domingo, 30 de dezembro de 2018

PREGANDO AOS DOUTORES DA LEI, JESUS INICIA SEU APOSTOLADO COM AS ELITES


 

A narração do episódio em que Jesus foi encontrado pregando entre os doutores da lei, contando apenas com 12 anos de idade, demonstra a preferência que Deus dá às elites para fazer um eficiente apostolado de conquista dos corações.
          Como eram, ou deveriam ser, os ensinamentos dos rabinos?    “Sua função, - comenta Thomas Walsh - sob a direção dos Sumos Sacerdotes, na teocracia judaica, era explicar e conservar vivo e puro o conhecimento e amor do Deus único e verdadeiro. E para tornar melhor este serviço inestimável a Israel e ao mundo, os rabinos haviam estabelecido por toda a Palestina, quer nas sinagogas, quer, se fosse preciso, ao ar livre, notável sistema de livres escolas públicas, onde todas as crianças de seis ou mais anos eram obrigadas a estudar. Era ilegal, de fato, para uma família viver onde não houvesse escola. Ensinavam os rabinos que tal lugar merecia ser destruído ou excomungado...”  (O Apóstolo São Pedro” – Ed. Melhoramentos - pág. 19)

          Pelo que diz William Thomas Walsh, seria natural que o próprio Nosso Senhor tivesse freqüentado tais escolas, pois, apesar de ser Deus, Ele quis se sujeitar às leis da natureza humana em tudo. Segundo São Lucas, “o Menino crescia e se fortificava cheio de sabedoria, e a graça de Deus era com ele” (Lc 2, 40). Podemos até imaginar que tenha sido apresentado como Menino prodígio aos doutores de Jerusalém por seu mestre de Nazaré, ocasionando o fato extraordinário de ser encontrado pregando entre os doutores da lei. Ou então o que diz a vidente Beata Anna Catharina Emmerich em suas visões:

          “Nosso Senhor se havia dirigido, com alguns rapazes, a duas escolas da cidade; no primeiro dia, a uma; no segundo, a outra. No terceiro dia, fora de manhã a uma terceira escola, e de tarde ao Templo, onde o acharam os pais. Jesus pôs os doutores e rabinos de todas as escolas em tal estado de admiração e embaraço, pelas suas perguntas e respostas, que resolveram humilhar o Menino, por intermédio dos rabinos mais doutos, na tarde do terceiro dia, em auditório público, interrogando-o sobre diversas matérias. Vi Jesus sentado numa cadeira  grande, rodeado de numerosos judeus velhos, vestidos como sacerdotes. Escutavam atentamente e pareciam estarem furiosos. Como o Senhor houvesse alegado, nas escolas, muitos exemplos da natureza, das artes e ciências, para demonstrar as suas respostas, reuniram-se conhecedores de todas essas matérias”. ( Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus” – Anna Catharina Emmerich – Editora MIR – pág. 57). 
           Ao final, narra a Beata, os doutores e sacerdotes ficaram furiosos porque não conseguiam rebater os argumentos do Menino Jesus.
É claro que naquela pregação Nosso Senhor não se apresentara como o Messias, pois não havia chegado ainda a hora de sua atuação pública: Ele apenas indicava para aqueles doutores, dentre os quais provavelmente encontrava-se Hilel, Shammai ou até mesmo os seus futuros verdugos Anás e Caifás, qual a verdadeira interpretação da Lei e provavelmente quais as principais características do Messias, diferente daquilo que eles criam. Causou entre os doutores uma sensação de maravilhamento, mas ainda não de fascínio, pois São Lucas diz que “todos os que ouviam, estavam maravilhados de sua sabedoria e das suas respostas”, mas não consta que tenha conseguido algum discípulo entre eles.

          Enquanto os sacerdotes tinham funções rituais, os escribas se ocupavam com o estudo das escrituras e da parte doutrinária. No tempo de Nosso Senhor havia duas escolas de escribas, a do liberal Hillel e a de um radical chamado Shammai, ambos oriundos da Babilônia. São Nicodemos e Gamaliel eram também escribas, mas certamente de pouca importância entre eles, pelo contrário teriam sido assassinados por discordarem da corrente babilônica..

          Os judeus atuais (conforme Frank Moore Cross ) admiram Hillel (que veio também da Babilônia no tempo de Herodes, “o grande”) como a “mais criativa inteligência de seu tempo”. “Foi um gigante que deixou marcas indiscutíveis no farisaísmo e por muitas gerações seus descendentes diretos foram os principais líderes da comunidade judaica normativa”.

          Segundo alguns autores, São Gamaliel era neto de Hilel e teria sido mestre de São Paulo, sendo considerado um dos 7 grandes rabinos de Israel. Conforme uma tradição tornou-se cristão, juntamente com outros judeus, e defendeu os primeiros apóstolos perante o Sinédrio (At 5,34 e 6,7).

Hilel fez escola. Um seu discípulo, Gamaliel II, presidiu uma reunião de escribas, já na diáspora, no ano 90 de nossa Era, ocasião em que foi ressuscitada a instituição do Sinédrio, evidentemente que inteiramente adaptado ao novo judaísmo. Logo depois surgiu o judaísmo moderno, que se originou no judaísmo rabínico, o sistema religioso dos rabinos do Mishná (compilado por volta do século II) e do Talmude (compilado entre os séculos V e VI).


Nenhum comentário: