A situação atual bem acentua essa distinção entre elite e povo feita por Dr. Plínio Corrêa de Oliveira. Percebemos, especialmente no Brasil, que temos uma elite completamente corrompida e inteiramente separada, isolada, do restante da população. Políticos, jornalistas, artistas, intelectuais, aqueles que podem ser chamados de elite, não estão concordes com o restante do povo; pelo contrário, destoam completamente da maioria e até agem contra ela. Vejam o que disse Dr. Plínio sobre o assunto em 1987. De lá para cá a situação só piorou.
"Cai em erro crasso quem imagina que de elite só é quem faz parte das minorias extrínsecas à multidão, e que esta constitui por definição um imenso rebanho de pessoas medíocres, ou até carentes do ponto de vista intelectual, cultural e moral. De sorte que um país se dividiria necessariamente em duas categorias separadas por um abismo: os paradigmáticos e os errados, os super-homens e os sub-homens.
A tal respeito, perece-me indispensável lembrar uma verdade que nem todos os historiadores e sociólogos ressaltam devidamente.
Admite-se geralmente que todo povo tem o governo que merece. O corolário é que todo povo tem também as elites (no sentido autêntico, e não no pejorativo) que merece. O surgimento das elites, sua perfeita caracterização e a inteira irradiação de sua ação benfazeja são largamente influenciados pela conexão que mantenham com o todo da população. Não há elites que se conservem integras e vivazes sem receber o freqüente enriquecimento de valores provenientes da população em geral.
Para que uma elite assuma inteiramente a fisionomia que lhe deve ser própria, concorre muito a adequada interpretação e o comunicativo consenso das multidões. E, para que as elites possam influenciar, é indispensável a receptividade do povo.
Mais, Quando o relacionamento elite-povo é correto, do povo provém, muitas e muitas vezes, a inspiração das elites. Para não dar senão um exemplo entre cem, entre mil, bastaria lembrar as obras-primas musicais inspiradas por artistas de gênio, a partir das mais simples melodias populares.
O papel da população na formação da alma de um país, e portanto de sua cultura, de seus grandes homens, de seu agir histórico, vai tão longe que até mesmo em funções habitualmente tidas com privilégio e missão peculiar das aristocracias – de sangue e de outras – o povo desempenha uma missão de particular grandeza.
Com efeito, em certo sentido as classes conservadoras por excelência são mais as populares do que as elevadas. Assim, na Europa, por exemplo, os velhos trajes, danças, cânticos e modos de ser – enfim, as maneiras regionais típicas – foram muito mais conservadas pelo povinho (o dos campos) do que pelas classes dirigentes das grandes cidades. E, no Brasil, a clássica preta baiana com sua indumentária, seus quitutes e seu folclore, sob muitos aspectos lembra mais o Brasil de outrora do que quantos descendentes de capitães-mores, barões, conselheiros ou coronéis da guarda nacional.
Se as elites decaem, é difícil que não arrastem o povo. Se o povo decai, perece-me impossível que não arraste as elites.
É oportuno distinguir aqui um povo qualquer de um grande povo. Ou então um povo em sua fase ascensional, em seu apogeu, e um povo em marasmo ou em decadência. Não forçaria o sentido da palavra quem afirmasse que um povo na sua ascensão ou em seu zênite constitui todo inteiro, no conjunto universal dos povos, uma enorme elite, dentro da qual afloram quase por destilação, elites mais quintessenciadas e menores. E que é a harmônica conjugação da elite-povo (ou elite-maioria), com a elite-minoria, que nasce a grandeza geral.
A antítese elites-povo que o progressismo quer inculcar, pintando a realidade como se entre aquelas e este corresse um abismo, uma negra e hiante solução de continuidade, é uma impostura. Esta solução de continuidade existe só quando o povo e as elites estão mais ou menos moribundos, e se disjungem: pequenos escóis artificiais de um lado, grandes massas anônimas no outro."
(Artigo "Elites e o Povo", de Plínio Corrêa de Oliveira - Jornal “Última Hora”, de 16 de fevereiro de 1987, pág. 4)
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