I – Lê-se no “Prado Florido”, que uma devota pessoa desejava saber quais as almas mais caras a Jesus Cristo. Um dia ela assistia à missa, no momento da elevação da santa Hóstia viu o Menino Jesus sobre o altar, e com ele três jovens virgens. Jesus aproximou-se da primeira, e lhe fez muitas carícias. Passou depois á segunda, levantou-lhe o véu e deu-lhe uma rude bofetada; em seguida voltou-lhe as costas; mas, logo depois, vendo-a triste, o Divino Menino a consolou com provas de afeto. Chegou enfim à terceira, com rosto irado, tomou-a pelo braço, bateu-a e expulsou-a para longe dele; porém quanto mais a pobre moça se via maltratada e repelida pelo Senhor, tanto mais se humilhava e se chegava a Ele. Assim terminou a visão. A pessoa de que falamos, teve vivo desejo de saber a significação do que acabara de ver; Jesus apareceu-lhe de novo e lhe disse que há na terra três sortes de almas que o amam. Algumas o amam, porém com amor tão fraco que, se não forem sustentadas pelas doçuras espirituais, ficam sem sossego e em perigo de abandoná-lo; a primeira das três virgens figurava essas almas. A segunda representava aquela cujo amor é menos fraco, mas que tem necessidade de ser consolada de tempo em tempo. Finalmente, a terceira era a figura daquelas almas fortes que, embora sempre desoladas e privadas de consolações espirituais, não deixam de fazer o que podem para agradar a Deus. E, ajuntou Jesus, são estas últimas as que mais eu amo.
II – O padre Canóglio conta que uma religiosa, após numerosos pecados, ousou cometer um enorme sacrilégio. Um dia, depois da comunhão, tirou da boca a santa hóstia e a pôs num lenço; depois, fechando-se no quarto, atirou ao chão o Santíssimo Sacramento e o calcou aos pés. Em seguida, abaixa os olhos, e o que vê? Em lugar da hóstia, uma criança de grande formosura, mas toda pisada coberta de sangue, que lhe disse: “Que te fiz eu para assim me maltratares?” Então a infeliz caindo em si e penetrada de arrependimento, ajoelhou-se em prantos e exclamou: “Meu Deus, perguntais o que vós fizestes? Ah! Vós me amastes em excesso”. A visão desapareceu; e a pecadora, inteiramente convertida, tornou-se um modelo de penitência.
III – Conta-se nas crônicas da Ordem de Cister, que um monge do Brabante, atravessando uma floresta na noite de Natal, ouviu um gemido como duma criança recém-nascida. Caminhou para o lugar donde vinha a voz e percebeu no meio da neve uma bela criancinha que tremia de frio e chorava. Movido de compaixão, o religioso apeou do cavalo e aproximando-se da infeliz criança, exclamou: “Menino, como é que te achas assim abandonado na neve chorando e tremendo de frio?” Então ouviu a resposta: “Ah! Como posso deixar de chorar vendo-me abandonado por todos, não havendo ninguém que me acolha e se compadeça de mim?” A essas palavras o Menino desapareceu, dando-nos a entender que era o nosso divino Salvador, e que, por essa visão quisera queixar-se da ingratidão dos homens que, sabendo que Ele nasceu numa gruta por seu amor, o deixam chorar sem terem dele a menor compaixão.
IV – Pelbarto conta que um soldado vicioso tinha uma mulher piedosa que, não conseguindo convertê-lo, obteve ao menos dele que não deixasse de rezar cada dia uma Ave Maria diante de alguma imagem da Santíssima Virgem. Um dia, saindo para maus fins, passou diante de uma igreja, entrou nela por acaso, e, percebendo a imagem da Santíssima Virgem, pôs-se de joelhos e rezou a sua Ave Maria. Mas que vê? Vê nos braços de Maria o Menino Jesus todo coberto de chagas ensanguentadas. “Meu Deus, exclama, qual o bárbaro que assim tratou uma inocente criança?”. “Fostes vós, pecadores, respondeu Maria, que assim tratais o meu Filho”. A essas palavras sentiu-se tocado de compunção, e pediu a Nossa Senhora, chamando-a Mãe de Misericórdia, lhe obtivesse o perdão dos seus pecados, mas Ela respondeu: “Vós, pecadores, me chamais Mãe de Misericórdia, e não cessais de fazer de mim uma Mãe de dor e de miséria!” O penitente não desanimou, e continuou a suplicar a Maria intercedesse por ele, e a Santíssima Virgem, voltando-se para seu divino Filho pediu-lhe perdão para aquele pecador. Jesus mostrou primeiro repugnância, mas Maria ajuntou: “Meu Filho, não deixarei os vossos pés enquanto não perdoardes a esse infeliz que a mim se recomenda”. “Minha Mãe, disse-lhe então Jesus, nunca vos recusei coisa alguma. Desejais o perdão para esse homem; pois bem, perdoo-lhe, e em sinal de reconciliação, quero que me venha beijar as chagas”. O pecador se aproximou e, na medida em que beijava as chagas de Jesus, estas se fechavam. Saiu depois da igreja, foi pedir perdão a sua mulher, e ambos, de comum acordo, deixaram o mundo para abraçar o estado religioso em dois mosteiros onde terminaram santamente a vida.
V – Lê-se na Vida
do Irmão Benedito Lopes que, quando militar, tinha a consciência manchada de
pecados. Um dia, em Travancore, entrou numa igreja, enquanto considerava uma
imagem de Maria com o Menino Jesus, o Senhor lhe pôs ante os olhos a sua má
vida. A essa vista, sentiu tentação de desespero quanto à salvação; mas voltando-se
logo para a Santíssima Virgem, recomendou-se com lágrimas à sua intercessão;
viu então o santo Menino chorar também e as suas lágrimas cair sobre o altar,
de sorte que outros o perceberam e se puseram a recolhê-las num pano. Desde
esse momento, Benedito, penetrado de contrição, renunciou ao mundo e tornou-se
irmão coadjutor da Companhia de Jesus, onde viveu e morreu com sentimentos de
terna devoção à santa infância de Jesus Cristo.
VII – O padre Patrignani narra que em Messina havia um menino nobre, chamado Domingos Ansalone, que ia frequentemente visitar na igreja uma estátua da Santíssima Virgem com o Menino Jesus, pelo qual sentia terno afeto. Ora, Domingos caiu mortalmente enfermo. Pediu com viva instância a seus pais lhe fizessem trazer o seu caro Jesus. Realizado o seu desejo, tomou-o com grande alegria e colocou-o no leito; não se cansava de olhar para Ele com amor, e de tempo em tempo lhe dirigia esta prece: “Meu Jesus, tende piedade de mim”. Depois, voltando-se para as pessoas presentes, dizia-lhes; “Vede, vede como é belo o meu pequeno Senhor”. Na última noite de sua vida, chamou seus pais e, na presença deles, disse ao santo Menino: “Meu Jesus, constituo-vos o meu herdeiro”. Pediu depois a seu pai e a sua mãe que, com a pequena soma que tinha de reserva, fizessem celebrar nove missas depois de sua morte, e confeccionassem com o resto uma bela roupinha para o seu pequeno herdeiro. Antes de expirar, ergueu os olhos ao céu com o rosto radiante de alegria, e disse: “Oh! Como é belo! Como é belo o meu Senhor! E pronunciando essas palavras exalou o seu derradeiro suspiro.
VIII – A passagem que se vai ler é tirada do “Espelho de Exemplos”. Um
jovem inglês, muito piedoso, chamado Edmundo, estava no campo com outras
crianças de sua idade. Como amava a oração e a solidão, separou-se de seus
companheiros para passear à parte num prado, fazendo afetuosos atos de amor a
Jesus Cristo. De repente, um menino encantador se lhe apresentou e o saudou com
as palavras: “Deus te guarde, meu caro Edmundo!” Perguntou-lhe depois se o
conhecia. Edmundo respondeu que não. “Como não? Replicou o celeste Menino, não
conheces a mim que estou sempre a teu lado? Pois bem! Se me queres conhecer,
olha-me o rosto”. Edmundo, olhando para ele, leu em sua fronte as palavras ;
“Jesus Nazarenus, Rex Judeorum” – Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus – Então o
santo Menino ajuntou: “Eis o meu nome, e quero que, em memória do amor que te
tenho, faças todas as noites o sinal da cruz em tua fronte pronunciando-o. Com
isso serás preservado da morte repentina, bem como todos os que fizerem a mesma
coisa”.
Edmundo continuou depois a persignar-se com o nome de Jesus. Uma vez o demônio agarrou-lhe a mão para que não pudesse fazer; mas ele o venceu pela oração e o obrigou a dizer qual a arma ele mas temia. O demônio confessou que eram aquelas palavras com que se persignava.
IX – O padre Nadasi conta que num convento se introduzira o piedoso costume de se fazer passar sucessivamente a imagem do Menino Jesus de uma religiosa para outra; cada uma a contemplava um dia. Uma dessas virgens, tendo-a por sua vez, fez antes uma longa oração, depois chegando a noite, tomou a santa imagem e a encerrou num pequeno armário. Mas apenas se tinha ele acomodado, ouviu o Menino Jesus bater à porta do armário. Levantou-se incontinenti, recolocou a imagem sobre o altarzinho, e, depois de rezar demoradamente, a encerrou de novo. Mas o Menino Jesus bateu uma segunda vez. Retirou-o novamente e rezou. Enfim, subjugada pelo sono, pediu a Jesus permissão para descansar, e dormiu até de manhã. Ao despertar bendisse aquela noite feliz que passou em santo entretenimento com o seu querido Jesus.
X – Refere-se no “Jornal Dominicano” que, a 7 de outubro, São Domingos, pregando em Roma, encontrou uma pecadora chamada Catarina a Bela. Esta recebeu um Rosário das mãos do Santo e pôs-se a rezá-lo sem contudo deixar sua vida má. Um dia Jesus apareceu-lhe, primeiro sob a forma dum jovem moço e depois sob a duma criança graciosa, mas com uma nova coroa de e espinhos na fronte e uma cruz nos ombros; lagrimas corriam de seus olhos, e sangue de seu corpo. Disse-lhe: “Basta, não peques mais, Catarina, basta; cessa de ofender-me; vê quanto me custastes,pois comecei desde a infância a sofrer por ti, e não cessei de sofrer até a morte!” Catarina foi logo procurar São Domingos, confessou-se, recebeu dele instruções, e depois de distribuir aos pobres o que possuía, encerrou-se numa cela estreita e murada, onde se esforçou para levar vida fervorosa, e obteve do Senhor graças tais, que o Santo ficou tomado de admiração. Teve morte ditosa, depois de receber a visida da Santíssima Virgem.
XI – A venerável Irmã Joana de Jesus e Maria, franciscana, meditando um dia sobre o Menino Jesus perseguido por Herodes, ouviu um grande rumor, como de soldados à procura de alguém, depois viu diante dela um belíssimo Menino, quase sem respiração, que fugia e lhe dizia: “Joana, acode-me, esconde-me; eu sou Jesus de Nazaré, e fujo dos pecadores que querem matar-me e que me perseguem mais do que Herodes; salva-me”.
XII – O padre Zucchi, da Companhia de Jesus, tinha grande devoção ao
Menino Jesus, cujas imagens o ajudavam a ganhar muitas almas para Deus.
Conta-se em sua vida, que um dia ofereceu uma dessas imagens a uma moça, que
vivia em grande inocência, mas que estava longe de pensar em fazer-se
religiosa. Ela aceitou o presente, mas disse sorrindo: “Que devo fazer desse
pequeno Menino?” O Padre, sabendo que ela gostava muito de música,
respondeu-lhe: “Coloca-o em teu piano”. E ela o fez. Assim, tendo sempre o
santo Menino diante dos olhos, a jovem teve muitas vezes ocasião de o considerar;
começou a sentir devoção; depois concebeu desejo de tornar-se melhor, de sorte
que o seu instrumento a movia mais á oração do que à música. Enfim, tomou a
resolução de deixar o mundo e abraçar o estado religioso. Quando, cheia de
contentamento, contou ao Padre Zucchi que o Menino lhe ganhara o coração e que,
desprendendo-a das afeições terrestres, conquistara todo o seu amor, entrou no
convento e levou vida perfeita.
NOTA: talvez por algum de transcrição, a publicação não se refere ao exemplo n. VI
(Extraído de: “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – de Santo Afonso Maria de Ligório – Coleção Clássicos da Espiritualidade Católica)
Nenhum comentário:
Postar um comentário