Várias agências midiáticas divulgaram notícias e comentários onde a tônica foi a de que o Papa João Paulo II havia, finalmente, derrubado o comunismo, dando a entender que não havia mais comunismo na terra. No entanto, a maioria destes comentários não levavam em consideração que restavam ainda alguns países dominados pelo “comunismo de Estado”, como China, Coréia do Norte e Cuba. De outro lado, nada se dizia sobre o “comunismo difuso” na sociedade, que eram as leis notadamente marxistas aprovadas em vários países ocidentais, ditos capitalistas, além de costumes materialistas na população que levavam ao mesmo comunismo no dia a dia de cada um. Quando Nossa Senhora disse, em Fátima, “a Rússia espalhará seus erros pelo mundo” referiu-se explicitamente aos costumes, muitos deles impostos por leis. Do mesmo modo, nunca houve uma apuração sobre as responsabilidades para que fossem punidos aqueles que implantaram tanta miséria e desgraça naqueles países, pelo menos a criação de tribunais como fizeram com os nazistas. Pelo contrário, os comunistas que deixavam o poder foram premiados: segundo se comentou nos jornais da época, os elementos que faziam parte do comando central do PC dos países onde “caía” o comunismo, assumiram gratuitamente a posse das empresas e riquezas que antes estavam em poder do Estado, e alguns burocratas foram até premiados com empregos nas maiores bolsas de valores europeias (milhares deles).
O fato do Papa ter
tido papel fundamental na condução da opinião pública não é novidade, e todos
já o sabiam, por experiências anteriores. Em1942, por exemplo, quando os
nazistas perderam o apoio momentâneo da Itália, resolveram invadi-la. Mas,
quando o comandante militar nazista, ao ocupar Roma chegou às portas do
Vaticano, parou. Entrou em contato com Hitler e pediu autorização para invadir
o Vaticano e aprisionar o Papa Pio XII, coisa muito fácil já que a Igreja não
possui forças militares à altura para uma guerra moderna. Que fez Hitler? Com
medo da reação da opinião católica mundial, inclusive dos alemães, determinou
que não mexesse com o Papa, que deixasse o Vaticano para depois. Quer dizer, o
único Estado organizado não nazista europeu a não ser invadido (ou pelo menos
tentado invadir, como a Inglaterra) foi
o Vaticano, e justamente não o fez com medo da opinião pública.
Com o passar do tempo
a influência do Papado no mundo só tem crescido. Basta ver a importância que se
dá à simples eleição de um Papa. Não somente os católicos, mas ateus, hereges e
adeptos de todas as outras religiões, até mesmo muçulmanos, interessam-se
curiosamente sobre o desenrolar e o desfecho de tal eleição. O mesmo interesse
também é intenso no caso da morte de um Papa, como ocorreu no enterro de João
Paulo II ao atrair multidões ao Vaticano, considerado o maior da História.
A
queda do comunismo na Polônia, obra do Papa na visão da mídia
Somente após a morte
de João Paulo II alguns veículos de comunicação deram destaque à sua ação na
Polônia que acabou por derrubar o regime da ditadura política comunista que lá
se instalara desde a década de 40. Um deles foi da agência e site UOL,
pertencente ao grupo da “Folha de São Paulo”, que divulgou o fato debaixo da seguinte
manchete: “02/04/2005 - João Paulo II, o
papa que contribuiu para a queda do comunismo”.
Esta maneira de ver, exposta na notícia acima, era comum à maioria dos
órgãos de imprensa. Quase dez anos depois, em 2014, era ainda esta a visão
midiática sobre a ação do Papa.
A Polônia do período de comunismo
de estado
Esse período veio logo após a
segunda guerra mundial. A imposição ao povo de um regime, pela via da
traição, da força bruta, de forma imperada, sem que fosse consultada a opinião
nacional. Após o predomínio do comunismo de Estado, falido e sem apoio popular,
surgiu o Papado, com João Paulo II, para livrar o povo dele. Sabendo que há
dois tipos de comunismo, o chamado “comunismo de Estado” (imposto pela ditadura
do proletariado ou outra qualquer) e o “comunismo difuso” (a influência do
marxismo nas leis e nos costumes sociais), renunciou aquele seu império em
benefício deste último, é verdade. Mas, para que o comunismo de Estado ruísse
completamente, nada teria sido conseguido se não fosse o poder de influência
que o Papado tem na opinião pública.
Vejamos como os fatos ocorreram.
A Conferência de Yalta – foi após tal
conferência que a Rússia se apossou da Polônia ao expulsar de lá os alemães. Embora
no referido tratado nada tenha sido assinado em torno disso, a realidade mostra
que houve algum acordo secreto sobre o assunto, haja vista que a Rússia
comunista dominou pacificamente todo o leste da Europa, implantando o seu
regime em diversos países.
Com o
prolongamento da guerra, a propaganda de esquerda procurou enfatizar em todo o
mundo o papel anti-nazi de Estaline e da Rússia soviética, para
apresentá-la como a "libertadora" da Europa Oriental. Plínio Corrêa
de Oliveira observava que, enquanto os Aliados se debatiam no atoleiro
italiano, a URSS ampliava a frente do Leste, aumentando a sua influência na
Europa Central. Os nazis defendiam palmo a palmo a frente italiana, abandonando
aos russos províncias inteiras na Europa Oriental. O nazismo "está a
cometer a suprema traição de entregar a Europa lentamente aos
bolchevistas".
Em Fevereiro de
1945, encontraram-se em Yalta Estaline, Roosevelt e
Churchill. Invadido em duas frentes, o Terceiro Reich capitulou entre 7 e 8 de
Maio, e Hitler suicidou-se no bunker de Berlim. Também o Japão, com
as suas forças exaustas, após o lançamento, em Agosto, das duas bombas atómicas
americanas sobre Hiroshima e Nagasaki, aceitou a capitulação.
Por insistência
de Josef Stalin, a Conferência de Yalta sancionou a
formação de um novo governo polonês provisório e pró-comunista em Moscou,
que ignorou o governo polonês no exílio em Londres,
um movimento que enfureceu muitos poloneses que consideraram isto uma traição
por parte dos Aliados. Em 1944, Stalin
havia feito garantias a Churchill e Roosevelt de que ele iria manter
a soberania da
Polônia e permitir eleições democráticas; no entanto, após alcançar a vitória
em 1945, as autoridades soviéticas de ocupação organizaram uma eleição que
constitui nada mais do que uma farsa e foi usada para reivindicar a
"legitimidade" da hegemonia soviética sobre os assuntos poloneses.
A União Soviética instituiu um novo governo
comunista na Polônia, análogo a maior parte dos governos do resto do Bloco de
Leste. Como em toda a Europa comunista a ocupação soviética da
Polônia enfrentou uma resistência armada desde o seu início, que continuou na
década de 1950. Apesar das objeções generalizadas, o novo governo polaco
aceitou a anexação soviética das regiões orientais do pré-guerra da Polônia (em
particular as cidades de Wilno e Lwów)
e concordou com a guarnições permanentes de unidades do Exército Vermelho no território polonês. O
alinhamento militar no âmbito do Pacto de Varsóvia durante a Guerra Fria surgiu
como um resultado direto dessa mudança na cultura política polonesa e no
cenário europeu veio a caracterizar a integração de pleno direito da Polônia na
fraternidade das nações comunistas.
A República
Popular da Polônia (em polaco: Polska
Rzeczpospolita Ludowa)
foi oficialmente proclamada em 1952. Em 1956, após a morte de Bolesław Bierut, o regime de Władysław Gomułka tornou-se
temporariamente mais liberal, libertando muitas pessoas da prisão e expandindo
algumas liberdades civis. Uma situação semelhante se
repetiu nos anos 1970 sob o governo de Edward Gierek,
mas na maior parte do tempo houve perseguição contra grupos de oposição anticomunistas.
Apesar disso, a Polônia era na época considerado um dos Estados menos
opressivas do bloco soviético.
O papel de João Paulo
II na derrubada do comunismo na Polônia
Em junho de 1979 João Paulo II faz sua primeira
viagem apostólica à Polônia, seu país natal.
Relatório enviado
ao Politburo pelo Conselho para Assuntos Religiosos da União Soviética dizia:
"Os camaradas poloneses caracterizam João Paulo II como mais reacionário
em assuntos da igreja e mais perigoso no nível ideológico que seus
predecessores. Quando cardeal, distinguiu-se por sua posição
anticomunista".
Antes da viagem, o
governo comunista, militar e ditatorial, ameaçou até prender o Papa se pisasse
o solo polonês. O Papa enfrentou todas as ameaças e fez a viagem. Era tal a
multidão que o recebeu que o governo polonês não teve coragem de tomar nenhuma
medida de coação ou prisão como ameaçara. Pouco tempo depois, em 1989, o regime
caía sob o impacto das reformas da “Perestroika” de Gorbachev na ex URSS, mas,
evidentemente, como consequência de um sadio movimento de opinião pública
contra o comunismo, o qual teve grande impulso com a ida do Papa ao país.
João
Paulo ainda realizou mais 7 viagens à Polônia, fortalecendo a reação católica
daquele povo contra o regime comunista. É claro que todas estas viagens foram
de caráter apostólico e religioso. No entanto, após essas viagens do Papa surgiram, assim, os movimentos
independentes dos trabalhadores a partir de 1980 que levaram à formação
do sindicato independente,
como o "Solidariedade" que, com o tempo, tornou-se
uma força política. Em 1989, venceu as eleições parlamentares. Lech Wałęsa,
um candidato do Solidariedade, venceu as eleições presidenciais em 1990. O
movimento Solidariedade prenunciou o colapso do comunismo na Europa
Oriental.
Segunda viagem –
1983 - João Paulo II fez a sua segunda viagem apostólica à Polónia de 16 a 23
de Junho de 1983. A visita teve lugar durante a lei marcial no país e esteve
ligada à preparação do Jubileu do 600º aniversário da presença da Imagem Jasna
Gora. Apesar da falta de consentimento por parte das autoridades estatais, as
autoridades eclesiásticas decidiram convidar o Papa e realizar a visita em
Junho de 1983. Durante a sua estadia, o Papa encontrou-se com multidões de
polacos e beatificou três figuras estreitamente associadas à Igreja Católica
Romana na Polónia. O lema da viagem era "Paz para vós, Polónia, a minha
pátria".
A terceira viagem –
1987 - De 8 a 14 de Junho de 1987, com o lema "Ele amou-os até ao
fim". Esta peregrinação estava ligada ao Segundo Congresso Eucarístico
Nacional que então se realizava. Durante esta peregrinação, o Papa visitou
muitas cidades, encontrando-se com diferentes grupos de pessoas, desde o clero
até aos fiéis comuns. Os seus discursos centraram-se principalmente em temas
relacionados com a fé e o amor. O Papa João Paulo II utilizou a viagem como uma
oportunidade para realçar a importância da Eucaristia e o seu papel na vida de
um cristão. Durante a sua estadia, o Papa beatificou a Beata Karolina Kózkówna,
que é considerada um modelo de piedade e obediência a Deus. Esta viagem foi um
evento importante para a Igreja na Polónia, pois contribuiu para o
desenvolvimento da fé e espiritualidade e para o fortalecimento da posição da
Igreja no país.
A quarta viagem –
1991 - Estava ligada ao lema "Dar graças a Deus, não extinguir o
espírito". Esta peregrinação visava fortalecer a fé e a espiritualidade
num país que acabava de sofrer uma transformação política e que tinha rompido
com o ateísmo imposto pelo governo. Como tal, a sua visita foi também uma expressão
de gratidão a Deus pelos dons e graças que a Polónia tinha recebido. A
peregrinação durou entre os dias 1 e 9 de Junho. João Paulo II visitou muitas
cidades durante esse período, inclusive: Koszalin, Przemyśl, Włocławek, Kielce
e Lubaczów.
A quinta viagem – 1995
- Foi uma breve visita à diocese de Bielsko-Żywiec, que teve lugar no dia vinte
e dois de Maio e que fez parte da sua viagem à República Checa. O Papa visitou
então cidades na Voivodia Silesiana, incluindo Skoczów e Bielsko-Biała. Esta
peregrinação foi a única viagem não oficial de João Paulo II à Polónia
organizada pelo
A sexta viagem –
1997 – foi uma peregrinação, que durou de 31 de Maio a 10 de Junho, ligada ao
46º Congresso Eucarístico Internacional, realizado sob o tema "Eucaristia
e Liberdade". Nessa altura, o Papa também participou na celebração
europeia do milénio da morte de Santo Adalbert em Gniezno, na qual os
presidentes de sete países da Europa Central e Oriental participaram para além
dele. O Papa polaco também participou nas celebrações do seiscentenário da
Faculdade de Teologia da Universidade Jagielloniana.
A sétima viagem –
1999 - de 5 a 17 de Junho e foi a mais longa peregrinação papal na Polónia.
Entre os acontecimentos mais significativos durante a estadia do Papa estava a
sua visita ao Sejm, no dia 11 de Junho. Em ligação com a visita de João Paulo
II, foi posteriormente colocada uma placa comemorativa no salão principal do
Sejm. Para além de Varsóvia, o Papa conseguiu então visitar Sosnowiec, Toruń e
Gdańsk, entre outros.
A oitava e última
viagem – 2002 - teve lugar de 16 a 17 agosto e foi dedicada principalmente à
consagração do complexo sagrado em Cracóvia-Łagienniki, que é o lugar de
descanso das cinzas da santa da Igreja Católica, freira Faustyna Kowalska.
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