Enquanto a Revolução na política e nos costumes se
propagava por golpes e revoltas sangrentas na França por cerca de 100 anos (
A Revolução Industrial e a mulher
européia
A burguesia mercantilista escolheu a Inglaterra, o
“paraíso” dos negócios de então, para aplicar seus altos capitais na “Revolução
Industrial”. Assim, a soldo de tanto
dinheiro, surgiram logo novas técnicas e novas fontes de energia para que a
idéia daquela Revolução fosse adiante. Em busca de riqueza e fama, tivemos no
século XIX uma verdadeira “febre” de
invenções, como a do motor a vapor, dos trens, dos bondes, dos teares mecânicos,
etc. Inicialmente, o “front” revolucionário do enriquecimento da burguesia
mercantilista do mundo todo era a indústria de tecelagem e algodoeira.
Aperfeiçoaram-se as máquinas de cardar, bater, fiar, tecer, todas movidas ainda
a vapor. As novas máquinas permitiam produzir mais com menos gente. Desta
forma, poder-se-ia contratar mulheres e crianças (mão-de-obra mais barata) em
vez dos homens. Temia-se que o desemprego entre os homens causasse algum
transtorno social no país, mas nem por isso deixaram de pôr em prática seus
planos. A única coisa em que se pensava era que com a redução dos custos
haveria mais produção e se poderia criar mais fábricas e gerar novos empregos.
Foi isso que deu a famosa “arrancada”
industrial à Inglaterra de então.
Foi seguindo o curso da “Revolução Industrial” que também surgiram as revoltas sindicais, as lutas por direitos de voto, pela “democratização” da política, por menos carga horária dos trabalhadores, e pela liberdade da mulher... Isso porque aquela burguesia, no afã de um rápido enriquecimento, não dava aos seus operários o valor humano que eles mereciam. Utilizava em suas fábricas uma mão-de-obra barata e sem qualquer qualificação, geralmente composta em sua maioria de mulheres e crianças. Lá, os pioneiros dos movimentos que a esquerda chama de “sociais” foram os sindicalistas denominados de “cartistas”: defendiam na Inglaterra a aprovação dos princípios da “Carta do Povo”, através do sufrágio universal (somente masculino ainda), do voto secreto, da renovação anual do Parlamento e de outros princípios democráticos.
Palácios fascinantes
Como chamar a atenção de investidores de outros
países? Como propagar a toda a sociedade
que a “Revolução Industrial” traria prosperidade e felicidade para todos? Pelo
fascínio. Em meados do século XIX, idealizou-se uma grande exposição industrial
em Londres, destinada a todos os povos da terra, realizada num luxuoso palácio
cheio de maravilhosos espelhos de cristais. Dizia-se que o homem encontrava-se
perante o “espelho do futuro” ante aqueles fulgurantes espelhos. Diante de um “chafariz” de puro cristal, com dez metros de altura,
situado no centro do pavilhão principal, a rainha Vitória inaugurou solenemente
a feira industrial das nações: lá estavam expostos milhares de artigos e artefatos
industriais, teares, guindastes, máquinas agrícolas (especialmente destinadas
ao plantio de algodão), em curioso contraste com o luxo dos cristais. Entre os
expositores havia estrangeiros, mas os ingleses, é claro, eram maioria.
Os visitantes ficavam fascinados com tanto luxo e
deslumbramento, destinados no entanto para acomodar simples “stands” de
exposições de máquinas e engenhos mecânicos dos mais variados tipos. O público
exclamava admirado que ali havia um palácio de sonhos! Era o futuro fulgurante
e maravilhoso que se descortinava por detrás do brilho dos cristais. Milhares de pessoas, inclusive vindas de
outros países, pagaram ingressos para ver aquela maravilha. Lá estavam também
banqueiros, comerciantes e industriais (de onde viriam as fortunas para o novo
investimento), além de artesãos (simples mão-de-obra ou os que queriam crescer
na nova atividade), ricos ou pobres, pois a todos era destinada aquela fascinação.
Principalmente mulheres, muitas mulheres, que levavam com elas seus esposos,
filhos,etc. Muitos daqueles que foram lá admirar o palácio de cristal, apesar
de passar por certa crise financeira pelo desemprego, sentiram-se momentaneamente
esquecidos de seus problemas e passaram a sonhar no futuro. De repente, sentiram-se estar penetrando numa
nova era de paz, prosperidade e felicidade... Era o poder do fascínio pela
teconologia e pelo progresso industrial.
Alguns anos depois a cena se repete, desta vez em Paris: no ano 1900 (passagem do milênio, quando os homens são tentados pela miragem do futuro risonho e feliz) era inaugurado o “Palácio da Eletricidade”, um suntuoso prédio, feericamente iluminado, que abrigava uma esplendorosa exposição de produtos elétricos, onde se mostrava as novidades de lâmpadas, dínamos, fusíveis, soquetes, interruptores, disjuntores e todos os recentes inventos que faziam da eletricidade o novo “glamour” da humanidade. Um jornal da época comentou: “Sem eletricidade a exposição não passa de uma massa inerte, sem o menor sinal de vida... um simples toque de dedo no interruptor e o fluido mágico brota. Por toda parte, a alma do Palácio da Eletricidade dá luz e vida a tudo”. Era a modernidade do progresso tecnológico que encantava a milhões, fato repetido pela TV e pelo computador dos dias de hoje. Naquele tempo, porém, era necessário que os “Palácios”, seja de cristal ou de luz, dessem “glamour” a tais engenhos a fim de levar o fascínio às multidões. No advento da TV, dos jatos de luxo e do computador e do celular, a Revolução não precisa mais de “palácios” , seja de cristal ou de luzes elétricas, pois o fascínio pelo progresso tecnológico já havia sido enclausurado no coração do homem.
O ambiente pós-Revolução
Industrial
Lançadas as bases da concepção da Revolução
Industrial e vitoriosa esta, principalmente na Europa, ficava no subconsciente
das multidões a idéia de que o homem finalmente estava caminhando para resolver
vários problemas sociais através do progresso tecnológico e industrial. Era a
felicidade baseada no gozo da vida e dos prazeres terrenos. Esta concepção
cresceu nas pessoas como um verdadeiro fascínio, mas deixando em aberto muitas
das questões sociais, como o problema do trabalho feminino e infantil nas
fábricas, a carga máxima de trabalho por dia, os dias de descanso remunerado, o
auxílio previdenciário e de saúde, etc. Estas questões sempre foram levantadas
pela esquerda, mas só para desviar de seu rumo as verdadeiras soluções, as
quais só viriam a ser conhecidas quando a Igreja começou a lançar as chamadas
Encíclicas sociais, principalmente a partir do Papa Leão XIII. A esquerda
sempre apontava como solução o Estado totalitário, a comunidade de bens e a
ditadura do proletariado (havia também as soluções “democráticas”, partidas de
grupos ditos capitalistas ou “direitistas”), enquanto a Igreja apontava a
sociedade orgânica, sacral e estruturada com base nos princípios cristãos como
a verdadeira solução para todos os problemas sociais.
Assim, mesmo sem ainda haver solucionado tais
questões na sua vida real, encontramos o início da século XX com toda a Europa
nadando na mais estonteante riqueza, onde cidades como Londres, Viena, Berlim e
Paris apresentavam um aspecto verdadeiramente paradisíaco em seu traçado
urbanístico, em seus palácios exuberantes e em diversas instituições estuantes
de vitalidade e progresso tecnológico. O Palácio da Eletricidade fez com que se
irradiasse por toda a Europa o encanto pela luz elétrica. Os teatros e as
óperas de luxo (agora um luxo cheio de brilho elétrico) não eram mais exclusividade de Paris. Nem
tampouco as belíssimas iluminações elétricas das ruas.
É característica desta época a busca do arrojo
tecnológico que fascinasse as multidões, surgindo várias indústrias de peso
como a automobilística, a de bondes, de trens e a de navios, culminando com a
construção do transatlântico “Titanic”, um modelo de perfeição da técnica, do
luxo e de gozo, um desafio que o homem lançava ao seu próprio futuro, afundado
por um iceberg na década de 1910. Era
para lá que caminhava a humanidade, isto é, o afundamento, e não a plenitude do
gozo desta vida como queriam alguns.
Essa falsa “paz”[1]
e uma prosperidade superficial logo levaram os europeus a uma vida cheia de
deleites e até de extravagâncias: a última moda se apresentava agora tanto em
Paris quanto no Hyde Park de Londres, ou até mesmo nas Américas; o
exibicionismo social se mostrava presente também nas calçadas de cidades
conservadoras como Viena; foliões de vários países podiam agora ir ao baile de
máscaras da Ópera de Paris; o resto da aristocracia havia sido destroçada por Napoleão,
mas havia ainda alguns (burgueses “aristocratas”) que participavam de uma vida
social mais requintada e isolada, embora com algumas excentricidades, com fins
de semana no campo, cavalgadas, caçadas e esportes mais elitizados. Logo, logo, a época que se eclipsava sob o
luxo e a riqueza tomou um nome atraente: “
Quando a Primeira Grande Guerra explodiu em 1914, ninguém entendeu qual a sua causa, um conflito inexplicável diante de uma Europa rica e “feliz”... Para muitos ainda é inexplicável que tenham se engalfinhado num conflito mundial dezenas de nações “felizes” e ricas, supostamente por causa apenas de um atentado cometido contra um estadista austríaco. Três das grandes dinastias centenárias, que sobreviveram à Revolução Francesa e seus desdobramentos, foram destroçadas após a Guerra: a dos Romanov, na Rússia, a do Kaiser, na Alemanha, e a dos Habsburgo, na Áustria. A Revolução implantaria a ferro e fogo, neste início de século, a sua terceira fase, a Comunista (cuja ideologia nascera no século anterior, também em país de maioria protestante, a Alemanha), enquanto de outro lado propagava o sonho adormecedor da felicidade pelo progresso industrial e tecnológico, o qual, aliás, só era acessível naquele tempo aos mais ricos...
Surge a “questão” feminina
No decorrer da Revolução Industrial a chamada
“questão feminina” havia sido levantada
por alguns “pioneiros”, mas ao lado de diversos outros problemas sociais
próprios da esquerda, como o trabalho infantil, o direito do voto, etc. Foi nas
primeiras décadas do século XX que essa questão foi tomando um aspecto mais
peculiar e diferenciado dos demais problemas sociais.
A mulher havia sido incorporada ao contingente de trabalhadores fabris, mas nada se contestou contra a sua presença naquele setor. Isso talvez porque as operárias eram constituídas de pessoas da classe pobre e sem representatividade. Para os ideólogos das chamadas “causas sociais” o mais importante, na época, era propagar a Revolução Industrial, mesmo em prejuízo da formação da mulher. Esta tinha sido virtualmente arrancada de seu lar para exercer um trabalho que, além de ser mais apropriado ao homem quanto ao modo de executá-lo, não o era para a mulher pelo fato de afastá-la do lar e dos filhos. Com o desemprego crescente entre os homens houve vários casos de mulheres que iam trabalhar enquanto os maridos ficavam em casa (como já é comum no mundo moderno). Não era esta a questão levantada pelas feministas do tempo, mas sim o direito que as mulheres deveriam ter para participar de passeatas, obter melhores salários, votar em seus candidatos e serem mais ativas na política. O feminismo sempre foi um movimento de elite e dirigido a pessoas da alta sociedade. Aliás, quanto à participação feminina nos parques fabris, ou em qualquer outro trabalho semelhante, mesmo que fosse indigno, era ferreamente defendido como um direito da mulher e não um abuso de sua condição. “Direito”, aliás, só acessível às pobres e utilizado em prol da Revolução Industrial e da emergente burguesia industrial.
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