(Rei Davi)
A Igreja deu
continuidade a uma tradição milenar de entoar cânticos ao som de músicas em sua
liturgia. No Catecismo da Igreja isso é lembrado: “A tradição musical da Igreja universal constitui um tesouro de valor
inestimável que se destaca entre as demais expressões de arte, principalmente
porque o canto sacro, ligado às palavras, é parte necessária ou integrante da liturgia solene”[1] A composição e o canto dos salmos inspirados, com
frequência acompanhados por instrumentos musicais, já aparecem intimamente
ligados às celebrações litúrgicas da antiga aliança. A Igreja continua e
desenvolve esta tradição: “Recitai “uns com os outros salmos, hinos e cânticos
espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração” (Ef 5, 19). “Quem
canta reza duas vezes”
O canto e a música desempenham sua função de sinais de
maneira tanto mais significativa por “estarem intimamente ligados à ação
litúrgica”, segundo três critérios principais: a beleza expressiva da oração, a
participação unânime da assembleia nos momentos previstos e o caráter solene da
celebração. Participam assim da finalidade das palavras e das ações litúrgicas:
a glória de Deus e a santificação dos fieis” [2]
Tudo indica que foi
Davi o responsável por introduzir nas celebrações litúrgicas o canto sacro
através de seus Salmos, que o povo eleito usou durante séculos e cuja tradição
passou para a Igreja no advento do Cristianismo. Aquele santo rei reuniu suas
qualidades de regente musical com a de regente da monarquia, ou até mesmo das
almas, pois suas músicas e salmos eram inspirados pelo próprio Deus para o bem
da almas e da regência das mesmas já nesta terra.
Tais cantos sagrados
são chamados de Salmos nas traduções das Sagradas Escrituras tanto gregas
quanto latinas, sendo também chamados simplesmente de hinos nas versões
hebraicas. Sendo que conforme a tradição hebraica eles são denominados por
analogia de Saltérios, nome também utilizado na tradição católica durante
muitos anos.
Segundo estudiosos, a
atual coleção de Salmos ou Saltérios foi se formando aos poucos, e de início
era a coleção de hinos para o culto divino restaurado após o cativeiro da
Babilônia. No entanto, é certo que já existiam desde os tempos do rei Davi
(cerca de 1000 a;C.), e foram por ele criados, até depois de Neemias (cerca de
400 a.C.). Conforme vimos acima, a opinião de Santo Agostinho é de que todos
eles são de autoria de Davi. É muito grande a variedade de temas abordados
nestes cânticos e servem como orações para todas as circunstâncias da vida
humana. Trata-se de uma antologia poética cristã de grande alcance em nossa
vida religiosa
A Regência conforme os Salmos:
Os reis da terra sublevaram-se, e os príncipes coligaram-se
contra o Senhor e contra o seu Cristo.
Rompamos os seus laços, e sacudamos de nós o seu jugo.
Aquele que habita no céu zombará deles, e o Senhor os
escarnecerá.
Ele lhes falará na sua ira, e os encherá de terror no seu
furor.
Eu, porém, fui por ele constituído rei sobre Sião, seu
monte santo, para pregar a sua lei. O Senhor disse-me: Tu és meu filho, hoje eu
te gerei.
Pede-me, e eu te darei as nações em tua herança, e
estenderei o teu domínio até as extremidades da terra.
Governá-las-ás com uma vara de ferro, e quebrá-las-ás
como vaso de oleiro.
E agora, ó reis, entendei: instruí-vos vós que julgais a
terra.
Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos nele com tremor.
Abraçai a boa doutrina para que o Senhor não se ire, e
não pereçais fora do caminho da justiça.
Quando daqui a pouco se incendiar a sua ira, felizes
todos os que confiam nele.
Salmo 71: (O reino do
Messias)
Recebam os montes paz para o povo, e os outeiros justiça.
Julgará os pobres do povo, e salvará os filhos dos
pobres, e humilhará o caluniador.
E durará tanto como o sol e a lua, de geração em geração.
Descerá como a chuva sobre o velo[3], e como o orvalho que goteja sobre a terra.
Nos seus dias aparecerá a justiça e a abundância da paz,
até que a lua deixe de existir.
E dominará de mar a mar, e desde o rio (Eufrates) até às
extremidades da terra.
Diante dele se prostrarão os etíopes, e os seus inimigos
beijarão a terra.
Os reis de Tarsis e as ilhas lhe oferecerão dons; os reis
da Arábia e de Sabá lhe trarão presentes; e adorá-lo-ão todos os reis da terra;
todas as nações o servirão; porque livrará o pobre do poderoso, e o indigente
que não tem quem lhe valha.
Usará de clemência com o pobre e o desvalido, e salvará
as almas dos pobres.
Resgatará as suas almas das usuras e da iniquidade, e o
seu nome será em honra na sua presença.
Viverá e lhe apresentarão o ouro da Arábia; e o adorarão
sempre, todo o dia e o bendirão.
Haverá mantimentos na terra, no cume dos montes,
exaltar-se-á sobre o Líbano seu fruto, e florescerão os da cidade, como a erva
dos campos.
Seja seu nome bendito pelos séculos; o seu nome existe
antes do sol.
Serão benditas nele todas as tribos da terra; todas as nações o glorificarão.
Bendito seja o Senhor Deus de Israel; é só ele que faz
maravilhas.
Bendito seja o nome da sua majestade para sempre; e
encher-se-á da sua majestade toda a terra. Assim seja, assim seja.
Salmo 92: (a glória do reino
messiânico)
Porque firmou a redondeza da terra, que não será abalada.
Desde então, ó Senhor, firme é teu trono, tu és desde a
eternidade. Os rios, Senhor, levantaram a sua voz. Levantaram as torrentes o
seu fragor, com o estrondo das muitas águas.
Maravilhosas são as elevações do mar, mas admirável é o
Senhor nas alturas. Os teus testemunhos, Senhor, são digníssimos de fé. A
santidade convém à tua casa, Senhor, em toda a duração dos dias.
Salmo 98 (Louvor a Deus, rei
supremo)
O Senhor é grande em Sião, e elevado acima de todos os povos.
Dêem glória ao seu grande nome, porque é terrível e
santo; e a honra do rei está em amar a justiça. Tu estabeleceste leis
retíssimas; tu exerceste o julgamento e a justiça em Jacó.
Exaltai o Senhor nosso Deus, e adorai o escabelo de seus
pés, porque ele é santo.
Moisés e Aarão estavam entre os seus sacerdotes, e Samuel
entre aqueles que invocam o seu nome. Invocavam o Senhor, e ele os atendia;
falava-lhes na coluna de nuvem.
Guardavam os seus mandamentos, e o preceito que lhes
tinha dado.
Senhor, nosso Deus, tu os ouvias, ó Deus, tu lhes fosse
propício, até em punir todas as suas faltas.
Exaltai o Senhor nosso Deus, e adorai-o sobre o seu santo
monte, porque o Senhor nosso Deus é santo.
Eu não punha diante dos meus olhos coisa injusta;
aborrecia os que cometiam prevaricações.
Não se unia a coração depravado; o mau afastava-se de
mim, e eu não o conhecia.
Ao que secretamente dizia mal do seu próximo, eu o
perseguia. Com homem de olhos soberbos e de coração insaciável, com esse não
comia.
Meus olhos só buscavam na terra os fiéis, para que se sentassem comigo; o que andava por um
caminho inocente, esse me servia.
Não habitará na minha casa o que procede com soberba; o
que diz coisas iníquas não pôde tornar-se agradável aos meus olhos.
Pela manhã exterminava todos os pecadores da terra, a fim
de suprimir da cidade do Senhor todos os que cometem a iniquidade.
[1]
Sacrossanctum concilium, 112
[2]
Catecismo da Igreja Católica, tópicos 1156 e 1157
[3]
O velo é o couro com a lã cardada do animal; aqui diz-se que a chuva cai sobre
ele porque era costume colocar-se o couro (aqui chamado de velo) por cima da
colheita para protegê-la da chuva.
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