quinta-feira, 8 de maio de 2025

O PAPADO E A QUEDA DO "COMUNISMO DE ESTADO"

 


Várias agências midiáticas divulgaram notícias e comentários onde a tônica foi a de que o Papa João Paulo II havia, finalmente, derrubado o comunismo, dando a entender que não havia mais comunismo na terra. No entanto, a maioria destes comentários não levavam em consideração que restavam ainda alguns países dominados pelo “comunismo de Estado”, como China, Coréia do Norte e Cuba. De outro lado, nada se dizia sobre o “comunismo difuso” na sociedade, que eram as leis notadamente marxistas aprovadas em vários países ocidentais, ditos capitalistas, além de costumes materialistas na população que levavam ao mesmo comunismo no dia a dia de cada um.  Quando Nossa Senhora disse, em Fátima, “a Rússia espalhará seus erros pelo mundo” referiu-se explicitamente aos costumes, muitos deles impostos por leis. Do mesmo modo, nunca houve uma apuração sobre as responsabilidades para que fossem punidos aqueles que implantaram tanta miséria e desgraça naqueles países, pelo menos a criação de tribunais como fizeram com os nazistas. Pelo contrário, os comunistas que deixavam o poder foram premiados: segundo se comentou nos jornais da época, os elementos que faziam parte do comando central do PC dos países onde “caía” o comunismo, assumiram gratuitamente a posse das empresas e riquezas que antes estavam em poder do Estado, e alguns burocratas foram até premiados com empregos nas maiores bolsas de valores europeias (milhares deles).

O fato do Papa ter tido papel fundamental na condução da opinião pública não é novidade, e todos já o sabiam, por experiências anteriores. Em1942, por exemplo, quando os nazistas perderam o apoio momentâneo da Itália, resolveram invadi-la. Mas, quando o comandante militar nazista, ao ocupar Roma chegou às portas do Vaticano, parou. Entrou em contato com Hitler e pediu autorização para invadir o Vaticano e aprisionar o Papa Pio XII, coisa muito fácil já que a Igreja não possui forças militares à altura para uma guerra moderna. Que fez Hitler? Com medo da reação da opinião católica mundial, inclusive dos alemães, determinou que não mexesse com o Papa, que deixasse o Vaticano para depois. Quer dizer, o único Estado organizado não nazista europeu a não ser invadido (ou pelo menos tentado invadir, como a Inglaterra)  foi o Vaticano, e justamente não o fez com medo da opinião pública.

Com o passar do tempo a influência do Papado no mundo só tem crescido. Basta ver a importância que se dá à simples eleição de um Papa. Não somente os católicos, mas ateus, hereges e adeptos de todas as outras religiões, até mesmo muçulmanos, interessam-se curiosamente sobre o desenrolar e o desfecho de tal eleição. O mesmo interesse também é intenso no caso da morte de um Papa, como ocorreu no enterro de João Paulo II ao atrair multidões ao Vaticano, considerado o maior da História.

 

A queda do comunismo na Polônia, obra do Papa na visão da mídia

Somente após a morte de João Paulo II alguns veículos de comunicação deram destaque à sua ação na Polônia que acabou por derrubar o regime da ditadura política comunista que lá se instalara desde a década de 40. Um deles foi da agência e site UOL, pertencente ao grupo da “Folha de São Paulo”, que divulgou o fato debaixo da seguinte manchete: “02/04/2005 - João Paulo II, o papa que contribuiu para a queda do comunismo”.

Esta maneira de ver, exposta na notícia acima, era comum à maioria dos órgãos de imprensa. Quase dez anos depois, em 2014, era ainda esta a visão midiática sobre a ação do Papa.

 

A Polônia do período de comunismo de estado

Esse período veio logo após a segunda guerra mundial. A imposição ao povo de um regime, pela via da traição, da força bruta, de forma imperada, sem que fosse consultada a opinião nacional. Após o predomínio do comunismo de Estado, falido e sem apoio popular, surgiu o Papado, com João Paulo II, para livrar o povo dele. Sabendo que há dois tipos de comunismo, o chamado “comunismo de Estado” (imposto pela ditadura do proletariado ou outra qualquer) e o “comunismo difuso” (a influência do marxismo nas leis e nos costumes sociais), renunciou aquele seu império em benefício deste último, é verdade. Mas, para que o comunismo de Estado ruísse completamente, nada teria sido conseguido se não fosse o poder de influência que o Papado tem na opinião pública.

Vejamos como os fatos ocorreram.

A Conferência de Yalta – foi após tal conferência que a Rússia se apossou da Polônia ao expulsar de lá os alemães. Embora no referido tratado nada tenha sido assinado em torno disso, a realidade mostra que houve algum acordo secreto sobre o assunto, haja vista que a Rússia comunista dominou pacificamente todo o leste da Europa, implantando o seu regime em diversos países.

Com o prolongamento da guerra, a propaganda de esquerda procurou enfatizar em todo o mundo o papel anti-nazi de Estaline e da Rússia soviética, para apresentá-la como a "libertadora" da Europa Oriental. Plínio Corrêa de Oliveira observava que, enquanto os Aliados se debatiam no atoleiro italiano, a URSS ampliava a frente do Leste, aumentando a sua influência na Europa Central. Os nazis defendiam palmo a palmo a frente italiana, abandonando aos russos províncias inteiras na Europa Oriental. O nazismo "está a cometer a suprema traição de entregar a Europa lentamente aos bolchevistas".

Em Fevereiro de 1945, encontraram-se em Yalta Estaline, Roosevelt e Churchill. Invadido em duas frentes, o Terceiro Reich capitulou entre 7 e 8 de Maio, e Hitler suicidou-se no bunker de Berlim. Também o Japão, com as suas forças exaustas, após o lançamento, em Agosto, das duas bombas atómicas americanas sobre Hiroshima e Nagasaki, aceitou a capitulação.

 Por insistência de Josef Stalin, a Conferência de Yalta sancionou a formação de um novo governo polonês provisório e pró-comunista em Moscou, que ignorou o governo polonês no exílio em Londres, um movimento que enfureceu muitos poloneses que consideraram isto uma traição por parte dos Aliados. Em 1944, Stalin havia feito garantias a Churchill e Roosevelt de que ele iria manter a soberania da Polônia e permitir eleições democráticas; no entanto, após alcançar a vitória em 1945, as autoridades soviéticas de ocupação organizaram uma eleição que constitui nada mais do que uma farsa e foi usada para reivindicar a "legitimidade" da hegemonia soviética sobre os assuntos poloneses. A União Soviética instituiu um novo governo comunista na Polônia, análogo a maior parte dos governos do resto do Bloco de Leste. Como em toda a Europa comunista a ocupação soviética da Polônia enfrentou uma resistência armada desde o seu início, que continuou na década de 1950. Apesar das objeções generalizadas, o novo governo polaco aceitou a anexação soviética das regiões orientais do pré-guerra da Polônia (em particular as cidades de Wilno e Lwów) e concordou com a guarnições permanentes de unidades do Exército Vermelho no território polonês. O alinhamento militar no âmbito do Pacto de Varsóvia durante a Guerra Fria surgiu como um resultado direto dessa mudança na cultura política polonesa e no cenário europeu veio a caracterizar a integração de pleno direito da Polônia na fraternidade das nações comunistas.

A República Popular da Polônia (em polacoPolska Rzeczpospolita Ludowa) foi oficialmente proclamada em 1952. Em 1956, após a morte de Bolesław Bierut, o regime de Władysław Gomułka tornou-se temporariamente mais liberal, libertando muitas pessoas da prisão e expandindo algumas liberdades civis. Uma situação semelhante se repetiu nos anos 1970 sob o governo de Edward Gierek, mas na maior parte do tempo houve perseguição contra grupos de oposição anticomunistas. Apesar disso, a Polônia era na época considerado um dos Estados menos opressivas do bloco soviético.

 

O papel de João Paulo II na derrubada do comunismo na Polônia

Em junho de 1979 João Paulo II faz sua primeira viagem apostólica à Polônia, seu país natal.

Relatório enviado ao Politburo pelo Conselho para Assuntos Religiosos da União Soviética dizia: "Os camaradas poloneses caracterizam João Paulo II como mais reacionário em assuntos da igreja e mais perigoso no nível ideológico que seus predecessores. Quando cardeal, distinguiu-se por sua posição anticomunista".

Antes da viagem, o governo comunista, militar e ditatorial, ameaçou até prender o Papa se pisasse o solo polonês. O Papa enfrentou todas as ameaças e fez a viagem. Era tal a multidão que o recebeu que o governo polonês não teve coragem de tomar nenhuma medida de coação ou prisão como ameaçara. Pouco tempo depois, em 1989, o regime caía sob o impacto das reformas da “Perestroika” de Gorbachev na ex URSS, mas, evidentemente, como consequência de um sadio movimento de opinião pública contra o comunismo, o qual teve grande impulso com a ida do Papa ao país.

João Paulo ainda realizou mais 7 viagens à Polônia, fortalecendo a reação católica daquele povo contra o regime comunista. É claro que todas estas viagens foram de caráter apostólico e religioso. No entanto, após essas viagens do Papa surgiram, assim, os movimentos independentes dos trabalhadores a partir de 1980 que levaram à formação do sindicato independente, como o "Solidariedade" que, com o tempo, tornou-se uma força política. Em 1989, venceu as eleições parlamentares. Lech Wałęsa, um candidato do Solidariedade, venceu as eleições presidenciais em 1990. O movimento Solidariedade prenunciou o colapso do comunismo na Europa Oriental.

Segunda viagem – 1983 - João Paulo II fez a sua segunda viagem apostólica à Polónia de 16 a 23 de Junho de 1983. A visita teve lugar durante a lei marcial no país e esteve ligada à preparação do Jubileu do 600º aniversário da presença da Imagem Jasna Gora. Apesar da falta de consentimento por parte das autoridades estatais, as autoridades eclesiásticas decidiram convidar o Papa e realizar a visita em Junho de 1983. Durante a sua estadia, o Papa encontrou-se com multidões de polacos e beatificou três figuras estreitamente associadas à Igreja Católica Romana na Polónia. O lema da viagem era "Paz para vós, Polónia, a minha pátria".

A terceira viagem – 1987 - De 8 a 14 de Junho de 1987, com o lema "Ele amou-os até ao fim". Esta peregrinação estava ligada ao Segundo Congresso Eucarístico Nacional que então se realizava. Durante esta peregrinação, o Papa visitou muitas cidades, encontrando-se com diferentes grupos de pessoas, desde o clero até aos fiéis comuns. Os seus discursos centraram-se principalmente em temas relacionados com a fé e o amor. O Papa João Paulo II utilizou a viagem como uma oportunidade para realçar a importância da Eucaristia e o seu papel na vida de um cristão. Durante a sua estadia, o Papa beatificou a Beata Karolina Kózkówna, que é considerada um modelo de piedade e obediência a Deus. Esta viagem foi um evento importante para a Igreja na Polónia, pois contribuiu para o desenvolvimento da fé e espiritualidade e para o fortalecimento da posição da Igreja no país.

A quarta viagem – 1991 - Estava ligada ao lema "Dar graças a Deus, não extinguir o espírito". Esta peregrinação visava fortalecer a fé e a espiritualidade num país que acabava de sofrer uma transformação política e que tinha rompido com o ateísmo imposto pelo governo. Como tal, a sua visita foi também uma expressão de gratidão a Deus pelos dons e graças que a Polónia tinha recebido. A peregrinação durou entre os dias 1 e 9 de Junho. João Paulo II visitou muitas cidades durante esse período, inclusive: Koszalin, Przemyśl, Włocławek, Kielce e Lubaczów.

A quinta viagem – 1995 - Foi uma breve visita à diocese de Bielsko-Żywiec, que teve lugar no dia vinte e dois de Maio e que fez parte da sua viagem à República Checa. O Papa visitou então cidades na Voivodia Silesiana, incluindo Skoczów e Bielsko-Biała. Esta peregrinação foi a única viagem não oficial de João Paulo II à Polónia organizada pelo

A sexta viagem – 1997 – foi uma peregrinação, que durou de 31 de Maio a 10 de Junho, ligada ao 46º Congresso Eucarístico Internacional, realizado sob o tema "Eucaristia e Liberdade". Nessa altura, o Papa também participou na celebração europeia do milénio da morte de Santo Adalbert em Gniezno, na qual os presidentes de sete países da Europa Central e Oriental participaram para além dele. O Papa polaco também participou nas celebrações do seiscentenário da Faculdade de Teologia da Universidade Jagielloniana.

A sétima viagem – 1999 - de 5 a 17 de Junho e foi a mais longa peregrinação papal na Polónia. Entre os acontecimentos mais significativos durante a estadia do Papa estava a sua visita ao Sejm, no dia 11 de Junho. Em ligação com a visita de João Paulo II, foi posteriormente colocada uma placa comemorativa no salão principal do Sejm. Para além de Varsóvia, o Papa conseguiu então visitar Sosnowiec, Toruń e Gdańsk, entre outros.

A oitava e última viagem – 2002 - teve lugar de 16 a 17 agosto e foi dedicada principalmente à consagração do complexo sagrado em Cracóvia-Łagienniki, que é o lugar de descanso das cinzas da santa da Igreja Católica, freira Faustyna Kowalska.

  


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