A narração do
episódio em que Jesus foi encontrado pregando entre os doutores da lei,
contando apenas com 12 anos de idade, demonstra a preferência que Deus dá às
elites para fazer um eficiente apostolado de conquista dos corações.
Como eram, ou deveriam ser, os ensinamentos dos
rabinos? “Sua função, - comenta Thomas Walsh - sob a direção
dos Sumos Sacerdotes, na teocracia judaica, era explicar e conservar vivo e
puro o conhecimento e amor do Deus único e verdadeiro. E para tornar melhor
este serviço inestimável a Israel e ao mundo, os rabinos haviam estabelecido
por toda a Palestina, quer nas sinagogas, quer, se fosse preciso, ao ar livre,
notável sistema de livres escolas públicas, onde todas as crianças de seis ou
mais anos eram obrigadas a estudar. Era ilegal, de fato, para uma família viver
onde não houvesse escola. Ensinavam os rabinos que tal lugar merecia ser
destruído ou excomungado...” (O Apóstolo
São Pedro” – Ed. Melhoramentos - pág. 19)
Pelo que diz William Thomas Walsh, seria natural que o
próprio Nosso Senhor tivesse freqüentado tais escolas, pois, apesar de ser
Deus, Ele quis se sujeitar às leis da natureza humana em tudo. Segundo São
Lucas, “o Menino crescia e se fortificava cheio de sabedoria, e a graça de Deus
era com ele” (Lc 2, 40). Podemos até imaginar que tenha sido apresentado como
Menino prodígio aos doutores de Jerusalém por seu mestre de Nazaré, ocasionando
o fato extraordinário de ser encontrado pregando entre os doutores da lei. Ou
então o que diz a vidente Beata Anna Catharina Emmerich em suas visões:
“Nosso Senhor se havia dirigido, com alguns rapazes, a
duas escolas da cidade; no primeiro dia, a uma; no segundo, a outra. No
terceiro dia, fora de manhã a uma terceira escola, e de tarde ao Templo, onde o
acharam os pais. Jesus pôs os doutores e rabinos de todas as escolas em tal
estado de admiração e embaraço, pelas suas perguntas e respostas, que
resolveram humilhar o Menino, por intermédio dos rabinos mais doutos, na tarde
do terceiro dia, em auditório público, interrogando-o sobre diversas matérias.
Vi Jesus sentado numa cadeira grande,
rodeado de numerosos judeus velhos, vestidos como sacerdotes. Escutavam atentamente
e pareciam estarem furiosos. Como o Senhor houvesse alegado, nas escolas,
muitos exemplos da natureza, das artes e ciências, para demonstrar as suas
respostas, reuniram-se conhecedores de todas essas matérias”. ( Vida, Paixão e Glorificação do
Cordeiro de Deus” – Anna Catharina Emmerich – Editora MIR – pág. 57).
Ao final,
narra a Beata, os doutores e sacerdotes ficaram furiosos porque não conseguiam
rebater os argumentos do Menino Jesus.
É claro que naquela
pregação Nosso Senhor não se apresentara como o Messias, pois não havia chegado
ainda a hora de sua atuação pública: Ele apenas indicava para aqueles doutores,
dentre os quais provavelmente encontrava-se Hilel, Shammai ou até mesmo os seus
futuros verdugos Anás e Caifás, qual a verdadeira interpretação da Lei e
provavelmente quais as principais características do Messias, diferente daquilo
que eles criam. Causou entre os doutores uma sensação de maravilhamento, mas
ainda não de fascínio, pois São Lucas diz que “todos os que ouviam, estavam
maravilhados de sua sabedoria e das suas respostas”, mas não consta que tenha
conseguido algum discípulo entre eles.
Enquanto os sacerdotes tinham funções rituais, os escribas
se ocupavam com o estudo das escrituras e da parte doutrinária. No tempo de
Nosso Senhor havia duas escolas de escribas, a do liberal Hillel e a de um
radical chamado Shammai, ambos oriundos da Babilônia. São Nicodemos e Gamaliel
eram também escribas, mas certamente de pouca importância entre eles, pelo
contrário teriam sido assassinados por discordarem da corrente babilônica..
Os judeus atuais (conforme Frank Moore Cross ) admiram Hillel
(que veio também da Babilônia no tempo de Herodes, “o grande”) como a “mais
criativa inteligência de seu tempo”. “Foi um gigante que deixou marcas
indiscutíveis no farisaísmo e por muitas gerações seus descendentes diretos
foram os principais líderes da comunidade judaica normativa”.
Segundo alguns autores, São Gamaliel
era neto de Hilel e teria sido mestre de São Paulo, sendo considerado um dos 7
grandes rabinos de Israel. Conforme uma tradição tornou-se cristão, juntamente
com outros judeus, e defendeu os primeiros apóstolos perante o Sinédrio (At
5,34 e 6,7).
Hilel fez escola.
Um seu discípulo, Gamaliel II, presidiu uma reunião de escribas, já na
diáspora, no ano 90 de nossa Era, ocasião em que foi ressuscitada a instituição
do Sinédrio, evidentemente que inteiramente adaptado ao novo judaísmo. Logo
depois surgiu o judaísmo moderno, que se originou no judaísmo rabínico, o
sistema religioso dos rabinos do Mishná (compilado por volta do século II) e do
Talmude (compilado entre os séculos V e VI).
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