Algumas das teses do filósofo marxista e freudiano americano (uma
espécie de “esquerda de frases de efeito”) Noam Chomsky sobre o papel da mídia
nos dias hoje realmente são interessantes e cabíveis, outras duvidáveis; no
entanto, vale a pena elencar algumas delas, como as citadas abaixo.
O ponto de vista do filósofo é sempre baseado na crítica da
burguesia e seus instrumentos de dominação, como é o caso da mídia. Os aspectos
psicológicos, éticos e até mesmo conspiratórios não são por ele analisados. Apesar
do último caso de Murdoch, em Londres, quase ninguém fala sobre esse último
aspecto. É claro que não se deve cair no exagero da “teoria da conspiração”,
título de um filme de Mel Gibson e que criou sucesso entre as redes sociais. Pelo
qual há conspiração em quase todo o mundo político. Foi com base nessa
mentalidade (“teoria da conspiração”) que as esquerdas brasileiras imaginaram
tramas nas mortes de Castelo Branco, Juscelino e muitos outros episódios de
nossa política. Chegaram até a mandar exumar o corpo de João Goulart, morto
enfartado, para se confirmar um suposto assassinato do mesmo.
A fim de manter um nível de informação atualizado, certos
órgãos de imprensa usam de todos tipos de recursos, inclusive de escutas
telefônicas. O caso mais rumoroso, como se sabe, foi o do magnata Rupert
Murdoch. Investigado, disse o mesmo ao parlamento britânico que não era o
responsável pelo escândalo das escutas telefônicas ilegais feitas por seu
jornal News of the World. No entanto, o que não ficou bem claro é
que nem sempre é o dono quem dá a tônica dos jornais, pois eles apenas dirigem
os negócios financeiros da empresa jornalística, enquanto os editores é que
fazem a manipulação da opinião pública. Tanto nos jornais quanto nas emissoras
de rádio e TV, quem realmente manda na forma de usar o sagrado direito de
liberdade de expressão são os jornalistas. Murdoch sabia quem cometeu o crime e
está acobertando seus funcionários? Se é verdade, como não devem estar fazendo
o mesmo os donos de jornais, revistas e TVs aqui no Brasil.
Eis algumas das teses de Noam Chomsky:
A estratégia da distração (que eu
chamaria de “cortina de fumaça”)
“O elemento primordial do
controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção
do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites
políticas e econômicas.
A técnica é a do dilúvio ou
inundação de contínuas distrações e de informações sem importância.
A estratégia da distração é igualmente
indispensável para impedir ao público interessar-se pelos conhecimentos
essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e
da cibernética.
Manter a atenção do público
distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, atraída por temas sem
importância real”.
Utilizar o aspecto emocional
muito mais que a reflexão:.
Fazer uso do aspecto emocional é
uma técnica clássica para curto-circuitar a análise racional, e neutralizar o
sentido critico dos indivíduos.
Por outro lado, a utilização do
registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para
implantar ou injetar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir a determinados comportamentos.
Estimular o público a ser complacente
com a mediocridade
Fazer crer ao povo que está na
moda a vulgaridade, a incultura, o ser mal falado ou admirar personagens sem
talento ou mérito algum, o desprezo ao intelectual, o exagero do culto ao corpo
e a desvalorização do espírito de sacrifício e do esforço pessoal.
A meu ver, os aspectos éticos são mais importantes. Até
mesmo no que diz respeito ao noticiário comum. Vocês já perceberam que em quase
toda notícia de um assalto o repórter sempre termina ressaltando... “o bandido
até agora não foi preso”, ou então, que o ato de violência foi realizado bem
perto de algum destacamento ou delegacia policial? Qual a razão dessa ênfase? É
para criar descrédito nas instituições. Geralmente as notícias de caráter
político também vão nessa linha. Se isso
é feito de forma generalizada na imprensa não significa o propósito de criar
uma comoção social, de revolta e de desejo de vingança, por exemplo, quando os
crimes ficam impunes? Há ainda outro aspecto: a exposição da boa fama e da
moral de pessoas perante o público, como ocorreu com a Escola de Base de São
Paulo, simplesmente porque o que lhes importa é a audiência.
Uma onda recente que invade os canais de TV em todo o
Brasil, cujo programa-modelo pode ser o que é dirigido pelo jornalista Datena
da Band: violências, escândalos e sensacionalismos, com o intuito aparente de
se defender o público das coisas erradas que ocorrem no país. O jornalista e
seu canal funcionaria como o verdadeiro paladino em defesa da população. Há
muita notícia que ninguém necessita de saber, como a do namorado que mata a namorada
e depois se suicida, a do ladrão que executa a vítima depois do assalto, a do
policial corrupto que recebe propina para soltar um bandido, etc. No caso de
denúncias do tipo corrupção há um batalhão de repórteres espalhados pelo Brasil
com câmaras e microfones escondidos a fim de revelar segredos, muitos dos quais
de nada servem para a população serem ou não revelados. O normal seria que
esses assuntos ficassem restritos aos canais competentes, ou seja, a polícia e
a justiça. E não pensem que o problema se circunscreve ao Brasil: recentemente,
na Espanha, um jornalista ganhou um prêmio, concedido a reportagens feitas
exatamente no mesmo feitio das citadas acima – são chamadas “reportagens
investigativas” ou coisa que o valha. Em toda essa onda uma coisa fica patente:
cada vez mais a população vai perdendo a esperança nas instituições, nas
pessoas, nos poderes, enfim, em tudo, e se cria a impressão de que tudo está
perdido, o único caminho daqui pra frente é o do desespero, da revolta, da
indignação...
Técnica da “cortina de fumaça”
Na manipulação da opinião pública, tão volúvel e manipulável
que ela é nos dias de hoje, acho que estão se utilizando no Brasil dessa
técnica de “cortina de fumaça”. Um público não afeito à
reflexão, sujeito aos impulsos da mídia eletrônica e imediatista, fica muito
fácil de ser manipulado para desígnios escusos.
No que consiste a “cortina de fumaça”? Consiste em chamar a
atenção do público para um tema e com isso proteger a imagem de algumas personalidades.
Como assim? Vejamos.
Vou relatar apenas últimos casos como exemplo. Desde que a presidente Dilma assumiu a presidência começaram a
explodir denúncias contra seus ministros, dando a clara impressão de que se
trata de coisa orquestrada. Quer dizer, orquestrada pela mídia. As denúncias e
o desenrolar delas cansam o público de tão repetitivas e monótonas. Todo dia a
mesma coisa: “o ministro viajou no avião pago por um empresário”, “o ministro
mentiu”, “o ministro diz que ninguém prova que é corrupto...”, etc., etc. Isso
não se parece com o denuncismo anterior, desde aqueles contra Sarney, ou contra
o deputado que pagava a pensão da amante com o dinheiro de uma empresa? Estas
eram do tempo de Lula, mas agora mesmo estando em “novo” governo, elas seguem o
mesmo esquema.
Existem algumas revistas, como a “Veja” e “Istoé”, que se
arvoraram o papel de fiscais de moral pública e se aplicam religiosamente ao
denuncismo profissional. Dizem eles que faz parte da tão decantada “liberdade
de expressão” acusar, denunciar, fazer o papel de ministério público e levar as
pessoas às barras dos tribunais. Inclusive se orgulham de com isso estar
prestando inestimável e louvável serviço á sociedade, a qual pareceria
desamparada não fosse esta mídia acusatória. Considero o papel da imprensa
nesse caso (toda a mídia, escrita, falada ou televisiva) como se fosse um pau
de mexer em estercos: as fezes estão como que escondidas, mas a mídia mexe
nelas para que se sinta seu mau cheiro, sem, no entanto, aplicar nenhum desinfetante
a fim de acabar com a fedentina.
Em suma: é necessário que a opinião pública esteja sendo
sempre sacudida com escândalos contra o governo e as instituições sociais, pois
isso faz parte da técnica de causar desilusão e frustração no público, mas é preciso
que os alvos sejam pessoas específicas que giram em torno do (ou da) presidente,
ou da personalidade que se quer ocultar (cortina de fumaça para blindar o “líder”),
sem que atinja a autoridade (ou a imagem) que se quer proteger. Na hora que o escândalo estoura, a presidente
(ou antes, o presidente) aparece simplesmente como juiz ou como autoridade
séria e proba, ás vezes até “punindo” o culpado, mas não transparecendo que
arranhe sua moral ou sua imagem perante o público.
Não há quem penetre essa “cortina”, porque ainda não inventaram aparelho
com capacidade e eficiência tamanhas. Isto é feito para suprir a grande
carência de liderança que há nos dias atuais (O PMDB, por exemplo, maior partido do país,
não tem candidato a presidente), e, mesmo o indivíduo sendo um Zè Ninguém, um
metalúrgico sem preparo algum, ou uma ex-guerrilheira meio máscula, com ajuda
da imprensa consegue-se criar uma aura em torno dele, através de uma verdadeira
guerra psicológica, em que o “escolhido” é tido por um ser especial, intocável,
probo e sem mácula. Não é preciso muito tempo, não exige-se alguma mudança
especial nele, não espera-se algum fenômeno sobrenatural, para o tal ocupar o
trono do novo “messias” na mente das massas, desnorteadas pela torrente de
fumaça que a impede de ver além daquele ponto artificialmente luminoso. É um
lider? Vamos dizer que passa a ocupar esse papel, e é preciso a todo custo
conservá-lo, senão, como a Revolução iria tocar o seu programa? Os outros,
todos os outros, mesmo os mais chegados, podem até não ser honestos, podem até
ser criminosos, até ser corruptos, mas o “escolhido”, o blindado, o que se
encontra dentro da cortina de fumaça, esse não, esse não possui qualquer
defeito que o faça desmerecer o lugar que ocupa.
E a mídia tem cumprido religiosamente seu papel. E repetem
as fofocas contra os ministros em queda livre de forma até cansativa. O último
foi o da pasta da Saúde, e sou capaz de apostar que não demorará uma semana
para aparecer outro escândalo com outro membro do governo. Menos com a
presidente, é claro. Apesar de esboçar alguma coisa daqui e dali, mesmo
timidamente, mas de origens autônomas.
Depois que o sujeito cai, seu nome sai do noticiário.
Ninguém fala mais dos ministros defenestrados nos últimos meses do governo
Dilma. Por que? Porque só se falava deles quando estavam no cargo e por causa
dos escândalos, pois assim se desmoralizava a autoridade do governo enquanto
tal, mas a imagem da pessoa que se queria proteger ficava incólume. Dilma nunca
teve seu nome ligado a nenhum comentário desmerecedor que saía ou sai na mídia.
Continua tão intocável quanto Lula, pelo menos na chamada mídia de massa, nos
grandes órgãos noticiosos.
Mas isso não ocorre somente no Brasil, pois na Espanha,
apesar do grande fracasso do governo socialista de Zapatero, as notícias nunca
o atingiam mas somente seus ministros ou colaboradores mais próximos. Ou seja,
a mídia é a mesma em toda parte, sempre protegendo as esquerdas.
Isso não é verdadeiramente uma coisa orquestrada?
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