Talvez a uva seja a fruta com mais remota
existência, sendo falada logo após o dilúvio universal. A primeira referência
bíblica sobre o vinho já foi feita com Noé: “Noé, que era agricultor, começou a
cultivar a terra, e plantou vinha. E, tendo bebido vinho, embriagou-se, e
apareceu nu na sua tenda” ( Gên 9, 20). O episódio é muito conhecido: um dos filhos,
Cam, riu-se do pai e por isso teve amaldiçoada sua descendência, enquanto Sem
cobriu a nudez do pai e foi abençoado. A Bíblia fala que Noé era agricultor; o
fato de ter sido o primeiro a cultivar a uva significava que ele a encontrou na
natureza ainda na forma bruta, e a trouxe para suas plantações. No entanto, ele
ou algum de seus filhos tinha outra atividade diferente, tendo posto as uvas
para fermentar e feito a bebida, talvez fruto de alguma experiência doméstica,
daí surgindo o vinho.
O caso dos recabitas
com Jeremias
Os recabitas eram descendentes dos cineus,
vindos de Madian para a Palestina com Moisés (Num 10, 29), unindo-se política e
religiosamente a Israel na conquista da região, habitando ao sul de Judá, mas
vivendo ainda como nômades. De início, eles não quiseram seguir Moisés, que os
convidou, mas depois foram obrigados a aderir ao povo eleito. O exército caldeu,
que invadia a Palestina, impelira-os para Jerusalém. O problema é que viviam
muito apegados aos preceitos de seus antepassados, dificultando a assimilação dos
costumes do povo eleito. Na passagem a seguir, o Profeta Jeremias propõe àquele
povo a adoção de um novo costume, mais civilizado, do consumo do vinho, que é
recusado pelos recabitas, cuja recusa é usada pelo próprio Deus como exemplo de
quem obedece aos pais, enquanto o povo
de Jerusalém não seguia as ordens divinas.
Vejamos a narrativa da Sagrada Escritura
sobre o que houve:
“Palavra que foi dirigida pelo Senhor a
Jeremias, no tempo de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, a qual dizia: Vai
à casa dos recabitas, fala-lhes e introduzi-los-ás na casa do Senhor, num dos
quartos do tesouro, onde lhes dará vinho a beber,
Então eu tomei Jezonias, filho de Jeremias,
filho de Habsanias, seus irmãos, todos os seus filhos e toda a casa dos
recabitas. Introduzi-os na casa do Senhor, no aposento dos filhos de Hanan,
filho de Jagdelias, homem de Deus, que estava junto à câmara dos príncipes,
por cima do quarto de Maasias, filho de Sejum, que era guarda do vestíbulo. Pus
diante dos filhos da casa dos recabitas
taças cheias de vinho e copos, e disse-lhes: Bebei vinho. Eles, porém,
responderam: Não beberemos vinho, porque Jonadab, filho de Recab, nosso pai,
deu-nos este preceito: Não beberás jamais vinho, nem vós, nem vossos filhos;
não edificareis casa, nem semeareis sementeiras, nem plantareis vinhas, nem as
possuireis, mas habitareis em cabanas todos os dias da vossa vida; para que
vivais muitos dias sobre a face da terra, na qual viveis peregrinando. Temos,
pois, obedecido à voz de Jonadab, filho de Recab, nosso pai, em todas as coisas
que nos mandou, de não beber vinho em todos os nossos dias, nós e nossas
mulheres, nossos filhos e filhas, e de não edificarmos casas para nossa morada;
não temos tido vinhas, nem campos, nem sementeiras; mas temos habitado sob
tendas e temos obedecido em tudo conforme o que nos mandou Jonadab, nosso pai.
Quando Nabucodonosor, rei de Babilônia, entrou em nossa terra, dissemos: Vinde
e entremos em Jerusalém, para fugir do exército dos caldeus, e para escapar do
exército da Síria; e ficamos em Jerusalém.”
O exemplo dos recabitas em seguir os
preceitos de seus ancestrais foi usado pelo próprio Deus para admoestar os
habitantes de Jerusalém, terminando com as seguintes palavras:
“...Assim os filhos de Jonadab, filho de
Recab, guardaram com firmeza o preceito que seu pai lhes tinha dado; mas esse
povo não me tem obedecido” (Jer 35, 1-1
e 16).
Comentários:
A expressão “aposentos dos filhos de Hanan”
quer significar um lugar especial, talvez onde se exerciam algumas funções
sacerdotais no templo, comprovado a seguir pelo termo “homem de Deus”, que nas
Sagradas Escrituras significava aquele que é dedicado aos serviços divinos,
como os profetas ou os sacerdotes. Jeremias colocou não somente taças contendo
vinhos, mas também copos, objetos mais simples, talvez com a intenção de
incentivar os convidados a beberem o vinho, pois, certamente, as taças seriam
vistas como usadas apenas pelos da alta sociedade, enquanto os copos são
objetos mais populares.
A oferta do vinho seria uma tentativa de
fazer com que aquele povo aprendesse a se confraternizar com o povo eleito e,
assim, tornar-se mais civilizado, pois continuavam sendo nômades e arredios a
qualquer fluxo civilizatório. Fazia parte dos conselhos de seus ancestrais não
fazer casas para morar e continuar nas tendas, além de não plantarem vinhedos
ou consumir o vinho. Essa tendência ao nomadismo e contrária ao convívio social
em cidades era comum em alguns povos daqueles tempos.
Como se tratava apenas de um costume
arraigado pela tradição de seus pais, sem qualquer sentido aparentemente nocivo,
tal recusa não foi mal vista, mas usada como exemplo de uma tribo inteira que
segue as recomendações ou mandamentos dados pelos ancestrais.
Deveres de quem
dirige um banquete
No Eclesiástico há algumas normas dirigidas a
quem dirige um banquete, eis algumas:
“Puseram-te como chefe? Não te ensoberbeças
por isso; sê entre eles um dos mesmos.
Tem cuidado deles, e depois disso assenta-te,
e cumpridas todas as tuas obrigações, põe-te a comer, a fim de que te causem
alegria, e recebas a coroa, como um ornamento precioso, e mostres que eras
digno de ser escolhido.
Fala, tu que é os mais velho, pois é a ti que
pertence falar primeiro. (Mas) Fala com sabedoria e com prudência, e não
impeças a música.
Não desperdices palavras, onde não há quem as
ouça, e não ostentes fora do tempo o teu saber.
Correm igual paralelo uma pedrinha de
carbúnculo em engaste de ouro, e um concerto de musica em festim de vinho.
Assim como brilha mais um sinete de esmeralda
encastoada em ouro, assim a harmonia da música melhor se logra entre um alegre
e moderado vinho” (Eclesiástico 32.1-8).
Apólogo de Isaías
sobre a vinha:
“Cantarei ao meu amado o cântico do meu
parente sobre a sua vinha. O meu amado adquiriu uma vinha, plantada numa colina
fertilíssima, Cercou-a duma sebe e tirou dela as pedras, plantou-a de cepas
escolhidas, edificou uma torre no meio, construiu na mesma torre um lagar;
esperava que desse boas uvas, mas produziu labruscas.[1]
Agora, pois, habitantes de Jerusalém, e
homens de Judá, sede vós os juízes entre mim e a minha vinha. Que coisa há que
eu devesse mais à minha vinha, que não lhe tenha feito? Far-lhe-ia acaso
injúrias em esperar que ela desse boas uvas, em lugar das labruscas que
produziu? Pois agora vos mostrarei o que hei de fazer à minha vinha:
Arrancar-lhe-ei a sebe e ficará exposta ao roubo; derrubar-lhe-ei o muro e
ficará sujeita a ser pisada. Farei com que fique deserta; não será podada nem
cavada; crescerão nela os espinhos; mandarei às nuvens que não derramem sobre
ela chuva. A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de
Judá a planta, na qual ele tinha as suas delícias; esperei que praticassem a
retidão, e eis que só há iniquidade, e que praticassem a justiça, e eis que
somente se ouvem clamores.
Ai de vós que ajuntais casa com casa e ides
acrescentando campo a campo, até chegar ao fim de todo o terreno! Porventura
haveis de habitar sós no meio da terra? Aos meus ouvidos chegam estas coisas,
diz o Senhor dos exércitos, Verdadeiramente que muitas casas grandes e belas
virão a ficar desertas, sem habitante. Porque dez geiras de vinhas produzirão
apenas um pequeno frasco (de vinho) e trinta alqueires de semente não darão mais
que três.
Ai de vós os que vos levantais pela manhã
para vos entregardes à embriaguez e para beberdes até à tarde com tal excesso,
que venhais a ficar de todo esquentados pelo vinho. A cítara, a lira, o
pandeiro, a flauta, o vinho encontram-se nos vossos banquetes; e vós não olhais
para a obra do Senhor, nem considerais as obras das suas mãos. Por isso é que o
meu povo foi levado cativo, porque não teve ciência. Os seus nobres morreram de
fome e a sua multidão mudou-se de sede. Por isso é que a habitação dos mortos
alargou o seu seio e desmesuradamente abriu a sua boca; desceram a ela os seus heróis, o seu povo e
os seus homens ilustres e gloriosos. O plebeu terá de se curvar, os grandes
serão humilhados e os olhos dos altivos serão abatidos. O Senhor dos exércitos
será exaltado (pela retidão do) seu juízo, e o santo Deus será santificado pela
(administração da sua) justiça. Serão apascentados os cordeiros segundo o seu
costume, e dos campos desertos, convertidos em fertilidade, comerão os
estranhos.
Ai de vós que arrastais e iniquidade com
cordas de vaidade, e o pecado com os tirantes dum carro! Vós que dizeis: Avie
já com isso e sem demora venha a sua obra, para que a vejamos, aproxime-se e
cumpra-se o decreto do Santo de Israel, a fim de que nós o conheçamos. Ai de
vós os que ao mal chamais bem, e ao bem mal, que tomais as trevas por luz, e a
luz por trevas, que tendes o amargo por doce, e doce por amargo!
Ai de vós que sois sábios a vossos olhos, e,
segundo vós mesmos, prudentes!
Ai de vós os que sois poderosos para beber
vinho, e fortes para fazer misturas embriagantes! Vós os que justificais o
ímpio pelas dádivas, e ao justo tirais o seu direito!
Por esta causa, assim como a língua do fogo
devora a palha, e a brasa ardor da
chama, assim a raiz deles será como a faísca, e o seu renovo se dissipará como
pó; porque rejeitaram a lei do Senhor dos exércitos, e blasfemaram da palavra
do Santo de Israel. Por isso o furor do Senhor se acendeu contra o seu povo,
estendeu a sua mão sobre ele e o feriu; os montes se abalaram e os seus
cadáveres foram lançados como esterco ao meio das praças. Com todos estes
castigos não se aplacou o seu furor, mas ainda está levantada a sua mão.
Arvorará um estandarte para servir de sinal aos povos de longe e chamá-los-á
com um assobio desde os confins da terra; e acorrerão com uma velocidade
prodigiosa. Não haverá neles quem sinta cansaço ou fadiga; não dormitarão nem dormirão;
ninguém desatará o cinto dos seus rins, nem desatará a correia do seu calçado.
As suas setas são agudas e todos os seus arcos estão entesados. As unhas dos
seus cavalos são como pederneira e as
rodas dos seus carros têm a rapidez da tempestade. O seu rugido será como o do
leão, rugirão como os leõezinhos. Soltarão bramidos, se arrojarão à presa e a
levarão, não haverá que lha tire. Soará sobre Israel naquele dia um como
bramido do mar; olharemos para a terra, e eis que tudo será trevas de
tribulação, e a luz desaparecerá nessa profunda escuridão” (Is 5, 1-30).
O vinho pode fazer o
homem perder o entendimento:
“Mas também estes, por causa do vinho
perderam o entendimento, e, por causa da embriaguez, andaram sem poderem ter; o
sacerdote e o profeta perderam o juízo por causa da embriaguez, foram
absorvidos pelo vinho, andaram cambaleando na embriaguez, não reconheceram o
vidente, ignoraram a justiça. Todos os meses se encheram de vômito e de
asquerosidade, de modo que não havia já lugar que estivesse limpo. “ (Is 28, 7-8)
As Bodas de Caná
“Três dias depois, celebravam-se
umas bodas em Caná da Galiléia e encontrava-se lá a mãe de Jesus. Foi convidado
também Jesus com seus discípulos para as bodas. Faltando o vinho, a mãe de
Jesus disse-lhe: Não têm vinho. Jesus disse-lhe: Mulher, que nos importa a mim
e a ti isso?
Ainda não chegou a minha hora. Disse sua mãe aos que serviam: Fazei tudo o que ele vos disser. Ora estavam ali seis talhas de pedra, preparadas para a purificação judaica, que levavam cada uma duas ou três metretas. Disse-lhes Jesus: Enchei as talhas de água. Encheram-nas até os bordos. Então disse-lhes Jesus: Tirai agora e levai ao arquitriclínio. Eles levaram.
O arquitriclínio3, logo que provou a água convertida em vinho, como não sabia donde viera (este vinho), ainda que o sabiam os serventes, porque tinham tirado a água, o arquitriclínio chamou o esposo, e disse: Todo o homem põe primeiro o bom vinho, e, quando já (os convidados) têm bebido bem, então lhes apresenta o inferior; tu, ao contrário, tiveste o bom vinho guardado até agora. Este primeiro milagre, fê-lo Jesus em Caná da Galiléia, e manifestou sua glória, e seus discípulos creram nele. (Jo 2, 1-11).
Ainda não chegou a minha hora. Disse sua mãe aos que serviam: Fazei tudo o que ele vos disser. Ora estavam ali seis talhas de pedra, preparadas para a purificação judaica, que levavam cada uma duas ou três metretas. Disse-lhes Jesus: Enchei as talhas de água. Encheram-nas até os bordos. Então disse-lhes Jesus: Tirai agora e levai ao arquitriclínio. Eles levaram.
O arquitriclínio3, logo que provou a água convertida em vinho, como não sabia donde viera (este vinho), ainda que o sabiam os serventes, porque tinham tirado a água, o arquitriclínio chamou o esposo, e disse: Todo o homem põe primeiro o bom vinho, e, quando já (os convidados) têm bebido bem, então lhes apresenta o inferior; tu, ao contrário, tiveste o bom vinho guardado até agora. Este primeiro milagre, fê-lo Jesus em Caná da Galiléia, e manifestou sua glória, e seus discípulos creram nele. (Jo 2, 1-11).
Somente São João narra este
episódio no Evangelho. Como tinha sido
ele o Apóstolo a quem Nosso Senhor confiou os cuidados da Virgem
Santíssima, é provável que tenha sido Ela mesma que fez o relato para que
ele o escrevesse, pois morou em sua companhia durante muitos anos.
ele o Apóstolo a quem Nosso Senhor confiou os cuidados da Virgem
Santíssima, é provável que tenha sido Ela mesma que fez o relato para que
ele o escrevesse, pois morou em sua companhia durante muitos anos.
Vê-se que as vasilhas, talhas de
pedras, não eram destinadas ao vinho, mas somente para a água usada nos rituais
de purificação, evidenciando-se ainda mais o caráter milagroso da transformação
ocorrida em seguida.
Metreta, era uma medida grega
equivalente a cerca de 30 litros. Como São João escreveu seu evangelho em
grego, refere-se à medida mais comum da Grécia, que talvez fosse usada também
na Palestina, região que pertenceu ao império grego por muitos anos.
O arquitriclínio. Pelo prefixo
“arqui” nota-se que é uma palavra também de origem grega: era o mestre do
banquete e o provador de vinho, o que distinguia entre o vinho bom e o ruim.
Também há a hipótese do próprio
São João ter presenciado o milagre, pois lá estavam alguns dos novos discípulos
de Jesus. As festas de casamento entre os hebreus eram muito concorridas e as pessoas
que presenciaram o primeiro milagre de Jesus eram numerosas. Caná era uma
aldeia que distava de Nazaré pouco mais de 6 km, razão porque a Sagrada Família
tinha muitos amigos e parentes na localidade. Era chamada de Caná da Galiléia
para distingui-la de outra Caná, da tribo de Aser, perto de Tiro.
O texto de São João, muito
sucinto, não nos dá uma ideia exata de
como se realizavam as festas de casamento entre os hebreus. Nem
tampouco o Evangelista se detém em alguns detalhes que, ou ele
considerava desnecessários ou não lhe vieram à memória no instante em que
escrevia.
como se realizavam as festas de casamento entre os hebreus. Nem
tampouco o Evangelista se detém em alguns detalhes que, ou ele
considerava desnecessários ou não lhe vieram à memória no instante em que
escrevia.
Algumas passagens
bíblicas sobre a a uva e o vinho
“...prometemos levar aos sacerdotes, para
o tesouro (da casa) do nosso Deus, as
primícias dos nossos alimentos, dos nossos licores, dos frutos de todas as
árvores, da vinha, do azeite e pagar o dízimo da nossa terra aos levíticos”
(Neemias 10. 37)
“A tua prata converteu-se em escória; o teu
vinho misturou-se com água (Isaías 1,22)
“A alegria e o regozijo desaparecerão dos
campos, e nas vinhas ninguém exultará, nem mostrará júbilo. Não mais pisarão
vinho no lagar os que tinham costume de o pisar; fiz calar a voz dos
pisadores”. (Is 16.10)
“O Senhor jurou pela sua destra e pelo seu
braço forte: Eu não darei mais o teu trigo por comida aos teus inimigos, nem os
filhos alheios beberão o teu vinho, fruto do teu trabalho; mas os que
recolherem o trigo o comerão e louvarão o Senhor; e os que acarretarem o vinho
bebê-lo-ão nos átrios do meu santuário” (Is 62. 8-9).
[Esta passagem faz referência profética ao
que virá após a vinda do Messias, quando a Santa Missa se celebrará com o pão e
o vinho, sendo este bebido “no átrio do meu santuário”, quer dizer, no Altar.]
“Eu pisei sozinho no lagar, e nenhum homem
dentre os povos estava comigo; eu os pisei no meu furor, e os pisei aos pés da
minha ira; o seu sangue salpicou os meus vestidos e manchei todas as minhas
roupas. Porque o dia da vingança está no meu coração, é chegado o ano da minha
redenção...” Is 63.3-4)
“Eis o que diz o Senhor: Como quando se acha
uma formosa baga num cacho de uva e se diz: Não desperdices, porque é uma
bênção, assim farei eu por amor de meus servos, de sorte que não destrua
tudo.” (Is 65.8).
“Eis o que diz o Senhor dos exércitos: até ao
último cacho, como na vindima, se rebuscarão os restos de Israel. Leva lá
novamente a tua mão (ó caldeu), como o
vindimador ao cesto” (Jer 6.9).
[A expressão “restos de Israel” se refere aos
fiéis a Deus, verdadeiros “restos” perante a quantidade dos infiéis].
“...um canto semelhante aos pisadores de uvas
será cantado contra todos os habitantes da terra...” (Jer 25.30).
“A alegria e o regozijo desapareceram do
Carmelo e da terra de Moab. Eu tirei o vinho dos lagares, o pisador de uva não
cantará já suas costumeiras canções..”
(Jer 48.33).
“A fornicação, o vinho e a embriaguez
fazem-lhes perder o sentido” ((Oseias
4.11).
Falando sobre uma época em que tudo havia
sido restaurado, o profeta Amós escreveu; “Eis que vêm os dias, diz o Senhor,
em que o que lavra seguirá de perto o que sega, e o que pisa as uvas (seguirá
de perto) o que semeia o grão; os montes destilarão doçura e todos os outeiros
serão cultivados” (Amós 9.13).
“Assim como o vinho engana quem o bebe com
excesso, assim será o homem soberbo, que ficará sem honra...” (Habacuc 2.5).
Quando Neemias dirigia os trabalhos de
reconstrução do templo após a volta do exílio, dava vinho aos trabalhadores,
conforme relata:
“Para isto todos os dias me era preparado um
boi e seis carneiros escolhidos, além das aves, e de dez em dez dias eu
distribuía vinhos diversos e muitas outras coisas...” (Neemias 5.18).
Além disso, enviava também vinho aos
sacerdotes do templo: “prometemos levar aos sacerdotes, para o tesouro (da
casa) do nosso Deus, as primícias dos nossos alimentos, dos nossos licores, dos
frutos de todas as árvores, da vinha, do azeite, e pagar o dízimo da nossa
terra aos levitas” (Neemias 10.37)
Após a reforma na religião, a mudança; “Naqueles
dias vi em Judá homens que pisavam nos lagares ao sábado, que acarretavam
molhos, e que carregavam sobre jumentos vinho, uva, figo e toda casta de carga,
e que as levavam a Jerusalém em dias de sábado”
(Neemias 13.15).
“Nem
se deita vinho novo em odres velhos; doutro modo rebentam os odres, derrama-se
o vinho e perdem-se os odres. Mas deita-se vinho novo em odres novos; e assim
ambas as coisas se conservam” (Mt 9.17)
“Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e
dizem: Eis um glutão e um bebedor de vinho...”
(Mt 11.19)
Na instituição da Eucaristia e de Santa
Missa, na Quinta Feira da Paixão, disse Nosso Senhor: “Desta hora em diante não
beberei mais deste fruto da videira até àquele dia, em que o beberei de novo convosco
no reino do meu Pai. (Mt 26,29).
Na cura do homem da estrada, o Bom Samaritano
usou também do vinho, como relata São Lucas: “..e, aproximando-se, pensou-lhe
as feridas, lançando nelas azeite e vinho”
(Lc 10.34).
Entre os diáconos, São Paulo exigia
morigerados costumes, como no uso do vinho; “Igualmente os diáconos sejam
modestos, não de duas línguas, nem dados a muito vinho...” (I Tim 3,8). Quer
dizer, não podiam usar de “muito vinho”, porque o exagero na bebida poderia embriaga-los,
mas não há restrições ao uso do vinho moderado. Mais adiante, o Apóstolo volta
a falar do vinho, desta vez recomendando o seu uso por motivos de saúde: “Não
continues a beber água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu
estômago e das tuas frequentes enfermidades”
(I Tim 5.23).
No fim do mundo, as uvas e o vinho são
relembrados como símbolo da colheita das almas pelos Anjos: “Saiu do altar
outro anjo, que tinha poder sobre o fogo, e gritou em alta voz para o que tinha
a foice aguda, dizendo: Lança tua foice aguda, vindima os cachos da vinha da
terra, porque as suas uvas estão maduras” (Apoc 14.18).
Ao abençoar o filho Judá, disse, a certa
altura, Jacó (ou Israel), falando de Redentor que nasceria daquela
estirpe:
“Ele atará à vinha o seu jumentinho, e à
videira, ó meu filho, a sua jumenta. Lavará a sua túnica no vinho, e a sua capa
no sangue da uva. Os seus olhos são mais formosos que o vinho, e os seus dentes
mais brancos que o leite” (Gên 49,
11-12).
Nas primeiras normas sobre o culto divino já
entrava o vinho como parte importante: “Com o primeiro cordeiro oferecerás uma
décima parte de um efá de flor de farinha, amassada com azeite de azeitonas
pisadas, na medida da quarte parte do hin, e vinho na mesma quantidade para as
libações” (Ex 29.40).
O nazireu era um consagrado a Deus, e após a
cerimônia de consagração lhe era permitido beber vinho: “depois disto o nazireu
pode beber vinho” (Num 6.20).
“Eu te dei toda a medula do azeite, do vinho,
do trigo e tudo o que ofereceu como primícias ao Senhor” (Num 18.12)
“Derramareis em libação a quarta parte de um
hin de vinho para cada cordeiro no santuário do Senhor” (Num 28.7).
Era um dos prêmios prometidos por Deus aos
que seguiam seus mandamentos; “Se vós portanto obedecerdes aos meus
mandamentos, que eu hoje vos prescrevo, de amar o Senhor vosso Deus, e de o servir de todo o vosso
coração, e de toda a vossa alma, ele dará à vossa terra as chuvas temporãs e serôdias,
para que recolhais o pão, e vinho, e azeite, e feno dos campos para sustentar os gados, e para
que vós mesmos tenhais que comer e com que vos saciar” (Deut 11.13-15).
O vinho é chamado de “sangue da uva”, tal a
sua importância: “..e para que bebesse o mais puro sangue da uva” (Deut 32.14)
Aos sacerdotes, porém, era vedado o uso do
vinho, mas somente quando estiverem no “tabernáculo
do testemunho”: “Disse também o Senhor a Arão: Tu e teus filhos não bebereis
vinho, nem qualquer coisa que possa embriagar, quando entrardes no tabernáculo
do testemunho, para que não morrais; porque este é um preceito eterno para as
vossas gerações, e para que tenhais a ciência de saber discernir entre o santo
e o profano; entre o impuro e o puro...” (Lev 10.8-10).
O vinho é também mal visto como princípio de
maldade quando usado de forma excessiva:
“Eles comem o pão da impiedade, e bebem o
vinho da iniquidade” (Prov 4,17).
“O vinho é uma fonte de luxúria, e a
embriaguez é cheia de desordens; todo aquele que põe nisto o gosto, não será
sábio. (Prov 20.1)
“Aquele que ama os banquetes, parará na
indigência; o que ama o vinho e a mesa lauta não enriquecerá” (Prov 21.17).
“A quem se dirá: Desgraçado de ti? Ao pai, de
quem se dirá: Desgraçado de ti? Para quem serão as bulhas? Para quem os
precipícios? Para quem as feridas sem motivo? Para quem o vermelho dos olhos?
Para quem, senão para aqueles que passam o
tempo a beber vinho, e fazem consistir as suas delícias em despejar copos?
Não olhes para o vinho quando te começa a
parecer louro, quando a sua cor brilha no copo; ele entra suavemente, mas no
fim morde como uma serpente, e espalha o veneno como basilisco.
Os teus olhos verão coisas estranhas, e o teu
coração proferirá incoerências.
E tu serás como homem adormecido, no meio do
mar, e como um piloto sonolento que perdeu o leme.
E dirás: espancaram-me, mas não me doeu;
arrastaram-me, mas eu não senti Quando despertarei eu, e quando acharei mais
vinho para beber?” (Prov 23.29-35).
“Não dês vinho aos reis, porque não há
segredo onde reina a embriaguez” (Prov
31,4)
Porém é recomendado em alguns casos:
“Dá aos aflitos um licor forte, e vinho aos que
estão em amargura de coração” (Prov 31.6).
“e o vinho que alegra o coração do homem” (Salmo 103.15)
Os
filhos de Jó estavam num banquete comendo e bebendo vinho, quando um vendo
derrubou a casa em que estavam e matou a todos (Jó 1, 13 e 18).
O USO DO VINHO
ATRAVÉS DOS TEMPOS
Após Noé haver descoberto as propriedades da uva e
do vinho, conforme vimos, os homens foram, ao longo dos anos, aperfeiçoando o
cultivo da uva e podução de vinhos.
Nos primórdios tempos dos hebreus, as uvas,
colhidas em cestos eram jogadas no lagar, uma cuba profunda de pedra, bem
colocada no chão, bem esculpida na mesma rocha (Is 5: 2). Alguns furos feitos
na parte inferior deste tanque permitia que o líquido caísse num tanque mais
baixo, que também costumava ser esculpida na rocha (Jer. 6: 9; Is. 5: 2). Um homem,
ou dois, se o lagar era grande, andavam pisando nas uvas (Neemias. 13:15; Jb.
24:11).
No Egito, como provavelmente na Palestina, os
pisoteadores, para evitar quedas, se apegavam a cordas que pendiam acima deles.
Com suas canções definiam o ritmo de seu trabalho (Is. 16:10; Jer. 25:30;48:33).
O suco da uva preta manchava suas peles e roupas (Is. 63: 1-3). O líquido que caía
no tanque inferior era derramado em odres ou panelas de barro (Jó 32:19).
Quando a fermentação alcançava o grau desejado, o vinho passava para outros
recipientes (Jer. 48:11,12).
Os hebreus bebiam o suco da uva em forma de mosto,
assim como veio da vinícola ou como mosto fermentado. Eles usaram o vinagre
obtido por uma fermentação mais longa do vinho. Nos tempos antigos, o mosto servia
para transformá-lo em xarope ou mel de uva. Os autores latinos mencionam várias
formas de conservação das uvas e até do mosto. Foi feita uma tentativa de
impedir a fermentação para ter um líquido rico em açúcar. Os romanos adoçaram a
comida com mel ou suco de uva concentrado obtido por ebulição do mosto.
Entre os hebreus, as várias bebidas que vieram da
videira tinham nomes diferentes:
(1) "Tîrõsh" (em grego
"Gleukos") designava o suco espremido na hora de a uva e o vinho
novo. O historiador judeu Flávio Josefo usa o termo grego "Gleukos"
ao falar de suco de uvas espremido sobre o copo de Faraó (Ant. 2: 5, 2; Gn.
40:11), demonstrando a forte influência da cultura helênica na Palestina. Os
antigos distinguiram entre o suco obtido deste caminho e o líquido obtido das
uvas na vinícola. Quando fermentado o mosto tornava-se intoxicante (Os.4:11).
Quando o Espírito Santo veio no Pentecostes, os Apóstolos
foram acusados de estarem cheios de mosto (Atos 2:13). Os acusadores disseram
“mosto” talvez para ridicularizar, pois era uma bebida de inferior qualidade
que o vinho. Há exegetas que afirmam que "Tîrõsh" não significa nem
deve ser mosto nem vinho novo, mas apenas as uvas vintage, mas há muitos textos
que refutam essa afirmação infundada (por exemplo, Joel. 2:24; Neemias 10.37 e
18:12; Is 62: 8, 9; 65: 8; Dt 7:13;
11:14; 12:17).
(2) O termo hebraico "Ãsis", derivado de
um outro que significa "Prensagem", designava suco de uva ou outra
fruta, especialmente o não fermentado. Mas também se aplicava a bebidas
fermentadas (Is 49:26; Amós 9:13). Os hebreus de bom grado bebiam o mosto, mas
eles preferiam o vinho envelhecido (Lc. 5:39; Eclo. 9:10), talvez por dar mais
status social.
(3) Já o termo hebreu "Yayin" está
relacionado o semítico do qual o grego "Oinos" e o latim
"vinum". Aram. "Hamar" ou "Hemer" significava a
mesma bebida; a primeira passagem bíblica no que o termo «yayin» aparece é
encontrado em Gn. 9:21 onde isso significa "Suco de uva fermentado".
Não há razão para atribuir a esse termo nas outras passagens, não tem
significado diferente. O grego "Oinos" tem o mesmo significado que
"yayin". No entanto, se o adjetivo «novo» acompanha «oinos», a
expressão significa então leve, fermentado ou não. Há exegetas que afirmam que esta
expressão deve ser sinônimo de bebida não fermentada; o fato é que, mais tarde, os hebreus bebiam «Yayin»
durante a Páscoa, uma vez que era absolutamente proibido consumir fermento
durante os sete dias desta solenidade. Mas este é um argumento inválido, porque
os fermentos de vinho não foram considerados leveduras. Na Palestina, havia uma
grande variedade de vinhos; os do Líbano eram famosos. Os tiranos compraram o
vinho de Helbón.
Quando instituiu a
Santa Ceia, Nosso Senhor Jesus mencionou "o fruto da videira "(Mt
26:29), expressão usada desde os tempos antigos, imemorial para os hebreus, por
ocasião das solenidades da Páscoa e véspera de sábado. Os gregos também usavam
essa expressão no senso de bebida fermentada. Em geral os textos bíblicos
mencionam o suco da uva preta (Is. 63: 2; Rev. 14: 18-20) e dá o nome de
"o sangue das uvas" (Gn 49:11; Dt. 32:14). O termo hebraico «Mesek»,
mistura, indica um vinho reduzido com água ou com sabor Esse termo parece ter tido um significado
pejorativo porque foi aplicado em tudo para vinhos misturados com drogas
entorpecentes ou excitantes. Os hebreus não tinham conhecimento da destilação. Nos
vinhos aromatizados usavam nomes indicando seu "buquê",
"mimsak" (Pv 23:30; Is.65:11); "Meseq"; Cant. 7: 3; 8: 2).
(4) O
"shêkãr" era uma bebida forte feita a partir de sucos de frutas, não
eram as uvas. Assim, o "shêkãr" foi obtida por fermentação da cevada,
mel, tâmaras, romãs, vinho a palma do suco de maçã. "O shêkãr" causou
embriaguez (Is 28: 7; 29: 9). O termo "shêkãr" é usado apenas uma vez
para indicar a libação com vinho puro (Num. 28: 7).
(5) Outros nomes de
vinhos: 'sõbe', um termo derivado de uma raiz o que significa beber
imoderadamente (Is 1:22; Os. 4:18; Naum. 1:10); "Sh'marim" designa as
fezes do vinho e, portanto, o vinho envelhecido, de qualidade superior por ter
passado muito tempo no banquinho.
Usos do vinho: (a)
Medicinal (Pr. 31: 6; Lc. 10:34; 1 Tim. 5:23); (b) ritual (Êx 29: 39-41; Lv
23:13); (c) doméstica: na Palestina, como em todos os outros países mediterrânicos,
o vinho leve sempre foi um complemento da comida (Núm. 6:20; Dt. 14:26; 2 Cr.
2:15; Neemias. 5:18; Mt 11:19; I Tim. 3: 8). Pão e vinho, fundamentos da
comida, simbolizavam a comida como um todo (Sl. 104: 14, 15; Pr. 4:17). Se
oferecia vinho aos convidados (Gn 14:18); estava presente nas festas (Jó.
1:13,18; JN. 2: 3). Os hebreus, pessoas de costumes simples, eram expostos ao
abuso de vinho, especialmente em festas. Seu consumo foi proibido aos sacerdotes
quando eles tinham do que oficiar no Tabernáculo (Lev. 10: 9). Foi recomendado juízes
que não bebiam vinho (Pr. 31: 4, 5; cf. Ec. 10:17; Is. 28: 7). Ele como excesso
de bebida foi evitado de várias maneiras:
(A) O vinho foi baixado com água (2 Mac.
15:39;). A água quente foi misturada com o vinho, forma como era servido na Páscoa..
(B) Um mordomo mestre presidia os banquetes
(Ec. 32: 1, 2; Jo. 2: 9,10) Um de seus deveres era determinar em que proporção do
que misturar o vinho, que permaneceu concentrado até tempo para consumi-lo e
determinar quanto o convidado poderia beber. No tempo de Nosso Senhor havia
inclusive um encarregado de provar o vinho, chamado de “arquitriclínio” no
Evangelho de São João, termo grego que significava “provador de vinho” e era
quem dirigia o banquete.
(C) Houve avisos severos que alertaram os hebreus
quanto ao perigo de permanecer no vinho, de misturar bebidas fortes. A
degradação daqueles que não sabem é mostrada na Bíblia. eles sabem como moderar
(Gênesis 9:21; Pr. 23: 29-35; Is 5:22).
(D) Houve numerosos provérbios que
estigmatizaram a loucura de embriaguez (Pr. 20: 1; 21:17; 23:30, 31; Hab. 2:
5).
(E) a embriaguez, como os hebreus bem sabiam,
é um sério pecado que Deus julga e castiga ( Is 5:11, 17; I Cor.5:11; 6: 9-10;
Gál. 5:21; Ef. 5:18; I p. 4: 3).
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