(Nossa Senhora do Grand Retour)
Nas condições
em que as coisas estão postas, só poderia haver uma renovação da Igreja, uma
volta ao cumprimento do papel d’Ela e do fiel cumprimento de sua Missão, se
houvesse uma ressurreição, um ressurgimento espiritual enorme em todo o orbe
católico. Esta ressurreição (que chamamos de “Grand-Retour”) é necessária,
conforme explica São Tomás de Aquino, falando a respeito da necessidade da
ressurreição do pecador:
“Sobre o que acabamos de
expor, podemos fazer quatro considerações para nossa instrução.
“Primeiro, que devemos
nos esforçar para ressurgirmos espiritualmente da morte da alma, contraída pelo
pecado, para a vida da justificação que se obtém pela penitência.
“Escreve o Apóstolo:
“Surge, tu que dormes, ressurge dos mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5, 14).
“Esta é a primeira
ressurreição da qual nos fala o Apocalipse:
“Feliz o que teve parte na primeira ressurreição” (Ap 20, 6).
“Segundo, que não devemos
protelar esta nossa ressurreição da morte, mas realizá-la já, porque Cristo
ressuscitou ao terceiro dia.
“Lê-se: não tardes na
conversão para o Senhor, e não a delongues dia por dia (Ecle 5, 8).
“Por que estás agravado
pela fraqueza, não podes pensar nas coisas da salvação, e porque perdes parte
de todos os bens que te são concedidos pela Igreja, incorres em muitos males,
perseverando no pecado.
“Como disse o Venerável
Beda, o diabo, quanto mais tempo possui uma pessoa, tanto mais dificilmente a
deixa.
“Terceiro, que devemos
também ressurgir para a vida incorruptível, de modo que não mais morramos, isto
é, que devemos perseverar no propósito de não mais pecar. Lê-se na Carta aos
Romanos: “Assim também vós vos
considereis mortos para o pecado, vivendo para Deus em Cristo Jesus. Não reine,
portanto, o pecado em vosso corpo, obedecendo-lhe as concupiscências; não
exibais os vossos membros como armas de maldade para o pecado, mas deveis vos
exibir a vós mesmos para Deus como vivos que saíram da morte” (Rom 6,9; 11-13).
“Quarto, que devemos
ressurgir para uma vida nova e gloriosa evitando tudo o que antes nos foi
ocasião e causa de morte e de pecado. Lê-se na Carta aos Romanos: “Como Cristo ressuscitou de entre os mortos
pela glória do Pai, também nós devemos andar na novidade da vida (Rom
5,4)”. Esta vida nova é a vida de
justiça, que renova a alma e a conduz para a glória. Amém.” [1]
Poderia
alguém isoladamente, nas condições do mundo de hoje, tomar tais propósitos?
Como isso seria possível? O católico de hoje, seja homem ou mulher, que passa o
dia inteiro, a semana inteira, ou até mesmo o mês e o ano inteiros,
freqüentando no seu dia-a-dia um ambiente materialista, onde nada lembra Deus,
seja na escola ou no trabalho, como esperar que mude de vida e faça penitência
pelo simples fato de ir a uma missa, aliás sempre com rituais pouco piedosos,
ou mesmo de fazer uma confissão, que às vezes não sabe se foi bem feita ou não?
Daí que hoje se observa tristemente milhões e milhões de comunhões sacrílegas,
quando as pessoas nem sequer percebem a gravidade do ato que praticam. Perderam
simplesmente o senso natural da razão, não vêem os sinais de Deus na Igreja, na
sociedade ou até mesmo na natureza. São ateus “in act”. Tais pessoas perderam o poder de auto-regência
e a falta de humildade lhes impede de buscar essa regência entre outros homens
(que sejam santos) ou entre seus próprios anjos da guarda.
Pior do que
isso: as comunhões sacrílegas, como o pior dos pecados, sujeitam tais pessoas a
um severo juízo de Deus, expondo-as a terríveis castigos conforme explica Santo
Antonio Maria Claret em sua obra “Caminho Reto e Seguro para chegar ao Céu”:
"Não há crime com que a Deus mais ofensa faz como é com a comunhão
sacrílega. Os Santos Padres no-lo pintam com palavras e exemplos assombrosos.
Quem comunga em pecado mortal, diz Santo Agostinho, comete maior crime que
Herodes, mais horrendo que o pecado de Judas, acrescenta São João Crisóstomo; e
outros santos dizem que é maior ainda que os pecados que fizeram os judeus
crucificando o Salvador; e por todos, diz São Paulo, que será réu do corpo e do
sangue do Senhor, isto é, diz a Glosa, será castigado como se com suas mãos
tivesse crucificado o Filho de Deus. É a comunhão sacrílega um delito tão
grande, que Deus não espera castigá-lo no inferno, senão que começa já neste
mundo com doenças e mortes; de modo que já no tempo dos Apóstolos, como conta
São Paulo, muitos pelas comunhões sacrílegas padeciam gravíssimos males
corporais, e outros morriam. São Cipriano refere dalguns de seu tempo, que logo
que recebiam indignamente a sagrada comunhão eram acometidos de intoleráveis
dores nas entranhas, até morrerem rebentados.
São João Crisóstomo conheceu alguns possessos do demônio por este
delito; e São Gregório, Papa, assegura
que em Roma fez grande estrago a peste, que sobreveio por ter-se continuado
naquela cidade as diversões, banquetes, espetáculos e impurezas depois da
comunhão pascal; e o mesmo conta de seu tempo Santo Anselmo, por ter-se
cumprido mal este preceito. Lê-se na
vida de São Bernardo que um monge ousou comungar em pecado mortal; mas, coisa
horrível!, apenas lhe deu o Santo a Sagrada Hóstia, rebentou como Judas, e como
ele condenou-se eternamente".[2]
Pode-se dizer
que as comunhões sacrílegas cometidas hoje em dia constituem um pecado social e
podem levar as pessoas que a cometem a ter uma participação, ativa ou não, no
corpo místico de Satanás. Já não constitui um dos motivos do castigo que nos
ameaça?
Há uma
expressão francesa para caracterizar esse grande retorno: “Grand Retour”, nome
oriundo de uma aparição mariana na França. O “Grand Retour”, ou a Ressurreição
coletiva de que falamos, viria então
concomitantemente com tais castigos. Esta ressurreição deveria, então,
ser coletiva, deveria ser universal e deveria ocorrer ao mesmo tempo, na mesma
época. E ela só poderia vir com a Providência fazendo renascer em todos o “lumen
rationis”, e isto só seria possível estimulando de uma forma avassaladora o
temor de Deus. Tudo isso só viria com os castigos aguardados e previstos em
Fátima. Pois chegou a hora em que a intervenção divina faz-se necessária numa regência
típica de correção de rumos. E esta ressurreição só virá através de um
holocausto também universal, onde pereçam alguns milhões de pessoas, boas e
más, estes para satisfazer a Justiça divina e aqueles para satisfazer o amor e
a misericórdia.
Por que tais
castigos e o “grand retour” deveriam ocorrer simultaneamente e serem coletivos,
quer dizer, atingir toda a humanidade? Porque através de um movimento (o
castigo) procuraria a Providência barrar os passos do corpo místico de Satanás,
e do outro (o “grand retour”) a reaglutinação do Corpo Místico de Cristo. E um não poderia ocorrer sem o outro porque
ambos, no final, têm a mesma finalidade em toda a humanidade, que é
restabelecer a regência da Igreja e divina sobre os homens.
[1]Exposição
sobre o Credo – S. Tomás de Aquino – Ed.Loyola, págs. 67/57.
[2]
"Caminho Reto e Seguro para Chegar ao Céu" -Santo Antonio Maria
Claret - Editora Ave Maria, 1960 - págs. 99/105.
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