são mencionados 99
atributos humanos a Alá, todos eles iniciados com a partícula “al”., "O
Clemente" (Al-Rahmān), "O Querido" (Al-'Azīz), "O
Criador" (Al-Khāliq), entre outros. O conjunto desses atributos recebe em
árabe o nome de al-asmā' al-husnà ("os melhores nomes") – o centésimo
atributo seria o próprio Allah
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