Santa Clara (1194-1250) é de nobre família; fundou
juntamente com São Francisco de Assis a Ordem Segunda dos Menores. Pôs em fuga
os bárbaros Sarracenos que sitiavam seu mosteiro, avançando-se para eles com o
Santo Cibório na mão.
A respeito de Santa Clara, Dom Guéranger
afirma o seguinte:
“Santa Clara nasceu em Assis, em 1194. Ela pertencia à nobre família dos
Alfreducci. Ela perdeu seu pai muito cedo. Quando sua família a quis casar, ela
declarou que se daria a Deus e no dia 18 de março de 1212, ela partiu para São
Damião, onde Francisco lhe deu o hábito religioso. Sua irmã e depois sua mãe
deveriam se reunir a ela no claustro e, com elas, uma multidão de jovens,
ávidas de viveram o ideal franciscano, que não era senão o ideal evangélico.
Francisco lhe deu antes uma ‘formula vitae’, pois elas obtiveram seguir a Regra
que lhes tinha dado os irmãos menores. Mosteiros fundados na Itália, em seguida
nos países vizinhos e até em Braga. Em 1240, enquanto a santa Abadessa estava
doente, os Sarracenos cercaram o Mosteiro de São Damião. Clara tomou o Santo Cibório
nas mãos e rumou em direção ao inimigo que então fugiu. Em 1252 ela se deitou
para não mais se levantar. A sua última doença foi consolada pela visita do
Papa que confirmou a Regra e o privilégio da pobreza e no dia 11 de agosto ela
dormiu na paz de Deus. Em 1850, seu corpo foi encontrado intacto como no dia de
sua morte”.
Vários comentários poderiam ser feitos a
respeito disto.
O primeiro é a respeito do número de pessoas
que seguiram esta vocação. Que diferença em relação aos dias de hoje! Quer
dizer, o ideal de pobreza evangélica, levado até ao extremo que São Francisco
de Assis ensinou, encontrou em primeiro lugar a adesão da família de Santa
Clara. E não só a adesão da família, mas a mãe e a irmã acabaram indo morar com
ela.
Depois ela se entrega a esta vida austeríssima a qual, ao invés de afugentar,
pelo contrário atrai a todo mundo. Para os senhores compreenderem a austeridade
desta vida, talvez devessem ter estado em Assis, para terem uma idéia do que é
aquilo, é uma coisa incrível! A pobreza é tal e tudo é tão pequenininho, tão
diminuto, que a gente sente quase claustrofobia lá dentro. E a par de uma
consolação, de uma graça, de uma leveza de alma, de uma unção, como não se
sente em nenhum lugar, a gente nota que a vida materialmente falando é muito
dura. Para resumir tudo em uma palavra se diria: “é um local lindo para se ir,
mas talvez terrível para ficar”. É bem esta a realidade.
Outro aspecto a ser considerado: o hábito
franciscano daquela época. Hoje é o que os senhores vêem, mas naquele tempo era
uma espécie de saco. Ela vai com a irmã e a mãe vestida assim e, em vez de
afastar as pessoas, pelo contrário, um mundo de moças vão acompanhá-las nesta
vocação. Seria mais ou menos a mesma coisa do que se hoje fosse fundado um
convento contemplativo para se rezar pelos movimentos autenticamente
contra-revolucionários, com Regra muito severa, e legiões de moças, nobres e da
alta burguesia, vão lá dizendo: “eu quero a pobreza, eu quero a penitência, eu
quero o isolamento, eu quero separar-me para todo o sempre do mundo para só
cuidar deste ideal sublime...”
Os senhores conhecem algo de parecido com
isso? Os senhores vêem os tempos como mudam.
A gente lê isso assim e se tem a impressão de
umas tantas histórias destas com uma espécie de ron-ron que se repete sempre
para si mesmo. Mas quando a gente transpõe isto para os nossos dias é que
compreendemos o que isto significa...
Outro aspecto: os senhores imaginem de manhã,
num jornal “x” que todos conhecemos, uma notícia pequena (porque este
quotidiano só daria esta matéria em ponto pequeno): “Monja faz recuar
comunistas do Vietcong. A madre Verônica do Imaculado Coração de Maria, num
momento de grande perigo, tomou o Santíssimo Sacramento, indo em direção aos
inimigos. E contra a expectativa de suas irmãs de hábito e das pessoas da
população local, os comunistas fugiram. Ignora-se o motivo da fuga dos
comunistas”. O final de telegrama seria esse. Seria como esse jornal “x”
noticiaria o fato.
O jornal “y” noticiaria de outra maneira: “Freira afugenta comunistas. Fato
sensacional no Vietcong. Madre Verônica de Imaculado Coração de Maria trazendo
o Santíssimo, etc., etc. A ação da religiosa, tendo causado profunda impressão
na imaginação dos orientais, produziu a fuga em debandada. A população em
breve, o Club “z” do local vai homenagear a religiosa. O Departamento de Estado
concedeu-lhe uma medalha”.
Qual seria o nosso comentário? Coisa
fantástica! Isto é que é freira! Manda o “Catolicismo” para a madre Verônica do
Imaculado Coração. Poderíamos mandar para ela o livro “A liberdade da Igreja no
Estado comunista”, outras publicações e, entusiasmados, imaginando o contato
epistolar que se poderia travar com ela, não é verdade? Porque seria uma coisa
maravilhosa afugentar os comunistas!
Pois bem, os senhores precisavam ver o que os
sarracenos andavam fazendo por lá. Eles não invadiram só a Espanha, Portugal e
um pouco a França, como se imagina. Eles várias vezes invadiram a Itália. E a
Itália de antes da Renascença era uma nação militar e militar com gosto, com
arte. E os soldados mercenários italianos eram muito apreciados. Depois do
Renascimento as coisas tomaram um aspecto não tão heróico, mas antes disso era
magnífico!
Os sarracenos tinham levado várias tropas de
roldão e estavam chegando lá em Assis. Ou seja, era gente sanhuda, terrível,
que tinha feito façanhas, que tinha feito recuar exércitos regulares de toda
ordem. Não era gente impressionável. Santa Clara foi de encontro a esses com o
Santíssimo Sacramento e salvou assim o Convento de São Damião.
Os senhores considerem a beleza da cena. Quer
dizer, a fé que isto representa e a intervenção clara do milagre na ordem da
História. Como é uma coisa magnífica, edificante!
Mais bonito é o seguinte: às vezes Deus – e
assim são Suas obras –, para rechaçar os sarracenos dispôs de Cruzados, muitas
vezes de guerreiros magníficos que não eram diretamente Cruzados. Mas em uma ou
outra situação Ele quis que pessoas frágeis vencessem os sarracenos. Isto para
provar que, no fundo, a vitória era d’Ele. E então é uma mulher – ou seja, o
cúmulo da fragilidade – contra os Sarracenos, armada do Santíssimo Sacramento,
onde Nosso Senhor está invisível na Eucaristia, algo que para os Sarracenos não
é senão um pequeno disco branco. Então ela, armada “apenas” disto e que vai de
encontro a eles... que fogem! Para que? Para fazer compreender bem que, no
total, a vitória é sempre de Deus e são os meios sobrenaturais que alcançam a
vitória.
Imaginem isso: os sarracenos fervilhando ali
em volta do Convento, sedentos de sangue, para derrubar isto, para matar aquilo
etc. e Santa Clara que sai do Convento e dá passos em direção a eles... que de
repente olham para ela e começam a fugir. Os senhores podem avaliar a beleza de
uma cena destas? Agora imaginem o resto. O que foram as ações de graças quando
os sarracenos foram embora e que os franciscanos se encontraram com as
franciscanas e que todos juntos puderam entoar um “Te Deum”! Que verdadeira
maravilha uma coisa desta! É o fecho de uma ação histórica estupenda.
Aqui está um exemplo para compreendermos bem
que quando não tivermos outra coisa senão o Santíssimo Sacramento para irmos de
encontro dos infiéis, devemos ir com calma e com coragem. Porque quem está
engajado num embate que é de Nossa Senhora, pode morrer, mas nunca tem vantagem
em recuar, porque Nossa Senhora dá sempre a vitória. Isso é que não se discute.
(Plínio Corrêa de Oliveira – Santo do Dia, 12
de agosto de 1965)
(Extraído de:
https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_650812_santa_clara_assis.htm
)
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