Plinio Corrêa de Oliveira
(Cristiandad se honra con
la colaboración de un prestigioso líder del catolicismo hispanoamericano, el profesor brasileño Plinio Corrêa de
Oliveira.
Hemos preferido publicar su trabajo en el idioma
original, por tratarse de una lengua hermana. Con ello queremos rendir homenaje
a la noble nación brasileña, a la vez que expresar nuestra identificación de
sentimientos con la revista "Catolicismo", hidalgo pregonero de
nuestros mismos ideales en tierras lusoamericanas.)
Quando se formava o
câncer revolucionário
Ambos viveram na
França, em um momento de capital importância para a história do mundo. No mais
profundo da sociedade francesa, os germes oriundos dos grandes movimentos
ideológicos do século XVI continuavam a se desenvolver vigorosamente. Discretas
ainda, as tendências para o racionalismo, o laicismo e o liberalismo se
difundiam como uma corrente de água impetuosa e subterrânea, nos setores-chaves
da sociedade. E o lento mas inexorável ocaso da aristocracia e das corporações
de artesãos e mercadores, coincidindo com a ascensão sempre mais marcada da
burguesia, preparava de longe a organização social que havia de nascer em 1789.
Em uma palavra, com
longa antecedência, mas desde logo com muita força, com uma força que em breve
se tornaria humanamente quase irresistível, a Revolução se vinha formando como
um câncer, nas entranhas de um organismo entretanto ainda sadio.
Processos históricos como este devem ser contidos de preferência em seu nascedouro. Pois, se se permite seu desenvolvimento, tornam-se cada vez mais difíceis de jugular.
Intervenção da Providência para evitar a Revolução
Assim, importa
ressaltar que, precisamente no momento em que uma ação preventiva parecia mais
oportuna e mais eficaz, a Providência suscitou na França dois santos com uma
evidente e especial missão nesse sentido. Missão que, primordial e diretamente,
se dirigia à primogênita da Igreja, mas indiretamente beneficiaria o mundo
inteiro. Pois, se de um lado a extinção in ovo dos germes revolucionários na
França poderia ter evitado para todo o orbe as calamidades da Revolução, de
outro lado um triunfo insigne da Religião, ocorrido no país líder da Europa no
século XVIII, poderia ter tido na história religiosa e cultural da humanidade
repercussões incalculáveis.
O reinado de Luís
XIV se estendeu de 1643 a 1715. Santa Margarida Maria viveu de 1617 a 1690, e
São Luís Maria Grignion de Montfort nasceu em 1673 e morreu em 1716. Como se
vê, foram coetâneas do Rei-Sol tanto a ação da santa visitandina à qual o
Coração de Jesus comunicou suas mensagens de amor, quanto a pregação do
apóstolo angélico que ensinou a "Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem".
Sentido anti-revolucionário da mensagem
de Paray-le-Monial
Os leitores de
"Cristiandad" certamente já conhecem os pedidos feitos por Nosso
Senhor, por meio de Santa Margarida Maria, a Luís XIV. Sabem que o Sagrado
Coração predizia para a França grandes males, mas prometia obviá-los se seus
pedidos fossem ouvidos. Sabem por fim que, não tendo Luís XIV atendido à
mensagem - iludido quiçá por informações e manejos ainda hoje mal conhecidos -
na prisão do Templo Luís XVI prometeu atendê-la. Mas era tarde, e a Revolução
seguiu seu curso, para a desgraça de todos nós.
Destes fatos, o que
nos importa reter, no momento, é que a partir do centro da França, de
Paray-le-Monial, a Providência quis acender no reino cristianíssimo um braseiro
de piedade e um foco ardente de regeneração moral, para evitar as calamidades
que depois sobrevieram.
No mesmo sentido,
entretanto, a Providência suscitava no oeste da França outro movimento.
Como Santa
Margarida Maria, São Luís Maria parece não ter tido qualquer pensamento
político particular. Ele previu para sua pátria e para toda a Igreja grandes
catástrofes. Mas seu olhar não se deteve senão nas esferas mais profundas em
que essas catástrofes se vinham preparando. Seus escritos aludem a uma crise
religiosa e moral de grande envergadura, da qual, como de uma caixa de Pandora,
toda espécie de males iria sair. Para obviar esses males, ele pregava em seus
inflamados sermões, ouvidos com profunda avidez pelos camponeses do piedoso
Oeste, a doutrina espiritual que condensou em várias obras, das quais as
principais foram o "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima
Virgem", a "Carta Circular aos Amigos de Cruz" e o "Amor da
Sabedoria Eterna".
Bem analisados,
estes três livros monumentais - e infelizmente pouco conhecidos - são a
refutação de todas as doutrinas falsas de que nasceria o monstro da Revolução.
Refutação por certo sui generis. As obras de São Luís Maria não visavam
primordialmente persuadir os espíritos céticos, sensuais, naturalistas, de que
estavam em erro. Sua principal preocupação estava em premunir contra esses
erros os católicos fervorosos ou tíbios. E assim, toda a sua dialética
consistia em inculcar o amor à Sabedoria, para premunir seus leitores contra o
laicismo ou a tibieza; em inculcar o amor à Cruz, para premunir contra a
sensualidade e o amor delirante dos prazeres os católicos de uma era
essencialmente gozadora e mundana; e em inculcar a devoção a Nossa Senhora por
meio da "santa escravidão", para premunir leitores expostos a todo
momento às insídias desse verdadeiro calvinismo larvado, que foi o jansenismo.
Em todos os seus
livros a dialética é a mesma. Ele mostra com argumentos tirados da Escritura,
da Tradição, da História da Igreja e da Hagiografia, que um católico não pode pactuar
com o espírito do século, e que toda posição de meio termo entre esse espírito
e a vida de piedade não é senão uma perigosa ilusão dos sentidos ou do demônio.
No conjunto deste
sistema, é preciso frisar que a devoção a Nossa Senhora, considerada
especialmente como Rainha do Universo, Mãe de Deus e dos homens e Medianeira de
todas as graças, tem um papel absolutamente central. É por esta devoção que o
fiel pode alcançar de Deus a Sabedoria e o amor à Cruz. Pois Maria Santíssima é
o meio pelo qual Jesus Cristo veio a nós, e pelo qual podemos ir a Ele. Quanto
mais unidos a Maria, tanto mais estaremos unidos a Jesus. É nas almas marianas
- intensamente, ardentemente, filialmente marianas - que o Espírito Santo forma
Jesus. Sem Ela, os maiores esforços para a santificação redundam em desastres.
Com Ela, o que parece inacessível à nossa fraqueza se torna acessível, as vias
como que se franqueiam, as portas se abrem, e nossas forças, hauridas no canal
das graças, se centuplicam. O importante, pois, é ser verdadeiro devoto de
Maria.
Mas esta devoção
tem contrafações. O Santo mostra quais são elas e nos premune contra os
minimalistas, sobretudo os que se contentam com uma devoção vã, feita de meras
fórmulas e atos de piedade externos. A devoção perfeita, ele a ensina: consiste
em sermos escravos de Maria, dando-Lhe todos os nossos bens espirituais e
temporais, e fazendo tudo por Ela, com Ela e nEla.
Frutos contra-revolucionários da pregação montfortiana
São Luís Maria foi
um grande perseguido. Prelados, Príncipes da Igreja, o próprio governo, o
combateram. Apenas o Papa e alguns poucos Bispos franceses lhe deram apoio. Na
Bretanha, no Poitou, no Aunis, sua pregação se exerceu livremente, e perdurou
através das gerações, conservadas profundamente fiéis. Quando, durante a
Revolução, a civilização cristã precisou de heróis para a defenderem em terras
da França, estes surgiram mais ou menos em toda a extensão do reino
cristianíssimo. Mas em certa região o povo inteiro pegou em armas, numa reação
maciça, compacta, impetuosa e indomável. Os chouans, cuja memória nenhum
católico pode evocar sem a mais profunda e religiosa emoção, eram os netos
daqueles mesmos camponeses que São Luís Maria formara na devoção a Nossa
Senhora. Onde São Luís Maria pregara e fora ouvido, não houve a Revolução ímpia
e sacrílega; houve, pelo contrário, cruzada e Contra-revolução.
Atualidade de Santa Margarida Maria e
São Luís de Montfort
Pouco importa saber
até que ponto os movimentos de Paray-le-Monial e da Vandéia no século XVII se
conheceram. A importância de um e de outro não ficou circunscrita àquela época.
Filhos da Igreja, neste trágico século XX, podemos e devemos ver ambos os
movimentos numa só perspectiva, e, assim unidos, fazer deles nosso tesouro
espiritual.
O nexo essencial
que os liga está hoje em dia posto em tal luz, na consciência de qualquer fiel,
que nem sequer é necessário insistir sobre ele. A devoção ao Coração de Jesus é
a manifestação mais rica, mais extrema, mais delicada, do amor que nos tem
nosso Redentor. A via para chegar ao Coração de Jesus é a Medianeira de todas
as graças. E assim se vai ao Coração de Jesus pelo Coração de Maria. Esta
última devoção, que Santo Antonio Claret pôs em tanta luz, São Luís Grignion de
Montfort, ao que parece, não a conheceu. Mas é o ponto de junção entre a
mensagem de Paray e a pregação do apóstolo marial da Vandéia. Ponto de junção
que, diga-se de passagem, teve tanto realce nas aparições de Fátima.
Mas ao lado desses
grandes laços fundamentais há outros. Nós os compreenderemos bem, num relance
de olhos, se considerarmos o que poderiam ser hoje a França, a civilização
cristã, o mundo, se os movimentos de Paray e da Vandéia tivessem sido
vitoriosos nos séculos XVII e XVIII. Em lugar da Revolução, com suas execráveis
seqüelas que nos arrastaram até à voragem atual, teríamos o reino da justiça e
da paz. Opus Justitiae pax, lê-se no brasão de Pio XII. Sim, a paz de Cristo no
Reino de Cristo, da qual nos distanciamos cada vez mais.
E assim fica posta
em evidência a altíssima oportunidade da mensagem de Paray e da obra de São
Luís Maria. Elas nos ensinam que o fundo dos problemas que geraram a crise
atual é religioso e moral. E nos indicam os meios sobrenaturais pelos quais a
Revolução universal de nossos dias, filha insolente e depravada da Revolução
Francesa, pode ser jugulada. É só do bom uso desses meios que podem nascer, no
campo cultural, social ou político, as reações que preparam, na Terra, a
Realeza de Cristo pela Realeza de Maria.
(Cristiandad, Barcelona, Novembro de 1958)
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