quinta-feira, 9 de setembro de 2021

O FALSO PROFETISMO NO MUNDO MODERNO

ADIVINHAÇÃO – Adivinhar é procurar investigar para saber a vontade de Deus, como sobre o futuro dos homens, de modo geral por meios ilícitos. Se a adivinhação for feita por meio de orações, feitas por alguém que tenha dons proféticos, pode ser lícita. De modo geral as adivinhações constam nas Sagradas Escrituras como práticas condenadas, ilícitas ou imorais, haja vista que usando recursos que não os divinos para perscrutar a mente de Deus. Tais recursos são oriundas de bruxarias, necromancias, espiritismo, encantamentos, oráculos, predições, leituras da sorte, magias, etc. Especialmente reprováveis quando usam o culto de falsos deuses para conseguir seus fins.

Alguns destes recursos podem ser usados na forma lícita e na ilícita, como os sonhos; exemplo de sonho lícito, de Gedeão: “Eu tive um sonho, e me parecia que via como um pão de cevada cozido debaixo do rescaldo que rolava para baixo, e se deixava cair sobre o campo dos madianitas; e tendo chegado a uma tenda, a sacudiu, e contestou, e lançou de todo por terra” (Jz 7,13; ). Já os sonhos ilícitos foram condenados desta forma nas Sagradas Escrituras: “Se se levantar no meio de vós um profeta, ou qualquer que diga que teve uma visão em sonhos, e predisser algum sinal de prodígio, e suceder assim como ele falou, e te disser: Vamos, e sigamos os deuses estranhos que não conheces e sirvamo-los: não ouvirás as palavras de tal profeta ou sonhador: porque o Senhor vosso Deus vos tenta, para se fazer manifesto, se o amais ou não, de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma. Segui o Senhor vosso Deus, e temei-o; e guardai os seus mandamentos e ouvi a sua voz: a Ele servireis, e a Ele vos unireis. Aquele profeta, porém, ou aquele inventor de sonhos será entregue à morte....” Dt 13, 1-5). O rei Saul usou dos recursos legítimos de sonhos para saber a vontade de Deus, por meio também de profetas e sacerdotes, mas não obteve resultados por falta de fé. Procurou, então, consultar uma necromante (I Sam 28,6-25; 31), invocando a alma do profeta Samuel, pelo que foi repreendido e castigado. 

Nesse episódio encontra-se a condenação explícita de Deus ao espiritismo como invocação dos mortos. Dentre os pagãos era comum a procura de adivinhação por diversos métodos. Mas, não foram capazes, por exemplo, de explicar o sonho do Faraó (Gen 41, 8) ou o do rei Nabucodonosor (Dan 2, 10), nem as misteriosas palavras surgidas na parede da sala do festim de Baltazar (Dan 5, 8). Usavam também outros recursos, como o vôo dos pássaros, as vísceras dos animais sacrificados, plantas e demais animais vivos (4 Rs 17,17; 21, 6; Ez 21, 21; Os 4,12). Todas as formas de adivinhação eram proibidas entre os hebreus (Lev 20.6). Outros métodos pagãos: quiromancia, cristalomancia, astrologia, agouros,etc. A igreja os considera como pecado contra o primeiro mandamento da Lei de Deus. 

 PROFECIA – Não é o mesmo que adivinhar, mas faz parte do mesmo tipo de comportamento: o desejo de conhecer os segredos do futuro. 
Assim como antigamente, o mundo atual está repleto de falsos profetas, alguns dos quais analisamos abaixo, especialmente aqueles que imaginam o surgimento de uma nova ordem mundial ou nova sociedade política. Não tratamos aqui das profecias de natureza religiosa, também muito profusas, mas apenas as de natureza política e científica. Sobre o poder que o demônio teria de profetizar assim falou Santo Antão: “Igualmente, a respeito das águas do rio, falam a torto e a direito. Tendo constatado chuvas abundantes nas regiões da Etiópia, e vendo que essa é a causa da cheia do rio, antes que a água chegue ao Egito, correm na frente e o dizem. Os homens também o diriam, se pudessem correr como eles. 

Do mesmo modo como o vigia de Davi, postado em lugar elevado, via mais facilmente que um homem vinha do que quem estava embaixo, e como o corredor anuncia a outros não o que não existe, mas as coisas que estão em via de se realizar e já realizando-se, assim vão anunciar e indicar aos outros coisas futuras, mas é com a única finalidade de enganá-los. Nesse meio tempo, se a providência dispuser outra coisa a respeito das águas e dos viajantes, o que ela pode fazer, os demônios mentiram, e aqueles que neles creram foram enganados. “Foi assim que se deram as adivinhações dos helenos e que foram enganados outrora pelos demônios, depois a ilusão se acabou. Porque o Senhor veio e reduziu à impotência os demônios com seus artifícios. Por si mesmos nada sabem, mas, semelhante a ladrões, exibem o que vêem nos outros. Deve-se dizer que mais conjeturam que prevêem. Aliás, quando dizem a verdade, que ninguém os admira muito. Também os médicos, da experiência que têm com os doentes, e tendo em vista a mesma doença em vários, muitas vezes predizem mediante conjetura, em virtude do hábito. Ninguém dirá por isso que predizem mediante inspiração divina, mas mediante a experiência e o hábito. Portanto, quando os demônios falam por conjetura, que ninguém os admire, nem dê atenção ao que dizem.

Qual é a utilidade em ficar sabendo por eles as coisas futuras alguns dias antes que se realizem? Qual a necessidade de sabê-las, ainda que possam verdadeiramente conhecê-las? Esse conhecimento não é nenhum instrumento de virtude nem de bons costumes. Ninguém de nós será julgado por não saber essas coisas, e nenhum se torna feliz por tê-las conhecido e por sabê-las. Cada um será julgado a respeito destes pontos: conservou a fé, guardou fielmente os mandamentos? Tornou-se comum no decorrer do século passado e no início deste se ouvir o pronunciamento de algum "especialista" sobre temas da atualidade. Em geral a mídia não dá a tais elementos o título de "profeta", talvez por achá-lo anacrônico. O termo mais comum é o de "guru", filósofo, pensador, analista, cientista, ou, simplesmente, “especialista”. Um exemplo temos no italiano "Toni" (ou Antonio) Negri, tido como filósofo e "o mais debatido pensador da esquerda européia". Trata-se de um criminoso, preso desde 1997, acusado de ter sido o mentor do grupo terrorista "Brigadas Vermelhas" que assassinou o primeiro-ministro Aldo Moro em 1978. Pois bem, tal "pensador" publicou um livro em 2000, com o título de "Império", no qual o autor diz estabelecer nova terminologia para aquela palavra, pela qual não mais são denominadas as nações que estabelecem o império, mas uma "nova ordem" (diríamos um caos) em que são eliminados os conceitos de nação, fronteira, raça, etnia, povo, etc. Talvez daí tenha surgido o movimento “Nova Ordem Mundial” em certa elite de magnatas das finanças. Tal livro foi descrito pelo jornal "New York Times" como a "primeira grande síntese teórica do novo milênio", pois trata da estrutura política que sustenta o chamado mundo globalizado numa organização inteiramente indiferente a nações, fronteiras, povos, raças, etc. 

Nesta perspectiva, os Estados-nações não têm mais controle sobre movimentos de capital ou lutas sociais. Nesta nova configuração o "império" não tem mais limites e nem se circunscreve a um povo ou país. No texto o autor insinua que o mundo capitalista ruiria após o comunista, os EUA atacariam os países árabes, que lhe suscitaria maior ódio em todo o mundo e terminaria por causar-lhe uma bancarrota financeira e política. Segundo o autor, os americanos não tinha recursos suficientes para manter a guerra contra o Iraque, e isto era feito pelas organizações deste imaginado "império" extra-nacionalista e globalizado... Como se sabe, a URSS sucumbiu e caiu o muro de Berlim, símbolo da divisão dos dois mundos, capitalista e comunista. Faltou cair o mundo capitalista, representado pelos EUA, e para tanto teria de haver uma catastrófica recessão. Vários “profetas” passaram então a prever o que viria depois, que tipos de sociedades os homens construiriam após o fim da "guerra fria” e do suposto fim do comunismo. 

O americano James Dale Davidson e o inglês William Reesmogg, ambos financistas, publicam o livro “The great reckoning” (O grande ajuste de contas), onde afirmam que o mundo estaria a caminho de uma grande recessão, uma catástrofe social como poucas já registradas na história. Grandes companhias, bancos e instituições poderosas, vão falir uma após outra. O desemprego será maior do que em qualquer outra época, e os mais privilegiados terão de abandonar as grandes metrópoles em busca de segurança. O uso de certas drogas será legalizado para conter a explosão social, e o islamismo substituirá o marxismo como desafio ideológico. “O Grande ajuste de contas” prevê, ao final de tudo, um mundo melhor do que o atual para os sobreviventes da catástrofe. Outro “profeta” é o francês Pierre Lellouche, conselheiro do ex-prefeito de Paris, Jacques Chirac, especialista em questões estratégicas. Segundo ele, com o fim da “guerra fria”, não prevalecerá uma nova ordem Norte-Sul, mas uma desordem mundial que poderá durar até três décadas. Revoluções nas antigas repúblicas soviéticas, ameaça nuclear de países islâmicos contra a Europa, etc. Enquanto isso, prolifera nos Estados Unidos a construção de residências subterrâneas, dando a impressão a muitos de que o futuro será a volta para as cavernas e ao nomadismo. 

Tudo isto indica que estaríamos caminhando para o caos. O jornal “L’Express”, de 13.11.91, publicou uma entrevista de Jacques Séguela, presidente de instituto de pesquisa dos costumes, na qual o mesmo previa o fim da chamada “sociedade de consumo”, fruto da ecologia e da preocupação de preservação do meio ambiente. O grego Cornelius Castoriadis, filósofo radicado na França desde 1945, também faz suas previsões. Seu pensamento está contido nos livros “Socialismo ou Barbárie”, “Os Destinos do Totalitarismo”, “A Instituição Imaginária da Sociedade” e “As Encruzilhadas do Labirinto”, mas pode-se resumir no seguinte: com o agravamento do caos na URSS e no Ocidente, surgirá então um mundo autogovernado de coletividades autônomas. O filósofo disse que há uma minoria que já trabalha neste sentido, e que a palavra-chave é despertar o público da apatia e esperar que cresça a saturação pela sociedade de consumo. Está proclamado que o futuro da humanidade é a autogestão, e isto caminha para as conclusões filosóficas do indigenismo, do autoctonismo, conforme apregoam os estruturalistas. Este mito autogestionário era um princípio defendido pelo Partido Socialista francês, mas foi denunciado pelo Dr. Plínio Corrêa de Oliveira em famoso manifesto publicado nos maiores jornais do mundo, alcançando 33 milhões de exemplares. Após tais denúncias o PS francês, assim como outros da Europa, começou a perder popularidade e não se fala mais em autogestão. 

Depois da segunda guerra contra o Iraque, a mídia deu ênfase ao escritor francês Emmanuel Todd. Ocorre que referido historiador e demógrafo havia publicado um livro na década de 70, "La Chute Finale" (A Queda Final), onde o mesmo previra a previsível ruína do império soviético. Decorridos mais de 30 anos, o autor publicou outra obra: "Após o Império: Ensaio sobre a Decomposição do Sistema Americano", que conquistou a lista dos mais vendidos em vários países europeus, editado em 2002, mas já traduzido para mais de 11 idiomas. Seguindo a corrente de "profetas" modernos, ele também prevê a ruína do império econômico dos Estados Unidos. Emmanuel Todd especializou-se em previsões. Nos anos 90 havia publicado outro livro profético, intitulado "A Ilusão Econômica", onde critica a globalização da economia e a União Européia, prevendo o fracasso desta última. Isto vem lhe aumentando o prestígio como analista seguro de eventos futuros no mundo. . 

Assim como existem os que prevêem o futuro da sociedade humana em sua forma política e social, há também aqueles que falam sobre mudanças na própria estrutura genética, como o cientista britânico Martin Rees. Dedicado à astronomia, pertencente à Royal Society e do King's College da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, publicou um livro com o título "Our Final Hour" (Nossa Hora Final). O autor critica no livro os perigos que a alta tecnologia pode causar ao mundo contemporâneo. Se sobrevivermos a nós mesmos e às nossas máquinas cada vez menores e mais perigosas, temos um encontro marcado com um sombrio futuro "pós-humano". No subtítulo de capa o autor deixa entrever qual o objetivo de seu livro: "Alerta de um cientista: como terror, erro e desastre ambiental ameaçam o futuro da humanidade neste século - na Terra e além". O maior perigo que o autor chama a atenção é para a guerra biotecnológica e o que ele chama de "nanotecnologia" (o que seria o mesmo que pequenas tecnologias ou microtecnologias). Desta forma seria possível se construir armas de pequeno porte tão letais quanto às nucleares instaladas nas ogivas de foguetes. As novas tecnologias poderão concentrar poderes excepcionais não somente em pequenas nações mas até mesmo em um só indivíduo, conduzindo à derrocada da civilização. 

Caso o homem consiga suplantar todas estas ameaças e sobreviva, estarão abertas as portas para a transmutação da espécie. A seleção natural daria lugar à manipulação genética artificial. Implantes biônicos conectados ao cérebro humano poderiam, em tese, ampliar as habilidades existentes e até mesmo favorecer novas faculdades. Seriam novas características genéticas que o homem adquiria na era "pós-humanidade", talvez adquiridas até mesmo em colônias espalhadas pelo espaço cósmico, caso a terra fique inabitável. O autor resume o início deste processo com a possibilidade de 50%, admitida por ele, de haver ainda neste século uma hecatombe de destruição em massa.
Curioso é que tais profetas só preveem o Apocalipse ou uma mudança da sociedade segundo critérios agnósticos ou revolucionários. Nada falam sobre uma reforma profunda da sociedade como foi previsto por São Luís Grignion de Montfort, que será o que ele denominou de Reino de Maria. Essa é a verdadeira profecia para nossos dias.

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