Pecados sociais são aqueles cometidos por
toda uma sociedade. Assim como o pecado original foi comum a todos os homens,
pois cometido pela humanidade que existia no momento em que foi cometido, representada
pelo primeiro casal, da mesma forma existe pecado que se pode dizer coletivo,
pecado social, comum a todos os homens, pois cometido por toda a sociedade.
Quais são eles hoje em dia? Os mais comuns são o orgulho e a sensualidade, mas há
também pecados em forma de filosofia de vida, como liberalismo e o relativismo.
E são tão imperantes na sociedade moderna que quase não há quem não os cometa
em seu dia a dia, mesmo sem o notar, sem perceber sua gravidade. O liberalismo permite todo tipo de consentimentos
permissivos ao império do mau; o relativismo vê tudo que ocorre, mesmo o
império do mau, como coisa “relativa”, normal, como se diz. A tal ponto que, provavelmente, a regência do
corpo místico do demônio sobre a sociedade deve atuar mais por intermédio
destes pecados coletivos, embora existam tantos outros: adultério, amor livre, socialismo,
marxismo, etc., todos na ordem prática a simples aplicação dos dois antes
citados.
Em seus comentários sobre o Tratado da
Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem (obra de autoria de São Luís Grignion de
Montfort) feitos a seus filhos espirituais em 1951, Dr. Plínio Corrêa de
Oliveira deixa-nos entender que os pecados sociais (embora não o diga
explicitamente) ofendem primordialmente ao Espírito Santo. São pecados contra a
segunda pessoa da Santíssima Trindade, os quais, embora cometidos
individualmente afetam toda uma sociedade, todo um modo de viver, e provocam um
encalhe espiritual tanto individual quanto coletivo:
“Falando
“grosso modo”, os pecados contra o Espírito Santo que se conhecem são apenas os
gravíssimos: negar a verdade conhecida como tal e desesperar-se da salvação.
Mas há inúmeras formas miúdas de pecados contra Ele – pecados que quase todos
cometem – que, sem constituírem diretamente um pecado gravíssimo, fazem com que
contrariemos a obra do Espírito Santo em nós. Quantas defecções e estagnações
espirituais não têm aí suas raízes!
Negar
a verdade conhecida como tal. Analisemos mais
detidamente o pecado de negar a verdade conhecida como tal. Nós, católicos, não
a negamos porque, com o favor de Nossa Senhora, somos fiéis à Igreja Católica.
Mas, cada vez que, por amor a um preconceito, a um capricho, a uma
extravagância da inteligência, não aderimos a uma verdade da Santa Igreja, nós
ofendemos o Divino Espírito Santo. Cada vez que queremos ter uma opinião
particular, só pelo gosto de ser particular, não nos preocupando em pensar como
a Igreja pensa, estamos contrariando a obra do Espírito Santo.
Cada
vez que, por uma mania de conservarmos íntegra a nossa individualidade,
aberramos do espírito da Igreja, estamos contrariando a obra do Espírito Santo
em nossas almas, a qual visa conformar-nos inteiramente à Igreja Católica.
Nessas ocasiões, congelamos o progresso de nosso senso católico e, às vezes,
até acabamos por ser um escolho para o apostolado da Igreja e para o
desenvolvimento dos interesses católicos. Por quê? Por falta de correspondência
ás graças do Espírito Santo.
Desesperação
da salvação. Analisemos agora o
pecado que consiste em desesperar-se da salvação. Ele é cometido de forma plena
quando uma pessoa renuncia expressamente a se salvar. Mas há outro modo, muito
freqüente até de se cair, em grau menor, nesse pecado. É quando nos deixamos
influenciar pelo seguinte estado de espírito: “Tenho tal defeito que jamais
conseguirei vencer; aliás, é um defeito pequeno (por exemplo, o ter mau gênio),
de maneira que não vou combatê-lo”.
É um
pecado contra o Espírito Santo! Porque, de fato, Ele nos dá todas as graças
necessárias para que possamos vencer todos os nossos defeitos e, se
desesperarmos de corrigir algum, estamos, em ponto pequeno, fazendo o mesmo que
se desesperássemos de nossa salvação. A graça de Deus nos dá forças para nos
corrigirmos de todos os nossos defeitos, se temos um defeito de que não nos
corrigimos, somos responsáveis por isso. E não há por onde escapar.
Outros,
para acobertar suas falhas, dizem: “bem, para uma pessoa com mentalidade muito
especial, determinada coisa pode não ser um defeito, mas um modo de ser. Isto,
em mim, não é defeito”.
Nada de
mais falso! Quando o modo de ser não está de acordo com a razão e não se
conforma à ordem natural das coisas, é um modo de ser errado e, portanto, um
defeito. E, ainda aqui, não há por onde escapar.
Que
pensaríamos de um indivíduo que, tendo nascido com um desvio na espinha, dissesse:
“Aquele outro, que tinha a espinha direita e depois a entortou, é um
defeituoso. Mas em mim, que nasci assim, isto não é um defeito!”?
Salta à
vista que é defeito ter nascido com a espinha torta e que se deve procurar
endireitá-la.
Seria,
para um nervoso, como dizer: “em mim isto é um “tique”, uma manifestação
nervosa, um cacoete até interessante; os outros que suportem um pouco, pois,
que culpa tenho de ser nervoso?”
Ora,
raciocinando-se desse jeito, poder-se-ia perguntar: que culpa tem o carro de
andar ladeira abaixo? Entretanto, se ele não for freado, ele despenca mesmo,
abalroa os outros, e será culpado por todas as pernas e braços quebrados que
fizer rolar pelo caminho.
Não há
dúvida alguma, há culpa, não por se ter nascido com certos defeitos temperamentais,
mas por não se ter deles corrigido. O desespero de não se corrigir desses
defeitos, de não conseguir retificar o que há de errado, é uma falta de
correspondência à graça de Deus, e é, em ponto muito pequeno, um defeito na
linha de desesperar da própria salvação.
De
fato, se todos têm obrigação de ser conformes à razão, ninguém tem o direito de
não o ser, e nisto estaria cometendo este pecado.
Como
evitá-lo? Por meio da oração à Santíssima Virgem. Nossa Senhora, que é a
Medianeira Universal e necessária de todas as graças, e por meio de Quem todos
os dons do Espírito Santo se conseguem, pode obter-nos, como esposa do Espírito
Santo, todas essas graças. É enquanto Esposa do Divino Espírito Santo que
devemos rezar a Ela.”[1]
Como se vê, Dr. Plínio comenta sobre pecados
cometidos individualmente, mas sabemos que é toda uma sociedade que os comete e
impele ritmo de vida favorável ao seu livre curso, sendo, portanto, pecados
sociais.
[1] Extraído de apostila divulgada entre os discípulos de Dr. Plínio em 1967, após revisão do Autor, sob título de “Comentários de Dr. Plínio sobre o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”. A conferência original datava do ano de 1951.
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