domingo, 15 de dezembro de 2019

QUE MILAGRE PODERIA CAUSAR COMOÇÃO EM TODO O MUNDO MODERNO?




O homem de nosso tempo, cético e indiferente ao maravilhoso, dificilmente teria o curso de sua vida abalado por causa de um dos milagres que ocorrem da forma já conhecida. No entanto, algumas profecias (como a aparição de Garabandal) falam da ocorrência de um milagre que abalaria toda a terra, antes que se precipitassem os clamorosos castigos previstos em Fátima.
Que tipo de milagre seria esse? Uma bomba atômica ficar suspensa no ar sem explodir e sem cair no chão? Uma cidade ficar incólume na boca de um vulcão em erupção? Tudo isso podemos imaginar e, realmente, seriam milagres de grande impacto e comoção.
No entanto, há um tipo de milagre que causaria comoção ainda maior. Seria, por exemplo, a ressurreição de uma pessoa que represente todo o oposto da vida que se leva hoje em dia e cuja presença levaria à mente de todos a volta da prática dos princípios da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. E, mais ainda, se essa pessoa ressuscitasse consigo um grupo de tantos outros do passado que pregou os mesmos princípios e pelos quais morreram, formando um exército de santos ressurretos.

Haveria ressurreições antes do Juízo Final?

A questão não é muito clara e poucos teólogos e profetas debateram sobre o tema. Pois há vários modos de ressurreição:
1) aquela que é entendida apenas como a mudança de vida;
2) a volta à vida natural depois de morto;
3) a ressurreição momentânea, a exemplo da que ocorreu por ocasião da morte de Cristo na Santa Cruz;
4)  e, por fim, aquela Ressurreição que deverá ocorrer após o Juízo final e que fará com que todos os homens retomem novos corpos em sua forma definitiva e eterna.
Quando Nosso Senhor Jesus Cristo acabou de morrer, alguns corpos ressuscitaram. Os Evangelistas escreveram: abrem-se túmulos e ressuscitam-se corpos. E esta ressurreição, momentânea,  foi misteriosa.
Apenas São Mateus comenta sobre este portentoso milagre: “Abriram-se os túmulos e muitos corpos dos santos falecidos  ressuscitaram. E, saindo dos túmulos após a ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e foram vistos por muitos” (Mt 27, 52-53). Sabe-se, pela Tradição, que os mortos caminhavam pelas ruas apontando para os fautores daquele crime os acusando do pecado que cometiam. Se houve ressurreições de algumas pessoas, elas teriam vivido algum tempo a fim de dar testemunho de tão portentoso milagre.
São Mateus escreveu que eles saíram “dos túmulos após a ressurreição de Jesus”. Este “após” poderia indicar quanto ao tempo ou quanto ao modo. Quanto ao tempo é impossível, pois naquele momento Jesus acabava de morrer e só iria ressuscitar ao terceiro dia, e então tais corpos só teriam sido ressuscitados no domingo da ressurreição e não naquele momento em que o Evangelista falava. Quanto ao modo, quer dizer, ressuscitar glorioso como Cristo, também é impossível porque ninguém poderia receber tamanha graça antes que o próprio Cristo ressuscitasse. Santo Afonso de Ligório diz  que “não convinha que, havendo triunfado da morte, ressuscitasse outro antes de Cristo”. O que quis dizer então São Mateus que os corpos saíram da sepultura após a ressurreição de Jesus? Talvez ele quisesse indicar que seria uma ressurreição como que a modo da gloriosa ressurreição de Cristo, momentânea, mas não gloriosa ainda, suficiente apenas para dar testemunhos de Cristo.  Então, não foi uma ressurreição tipo de Lázaro, pois estas pessoas não continuaram sua vida normal; não foi também uma ressurreição semelhante a de Cristo; mas foi uma ressurreição propriamente dita, pois os corpos saíram das sepulturas, animados por seus espíritos, e andaram pelas ruas, aparecendo a algumas pessoas em suas formas humanas normais, numa situação extraordinária em que Deus o permitiu apenas para a maior glória de Cristo. Depois, provavelmente estes ressurretos foram levados pelos Santos Anjos para um local a espera da ressurreição final.
Há algo a dizer, no entanto, sobre uma ressurreição que haveria em uma época da Igreja que causaria um grande impacto sobre os fatos e sobre a História. É desta que falaremos. Provavelmente tal ressurreição ocorreria numa das circunstâncias abaixo:
1º ) - Ocorreria numa época em que houvesse um crime semelhante ao deicídio, talvez o aparente “assassinato”  do Corpo Místico de Cristo, a Santa Igreja Católica;
2º ) - Se for uma ressurreição momentânea, quando os corpos retomarem à vida apenas por alguns momentos, teria o objetivo de amparar os bons, combater os maus e dar nova vida à Igreja, numa situação de calamitosas catástrofes;
3º ) – Não seria uma ressurreição semelhante a de Lázaro, pois aquela ocorreu por intervenção pessoal de Jesus Cristo para manifestar o seu poder. Algumas ressurreições ocorreram por intercessões de Santos, mas estas também tiveram o mesmo fim de manifestar o poder de Jesus Cristo. Talvez não pudesse ocorrer ressurreições deste tipo na situação antevista acima (calamitosas catástrofes mundiais), pois as pessoas ficariam vivendo e convivendo com os outros mortais e, no entanto, só seria necessário a presença delas naqueles momentos cruciais.
4º ) - Provavelmente não ocorreria a ressurreição de uma só pessoa, embora  uma só possa causar um impacto terrível sobre a humanidade a depender de quem fosse essa pessoa. Supomos, porém, que essa pessoa (conforme conjecturas do Pe. Vieira abaixo) ressuscitaria juntamente com vários outros justos, santos que viveram em outras épocas e foram perseguidos ou mortos por próceres da Revolução, da mesma forma que ocorreu no momento da morte de Jesus.
O padre Vieira disserta sobre o tema em sua defesa perante o Santo Ofício:[1]  “...nenhuma admiração nos deve fazer o falarmos na ressurreição de um morto, quando são tão inumeráveis os mortos que em todas as idades da Igreja consta haverem ressuscitado.
“E porque não saiamos do nosso Reino, com ser humana tão pequena parte do mundo, se em Braga, como acima tocamos, depois de seiscentos anos, ressuscitou aquele homem que depois foi São Pedro de Rates...” Em outra obra do Padre Vieira encontra-se a descrição do Milagre: “Entrou em Braga o Apóstolo [São Tiago], e para entrar com estrondo de trovão (cujo filho o chama Cristo, Nosso Senhor) se foi a uma sepultura célebre, onde jazia enterrado de seiscentos anos um santo profeta, judeu de nação, e que ali viera dar com outros cativos mandados de Babilônia por Nabucodonosor, chamado Malaquias, o Velho, ou Samuel, o Moço; e em presença de infinito povo, chamando por ele o ressuscitou em nome de Jesus Cristo, a quem vinha pregar e publicar por verdadeiro Deus; batizou-o pouco depois, e dando-lhe o nome de Pedro, o escolheu e tomou por primeiro e principal de todos seus discípulos”  Este fato foi extraído da obra “História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga”, escrita por D. Rodrigo da Cunha.
A respeito do grande milagre feito por São Tiago, continua o padre Vieira: “Até aqui esta maravilhosa história, tirada de autores e memórias mui antigas, e particularmente de uma carta de Hugo, bispo do Porto, e dos fragmentos de Santo Atanásio, bispo de Saragoça, o qual conheceu o mesmo Pedro ressuscitado e escreveu o caso quase pelas mesmas palavras, que por isso não a traduzimos, e são as seguintes: ‘Ego novi sanctum Petrum, Bracharensem Episcopum, quem antiquum prophetam suscitavit Sanctus Jacobus Zebedaei filius, magister meus. Hic venerat cum duodecim tributus missis a Nabuchodonosere in Hispaniam Hierosolymis duce Nabuchoi-Cerdan, vel Pyrrho, Hispaniarum praefecto’ [2]
Mas continuemos as narrações de outros milagres semelhantes que encontramos na falada “Defesa perante o Santo Ofício”, do mesmo padre: “E se, no adro da Sé de Lisboa, ressuscitou um morto por quem condenavam ao pai de Santo Antonio, que muito que, na capela mor de São Vicente, possa suceder o mesmo? Finalmente, se na vila de Montemor ressuscitou um povo inteiro de mulheres e meninos, que naquele tempo era mais numeroso que hoje, que muito seria que ressuscitasse um só homem!...”  [3]
Abstraindo-se o fato do padre Vieira equivocar-se ao considerar como sendo o rei de Portugal D. João IV a quem Deus ressuscitaria para restauração da Igreja e destruição de seus inimigos, o texto abaixo encaixa-se perfeitamente ao considerarmos que o homem a ser ressuscitado seria o “Grande ou Poderoso Monarca”, não um rei terreno, mas um Profeta regedor das leis universais, conforme definiu o venerável padre Bartolomou de Holzhauser:
“E descendo à praxe desta necessidade, ou desta conveniência: se o instrumento desta grande facção e gloriosa conquista há de ser o Príncipe português, como geralmente cremos e esperamos todos, e creram e têm escrito muitos autores estrangeiros, até entre os mesmos Mouros e Turcos é tradição recebida e se este Príncipe português há de ser aquela cabeça a quem os mais hão de seguir e obedecer, eleito e escolhido por eles, como pode ser nem imaginar-se possível, senão que seja ou haja de ser um homem prodigioso, conhecida e manifestamente dado por Deus, e mandado ao Mundo para esta empresa? ...   ...Porém se este Príncipe fosse um homem ressuscitado depois de tantos anos morto, e ressuscitado em um empório e teatro tão público do Mundo como Lisboa nos olhos de todas as mesmas nações, não há dúvida que neste caso se uniriam e conspirariam todos em seguir, obedecer, venerar,  acompanhar e ter parte nas ações e vitórias de tal Príncipe, como cabeça, guia, e capitão dado, sinalado e nomeado por Deus...    “...E Frei Bartholomeu de Salutio (vulgarmente chamado Salutivo) , dizendo que de Lisboa há de ir o vencedor e conquistador do Turco, acrescenta que há de ser uma pessoa cuja fama soará em todas as partes do Mar e da Terra, e que há de dar no Mundo um grande grito, e que grito, como dizer-se em todo o Mundo: o Rei Restaurador de Portugal ressuscitou! Este grito, esta fama, este milagre será, como dizia, ou seria (se assim fosse) o maior terror e assombro do Poder otomano e o que em muitas partes sem batalhas nem detença de sítios, entregaria as fortalezas e cidades[4] 

Quem seria o “grande monarca”
A figura de um grande restaurador da Igreja é sempre associada a “um grande monarca”, conforme profecias do Beato Palau e outros. Ora, “monarca”, segundo explicações mais exatas não seria um rei temporal, mas um santo que regeria as leis do Universo. Nesse sentido, o padre Vieira engana-se quando dá algumas profecias sobre a ressurreição deste grande Restaurador, que é visto nas profecias de que ele fala como um “príncipe” ou um “grande rei”, vendo no personagem um rei terreno e não um grande santo.
Assim cita ele esta passagem:“As palavras de S. Metódio, falando do Príncipe que há de destruir o Turco, bem claramente dizem o mesmo: “Expergiscetur tanquam a sommno viniquem putabant homines quasi mortuum et inutilem esse”...  ..De maneira que vem a ser o sentido de S. Metódio: que será reputado como verdadeiramente morto, e por isso estimado como inútil, assim como o são os mortos, que não prestam nem servem para coisa alguma, quanto mais para uma empresa tão grande...”
“...Na livraria do Convento de Nossa Senhora de Jesus, de Lisboa, está um livro francês muito antigo, em que se vê estampado um homem meio amortalhado, que se vai soerguendo da sepultura. Ao qual um anjo está oferecendo um barrete; e junto à mesma sepultura está uma ave toda negra. E posto que me não lembram as letras da inscrição desta estampa, é certo que falam de um prodigioso Imperador, que dizem virá nos tempos vindouros. ...  ...o ir-se erguendo meio amortalhado da sepultura significa a sua ressurreição; e o barrete oferecido pelo Anjo significa o Império dado por Deus e pelo Céu; porque o barrete é insígnia dos Imperadores na sua coroação...” [5] 
A respeito do tema ressurreição, na mesma obra, e muito mais adiante, o padre Vieira volta a comentar: 
“No mesmo capítulo 20 [do Apocalipse], fala São João em uma ressurreição, a qual chama primeira: “Et haec est resurrectio prima”. E diz que nesta ressurreição hão de viver e reinar com Cristo os santos por todo o tempo dos dois mil anos do seu Reinado, que é o tempo do consumado Império de Cristo, que temos provado. Esta ressurreição primeira (sobre que se tem disputado muito) resolvem todos os Doutores, que não é corporal, senão espiritual; e que, assim como na segunda ressurreição hão de ressuscitar os corpos, assim nesta hão de ressuscitar as almas, pelo que diz no mesmo texto S. João, falando destes mesmos Ressuscitados, que lhe viu as almas: Vidi sedes et animas decollatorum  propter testimonium Jesu etc. A ressurreição dos corpos consiste na união dos mesmos corpos com suas almas, e a ressurreição das almas consiste na união das mesmas almas com Deus; e esta será a ressurreição primeira em que ressuscitarão somente os santos ou, para melhor dizer, em que serão santos todos os ressuscitados; porque na mesma união da alma com Deus em que consiste esta ressurreição espiritual, consiste também a graça e a santidade. Concorda admiravelmente com este texto, o que já notamos de S. Paulo, no capítulo 11 da Epistola aos Romanos, onde diz que a conversão última do Povo judaico será como a ressurreição dos mortos, comparando aquele estado com o presente do mundo: “Si enim omissio eorum reconciliatio est mundi, quid Assumptio nisi vita ex mortuis?”.[6]  Uma das partes de que naquele tempo se há de compor a Igreja, como largamente deixamos mostrado, há de ser o Povo judaico convertido juntamente com o gentílico. E assim como uma parte da Igreja, conforme o texto de S. Paulo, há de ser então de homens ressuscitados, assim a outra parte e toda a mesma Igreja há de constar de homens ou de almas espiritualmente ressuscitadas, conforme o texto presente de S. João, podendo-se também então dizer pelo mundo ou por este grande Prodígio convertido, o que se disse pelo outro: Mortus erat et revisit. [7]
O padre Bartolomeu Holzhauser faleceu em 1658, aos 45 anos de idade. Era natural da cidade de Augsbourg e foi pároco de Titmoningen, na Alemanha, onde adquiriu fama de reformador do clero e por seus comentários sobre o Apocalipse.[8] Tais comentários (que o mesmo afirmou ter sido inspirados por um Anjo que guiava sua mão ao escrevê-los), divide a História da Igreja em sete períodos, representados pelas sete cartas dos capítulos II e III do Apocalipse que São João dirige para sete cidades ou igrejas orientais: Éfeso, Smirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laudicéia. Em 1640, o Papa Inocêncio XI dá a palavra da Igreja e aprova tais comentários.
Segundo o Venerável Holzhauser, três grandes personagens surgirão no final do quinto período da Igreja e começo do sexto: o Grande Monarca, o Santo Pontífice e um grande general.  Apenas um destes personagens (O Monarca Poderoso) estará “vestido com uma nuvem”, o que poderia significar que, embora tenha vindo do céu (isto é, da Igreja), tratando-se portanto de um Santo, não encontra-se na terra nos momentos cruciais das grandes confrontações, ou então, envolto numa nuvem misteriosa, terá um poder todo celeste. Aqueles que pessoalmente comandarão as grandes batalhas na terra serão o Pontífice Santo e o grande general. Este Grande Monarca seria, da mesma forma, o Moisés da Lei da Graça profetizado pelo Beato Francisco Palau.
A palavra “monarca”, portanto, é entendida, também, não como um governante terreno, mas como “regedor das leis do Universo”.  Embora Deus seja o Supremo regedor das leis do Universo, no entanto Ele constitui Anjos ou Santos da Igreja que possam executar seus planos. Um destes planos seria, por exemplo, derrotar a Revolução, cinco vezes secular, e implantar o Reino de Maria para durar até o fim do mundo. A quem Deus confiou tal missão?  Só o tempo o dirá, quando então será tal “Monarca” reconhecido por todos pelo que obrou em busca de tal fim.



[1] Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício” – Pe. Antonio Vieira – Liv. Progresso Editora
[2] “História do Futuro”, de Antonio Vieira, 2a. Edição,  Imprensa Nacional de Lisboa, pág. 227
[3]              op. cit. pág. 193
[4]              op. cit. – tomo II – pág. 195/196
[5]              op. cit. – tomo I – págs. 207/208
[6]              Porque, se a perda deles é reconciliação do mundo, que será a sua Assunção senão uma ressurreição dentre os mortos? (Rom 11, 15)
[7]              op. cit. tomo II – págs. 187/188
[8]  “Bénédictions et malédictions – Prophéties de la révelation privée”, de Jean Vaquié, Paris, 3a. Edição revista e ampliada, págs. 47 a 76).

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