Uma das vergonhas femininas, que causava opróbrio às mulheres da Antiguidade era não ter filhos. Por que? Porque havia um mandamento divino que se tornou o ponto alto da honra de todo varão, ou de todo casal: “Crescei e multiplicai-vos, e enchei a terra”. Seria este o primeiro mandamento dado por Deus aos homens. O segundo seria a proibição de comer o fruto da árvore da ciência do Bem e do Mal. O homem desobedeceu o segundo, mas o primeiro ficou sendo mais fácil e até honroso cumpri-lo. Ter filhos, portanto, era o que havia de mais honroso, pois só assim se poderia dar continuidade à estirpe. E, geralmente, haviam patriarcas que formavam em torno de si um conceito, um nome, uma honra que fazia merecer dar continuidade através de seus filhos. E Deus foi tão rigoroso com este mandamento que castigou Onan com a morte por ter evitado conceber filhos em sua esposa (Gn 38, 8-10).
No entanto, Deus premiou muitas mulheres,
tidas como estéreis, com filhos excepcionais que iluminaram a História. Sansão nasceu de mãe estéril, o mesmo
ocorrendo com o grande São João Batista.
Ana, mãe de Samuel, profeta e juiz
de Israel, também estéril, pediu a Deus um filho que servisse no templo, e logo
o obteve. São Nicolau de Cupertino foi fruto das orações de sua mãe, estéril. O
mesmo ocorreu com São Francisco de Paula, cujos pais eram estéreis, e São Luís
Gonzaga, o Patrono da juventude e modelo da castidade, que nasceu também de mãe
que era estéril até o seu nascimento.
Muitas mulheres, inclusive, estiveram estéreis
por toda a vida. Outras com capacidade de gerar muitos filhos naturais, tiveram
apenas um, como Nossa Senhora. No entanto, é preciso notar que as vocações
divinas nesse aspecto são as mesmas, quer dizer, a geração de filhos para Deus
não é só dos que nascem do ventre, podendo ser gerados também do coração. É
assim que muitas fizeram votos de castidade e não tiveram filhos carnais, mas,
no entanto, tiveram muitos filhos espirituais, como as Santas Virgens e
Fundadoras. Vejam o que diz Isaías :
“Entoa alegre canto, ó estéril, que não deste
à luz; ergue gritos de alegria, exulta, tu que não sentiste as dores de parto,
porque mais numerosos são os filhos da abandonada do que os filhos da esposa,
diz o Senhor” (Is 54, 1). “Por acaso eu que abro o seio não farei
nascer?, diz o Senhor. Se sou eu que faço nascer, impedirei de dar à luz?, diz
o seu Deus” (Is 66, 9). Davi deve estar se referindo a estas mulheres que
dão a Deus filhos espirituais, em vez de carnais, quando escreveu num salmo
louvando os poderes divinos: “...faz a
estéril sentar-se em sua casa, como alegre mãe com seus filhos” (Sl 113, 9).
Ora, como é que a estéril vai sentar-se à mesa com seus filhos? Se teve filhos
é porque deixou de ser estéril. Então ele se refere á esterilidade natural,
enquanto que os filhos dessas estéreis deve ser aqueles gerados pelas vocações
divinas, são filhos espirituais.
Vejamos os casos de mulheres estéreis no
Antigo Testamento que Deus operou o milagre de torna-las fecundas:
Sara - “Deus disse a Abraão: A tua mulher Sarai, não mais a chamará de Sarai,
mas seu nome é Sara. Eu a abençoarei, e dela te darei um filho; eu a
abençoarei, ela se tornará nações, e dela sairão reis de povos” (Gen 17, 9-10). Exegetas explicam que (assim
como Abraão e Abrão) Sara e Sarai tem o mesmo significado de “princesa” ou “mãe
de príncipes”, daí dizer que “dela sairão reis de povos”. A mudança de nome
significa uma vocação divina, um chamado para uma missão sobrenatural.
Rebeca – “Isaac tinha quarenta
anos quando se casou com Rebeca, filha de Batuel... Isaac implorou ao Senhor
por sua mulher, porque ela era estéril; o Senhor o ouviu e sua mulher Rebeca
ficou grávida” (Gen 25, 20-21).
Raquel – Uma das esposas de Jacó
era estéril (Gen 29, 32), tornada fecunda depois: “Então Deus se lembrou de
Raquel: ele a ouviu a tornou fecunda” (Gen 30, 22). O que se nota nas
narrativas bíblicas das mulheres de Jacó é que havia disputas ciumentas entre
Raquel e Lia, e, por causa das gerações de filhos, ambas eram ora punidas por
Deus pela esterilidade ora abençoadas pela fecundidade.
A mãe de Sansão – Talvez a única cujo nome
não é citado, mas apenas dito que era uma “mulher”, casada com um patriarca
chamado Manué, cuja “mulher era estéril e não tinha filhos” (Juízes 13, 2-3).
Tanto a ela quanto ao marido o Anjo apareceu algumas vezes até que eles cressem
que se tratava de um mensageiro divino a lhes avisar que ela teria um filho; “A
mulher deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Sansão’ (Juízes 13, 24).
Ana, mãe de Samuel, profeta e juiz de Israel, também
estéril, pediu a Deus um filho que servisse no templo, e logo o obteve. Seu
marido, Elcana, tinha outra mulher, que era fértil, mas Ana, não. Isso era
motivo de humilhações por parte da rival de Ana (I Samuel 1, 7), mas Deus
lembrou-se dela e lhe deu um filho (I Sam 1, 20) que lhe deu o nome de Samuel. (I Samuel 2:5) – “Os que tinham muito agora trabalham por
comida, mas os que estavam famintos agora não passam fome. A que era estéril
deu à luz sete filhos, mas a que tinha muitos filhos ficou sem vigor”.
Eliseu e a sunamita
estéril
– “Certo dia, Eliseu passava por Sunam e
uma mulher rica que lá morava o convidou para uma refeição. Depois, cada vez
que passava por ali, ia até lá para comer. Ela disse a seu marido: “Olha, sei
que é um santo homem de Deus este que passa sempre por nossa casa. Façamos para ele, no terraço, um quarto de
tijolos, com cama, mesa, cadeira e lâmpada; quando vier à nossa casa, ele se
acomodará lá”. Passando um dia por ali, retirou-se ao quarto do terraço e se
deitou. Disse a seu servo Giezi: “Chama essa sunamita”. Chamou-a e ela veio à
sua presença. Eliseu prosseguiu: “Dize-lhe: Tu nos trataste com todo desvelo.
Que podemos fazer por ti? Queres que eu interceda por ti junto ao rei ou junto
ao chefe do exército?” Mas ela respondeu:
”Vivo no meio do meu povo”. Eliseu perguntou: “Então, que eu poderia fazer por
ela?” Giezi respondeu: “Ela não tem filhos e seu marido já é idoso”. Disse
Eliseu: “Chama-a”. O servo a chamou e ela apareceu na porta. E ele disse:
“Daqui a um ano, nesta mesma época, terás um filho nos braços”. Mas ela
replicou: “Não, meu senhor, homem de Deus, não enganes tua serva!” E a mulher
concebeu e deu à luz um filho na mesma época, no ano seguinte, como Eliseu
havia dito.
O menino cresceu. Certo dia, foi ter com o
pai junto aos ceifadores e disse a seu pai: “Ai, minha cabeça! Ai, minha
cabeça!”. E o pai ordenou a um dos servos: “Leva-o para junto da mãe dele”.
Este o tomou e o conduziu à mãe. O menino ficou nos joelhos da mãe até o
meio-dia e depois morreu. Ela subiu, colocou o menino sobre o leito do homem de
Deus, fechou a porta atrás de si e saiu. Chamou o marido e disse-lhe: “Manda-me
um dos servos com uma jumenta: vou depressa à casa do homem de Deus e volto”.
Perguntou-lhe ele: “Por que vais ter com ele hoje?” Não é neomênia nem sábado!” Mas ela
respondeu: “Fica em paz”. Mandou selar a jumenta e disse ao servo: “Conduz-me e
vai adiante. Não me detenhas pelo caminho, a não ser que eu te ordene”. Ela partiu e foi ter com o homem de Deus no
monte Carmelo. Quando o homem de Deus a viu de longe, disse a Giezi, seu servo:
“Lá está aquela sunamita. Corre-lhe ao encontro e pergunta: Estás bem? Tem
marido vai bem? Teu filho está bem?” Ela
respondeu: “Bem’. Chegando perto do homem de Deus na montanha, ela agarrou-lhe
os pés. Giezi aproximou-se para afastá-la, mas o homem de Deus disse: “Deixa-a,
pois tem a alma amargurada e o Senhor mo encobriu e nada me revelou. Ela disse:
“Acaso eu pedi um filho a meu senhor? Não te havia pedido que não me
enganasses?”
Eliseu disse a Giezi: “Cinge teus rins,
toma meu bastão na mão e parte. Se encontrares alguém, não o saúdes, e se
alguém te saudar, não lhe respondas! Colocarás meu bastão sobre o rosto do
menino”. Mas a mãe do menino disse: “Tão certo como Senhor vive e tu vives, eu
não te deixarei!” Então ele se ergueu e a seguiu. Gizei, que os havia
precedido, tinha colocado o bastão sobre o rosto do menino, mas ele não disse
nada nem reagiu. Então o servo voltou para encontrar-se com Eliseu e
informou-lhe: “O menino não despertou”.
Eliseu chegou à casa: lá estava o menino
morto e estendido sobre sua própria cama. Ele entrou, fechou a porta atrás
deles dois e orou ao Senhor. Depois subiu á cama, deitou-se sobre o menino,
pondo a boca sobre a dele, os olhos sobre os dele, as mãos sobre as dele,
estendeu-se sobre ele e a carne do menino se aqueceu. Eliseu pôs-se a andar
novamente de um lado para outro na casa, depois tornou a subir e se estendeu
sobre ele: então o menino espirrou sete vezes e abriu os olhos. Eliseu chamou
Giezi e disse-lhe: “Chama a sunamita” Chamou-a e, quando ela chegou perto de
Eliseu, este lhe disse: “Toma teu filho”. Ela entrou, lançou-se a seus pés e
prostrou-se por terra; depois tomou seu filho e saiu” (II Reis 4, 8-41).
Observa-se
que o profeta é chamado de “homem de Deus”, termo muito usado com todos os
profetas daquele tempo. Eliseu costumava ficar no monte Carmelo em retiro com
os outros profetas que o seguiam (que eram mais de 100), mas também fazia
viagens e incursões na vizinhança para fazer apostolado com a população. Daí
haver se hospedado na casa da sunamita. Veja-se também que a família dela era
rica e nem por isso o homem de Deus a rejeitou, mas, pelo contrário,
prestou-lhe grande assistência espiritual. O fato dela dizer que “vivia no meio
do povo” demonstra que não era uma rica egoísta e que assistia a todos de sua
sociedade. Do fato, porém, em princípio não se deduz que ele operou o milagre
de fazer a mulher ficar fértil, mas sim de ter previsto sua gravidez. Embora
não se descarte a idéia de ter ocorrido os dois fatos no mesmo caso. Milagre
estupendo, realmente, foi a ressurreição do filho dela.
No Novo Testamento, o caso mais comum é o de Santa Isabel: “Também Isabel, sua parenta, terá um filho na velhice;
aquela que diziam ser estéril já está em seu sexto mês de gestação” (Lc 1, 36)
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