O espírito de risadas, de humorismo
constante: este estado de espírito predomina completamente na sociedade moderna.
Elegeram o riso como bem supremo da felicidade social. Até mesmo autoridades
religiosas de grande peso vivem sorrindo para demonstrar a todos que ele
representa um estado de completa felicidade. Por exemplo, João Paulo I, era chamado
por alguns do “Papa do sorriso” porque, realmente, ele tinha um sorriso
cativante. João Paulo II tinha menos, mas demonstrava popularidade incomum.
Bento XVI não era bem assim, mas muito sério e compenetrado de sua missão. Seu
sucessor, no entanto, vive sorrindo. É o apanágio, o exemplo, mostrado a todos
os católicos da “felicidade” baseada no sorriso fácil. Segundo essa mentalidade
o católico tem que viver sorrindo, ou procurar sempre ouvir ou contar algumas
piadas para despertar o sorriso nas pessoas. No entanto, não há um só exemplo
no Evangelho que fale das risadas de Nosso Senhor Jesus Cristo, tudo indica que
Ele nunca sorriu, mas, pelo contrário, chorou muito. Nas últimas aparições de
Nossa Senhora é comum vê-La chorando, mas nunca sorrindo.
Conforme esta mentalidade moderna é feliz
quem sorri, ou então, o sorriso faz a pessoa feliz. Alguns provérbios populares falam sobre o
sorriso. Diz um ditado indiano que “se um homem ri, é de outrem; mas se chora é
por si mesmo”; um provérbio medieval diz que o “riso abunda na boca dos tolos”.
“Muito riso é sinal de pouco siso”, diz um ditado brasileiro.
Dr. Plínio Corrêa de Oliveira tem alguns
comentários sobre o riso: “Rir e chorar são situações efêmeras na vida.
Habitualmente o homem nem ri nem chora, ele é sério”. Em outra oportunidade ele
disse que há soldados que vão para a guerra por medo de um riso, para não cair
no ridículo; “não há que assuste mais que os poltrões do que serem
ridicularizados. Não sejamos nós como esses poltrões, mas enfrentemos o riso
toda vez que se fizer necessário por causa de Deus”. Nesse exemplo citado por
Dr. Plínio, o riso é usado como pressão psicológica e não a satisfação interior
por algum bem recebido.
Um jeito
de ficar sério
Numa rápida conversa com seus discípulos, Dr.
Plínio falou o seguinte sobre a seriedade, que é o contrário do riso fácil:
“No que é que consiste a
verdadeira seriedade? Um jeito prático, experimental, de a gente saber o
que é a seriedade, sabe o que é? É o estado de espírito que o homem tem
quando está sozinho.
Imaginem um homem que
esteja só, que esteja sozinho há uma hora e ainda tem diante de si mais 3 horas
para ficar sozinho. Este é um homem que está sério. É uma noção experimental,
não é teórica, mas é muito boa. Isso porque desaparece a vontade de fazer papel
diante dos outros, desaparece a possibilidade de estar mentindo para si. E a
verdade vem lá do fundo. Ela olha para ele como ele é, e ele olha para ela como
ela é. E então a pessoa começa a olhar para as coisas como elas de fato são.
Então, esta é a seriedade.
Por isso é que tão pouca gente
gosta de estar só. É porque não gosta de estar sério, pois a seriedade não diz
sempre coisas agradáveis. Ela poucas vezes é divertida. É ou não é verdade que
vocês acham monótono estarem sozinhos?
Mas, se estivermos
juntos, não estaremos sós! Não tem remédio!
... Imaginem um de vocês
colocado sozinho numa sala enorme de um museu muito interessante. Mas a
condição é de passar 5 dias sozinho ali. Ainda que a sala do museu estivesse
cheia de jóias, cheia de quadros, cheia de objetos interessantes como múmias
egípcias, e outras coisas, passadas as primeiras horas, duas horas, vocês já
teriam vontade de ir embora, não é verdade ?
Bem, Nosso Senhor gostava
de estar só. São João Batista gostava de estar só. São João Evangelista também.
Todos os grandes santos gostavam de estar só.
Eu vou contar um fatinho
de São Bernardo para ilustrar o que estou dizendo a respeito do silêncio e
da seriedade.
São Bernardo foi durante
a Idade Média o maior ou um dos maiores oradores do tempo dele, orador sacro.
Ele ia à tribuna, falava, era uma coisa de empolgar, arrastava todo mundo, etc,
etc.
Numa ocasião ele foi pregar em Colônia, uma
grande cidade da Alemanha às margens do Rio Reno, e que sempre foi uma cidade
muito povoada. Uma multidão foi ouvi-lo. Ele fez um sermão que despertou tanto
entusiasmo, que quando ele desceu da tribuna, o povo avançou em direção
dele!
..
E o imperador da Alemanha
que estava assistindo o sermão, viu que a população avançava por cima da tropa,
porque queriam tocar em São Bernardo. O jeito que o imperador teve, sabe qual
foi? Para salvar a vida de São Bernardo ele pôs São Bernardo à cavalo nas
costas dele!
E o
povo não ousava mexer com o imperador.
Ainda mais na Alemanha o resultado não é brincadeira quando se mexe com
o imperador. Desse jeito ele salvou a vida de São Bernardo.
Esse
santo era um homem que vivia cercado das multidões que o ovacionavam. Se
ele fosse um mega, dava para ter delírio. Sabe qual foi a exclamação
dele, numa ocasião em que ele conseguiu fugir da multidão para o convento e lá
ficar só?
Foi:
"Ó beata solitudo, ó sola beatitudo!" O que traduzido quer
dizer: "Ó Bem aventurada solidão, ó tu que és a única
felicidade!"
Nesse
convento de trapistas que ele fundou não falam nunca.
Este é um homem sério, mas de uma
seriedade sem carranca. Ele foi o autor de duas orações mais doces que há, a
Nossa Senhora: a Salve Regina e o Memorare.[1]
É claro que há vários tipos de riso e de
sorriso. Há o riso sério ao lado do riso da chacota e da pilhéria degradante. Muita
gente tem medo do riso de escárnio e se comporta conforme as modas da sociedade
apenas por causa disso. Quer dizer, há o riso e o sorriso proveniente da falta
de seriedade, e é este que não devemos aceitar. E há o sorriso comum, normal,
em que as pessoas manifestam assim a satisfação pessoal com uma felicidade
passageira. Um exemplo: quando duas ou mais pessoas se encontram após longo
período de separação, a primeira manifestação delas é o sorriso. Isso é a coisa
mais normal do mundo.
Qual a razão de ás vezes o sorriso ser
esboçado espontaneamente, revelando uma satisfação interior? Segundo filósofos
o sorriso é a manifestação externa da inteligência: geralmente sorrimos quando
descobrimos pelo intelecto uma verdade oculta, revelada de surpresa. Se não
houver tal surpresa, se a pessoa já sabia daquilo que se revela, nem sempre
ocorre o sorriso. Deste modo, o exagero em se sorrir a cada instante por coisas
banais e piadinhas não revela bem o lado da inteligência, do intelecto, mas
apenas a sensibilidade grosseira de um prazer instantâneo.
Não exprobramos aqui o riso e o sorriso
natural, surgido como fruto de uma satisfação pessoal e interior da pessoa.
Mas, sim, do riso de escárnio, o riso sem motivo justo. E hoje é comum este
tipo de riso, chamado de humorismo, muitas vezes até imoral, indecente e
ofensivo às pessoas.
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