Transcrevemos a seguir como
Dr. Plínio define os “sapos”:
“Elites inautênticas
Qualquer estudo sobre as elites, nos
Estados Unidos, depara-se com um problema, que é o das elites inautênticas. As
elites do país são o resultado de um processo de refinamento na sociedade, e
representam, em certo sentido, o que o país tem de melhor e mais elevado.
Porém, é inegável que numerosas pessoas de elite têm mentalidade francamente
revolucionária, e que certos grupos de elite são os paladinos das
transformações de caráter liberal e socialista em vários campos. Também é
inegável que tais pessoas e grupos assumem, com frequência, atitudes de
simpatia frente ao comunismo internacional.
Uma elite inautêntica pode possuir o
patrimônio relevante ou a notoriedade pública, inerentes às elites autênticas,
sem no entanto possuí-los há tempo suficiente para que deles resultem os
predicados característicos das elites autênticas. Ou sejam, a largueza de
horizontes, a excelência de tipo humano e de trato e a delicadeza de
sentimentos que as distinguem.
Pode até acontecer que numa elite
inautêntica exista um passado suficientemente longo para lhe proporcionar todos
os predicados de uma elite autêntica e tradicional. Mas que esse grupo, movido
por preconceitos ideológicos ou outros fatores, tenha preferido manifestar — ao
lado de maneiras distintas, educação esmerada, e até hábitos aristocráticos —
uma ideologia revolucionária e uma mentalidade democrática liberal, tendente a
promover um Estado paternalista, em detrimento dos corpos sociais
intermediários.
As elites inautênticas constituem
verdadeiros corpos estranhos na tradicional contextura social de um país. E
podem até formar, a respeito dos verdadeiros direitos e interesses do mesmo,
uma noção tão anti-natural que chegue ao ponto de colaborar largamente com os
adversários mais radicais e mais declarados desse país.
Ao fazer uma defesa genérica das elites,
portanto, poder-se-ia perguntar se os autores da presente obra não estariam,
ainda que implicitamente, favorecendo a ação demolidora destas elites liberais.
a. A "saparia"
4 - O termo
"sapo", com a conceituação que é desenvolvida no presente item, foi
lançado em artigo do Professor Plinio Corrêa de Oliveira, publicado no diário
"Folha de São Paulo", em 25-6-69.
Antes de tudo, parece necessário deixar
bem claro que — ao tratar da questão das elites nos Estados Unidos — os autores
as distinguem das elites artificiais ou inautênticas. Estas se apresentam sem
ligações naturais com as melhores tradições deste país e os mais profundos
anseios do povo norte-americano, chegando mesmo a contrariar essas tradições e
esses anseios.
Dado que a distinção entre uma elite
tradicional autêntica e tais elites espúrias nem sempre está presente com a
devida nitidez no espírito de incontáveis pessoas, parece indispensável incluir
o presente item explicativo.
Os estudos sociológicos citados mostram
que existem elites tradicionais nos Estados Unidos, constituídas a partir de
antecedentes históricos próprios a cada lugar. Essas elites têm ainda hoje uma
influência social marcante sobre o conjunto da sociedade norte-americana,
especialmente nas suas capilaridades.
Porém, muitas vezes os postos diretivos
do Estado, das altas finanças, das grandes empresas, da mídia, das fundações e
dos órgãos culturais, são ocupados por pessoas que não pertencem a elites
autênticas, mas constituem uma espécie de contra-elite que faz ostentação de
princípios, de idéias e de um estilo de vida em dissonância com o modo geral de
pensar e de agir da maioria da população.
Estas elites inautênticas, longe de
representarem a nação, nela constituem quase um corpo estranho, aparecendo aos
olhos do público de modo muito mais visível — e, sob certos aspectos, mais
brilhante — que as elites tradicionais. Elas ocupam muito maior espaço nos
órgãos de publicidade e ofuscam o realce que as verdadeiras elites deveriam
ter.
Assim, formou-se na mente de numerosos
norte-americanos a idéia de que elite é só isto, podendo daí advir em muitos
uma injustificada antipatia às elites in
genere, em vez de uma não raras vezes explicável antipatia dirigida
apenas contra as falsas elites.
Para simbolizar o perfil moral e
psicológico do tipo humano de tais elites inautênticas — existentes nos Estados
Unidos, como em quase todo o Ocidente — tomou curso no linguajar corrente das
TFPs a palavra "sapo", e ao conjunto dos sapos a denominação coletiva
de "saparia".
Em geral, o "sapo" nasceu da
Revolução Industrial. Ou seja, ele é o fruto — artificial, sob certos pontos de
vista — de uma economia de base industrial que gerou fortunas excessivamente
grandes, sem proporção com a massa geral dos patrimônios individuais do país.
Estas fortunas podem ser de natureza industrial, financeira, e mesmo artística
ou esportiva, como no caso de certas personalidades do cinema, da televisão e
dos esportes.
Há um tal desequilíbrio entre os "sapos"
e os outros níveis econômicos da população, que eles parecem viver numa espécie
de estratosfera em relação ao restante do corpo social, levando uma vida
econômica e socialmente desproporcionada às suas origens e ao seu nível
cultural.
Pode haver também um tipo de
"sapo", igualmente rico, descendente de famílias tradicionais, de
aparência aristocrática, mas que usa de sua posição e de seu prestígio social
para favorecer a implantação de reformas de caráter liberal e igualitário.
b. Caráter malfazejo da
"saparia"
Nessas condições, o "sapo" — a
expressão pode ser forte demais — é quase um câncer no corpo social. Longe de
ser o coroamento de uma hierarquia harmônica de elites, a "saparia"
dá ensejo ao estabelecimento no país da própria estrutura de poder, de
influência e de prestígio dela, sem imbricação com os demais níveis de elites.
O peso dessa estrutura anti-natural acaba por prejudicar seriamente aquilo que
deveria ser uma sadia e equilibrada vida política, econômica, social e cultural
da nação. Mesmo que, individualmente, os membros desta contra-elite possam não
ter essa intenção, o próprio dinamismo do sistema por eles dirigido acaba
conduzindo a este fim.
Assim como o último degrau da escada
deve ter proporção com os degraus anteriores, a elite verdadeira deve ter
proporção com os outros elementos do corpo social. Uma escada em que o último
degrau fosse exageradamente mais alto que os outros, tornaria a escada
inutilizável.
Nas sociedades modernas e industriais,
este último degrau exageradamente alto teve sua origem, muitas vezes, em
fortunas desmedidas, acompanhadas de um poder, de uma influência e de uma
cobertura publicitária igualmente desmedidas. Os possuidores de tais fortunas,
sejam eles indivíduos ou empresas, famílias novas ou antigas, têm haveres e
interesses em muitas regiões do país e em diversas partes do mundo, escapando
assim aos limites naturais e sadios da propriedade privada, e constituindo
quase estados dentro do Estado.
Pela amplitude que tomam, estas
contra-elites acabam gerando em seus membros uma mentalidade característica,
que leva ao ceticismo geral no terreno doutrinário, com desprezo por tudo
quanto representa idéias, maneiras e tradições de uma Civilização Cristã. Leva
também a uma exclusiva valorização do poder e do status que a super-fortuna
confere, como meio para exercer uma ação a seu modo tirânica sobre o país.
Este conjunto de super-fortunas
supra-nacionais, sejam elas individuais ou societárias, forma no cume da vida
econômica do país uma trans-elite, que mais se assemelha a uma "nomenklatura".
c. Os "sapos" e o comunismo
Ao observar como foi o comportamento
desta "saparia" nos países capitalistas ocidentais, em relação ao
mundo comunista, constata-se um fato perplexitante: Longe de estar na liderança
de uma ampla ação contra o comunismo internacional — como sua condição
pareceria exigir — os membros da "saparia" se mostraram concessivos
frente a ele, sempre prontos a negociar, a abrir-lhe os cofres do crédito
ocidental, a aplainar-lhe o caminho em tudo que fosse possível.
Esta atitude foi uma das características
mais chocantes de tal contra-elite. Pois ela frequentemente se dispôs a salvar
de seu fracasso um regime que sempre fez questão de se apresentar como o pior
inimigo do capitalismo. Foi o caso, por exemplo, de titulares de grandes
patrimônios, que destinaram à Rússia comunista, até mesmo nos períodos de
tensão daquele país com nossa pátria, recursos econômicos indispensáveis para a
sobrevivência daquele regime.
Embora a explicação mais profunda deste
fato seja bastante complexa, e até enigmática, para ser exposta em poucas
linhas, é certo que um dos fatores que mais pesou para essa atitude foi a
semelhança entre o papel desta "saparia" nos regimes capitalistas
ocidentais e a "nomenklatura"
nos Estados comunistas. Realmente o super-poder do Estado comunista, dotado de
uma capacidade de ingerência em todos os campos da vida humana, tem muito de
parecido com o super-poder de que esta contra-elite goza em países do Ocidente.
Assim sendo, a nomenklatura é
uma imagem da "saparia" dentro do regime comunista.
Não é de surpreender, portanto, que
entre duas "elites", tão afins sob certos aspectos, as barreiras
ideológicas se transponham com facilidade, e que a "saparia"
capitalista ocidental mostre simpatia para com sua congênere — que é ao mesmo
tempo sua antítese — do capitalismo de Estado”.
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