Os episódios narrados a seguir mostram uma
característica peculiar de São Francisco Xavier, o Apóstolo das Índias: seu
caráter guerreiro.
As
conquistas cristãs despertam perseguição muçulmana
Decorrido algum tempo após a conquista de
Malaca, na Índia, e o crescente avanço do cristianismo, logo surgiu um déspota
muçulmano tentando destruir o bom andamento da catequese e de nova cristandade
que ali se desenvolvia. No dia 9 de outubro de 1547 uma armada islâmica atacou
o porto da cidade e destruiu os navios que estavam ancorados.
Produziu um geral terror nos habitantes e todos
correram às armas; eram duas horas da manhã. O tempo estava quente, um luar
sinistro iluminava a cidade inteira; gritos longínquos, alegres e prolongados
como os gritos de vitória, e multiplicados por numerosos ecos, misturavam-se
com o estrondo das descargas sucessivas de uma formidável artilharia.
Homens, mulheres, crianças, índios,
portugueses, toda a população, enfim, está de pé em um instante. Cada um
procura conhecer o perigo de que é ameaçado; dirigem-se ao porto... Está em
fogo!
Todos os navios ancorados são presa das chamas,
o incêndio que devora aquele rico meio de defesa deixa a cidade à mercê dos
bárbaros que a atacam tão traiçoeiramente! Contudo ela procura defender-se do
interior pelo maior tempo possível, e consegue repelir os assaltantes que
investem ferozmente e contam ocupar a fortaleza antes do dia.
O
terror islâmico como arma de conquista
Ao nascer do sol, sete pobres pescadores entram
na cidade; tinham sido surpreendidos pelo inimigo, que depois de lhes cortar os narizes e as
orelhas os enviava, assim mutilados, com uma carta do general em chefe do
exército muçulmano a Dom Francisco de Melo, governador de Malaca.
Pelo teor da carta, abaixo transcrita, vê-se
que tipo de mentalidade predomina entre os adeptos de Maomé:
“Bajaja Soora, que tem a honra de levar em
vasos de oiro o arroz do grande sultão Alaradim, rei de Achém e das terras que
são banhadas pelos dois mares, te ordena que escrevas ao teu rei dizendo-lhe
que estou aqui, mau grado seu, lançando o terror na sua fortaleza pelo meu
feroz rugido, e que estarei quanto tempo me parecer. Eu tomo por testemunha não
somente a gente que a habita mas todos os elementos até o céu e a lua, e lhes
declaro pela minha própria boca, que o teu rei é sem valor e sem nome, que os
seus estandartes abatidos não poderão jamais levantar-se sem permissão daquele
que lhos vence hoje; que, pela vitória que alcançamos, o meu rei tem debaixo
dos seus pés a cabeça do teu, que é deste momento seu vassalo e seu escravo; e
a fim de que tu próprio confesses esta verdade, te provoco e desafio ao combate
no local em que me acho, se te sentes
como coragem de ousar resistir-me”.
O
governador não se inquietaria absolutamente com aquela carta se pudesse dispor da sua marinha; porém todos os navios
portugueses se achavam destruídos pelo inimigo; e não podia aceitar o combate
naval; a situação era, portanto, embaraçosa; mandou pedir ao Padre Xavier que
viesse auxiliar com o seu parecer o conselho reunido em sua casa.
Um
santo com sangue de fidalgo nas veias aceita o desafio da guerra
Não
contavam os invasores que na cidade havia um grande santo, São Francisco
Xavier. Havia acabado de celebrar a Santa Missa na igreja de Nossa Senhora do
Monte, quando foi chamado à presença de D. Francisco de Melo, que lhe dá a ler
a carta de Soora, e lhe pede a sua opinião. Xavier que, segundo a expressão de
M. Crétineau-Joly, - “tinha o velho sangue de fidalgo nas veias –
respondeu-lhe:
-
Senhor, o sultão é muito mais inimigo do Cristianismo do que de Portugal. Por
honra da religião cristã é necessário aceitar-lhe o combate; um insulto
semelhante não pode ficar impune! Se vós suportais aquela injúria deste rei
muçulmano, a que se não atreverão todos os outros? Não! Não! É necessário
aceitar o desafio, e provar aos infiéis que o Criador do Céu e da terra é muito
mais poderoso que o seu rei Alaradim.
Primeiros
sinais de fraqueza dos cristãos
A
partir daquele momento, São Francisco Xavier começou a sentir o quanto os
cristãos daquele lugar eram dominados pelo espírito da moleza e falta de
espírito guerreiro. O primeiro a manifesta isso foi o próprio governador:
-
Mas, meu Padre, como quereis vós que vamos para o mar? Em que navios quereis
que embarquemos? Dos oito que existiam no ancoradouro, só nos restam quatro
cascos de fustas arruinadas! E poderiam elas prestar-nos algum serviço contra
uma esquadra tão numerosa?
-
Quando os infiéis tivessem um número de navios muito mais considerável ainda,
respondeu Xavier, não seríamos nós os mais fortes, tendo o Céu por nós? E se
Deus está por nós, quem contra nós? Poderemos porventura ser vencidos combatendo
em nome de Jesus Nosso Senhor?
O
grande Xavier pronunciara aquelas palavras com um acento tão inspirado, que não
deixava hesitação por um só momento sobre o partido a tomar. Dirigem-se todos
ao arsenal; Francisco Xavier guia e anima a todos em geral e a cada um em
particular: descobrem uma barca chamada “Catur”, em bom estado e destinam-na
para o combate. Existiam sete fustas fora do serviço e ele julga que podem ser
reparadas; porém Eduardo Barreto, capitão e diretor dos armamentos, declara a
empresa impossível:
-
Aos armazéns do estado, diz ele, falta neste momento tudo que é necessário para
a obra da reparação e equipamento; demais, o cofre de reserva está
absolutamente sem dinheiro.
Xavier
agarra-se então aos sete capitães dos navios, membros do conselho; abraça-os e
suplica-lhes que se encarregue cada um da reparação e do armamento duma fusta, e sem lhes dar tempo
para responder, designa a cada um a sua, com tanta viveza nos movimentos, tanta
graça na sua exigência e atração nas suas palavras, que todos aceitam com
entusiasmo e empregam imediatamente naqueles trabalhos mais de cem operários, à
sua custa, em cada embarcação. Em cinco dias ficaram elas em estado de serem
lançadas ao mar. Andréa Toscano, um dos mais distintos marinheiros, tomou o comando
da “Catur”. Cada capitão vai comandar o barco que reparara, e recebe a seu
bordo cento e oitenta soldados. D. Francisco Deza toma o comando da frota.
Um
guia espiritual seguro tanto na batalha quanto nas orações
São
Francisco Xavier agora irá enfrentar o espirito de moleza de toda a população,
e vai tentar reanimar a todos com coragem e determinação.
O
heroico Xavier pediu para acompanhar a armada naval; os habitantes de Malaca
opuseram-se tenazmente, considerando-se abandonados por Deus se o santo Padre
os deixasse num momento de tão grande ansiedade para eles. Dirigiram-se em
massa à casa do governador para lhe suplicarem que retivesse o santo Padre; D.
Francisco de Melo prometeu-lhes pedir aquele favor ao seu apóstolo
deixando-lhe, contudo, a decisão:
-“Vamos
para ali todos! Exclamaram eles imediatamente; vamos procurar o santo Padre!
Ele terá piedade de nós; não nos poderá recusar!”
Efetivamente,
Xavier não pôde resistir às suas solicitações e às suas lágrimas:
-
Sim, meus queridos irmãos, lhes respondeu ele, eu ficarei entre vós durante
todo o tempo desta guerra; orarei convosco pelo triunfo da nossa valente
armada, e espero que Deus, combatendo por ela, no-la restituirá vitoriosa.
Aquelas
singelas palavras bastaram para acalmar a grande consternação do povo.
Na
véspera do embarque da expedição, Xavier reuniu na igreja os oficiais e os
soldados da armada naval:
-
Eu vos acompanharia, lhes disse ele, de alma e coração. Vossas famílias
pediram-me com tantas lágrimas que ficasse com elas para as consolar e amparar
durante a vossa ausência, que não pude resistir às suas instâncias e à sua dor;
mas seguir-vos-ei com os meus votos e as minhas orações. Elevarei as mãos para
o Deus dos exércitos, enquanto vós arremeteis o inimigo do nome cristão.
Combatei com valor, não para adquirir uma glória vã e transitória, mas uma
glória sólida e imortal!
No
calor do combate, dirigi a vista para o Divino Salvador crucificado cuja causa
defendeis e sustentais, e em vista das suas veneráveis chagas, não temais as feridas e a morte! Bem felizes vos devereis julgar se vos fosse
permitido dar vida por vida...
Soldados
cristãos juram fidelidade até á morte
Ao
ouvir o fervoroso discurso do Santo, todos se animaram e fizeram um juramento,
o qual é consagrado com a confissão e comunhão de todos. Era um costume cristão
que nas vésperas dos combates os soldados se ajoelhassem nos confessionários e,
após assistirem missa, todos comungarem. Estavam assim preparados de corpo e
alma, tanto para a vida quanto para a morte.
-
Meu Padre, exclamaram a voz todos aqueles bravos guerreiros, meu Padre, nós
juramos aqui, perante Deus e perante vós, combater os infiéis até à morte!
Juramos dar o nosso sangue até á última gota pela causa de Jesus Cristo!
-
Este juramento impressiona-me profundamente, replicou Xavier, cujas lágrimas
traíam a comoção que o dominava. Jesus Cristo ouviu-o, aceitou-os; vós sois
de hoje em diante “a falange de Jesus
Cristo”! e eu vou abençoar-vos em seu nome.
No
mesmo instante, todos aqueles bravos guerreiros caem de joelhos, o grande
apóstolo implora para eles as bênçãos celestes, depois, ouve em confissão a
cada um e administra-lhes a sagrada comunhão.
Primeira
tentação de desalento no momento do embarque
A
expedição embarcaria na manhã seguinte com um entusiasmo que parece pressagiar
a vitória. Levantam-se ferros... O navio almirante faz ouvir um ruído
medonho!... Abre-se uma veia de água que deixa apenas o tempo necessário para
salvar a equipagem, e o navio submerge-se!... O povo cobria a praia; grita vigorosamente
contra a partida da frota, pede que se renuncie àquela expedição, revolta-se
contra o santo Padre, não obstante toda a veneração, todo o amor que lhe
inspira.
A
equipagem do navio almirante estivera em tamanho perigo e tão próxima da morte,
que aquele povo exasperado pelo receio duma nova desgraça, perdendo a
consciência do que diz e do que faz, acusa de imprudente aquele de quem recusava separar-se dois dias antes.
O
governador manda chamar o santo Padre, que o enviado encontra no altar quase no
fim da missa; ele aproxima-se para lhe falar; o Santo acena-lhe que espere.
Depois da missa, Xavier diz ao enviado do governador, sem dar tempo de falar:
-“Ide
dizer a vosso amo, da minha parte, que não nos devemos desanimar pela perda dum
navio”.
Conservou-se
ainda por algum tempo em ação de graças aos pés do altar da Santíssima Virgem,
e ouviram-lhe exclamar com todo o ardor de sua alma, antes de se retirar:
-“Meu
Jesus, amor do meu coração! Olhai-me dum modo favorável! Considerai vossas
adoráveis chagas! Lembrai-vos que elas nos dão o direito de pedir-vos o que
desejamos! E vós, Virgem Santa, sede-me propício!”
E,
erguendo-se, corre à fortaleza, onde o conselho reunido o aguardava:
-
Que é isto, pois! Vós perdeis a coragem por tão pouco? - Diz ele ao governador.
-
Mas, meu Padre, o povo está exaltado! Fostes vós que provocastes esta triste
crise...
-
Vamos ao porto, senhor, tudo isto vai arranjar-se, eu vo-lo prometo.
A
gente que acabava de escapar da morte estava consternada. Xavier enche-se de
toda a sua coragem para lhes dizer:
-
Sede firmes na vossa resolução, não obstante esta desgraça que Deus não
permitiu senão para experimentar a vossa fidelidade. Ele vos salvou do
naufrágio, como fim de vos obrigar a cumprir a promessa que lhe fizeste sob juramento!
São
Francisco Xavier chamou a atenção para um detalhe importante, esquecido na
aflição desesperadora em que eram tentados: o incidente ocorrido na hora do
embarque foi obra de Deus, que assim evitou algo pior que iria ocorrer em pleno
mar, ou em combate, onde muitos morreriam.
Ouvindo
isto, mudaram de opinião:
-
Sim, sim, meu Padre! Nós sustentaremos e cumpriremos o nosso juramento!
Tal
foi o grito de expansão unânime da guarnição do navio almirante, ao qual todas
as outras responderam com o mesmo entusiasmo da véspera.
Continua
a tentação do desânimo
Apesar
disso, o governador, deixando-se influenciar pela oposição dos habitantes,
persiste em declara a guerra impossível... Eleva-se então um brado formidável
das fileiras do exército; os capitães encarregam-se de pedir a palavra em nome
das equipagens, e anunciam ao governador que os soldados preferem a morte à
inação; que eles juraram solenemente a Jesus Cristo combater os infiéis até à
última gota do seu sangue, e não cessam de repetir:
“Nós
devemos esperar tudo das orações e das promessas do santo Padre Francisco!”
A
esta última palavra, Francisco Xavier
ergue-se com tom inspirado que dominava todos os espíritos e diz ao governador
e ao conselho:
-
A fusta perdida será bem depressa substituída; antes do pôr do sol nos chegarão
melhores navios: eu vos anuncio isto em nome de Deus!
Seguiu-se
um momento de silêncio, depois do qual ficou convencionado que se adiasse a
resolução para a manhã seguinte.
Chegam
reforços previstos pelo Santo
O
dia correu longo para todos!... O sol estava quase a desaparecer quando vieram
anunciar que do campanário da igreja de Nossa Senhora do Monte se descobriram
duas velas na direção do norte. O
governador manda-se reconhecer por um bote: eram dois navios portugueses que
vinham de Patana, masque não deviam tocar em Malaca; pertenciam eles a Soares
Galega e a seu filho Baltazar, e cada um comandava o seu.
Achava-se
então o padre Xavier em oração na igreja de Nossa Senhora do Monte; foram ter
com ele e disseram-lhe:
-
Meu Padre, os capitães dos navios não quere ancorar e a vossa predição não se
cumprirá!
Xavier
mete-se no bote que havia reconhecido os navios portugueses e dirige-se para
bordo deles. Os capitães apenas descobriram o santo Padre, viraram de bordo,
aproaram para o bote, recebem-no com veneração e põem-se à sua disposição,
eles, seus navios e suas equipagens, para o serviço de Deus e do rei.
Foram
recebidos com entusiásticas aclamações do povo, e no seguinte dia de manhã, 25
de outubro, logo que Xavier enviou ao almirante Deza o estandarte que havia
benzido, a esquadrilha levantou ferro e partiu.
Ânimo
forte mantido pelas orações
Um
mês depois da partida da esquadra não se tinham recebido senão notícias
indiretas, umas mais assustadoras do que outras; o nosso santo animava a todos
e prometia o mais feliz resultado. Contudo, os dias sucediam-se naquela mortal
incerteza para as famílias, e aquele povo, sempre pronto a voltar-se para
qualquer lado, começava a queixar-se de Xavier; muitos portugueses foram até
fazer em sua presença insultantes censuras; porém o angélico Padre respondia
àqueles insultos com as mais suaves e humildes palavras, acrescentando:
-
Eu vos repito, porque tenho a certeza, que a esquadra voltará triunfante.
Decorreram
ainda alguns dias e mesmo algumas semanas na desconsoladora incerteza da sorte
da expedição! Num dia dos fins de dezembro, um domingo, pregava o santo
apóstolo na catedral, entre as nove e as dez da manhã. Pára de repente... os
músculos do seu belo rosto contraídos pela dor e pelo sofrimento; os olhos
abertos; o olhar elevado e fixo; tinha uma expressão seráfica. Depois de alguns
instantes volta-se para o auditório; mas fala-lhes em termos enigmáticos e tudo
quanto se pode compreender é que ele vê duas armadas em combate e cujos
movimentos e manobras segue com uma agitação que se manifesta em toda a sua
pessoa. Finalmente, dirigindo o seu celeste olhar para o crucifixo que tinha
diante de si, exclama em voz suplicante:
-
“Ó Jesus , Deus da minha alma! Pai de misericórdia! Eu vos rogo humildemente
pelos merecimentos da vossa santa Paixão, para que não abandoneis os vossos
soldados!”
Depois
abaixa a cabeça, apoia-se sobre o púlpito, conserva-se assim, como abismado
pela dor, durante alguns momentos, e levantando-se em seguida todo radiante,
exclama:
-“Meus
irmãos! Jesus Cristo venceu por nós! Neste mesmo momento, os soldados do seu
Santo Nome acabam de pôr em derrota a armada inimiga. Fizeram uma carnificina
horrorosa! Nós não perdemos senão quatro dos nossos bravos soldados; na
sexta-feira próxima recebereis notícias, e pouco depois tornaremos a ver a
nossa esquadra.”
O
governador e as principais pessoas da cidade não duvidaram da visão do santo
Padre; mas não aconteceu o mesmo com as mulheres e mães dos marinheiros e dos
soldados. E o suave e caridoso Xavier, que tinha empenho de beneficiar tanto os
corações como as almas, reuniu todas aquelas pobres desconsoladas ao meio dia,
e repetiu-lhes tudo quanto tinha dito de manhã, consolou-as, fortificou-as por
tal modo que elas o deixaram convencidas.
Na
sexta-feira imediata o navio comandado por D. Manuel Godinho trouxe a notícia
duma brilhante vitória; a esquadra seguiu-o de perto.
O
nosso Santo conduziu o povo para o porto a fim de receber e expedição, e tendo
o seu crucifixo levantado, fez entoar durante o desembarque cânticos de ações
de graças, aos quais todos os vencedores misturavam suas vozes com alegria.
A
presença do santo Padre fazia crescer a exaltação geral, porque, se eles
atribuíam a iniciativa da guerra ao poder da sua influência, atribuíam
igualmente o resultado ao poder de sua oração, e não se poupavam e lho
patentear com o testemunho do mais vivo reconhecimento.
Tantos
elogios, tantos aplausos, apressaram a partida de Francisco Xavier, que, além
disso, já se demorara quatro meses em Malaca. Fez embarcar no Navio de Jorge
Álvares três japoneses, dos quais falaremos mais tarde; os trinta jovens que
trouxera das Molucas partiram no navio de Gonçalo Fernandes; uns e outros foram
com o maior interesse recomendados ao reitor do colégio de Goa, que os
esperava.
Xavier,
tendo que demorar-se na Costa da Pescaria, com o fim de visitar as suas
cristandades, embarcou em um outro navio que se fazia à vela para Cochim.
(Extraído
com adaptações, da obra “S. FRANCISCO XAVIER”, de Daurignac. págs. 254/262).
1.
Com espírito de Santo Elias, como São Francisco Xavier
conduz os cristãos na guerra contra os infiéis
No
episódio a seguir o que se destaca é o espírito de fogo de Santo Elias.
A ilha de Celebes, completamente infiel e muito
considerável pela sua extensão e população, atraía o zelo apostólico do nosso
Santo; para lá foi, evangelizando em primeiro lugar acidade de Tolo, a mais
importante, e bem depressa conseguiu batizar mais de vinte e cinco mil
habitantes. Ali, como em toda parte, fez erigir igrejas e levantar cruzes, e
deixando as suas instruções para a manutenção da fé, internou-se pela ilha...
Enquanto o apóstolo ampliava o reino de Jesus
Cristo nas principais cidades daquela ilha, vieram comunicar-lhe que o rei de
Tolo, que recusara renunciar aos seus deuses para viver mais comodamente no
gozo de suas paixões, fazia destruir as igrejas e derrubar as cruzes;
acrescentava-se que ele obrigava os neófitos a calcar aos pés as cruzes
abatidas, e que o terror dominava tudo.
A esta nova, exalta-se o zelo de Xavier. Reúne
os seus amigos portugueses, em número tão somente de oito, e diz-lhes:
- Deixaremos impune um tal atentado à Majestade
divina? Mereceremos o glorioso título de soldados de Jesus Cristo se não
acudirmos em sua defesa, se não soubermos fazer respeitar a sua lei e castigar
os revoltosos do seu império? Partamos! Tomemos quatrocentos cristãos indígenas
que nos cercam, vamos atacar o rei na sua praça-forte de Tolo, sem nos importar
com o número avultado dos seus guerreiros! Que nos importa o número! Deus está
por nós; e eu vos prometo a vitória!...
- Marchemos, meu Padre! Respondem todos os
portugueses; estamos prontos a dar o nosso sangue e a nossa vida, se necessário
for, por uma só de vossas ordens!
O santo apóstolo abraça-os, aperta-os ao
coração, assegura-lhes sobretudo a mais brilhante vitória e enche-os de
entusiasmo. Prontamente se organiza o pequenino exército, marcha-se sobre Tolo
e quando se achavam já a pouca distância, o grande Xavier detém-se e prostra-se
para orar. A sua gente também se detém e ora a seu exemplo, feliz e orgulhosa
por se ver comandada por um tal chefe. Ouve-se no mesmo instante uma horrorosa
detonação... e as chamas do mais violento incêndio cobrem a cidade e a devoram!
Tolo era dominada por uma montanha... Aquela
montanha acabava de abrir-se repentinamente, e lançava, com a mais
desesperadora impetuosidade, pedras, cinza, a lava incendiária e enxofre
inflamado! Os estilhaços das rochas voam
em bocados incandescentes e caem sobre as habitações que abatem e consomem! A
terra treme, o solo parece faltar sob os pés dos habitantes que fogem e vão
buscar um abrigo nas florestas. O montão de pedras e lava, que não cessa de
cair do vulcão, excede bem depressa a altura das muralhas da cidade, onde não
fica nem um só indígena!...
Finalmente, cessa o flagelo, o Padre Xavier e os seus soldados entram na
praça e tornam-se facilmente senhores dela. Então os culpados correm a cair aos
pés do grande apóstolo, confessa publicamente os seus crimes, obtêm perdão, e a
penitência a que se sujeitam prova a sinceridade do seu arrependimento.
Celebes estava conquistada; a fé veio a ser ali
viva e ardente; Xavier embarcou para voltar a Termite, com disposição de levar
mais longe o nome de Jesus Cristo...
(Extraído de S. FRANCISCO XAVIER, de Daurignac,
págs. 238/240)
Narram fato semelhante ao ocorrido em Celebes,
ou então o mesmo sendo visto por outros cronistas. Um rei pagão dirigia-se com
seu exército a fim de atacar uma localidade cristã, fato que já vinha ocorrendo
quando o mesmo destruída tudo a seu redor e matava cruelmente as pobres vítimas
indefesas. Correram a São Francisco Xavier pedindo ajuda. Postado a certa
altura, viu o Santo ao longe o exército que se aproximava. Rezou um pouco e
depois, voltando-se para os cristãos que estavam em sua volta, disse:
- Jesus Cristo disse que quem tem fé pode mover
montanhas. Vocês acreditam nisso?
- Sim, responderam todos.
- Então, se temos fé, peçamos àquela montanha
que se mova em cima daquele exército e o destrua.
- Montanha, pela fé em Cristo, saia daí e caia
sobre aquele exército -disseram todos.
Em seguida a montanha elevou-se no ar e desabou
sobre o exército matando todos aqueles soldados e o próprio rei.
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