quinta-feira, 3 de agosto de 2023

MULHERES ESTÉREIS PODEM GERAR FILHOS PARA DEUS

 



Uma das vergonhas femininas, que causava opróbrio às mulheres da Antiguidade era não ter filhos. Por que? Porque havia um mandamento divino que se tornou o ponto alto da honra de todo varão, ou de todo casal: “Crescei e multiplicai-vos, e enchei a terra”. Seria este o primeiro mandamento dado por Deus aos homens. O segundo seria a proibição de comer o fruto da árvore da ciência do Bem e do Mal. O homem desobedeceu o segundo, mas o primeiro ficou sendo mais fácil e até honroso cumpri-lo. Ter filhos, portanto, era o que havia de mais honroso, pois só assim se poderia dar continuidade à estirpe. E, geralmente, haviam patriarcas que formavam em torno de si um conceito, um nome, uma honra que fazia merecer dar continuidade através de seus filhos. E Deus foi tão rigoroso com este mandamento que castigou Onan com a morte por ter evitado conceber filhos em sua esposa (Gn 38, 8-10).

No entanto, Deus premiou muitas mulheres, tidas como estéreis, com filhos excepcionais que iluminaram a História. Sansão nasceu de mãe estéril, o mesmo ocorrendo com o grande São João Batista. Ana, mãe de Samuel, profeta e juiz de Israel, também estéril, pediu a Deus um filho que servisse no templo, e logo o obteve. São Nicolau de Cupertino foi fruto das orações de sua mãe, estéril. O mesmo ocorreu com São Francisco de Paula, cujos pais eram estéreis, e São Luís Gonzaga, o Patrono da juventude e modelo da castidade, que nasceu também de mãe que era estéril até o seu nascimento.

Muitas mulheres, inclusive, estiveram estéreis por toda a vida. Outras com capacidade de gerar muitos filhos naturais, tiveram apenas um, como Nossa Senhora. No entanto, é preciso notar que as vocações divinas nesse aspecto são as mesmas, quer dizer, a geração de filhos para Deus não é só dos que nascem do ventre, podendo ser gerados também do coração. É assim que muitas fizeram votos de castidade e não tiveram filhos carnais, mas, no entanto, tiveram muitos filhos espirituais, como as Santas Virgens e Fundadoras. Vejam o que diz Isaías : “Entoa alegre canto, ó estéril, que não deste à luz; ergue gritos de alegria, exulta, tu que não sentiste as dores de parto, porque mais numerosos são os filhos da abandonada do que os filhos da esposa, diz o Senhor  (Is 54, 1). “Por acaso eu que abro o seio não farei nascer?, diz o Senhor. Se sou eu que faço nascer, impedirei de dar à luz?, diz o seu Deus” (Is 66, 9). Davi deve estar se referindo a estas mulheres que dão a Deus filhos espirituais, em vez de carnais, quando escreveu num salmo louvando os poderes divinos: “...faz a estéril sentar-se em sua casa, como alegre mãe com seus filhos” (Sl 113, 9). Ora, como é que a estéril vai sentar-se à mesa com seus filhos? Se teve filhos é porque deixou de ser estéril. Então ele se refere á esterilidade natural, enquanto que os filhos dessas estéreis deve ser aqueles gerados pelas vocações divinas, são filhos espirituais.

Vejamos os casos de mulheres estéreis no Antigo Testamento que Deus operou o milagre de torna-las fecundas:

Sara - “Deus disse a Abraão: A tua mulher Sarai, não mais a chamará de Sarai, mas seu nome é Sara. Eu a abençoarei, e dela te darei um filho; eu a abençoarei, ela se tornará nações, e dela sairão reis de povos  (Gen 17, 9-10). Exegetas explicam que (assim como Abraão e Abrão) Sara e Sarai tem o mesmo significado de “princesa” ou “mãe de príncipes”, daí dizer que “dela sairão reis de povos”. A mudança de nome significa uma vocação divina, um chamado para uma missão sobrenatural.

Rebeca – “Isaac tinha quarenta anos quando se casou com Rebeca, filha de Batuel... Isaac implorou ao Senhor por sua mulher, porque ela era estéril; o Senhor o ouviu e sua mulher Rebeca ficou grávida”  (Gen 25, 20-21).

Raquel – Uma das esposas de Jacó era estéril (Gen 29, 32), tornada fecunda depois: “Então Deus se lembrou de Raquel: ele a ouviu a tornou fecunda” (Gen 30, 22). O que se nota nas narrativas bíblicas das mulheres de Jacó é que havia disputas ciumentas entre Raquel e Lia, e, por causa das gerações de filhos, ambas eram ora punidas por Deus pela esterilidade ora abençoadas pela fecundidade.

A mãe de Sansão – Talvez a única cujo nome não é citado, mas apenas dito que era uma “mulher”, casada com um patriarca chamado Manué, cuja “mulher era estéril e não tinha filhos” (Juízes 13, 2-3). Tanto a ela quanto ao marido o Anjo apareceu algumas vezes até que eles cressem que se tratava de um mensageiro divino a lhes avisar que ela teria um filho; “A mulher deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Sansão’ (Juízes 13, 24).

Ana, mãe de Samuel, profeta e juiz de Israel, também estéril, pediu a Deus um filho que servisse no templo, e logo o obteve. Seu marido, Elcana, tinha outra mulher, que era fértil, mas Ana, não. Isso era motivo de humilhações por parte da rival de Ana (I Samuel 1, 7), mas Deus lembrou-se dela e lhe deu um filho (I Sam 1, 20) que lhe deu o nome de Samuel. (I Samuel 2:5) – “Os que tinham muito agora trabalham por comida, mas os que estavam famintos agora não passam fome. A que era estéril deu à luz sete filhos, mas a que tinha muitos filhos ficou sem vigor”.

Eliseu e a sunamita estéril – “Certo dia, Eliseu passava por Sunam e uma mulher rica que lá morava o convidou para uma refeição. Depois, cada vez que passava por ali, ia até lá para comer. Ela disse a seu marido: “Olha, sei que é um santo homem de Deus este que passa sempre por nossa casa.  Façamos para ele, no terraço, um quarto de tijolos, com cama, mesa, cadeira e lâmpada; quando vier à nossa casa, ele se acomodará lá”. Passando um dia por ali, retirou-se ao quarto do terraço e se deitou. Disse a seu servo Giezi: “Chama essa sunamita”. Chamou-a e ela veio à sua presença. Eliseu prosseguiu: “Dize-lhe: Tu nos trataste com todo desvelo. Que podemos fazer por ti? Queres que eu interceda por ti junto ao rei ou junto ao chefe do exército?”  Mas ela respondeu: ”Vivo no meio do meu povo”. Eliseu perguntou: “Então, que eu poderia fazer por ela?” Giezi respondeu: “Ela não tem filhos e seu marido já é idoso”. Disse Eliseu: “Chama-a”. O servo a chamou e ela apareceu na porta. E ele disse: “Daqui a um ano, nesta mesma época, terás um filho nos braços”. Mas ela replicou: “Não, meu senhor, homem de Deus, não enganes tua serva!” E a mulher concebeu e deu à luz um filho na mesma época, no ano seguinte, como Eliseu havia dito.

O menino cresceu. Certo dia, foi ter com o pai junto aos ceifadores e disse a seu pai: “Ai, minha cabeça! Ai, minha cabeça!”. E o pai ordenou a um dos servos: “Leva-o para junto da mãe dele”. Este o tomou e o conduziu à mãe. O menino ficou nos joelhos da mãe até o meio-dia e depois morreu. Ela subiu, colocou o menino sobre o leito do homem de Deus, fechou a porta atrás de si e saiu. Chamou o marido e disse-lhe: “Manda-me um dos servos com uma jumenta: vou depressa à casa do homem de Deus e volto”. Perguntou-lhe ele: “Por que vais ter com ele hoje?”  Não é neomênia nem sábado!” Mas ela respondeu: “Fica em paz”. Mandou selar a jumenta e disse ao servo: “Conduz-me e vai adiante. Não me detenhas pelo caminho, a não ser que eu te ordene”.  Ela partiu e foi ter com o homem de Deus no monte Carmelo. Quando o homem de Deus a viu de longe, disse a Giezi, seu servo: “Lá está aquela sunamita. Corre-lhe ao encontro e pergunta: Estás bem? Tem marido vai bem? Teu filho está bem?”  Ela respondeu: “Bem’. Chegando perto do homem de Deus na montanha, ela agarrou-lhe os pés. Giezi aproximou-se para afastá-la, mas o homem de Deus disse: “Deixa-a, pois tem a alma amargurada e o Senhor mo encobriu e nada me revelou. Ela disse: “Acaso eu pedi um filho a meu senhor? Não te havia pedido que não me enganasses?”

Eliseu disse a Giezi: “Cinge teus rins, toma meu bastão na mão e parte. Se encontrares alguém, não o saúdes, e se alguém te saudar, não lhe respondas! Colocarás meu bastão sobre o rosto do menino”. Mas a mãe do menino disse: “Tão certo como Senhor vive e tu vives, eu não te deixarei!” Então ele se ergueu e a seguiu. Gizei, que os havia precedido, tinha colocado o bastão sobre o rosto do menino, mas ele não disse nada nem reagiu. Então o servo voltou para encontrar-se com Eliseu e informou-lhe: “O menino não despertou”.

Eliseu chegou à casa: lá estava o menino morto e estendido sobre sua própria cama. Ele entrou, fechou a porta atrás deles dois e orou ao Senhor. Depois subiu á cama, deitou-se sobre o menino, pondo a boca sobre a dele, os olhos sobre os dele, as mãos sobre as dele, estendeu-se sobre ele e a carne do menino se aqueceu. Eliseu pôs-se a andar novamente de um lado para outro na casa, depois tornou a subir e se estendeu sobre ele: então o menino espirrou sete vezes e abriu os olhos. Eliseu chamou Giezi e disse-lhe: “Chama a sunamita” Chamou-a e, quando ela chegou perto de Eliseu, este lhe disse: “Toma teu filho”. Ela entrou, lançou-se a seus pés e prostrou-se por terra; depois tomou seu filho e saiu”  (II Reis 4, 8-41).

Observa-se que o profeta é chamado de “homem de Deus”, termo muito usado com todos os profetas daquele tempo. Eliseu costumava ficar no monte Carmelo em retiro com os outros profetas que o seguiam (que eram mais de 100), mas também fazia viagens e incursões na vizinhança para fazer apostolado com a população. Daí haver se hospedado na casa da sunamita. Veja-se também que a família dela era rica e nem por isso o homem de Deus a rejeitou, mas, pelo contrário, prestou-lhe grande assistência espiritual. O fato dela dizer que “vivia no meio do povo” demonstra que não era uma rica egoísta e que assistia a todos de sua sociedade. Do fato, porém, em princípio não se deduz que ele operou o milagre de fazer a mulher ficar fértil, mas sim de ter previsto sua gravidez. Embora não se descarte a idéia de ter ocorrido os dois fatos no mesmo caso. Milagre estupendo, realmente, foi a ressurreição do filho dela.

No Novo Testamento, o caso mais comum é o de Santa Isabel: “Também Isabel, sua parenta, terá um filho na velhice; aquela que diziam ser estéril já está em seu sexto mês de gestação” (Lc 1, 36)

 


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