A família cristã, nascida do pacto conjugal
elevado por Nosso Senhor Jesus Cristo à dignidade de sacramento, tem como
características:
1 – a indissolubilidade do vínculo conjugal e
a fidelidade dos esposos entre si;
2 – a autoridade do esposo sobre a esposa, e
de ambos sobre os filhos;
3 – a observância da castidade perfeita,
tanto das filhas quanto dos filhos, antes do matrimônio.
No lar cristão bem constituído, tudo conduz a
que, se algum dos filhos receber a vocação para o sacerdócio ou o estado
religioso, seja ela tida como uma alta honra, e acolhida pressurosamente, não
só pela pessoa desta maneira favorecida, mas pelos pais e por todos os que
constituem o lar.
A
família e a sociedade temporal em crise
De que forma a sociedade contemporânea, vista
como um todo, costuma cooperar – em nossos dias – para que assim sejam as
famílias cristãs?
A pergunta faria sorrir ironicamente , se
fosse formulada com seriedade. Pois é evidente que dos mais variados modos, com
o maior afinco, essa sociedade trabalha a todo momento para a desagregação da
família. Ou seja, para sua descristianização.
A seguirem no mesmo rumo as mentalidades e os
costumes reinantes, em breve a família autenticamente cristã terá passado a
constituir exceção raríssima e mal vista, no seio de uma sociedade
descristianizada. De uma sociedade anticristã, portanto.
“Quem
não está coMigo está contra Mim”, ensina Nosso Senhor no Evangelho. [1]
Tal vai sucedendo , em suprema instância,
pela ação das forças preternaturais engajadas na perdição do mundo[2], as quais tão bem sabem
mover em sua conspiração os agentes naturais – individuais, sociais e outros.
Vão elas dispondo assim de um crescente poder sobre as massas.
Era inevitável que chegasse a esse cúmulo de
desgraças o gênero humano? De nenhum modo. Com efeito, outro poderia ter sido o
curso das coisas se todas as pessoas e instituições especialmente prepostas
para o combate contra a corrupção das idéias e dos costumes tivessem tido
sempre, face a esse ruinoso curso das coisas, a conduta militante, ininterrupta
e desassombrada, que seu dever lhes impunha.
A tal respeito, a atitude não só omissa mas
até fortemente propulsora, de tantos dos poderes públicos, nos Estados
contemporâneos, tem favorecido largamente a obra das trevas. De onde decorre
que, pelo desdobrar lógico das consequências, e por merecida punição de Deus,
todas as nações – sem excetuar as mais poderosas e prósperas – se encontram à
beira de riscos de uma gravidade sem nome, e sob vários aspectos já se pode
afirmar que vão rolando precipício abaixo, rumo à sua desagregação total. É
isso de tal maneira notório, que dispensa provas ou exemplificações.
A
família e a Igreja em crise
A responsabilidade por essa situação
desastrosa não toca apenas ao Estado.
A Santa Igreja Católica, a única verdadeira
Igreja de Deus, se vê envolta hoje em uma crise cuja gravidade já foi
discernida por Paulo VI, bem insuspeito, entretanto, de pessimismo ou
animadversão para com o mundo moderno, ao qual fez aberturas que surpreenderam
por vezes não poucos dentre os melhores.[3]
João Paulo II, entretanto tão benévolo – ele
também – em relação ao mundo moderno, expendeu reflexões análogas[4]; e um Prelado eminente
pelo saber e pelas altas funções que ocupa na Santa Igreja, o Cardeal Joseph
Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, publicou em
1985 sem famoso “Rapporto sulla Fede”, no qual se deve louvar a nobre franqueza
com que descreve sintomas altamente expressivos da crise que lavra como um
incêndio no interior da Santa Igreja.
O valor deste autorizado testemunho cresce
ainda de ponto considerando-se que o Purpurado, quer no conjunto de sua obra de
intelectual, quer em sua atuação à testa do ex-Santo Ofício, vem seguindo uma
linha que não permite incluí-lo honestamente entre os que as “mass media”
qualificam de reacionários, extremistas da intolerância, etc.
Ora, de onde procede essa dolorosa crise na
Igreja? Sem dúvida, e em larga medida, de agentes do Leviatã comunista que, de
fora da Cidade Santa, se empenham com esforço total em destruí-La. Mas uma
pesquisa dos fatores dessa crise não seria lúcida nem proba se se limitasse a
olhar para além dos muros d’Ela. Cumpre indagar se também entre os católicos –
entre os leigos, bem entendido, mas também nas fileiras augustas da Sagrada
Hierarquia – há propulsores de tal crise.
A pergunta pode surpreender a alguns... dia a
dia menos numerosos. Não faltará ainda quem brade, alarmado, que ela é escandalosa,
revolucionária, blasfema.
É explicável que a tais reações conduza a
crassa ignorância religiosa em que estão imersos tantos fiéis neste triste
ocaso do século XX. Na realidade, se conhecessem melhor a doutrina e a História
da Igreja, a reação deles seria bem outra. A fim de evitar digressões
doutrinárias, destinadas a aplacar tal estranheza, as quais se afastariam por
demais do eixo central das presentes considerações, basta lembrar aqui um
documento memorável, a instrução do Papa Adriano VI (1522-1523), lida pelo
Núncio pontifício Francisco Chieregati aos Príncipes alemães reunidos em dieta,
em Nuremberg, em 3 de janeiro de 1523. Transcreve largos trechos desse
documento o historiador austríaco Ludwig Pastor em sua obra célebre “Geschichte
der Papste” – História dos Papas. A conjuntura em que essa instrução foi ditada
pelo Pontífice se insere na terrível crise protestante do século XVI, tão
semelhante e ao mesmo tempo tão menos profunda do que a de nossos dias.[5]
Dessa instrução destacamos os seguintes tópicos:
“Deves (dirige-se o Pontífice ao Núncio
Chieregati) dizer também que reconhecemos
livremente haver Deus permitido esta perseguição a sua Igreja, por causa dos
pecados dos homens, e especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois de
certo não se encurtou a mão do Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados
que nos afastam d’Ele, de modo que não nos ouve as súplicas.
“A Sagrada Escritura anuncia claramente que os pecados do povo têm origem nos pecados
dos sacerdotes, e por isto, como observa (São João) Crisóstomo, nosso Divino Salvador, quando quis
purificar a enferma Jerusalém, dirigiu-se em primeiro lugar ao Templo, para
repreender antes de tudo os pecados dos sacerdotes; e nisso imitou o bom
médico, que cura a doença em sua raiz.
“Bem sabemos que, mesmo nesta Santa Sé, há já alguns anos vêm ocorrendo, muitas coisas dignas de repreensão; abusou-se das
coisas eclesiásticas, quebrantaram-se os preceitos, chegou-se a tudo perverter.
Assim, não é de espantar que a
enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, desde o Papa até aos
Prelados.
“Nós todos, Prelados e Eclesiásticos, nos
afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que pratique o bem. Por isso
devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença; que cada um
de nós considere por que caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar
a justiça de Deus no dia de sua ira.
“Por isto (igualmente) deves tu prometer em
nosso nome que estamos resolvidos a
empregar toda a diligência a fim de que, em primeiro lugar, seja reformada a
Cúria Romana, da qual talvez se tenham originado todos esses danos; e acontecerá que, assim como a enfermidade
por aqui começou, também por aqui comece a saúde.
“Nós nos consideramos tanto mais obrigados a
levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante reforma.
“Porém não procuramos nossa dignidade
pontifícia (o Papado que Adriano VI exerce), e de mais bom grado teríamos
terminado na solidão da vida privada nossos dias; de bom grado teríamos
recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de
um cisma nos determinaram a aceitar o supremo múnus pastoral. Em consequência,
queremos exercê-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer nossos
parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga formosura,
prestar auxílio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos, e,
genericamente, fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor
de São Pedro.
“Não obstante, que ninguém se surpreenda, se
não corrigimos todos os abusos de um só golpe; pois as doenças estão
profundamente enraizadas e são múltiplas; pelo que é preciso proceder passo a
passo, e opor primeiramente os oportunos remédios aos danos mais graves e
perigosos, para não perturbar ainda mais a fundo por meio de uma precipitada
reforma de todas as coisas. Com razão diz Aristóteles que toda mudança
repentina é muito perigosa para uma sociedade”.[6]
Quantos ensinamentos profundos há a deduzir
dessas nobres e sábias considerações! Ninguém as pode tachar de irreverentes
para com a Santa Igreja, de escandalosas, revolucionárias, blasfemas, como de
bom grado o fariam certos católicos de vistas estreitas.
E quantos exemplos concretos haveria que
citar em cada país da Cristandade contemporânea, em confirmação desses
ensinamentos de Adriano VI!
Para não alongar demais essa triste lista,
bastaria mencionar a desconcertante indolência – para dizer só isto - de tantos Prelados católicos diante da
exibição do filme blasfemo de Jean-Luc Godard, “Je vous salue Marie”.
Indolência esta em que se assinalou de modo especial o Episcopado francês.[7]
A
família, fator da crise do mundo contemporâneo
Contudo a responsabilidade pela crise da
Igreja e do mundo não toca apenas ao Clero, mas à família. Responsabilidade por
omissão, e também por ação.
Com efeito, incontáveis são hoje as famílias
cujos membros professam e até praticam a religião católica mas que, tendo sem
embargo horror a toda forma de sofrimento não só físico mas também moral, não
querem abster-se dos prazeres corruptos deste século. Muitos membros delas se
recusam normalmente a travar no seu íntimo a dura batalha contra os apetites
desregrados, açulados de mil formas pelo estilo de vida contemporâneo. E,
ademais, desejam com veemência cercar-se o mais possível de simpatia e
consideração nos meios sociais a que respectivamente pertencem. O que só
conseguirão se aceitarem largamente, e praticarem, as normas “morais” do
neo-paganismo.
Daí decorre que, não havendo paz possível
entre os filhos da luz e os das trevas, nem entre os filhos da Virgem e os da
serpente[8], eles não tardam em notar
no convívio social que serão incompreendidos, marginalizados e até caluniados,
se se mantiverem fiéis à moral ensinada pela Igreja.
Em consequência, cederão à onda avassaladora
da impiedade e da corrupção, pelo menos na medida em que seja indispensável
para não perderem a benquerença geral.
Tal é a triste situação das pessoas e das
famílias que, deixando-se arrastar pela pressão da sociedade neo-pagã
contemporânea, capitulam e dobram os joelhos perante Belial. Árdua, e não raras
vezes heroica, é a resistência que deve ser desenvolvida contra essa pressão
pelas pessoas ou famílias que, recusando-se a dobrar vilmente os joelhos ante o
ídolo, se mantém fiéis à lei de Deus.
Tivemos ocasião de o expor em outra obra,
intitulada “Guerreiros da Virgem – a réplica da autenticidade: A TFP sem
segredos”:
“Cet animal est très méchant; quand on
l’attaque il se défend” (Este animal é muito mau: quando atacado, ele se
defende) – diz uma canção popular
correntemente citada pelos franceses (La Menagère, 1868). Essa a estranha
posição de certos críticos da TFP, que acham très méchant que sócios e cooperadores se afastem, por defesa da
própria dignidade, dos ambientes em que são vilipendiados de modo
desconcertante. Tanto mais desconcertante quando vivemos numa sociedade cada
vez mais permissiva, na qual até o direito de cidadania para a homossexualidade
encontra apaixonados propugnadores.
Ambientes que chegam a esse extremo não são
raros, mas, felizmente, não constituem a regra geral. Sem embargo, ainda há
outros fatores que tornam explicável que deles se afastem – em media maior ou
menor, segundo as circunstâncias – sócios e cooperadores da TFP. E não só
estes, como frequentemente os correspondentes da Sociedade esparsos pelo
Brasil, em geral pais e mães de família que, por imperativo de consciência
inegavelmente respeitável, intencionam firmemente manter-se na prática dos
princípios da Moral tradicional da Igreja.
“Desta prática se afastou gradualmente , no
decurso dos últimos vinte ou trinta anos, um impressionante número de ambientes
sociais, nos quais os temas das conversas, as liberdades de trato entre os sexos,
a televisão ligada de modo incessante, e difundindo tantas e tantas vezes cenas
imorais, não podem deixar de entrar em dissonância profunda com a consciência
de católicos não progressistas.
“Tais ambientes, em lugar de se adaptarem, na
medida do necessário, às convicções e à sensibilidade moral dos católicos não
progressistas, mantém em presença destes exatamente o mesmo “tônus” em vigor se estes estivessem
ausentes.
“Isto equivale a lhes dizer: “Vocês são uns
atrasados, de idéias estreitas e modo de ser antipático. Para vocês, só há
cidadania entre nós se consentirem em calcar aos pés os princípios morais que
professam”.
“’Acolhidos’ assim, que podem fazer os
católicos não aggionartti pelo
progressismo?
“- Romper com a própria consciência? – Sofreriam
merecidamente o desprezo mudo daqueles mesmos ante quem capitulassem.
“ – Protestar? – Desencadeariam com isto a
indignação irada dos dominadores do ambiente, de onde se seguiriam discussões e
rupturas. E, paradoxalmente, a fama de intolerantes ainda recairia sobre
aqueles que o despotismo do espírito moderno não havia tolerado.
“ – Retirar-se? – Os arautos desse mesmo
espírito os acusariam de ‘esquisitos’.
“Resultado dessa situação é que, em certo
número de vezes, o melhor para o católico não aggionarto consista mesmo em manter-se à distância.
“Tudo quanto acaba de ser dito aqui, poucos
têm a coragem de o afirmar em letra de forma, com tanta franqueza e tantos
pormenores.
“Mas, de uma vez por todas, era preciso que
fosse dito. E dito fica.” (PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, op. cit. Ed. Vera Cruz,
S. Paulo, 1985,pp. 105 a 107).
(Texto extraído da obra “A TFP: UMA VOCAÇÃO, TFP E FAMÍLIAS, TFP E FAMÍLIAS NA CRISE ESPIRITUAL
E TEMPORAL DO SÉCULO XX” – de João S. Clá Dias - Artpress – Papéis e Artes
Gráficas Ltda, S. Paulo, fevereiro de 1986, vol. I, págs. XI/XXI do Prefácio, de autoria de Plínio
Corrêa de Oliveira).
[1] Mt
XII, 30
[2] Na
alocução “Resistite fortes in fide”, de 19 de junho de 1972, Paulo VI afirma;
(as palavras textuais do Pontífice são as citadas entre aspas no resumo da
Alocução apresentado pela Poliglota): Referindo-se à situação da Igreja de
hoje, o Santo Padre afirma ter a sensação de que “por alguma fissura tenha
entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus”.
Há a dúvida, a incerteza, o complexo dos problemas, a inquietação, a
insatisfação, o confronto. Não se confia mais na Igreja; confia-se no primeiro
profeta profano (estranho à Igreja) que venha falar, por meio de algum jornal
ou movimento social, a fim de correr atrás dele e perguntar-lhe se tem a
fórmula da verdadeira vida. E não nos damos conta de já a possuirmos e sermos
mestre dela. Entrou a dúvida em nossas consciências, e entrou por janelas que
deviam estar abertas à luz. Da ciência, que é feita para nos oferecer verdades
que não afastam de Deus, mas nos fazem procurá-lo ainda mais, e ainda mais
intensamente glorifica-lo, veio pelo contrário a crítica, veio a dúvida. Os
cientistas são aqueles que mais pensada e dolorosamente curvam a fronte. E
acabam por revelar: “Não sei, não sabemos, não podemos saber”. A escola
torna-se um local de prática da confusão e de contradições, às vezes absurdas.
Celebra-se o progresso para melhor poder demoli-lo com as mais estranhas e
radicais revoluções, para negar tudo aquilo que se conquistou, para voltar a
ser primitivos, depois de ter exaltado tanto os progressos do mundo moderno.
Também na Igreja reina este estado de incerteza.
Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia ensolarado para História da Igreja. Veio, pelo contrário, um
dia cheio de nuvens, de tempestade, de escuridão, de indagação, de incerteza.
Pregamos o ecumenismo, e nos afastamos sempre mais uns dos outros. Procuramos
cavar abismos, em vez de soterrá-los.
Como aconteceu isto? O Papa confia aos presentes um
pensamento seu: o de que tenha havido a intervenção de um poder adverso. O seu
nome é diabo, este misteriosos ser a que também alude São Paulo em sua Epístola
(que o Pontífice comenta na Alocução).Tantas vezes, por outro lado, retorna no
Evangelho, nos próprios lábios de Cristo, a menção a este inimigo dos homens.
“Cremos – observa o Santo Padre – que alguma coisa de preternatural veio ao
mundo justamente paraa perturbar, para sufocar os frutos do Concílio Ecumênico,
e para impedir que a Igreja prorrompesse num hino de alegria por ter
readquirido a plenitude da consciência de si”. (Insegnamenti de Paulo VI, Tipografia Poliglota Vaticana, vol. X, pp.
707 a 709).
[3] Em
Alocução aos alunos do Seminário Lombardo, em 7 de dezembro de 1968, disse
Paulo VI: “A Igreja atravessa hoje um
momento de inquietude. Alguns praticam a autocrítica, dir-se-ia até a
autodemolição. É como uma perturbação interior, aguda e complexa, que ninguém
teria esperado depois do Concílio. Pensava-se num florescimento, numa expansão
serena dos conceitos amadurecidos na grande assembleia conciliar. Mas posto que
‘bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu’, fixa-se a atenção mais
especialmente sobre o aspecto doloroso. A Igreja é golpeada também pelos que
dela fazem parte. (Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglota Vaticana,
vol. VI, p. 118 – as palavras não são textuais do Pontífice e sim do resumo que
delas apresenta a Poliglota Vaticana)
[4] Em
Alocução de 6 de fevereiro de 1981, aos Religiosos e Sacerdotes participantes
do I Congresso nacional italiano sobre o tema Missões ao povo para os anos 80,
João Paulo II assim descreve a desolação hoje reinante na Igreja: “É necessário
admitir realisticamente e com profunda e sentida sensibilidade que os cristãos
hoje, em grande parte, sentem-se pedidos, confusos, perplexos e até
desiludidos: foram divulgadas prodigamente ideias contrastantes com a Verdade
revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras heresias, no
campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até
a Liturgia; imersos no ‘relativismo’ intelectual moral e por conseguinte no permissivismo, os
cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo
vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e
sem moral objetiva” (L’Osservatore Romano, 7-2-81).
[5] A
corrupção era grande em Roma. Adriano VI não só apontava os males da Igreja,
mas desejava uma reforma profunda que sanasse esses males, tendo-a começado por
cima com decidida resolução.
Onde lhe foi possível, se opôs à acumulação de
benefícios, proibiu toda a espécie de simonia, e velou solicitamente pela
eleição de pessoas dignas para os cargos eclesiásticos, conseguindo as mais
exatas informações sobre a idade, os costumes e a instrução dos candidatos,
lutando com inexorável vigor contra os defeitos morais.
Com a radical reforma da Cúria Romana, empreendida por
Adriano VI, não queria somente este nobre Papa pôr fim ao estado de coisas que
lhe causava tão viva repugnância; mas esperava também, por este meio, tirar aos
Estados alemães o pretexto para a sua apostasia de Roma, (Cfr. LUDOVICO PASTOR,
História dos Papas, tomo IV, vol. IX).
[6]
LUDOVICO PASTOR,”História de los Papas”, Editorial Gustavo Gili, Barcelona,
1952, Tomo IV, vol. IX, pp. 107 a 109 / Imprima-se: El Vicario General José
Palmarola, por mandato de Su Señoria, Lic. Salvador Carreras, Pbro., Scrio,
Canc. – OS NEGRITOS não constam no original.
[7]
Mons. Gaillot, Arcebispo de Evreux, concedeu entrevista a “L’Evénement du
Jeudi” nos seguintes termos:
-“Suponho que o Sr. Não tenha ainda visto o filme “Je
vous salue Marie”, de Jean-Luc Godadar.
- “Não, mas tenho desejo de vê-lo!”
- “A censura incide sobre esse filme porque nele se
apresenta a Virgem nua. A interdição lhe parece legítima?
- “Eu tenho pouco desejo de que ele seja interditado.
Dada a qualidade do cinema de Godard, parece-me interessante que ele tente
exprimir o “Mistério” na sua arte. Eu não vi o filme, mas a priori não gostaria que ele fosse interditado nem que se fizesse
uma gritaria escandalosa em torno dele”.
Cfr. Ainda o artigo “Escândalo na França: filme
blasfemo elogiado até pelos que o deveriam imputnar”, publicado em
“Catolicismo”, de maio de 1985.
[8]
Vejam-se, a esse respeito, as seguintes frases de Nosso Senhor Jesus Cristo:
“Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim.
Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque vós não sois
do mundo, antes Eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece.
Lembrai-vos daquela palavra que Eu vos disse: Não é o servo maior do que o seu
senhor. Se eles me perseguiram a Mim, também vos hão de perseguir a vós; se
eles guardaram a minha palavra, também hão de guardar a vossa” (Jo XV, 18-20).
“Eu disse-vos estas coisas para que vos não
escandalizeis. Lançar-vos-ão fora das sinagogas; e virá tempo em que todo o que
vos matar, julgar prestar serviço a Deus’ (Jo XVI, 1-2).
Veja-se, ainda, este trecho do célebre “Tratado da
Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de
Montfort. Nele o grande apóstolo marial comenta as palavras do Gênesis:
“Inimicitias ponam inter te et mulierem, et semen tuum et semen illius; ipsa
conteret caput tuum, et tu insidiaberis calcâneo eius” (Porei inimizades entre
ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a
cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gn III, 15).
“Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu,
inimizade irreconciliável, que não só há de durar, mas aumentar até ao fim: a
inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da
Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais
terrível inimiga que Deus armou contra o demônio. (...)
“Deus não pôs somente inimizade, mas inimizades, e não
somente entre Maria e o demônio, mas também entre a posteridade da Santíssima
Virgem e a posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades,
antipatias e ódios secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima
Virgem e os filhos e escravos do demônio. Não há entre eles a menor sombra de
amor, nem correspondência íntima existe entre uns e outros. Os filhos de
Belial, os escravos de Satã, os amigos do mundo (pois é a mesma coisa) sempre
perseguiram até hoje e perseguirão no futuro aqueles que pertencem à Santíssima
Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu irmão Jacob,
figurando os réprobos e os predestinados. Mas a humilde Maria será sempre
vitoriosa na luta contra esse orgulhoso, e tão grande será a vitória final que
ela chegará ao ponto de esmagar-lhe a cabeça, sede do orgulho”. (São Luís Maria
Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Vozes,
Petrópolis, 7ª ed. pp. 54 a 57 / Imprimatur: por comissão especial do Exmo. E
Revmo. Sr. Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, Bispo de Petrópolis, Frei
Desidério Kalverkamp, OFM, Petrópolis, 16-1-61).
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