A seguir, citamos apenas
alguns, extraídos das hagiografias feitas sobre ele. Os mais comuns foram:
LEVITAÇÃO - Através do testemunho de várias
pessoas contemporâneas de Anchieta, sabe-se que a levitação do santo era um
fato corriqueiro quase não despertando sustos na população. Era comum ele rezar
missas levitando.
Levitar, entretanto, não era algo comum
entre os índios. Alias, foi essa proeza, que uma vez o salvou dos perigosos
tamoios, quando foi feito refém em Iperoig (onde hoje é Ubatuba), enquanto o
padre Nóbrega tentava um pacto com os tupis. O chefe dos tamoios, Pindobuçu,
vendo-o elevar-se do chão, atemorizou-se e, na dúvida sobre que espíritos, bons
ou maus, estariam dando-lhe forças para tal, preferiu não arriscar,
poupando-lhe a vida.
RESSUSCITAR MORTOS - "Ele ressuscitou mortos. Sabe-se de pelo menos seis pessoas
revisitadas pelo padre Anchieta embora fugisse disso alegando sempre: 'Não vim
como medico'. Conta-se que uma menina havia morrido, deixando seus pais
desconsolados. O padre Anchieta chega, vai até o seu cadáver e diz-lhe: “Minha
filha, tu estás querendo roubar o paraíso facilmente. Volta e luta”.
Imediatamente, a menina ressuscita.
Também
existe a famosa história do índio Diego, que todos achavam que era batizado,
por guardar os mandamentos e dizer-se cristão. Mas, após morrer sem o
sacramento, durante o seu enterro, ele se levanta e pede a uma senhora que vela
o seu corpo que chame o padre Anchieta, a fim de ser batizado. O apóstolo
chega, batiza-o e ele morre novamente.
FICA MEIA HORA EMBAIXA D'ÁGUA REZANDO - Certa ocasião, o beato navegava pelo rio Tietê quando seu barco naufragou. Diz a história que o barqueiro que o conduzia, após vários mergulhos, encontrou-o no fundo da água, calmo, sentado e lendo talvez o breviário e rezando. De acordo com a biografia escrita por Pero Rodrigues, contemporâneo do santo, ele ficou submerso coisa de meia hora. Eis como se deu tal milagre:
SUA PREGAÇÃO É OUVIDA A
QUILÔMETROS DE DISTÂNCIA - Quando Anchieta se
encontrava em Bertioga várias pessoas ouviram sua voz, em pregação, num momento
em que ele estava a várias dezenas de quilômetros distante do local.
UM CLARÃO DURANTE SUA PREGAÇÃO
- Numa missa, na presença de muitos fiéis, durante a
pregação, o padre caiu de joelhos. Neste exato momento, um imenso clarão
iluminou o templo e chegou a assustar aos que estavam na Igreja de
Nossa Senhora de Itanhaém.
FAZ PESCADORES ACHAR PEIXES - Um dos casos de premonição, ou adivinhação, mais conhecidos do santo
é o da falta de peixes na Bahia. Os peixes estavam cada vez mais escassos e os
pescadores começavam a passar necessidade. Anchieta então chamou um deles e
mostrou-lhe o lugar onde deveria jogar sua rede. Num único lançamento o
pescador tirou tantos peixes que não só supriu suas necessidades e as dos
missionários como pode repartir a sobra entre os pobres.
LIA PENSAMENTOS E CONVERSAVA
COM ANIMAIS SELVAGENS
São
inúmeros os depoimentos de pessoas que afirmam que o padre lia pensamentos.
Existem vários relatos que afirmam a existência de conversas entre o
missionário e animais selvagens, como cobras e onças no cativeiro.
Realizou também diversos milagres em
terras vicentinas
São José de Anchieta, deixou um rastro de lendas e
histórias de milagres por onde passou, até o seu falecimento em 9/6/1597 na
aldeia de Biritiba/ES, que hoje leva seu nome. Alguns que se produziram
inclusive na então Vila de São Vicente, como é contado na “Poliantéia Vicentina” (obra
editada em 1982 para comemorar os 450 anos desse município pelo pesquisador
Fernando Martins Lichti, em publicação da Editora Caudex Ltda., São Vicente/SP)
No cenário verde da terra de Santa
Cruz, a doce figura de Anchieta é a que mais se destaca, pelo valor de seu
sacrifício, pela tenacidade de seu esforço, pelo heroísmo de sua abnegação, e
pela suave simplicidade de sua vida cristã, nessas rudes terras dos brasis. Pequeno,
vagamente corcovado, na sua batina de cânhamo, cortada de um pedaço de vela,
o rosto branco de cera, onde os olhos vivos resplandeciam doçura e perdão,
movia-se numa faina formigueira, construindo, ensinando, curando,
aconselhando, apaziguando, catequizando, modelando, num esforço supremo, o
barro informe desse Brasil virgem e selvagem de índios e papagaios. Em
São Vicente de 1555, ele era o médico, o engenheiro, o juiz, o professor, o
confessor e o conselheiro. Construindo com as suas próprias mãos as primeiras
casas de taipa e palha, cavando o sulco das hortas, ensinando doutrina e
gramática às crianças guaranis, com a sua caixa de folha de hervário e a sua
lanceta de sangrador, curando, pelas sombras das ocas, enfermos atacados de
bexigas ou câmaras de sangue. Quando
numa rixa áspera os tacapes se levantavam ameaçadores, era o apaziguador
sereno, e pelas tardes longas de S. Vicente, até quando o sol forte agonizava
detrás dos grandes morros, contava lendas suaves e cristãs a toda uma aldeia
indígena, que escutava agachada sobre as grossas lajes do adro. As
pernas queimadas de geada, a batina encharcada das chuvas, tiritando na
friagem de agosto ou batendo as alparcas de sola, pelas areias incandescentes
de Itanhaém, lá vinha ele, com os pés escalavrados pelos matagais da serra,
depois de andar sete léguas, para acudir um escravo ou batizar uma criança
indígena. Todos esses atos de piedade e fé eram cumpridos com a mais serena
alegria e simplicidade. "Parece
um homem de engonços e de pele e ossos, um rosto de cera amarela, ainda que
alegre e cheio de risos, uns olhos sumidos, com um vestido que não sabeis se
o foi algum dia, os pés descalços esfolados do solo". Assim o Padre
Antônio Freire descreve a Nóbrega; assim eram todos esses missionários do
Bem. Projetada
dentro do tempo, recuando, para além da nitidez dos contornos contemporâneos,
a figura de Anchieta ganha então uma luminosidade suave de lenda. Então a sua
fé, o seu sacrifício heróico, a sua tenacidade sem desfalecimentos e a graça
de seus milagres aparecem envoltos nessa luz romântica e distante do passado. E
como pérolas de um rosário, que se desfia numa prece, um a um, os seus
milagres e feitos de sua vida passam dentro de nossa evocação. Aves e feras,
árvores e flores, todas as formas da natureza, desde as mais grosseiras às
mais delicadas, ele as envolvia no seu grande amor. Pássaros miúdos e ariscos
pousavam, com uma familiaridade confiante, sobre os ombros, metiam-se pela
amplidão das mangas do hábito, aninhavam-se pela sombra do capuz e cobriam de
asas coloridas e palpitantes o seu breviário de padre e o seu bordão de
caminheiro. Onças bravias, de güelas sanguinolentas e vorazes, vinham dóceis
comer em sua mão, como cães de mama. Um
dia, conta Antônio Cubas de S. Vicente, ele partira de canoa com o Padre e
outros homens. O resplendor de um sol africano parecia ferver o mar liso e luminoso.
Na estreiteza da piroga, homens suavam, sob os sombreros de feltro; no céu alto e azul nem um fiapo de
nuvem esbatia o sol violento, que escaldava os dorsos luzentes dos remeiros
bugres remando na proa sob o suor gotejante. Já
os viajantes resmungavam, entre pragas abafadas por causa do calor e da luz
violenta que ofuscava, quando ainda a piroga lenta sulcava as águas distantes
de Itanhaém. Foi então que o Padre, numa voz alta e clara, chamou as aves que
voavam longe e esparsas. Num momento, elas acudiram em bando e, num vôo leve
e reto, rumaram para a piroga. Então o vôo verde das maitacas se juntou à
brancura das gaivotas e às asas escarlates dos guarás, como num toldo
multicor, e, num vôo baixo e disciplinado, cobriram de asas e de sombra a piroga,
que correu silente, serena e sombreada, sobre a frescura das águas
azuladas... Outra
vez, em Magé, um touro furioso espuma e escarva o terreiro do engenho. Cercas
e porteiras já tinham voado em pedaços, sob os cornos furiosos, e já o cano
de um bacamarte apontava para o bicho, quando o Padre passou. Uma bênção leve
como um perdão, acenada de longe, e o touro, numa mansidão de cordeiro,
abaixou a cabeça grande e cornuda, entre as mãos finas do Padre. Ano
a ano, mais se acendia a santidade de Anchieta. Consumido pelos jejuns e pela
insônia, as carnes maceradas sob as pontas de ferros dos açoites, absorto na
contemplação, todo envolto no misticismo exaltado da prece, cada vez se afina
mais o seu maravilhoso espírito. A super acuidade dos sentidos projeta-se
para além do plano físico. Um dia, houve mesmo quem o visse, dentro da sua
cela, "coisas de meio côvado", suspenso acima do lajedo, com a face
transfigurada e resplandecente... Cada
vez maior, o seu amor se dilata pelo cosmos. No seu grande amor a Deus, ele
ama também toda a sua Obra, desde as mais terrenas às mais fluídas e
distantes, como a nuvem, a água e o vento, onde chega o halo de sua
santidade. Uma
vez, em S. Vicente, representava-se no adro da igreja "A Pregação
Universal" a uma multidão enlevada e atenta, quando fortes gotas de
chuva caem de um céu baixo de nuvens grossas e escuras. Aqui e ali, pelas
cabeças descobertas, a água cai pesada, numa ameaça de tempestade. Um começo
de debandada agita a multidão assustada. Mas,
gesto de Anchieta sustém o povo: "Não choverá enquanto durar a
representação". E as nuvens baixas e cor de chumbo lá ficaram no céu
imóveis e pejadas de água, retendo a chuva nos ares... Só depois de todos
recolhidos às suas casas é que se despejaram, com fragor, em lufadas e clarões,
alagando todos os caminhos. Os
milagres se multiplicam. Um dia é um indígena já amortalhado no seu caixão de
tábua, que se levanta vivo e curado com uma simples bênção do Padre, outro
dia é um paralítico que anda, a um seu aceno. Por fim, o milagre se realiza,
apenas pela sua presença. Como a catálise na química, onde a simples presença
de um metal vem modificar as combinações existentes, assim a simples presença
de Anchieta realiza o milagre. Uma
vez, quando ele partira para as bandas de Iperoig, uma longa estiada secou os
campos de Piratininga. Sob um sol inflamado, um vento quente e seco desfolha
os esqueletos esgalhados de todas as árvores. A terra quente, ressecada e cor
de cinza, abre-se, em rachas escancaradas como bocas, gritando água, para um céu
impassível. Riachos e nascentes, calam-se, num silêncio triste de abandono e
fim. Hortas e vinhedos, agora murchos, agonizam sob o calor. Era o flagelo da
seca, que vinha acompanhado da fome. Há
preces em todas as bocas e lumes em todos os altares. Procissões lentas
desfilam, para que Deus conceda à terra de Piratininga a esmola da água. Mas
no céu límpido, alto, lustroso e impassível, nem a sombra de uma nuvem
promete uma gota de água. Um
dia em que toda a esperança parecia findar, súbito os campos reverdecem,
galhos se enfolham numa pletora de verde novo; um rumor contínuo d'água
marulha entre pedras e raízes, e um aroma fino de vergel passa no ar leve e
todas as sebes cobrem-se de flores. Nesse
momento, todo envolto num voar de pássaros, com uma grande alegria cintilando
nos olhos azuis, sorridente, ligeiro nas suas alparcas de sola - José de
Anchieta aparecia, numa volta da estrada...[1]
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Casos avulsos,
extraídos das cartas dos Jesuítas e outros escritos:
1.
Anchieta
catequizou e batizou um velho índio que morava numa aldeia arredia. Certo dia,
após a catequese, levou-lhe a Comunhão, pois estava bastante doente. Voltando
novamente outro dia para lhe ministrar outra vez a Comunhão disse-lhe o índio
que não precisava porque Jesus estava com ele desde a primeira vez que
comungou. “Ele está aqui no meu peito desde aquele dia”. Comenta o santo que o
índio mantinha-se puro, não havia pecado desde a última comunhão.
2.
Certa
feita uma canoa que levava o santo padre virou num rio. São José de Anchieta
estava absorto rezando o breviário quando a canoa naufragou. Os índios
mergulharam, então, em busca do padre (que não sabia nadar) e o encontraram no
fundo do rio, de joelhos, rezando ainda o breviário como se nada tivesse acontecido.
Foi levado à superfície e constatado que estava completamente enxuto.
3.
No
período em que permaneceu como refém em Iperoig ocorreu um fato milagroso. Como
demoravam as negociações, o filho do cacique resolveu com os outros índios ir
até a choupana onde estava o padre a fim de matá-lo, conforme tinha sido
ordenado caso demorassem os negociadores que tinham saído com o cacique. Ao
chegarem na cabana de palha encontraram o padre de joelhos, rezando, em frente
a um altar improvisado. De tacape levantado avançaram em direção do santo
padre, mas uma incrível força estranha os reteve e não conseguiam ir adiante.
Impressionados, desistiram de seu intento. O fato é narrado pelo próprio filho
do cacique, o qual veio a se converter e tornar-se cristão posteriormente.
4.
Na
guerra de expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, 1565, Estácio de Sá pediu
ajuda de Anchieta e Nóbrega, os quais levaram aos portugueses alguns índios
amigos, além de armas e pólvora, para lhes auxiliar no combate ao inimigo.
5.
Quando
os jesuítas tiveram que sair da Bahia e foram para Piratininga (onde fundaram
São Paulo), ficou em Salvador um sacerdote por estar muito doente, em véspera
da morte. Disse-lhe, então, o padre Manuel da Nóbrega: “Não morra antes de
voltarmos!”. Pouco tempo depois, estando em visita o padre Inácio de Azevedo (o
mesmo que morreu mártir com outros 40 jesuítas) disse-lhe que se não havia
morrido por obediência, bem podia fazê-lo agora, que, sendo superior do padre
da Nóbrega, o desobrigava de cumprir essa obediência. Ao saber disso, morreu
aquele santo homem.
6.
A
partir de 1580 O (até o ano de 1640), Portugal e todas suas colônias passaram a
ser reinados pela Espanha. Daí surgindo aqui uma devoção muito própria da
Espanha, a de Nossa Senhora de Monte Serrat. Narram as crônicas da época que,
certa feita, o Padre Anchieta viajava com destino ao Espírito Santo quando
desencadeou tremenda tempestade no mar. O navio em que ele estava ficou prestes
a naufragar. De repente, após rezar, Anchieta se pôs em meio aos que iam no navio
e declarou em voz alta que ali estava um excomungado; que ele se apresentasse e
confessasse seu pecado a fim de ser absolvido, pois desta forma a tempestade
poderia terminar. Foi aí então que um passageiro se apresentou e pediu
confissão. Após sua confissão o mar se acalmou. Mas, quem era ele? Era um homem
que havia roubado e destruído o livro da Igreja de Nossa Senhora de Monte
Serrat, em Salvador, no qual estavam escritos vários depoimentos dos milagres
que tinham ocorrido naquela igreja. O bispo de então, mesmo sem saber quem
tinha sido o autor do roubo, o excomungou. [2]
SÃO JOSÉ DE ANCHIETA E SEU MILAGROSO MARTÍRIO INCRUENTO PARA CONSERVAR A CASTIDADE
O fato deu-se com
os padres Anchieta e Manuel da Nóbrega, especialmente mais cruel para Anchieta
com lances solitários desta luta, pois Manoel da Nóbrega teve que se ausentar
para negociar as pazes com os índios. A este respeito, o sofrimento de Anchieta
chega até o cume do heroísmo.
Estavam em Iperoig,
aldeia dos terríveis tamoios, como reféns exigidos para a concretização do
tratado de paz. O Padre Manoel da Nóbrega teve que sair com um grupo e ir
confabular com outros índios, enquanto São José de Anchieta ficou retido na
aldeia como garantia.
A permanência do
Padre Anchieta naquele lugar revestiu-se do caráter de uma grandiosa luta, a
luta entre o bem e o mal, onde uma das virtudes mais visadas pelas tentações
diabólicas era exatamente a pureza. Além de ter que suportar os festins
antropofágicos, os rituais de curandeirismos indígenas, os assassinatos cruéis
de índios recém-nascidos, Anchieta tinha que lutar constantemente contra a
tentação de impureza.
Segundo alguns
observadores superficiais, teria sido mais fácil conseguir resolver logo as
negociações de paz se os embaixadores tivessem cedido em matéria de castidade.
No entanto, mandava os preceitos religiosos que em nada se poderia ceder, sob
pena de pecado mortal por uma grave ofensa a Deus. O Padre Anchieta conta que,
logo de início, vieram os chefes da aldeia lhes oferecer suas filhas índias
para com elas dormir, e por cima de tudo ficavam insistindo constantemente que
as aceitassem, considerando uma ofensa a recusa.
Naquela situação o
Santo missionário poderia ter tido pensamentos de condescendências: “Essa
recusa, considerada grosseira pelos chefes da tribo, não poderia atrapalhar as
pazes? E Deus não levaria em conta nossa fraqueza, cedendo a tanta tentação, e
nos perdoaria?”
Quantos
pensamentos desta natureza não devem ter turbado a mente do santo homem.
No entanto, com a atenção
posta na fidelidade a Deus, no progresso da santidade e, sobretudo, confiando
que sendo fiel Deus o auxiliava muito mais do que se pecasse, São José de
Anchieta permaneceu incólume, não permitiu que lhe toldasse a mente o menor
assentimento ao pecado.
E no entanto, as
índias passavam constantemente em sua frente, inteiramente despidas, talvez
fazendo gestos despudorados e tentadores, talvez a mando das matronas
feiticeiras ou de seus chefes. Na maioria das vezes esta tentação era feita
pelas índias mais jovens e formosas.
E isto durante
vários dias, todos os dias, desde o amanhecer ao entardecer. Até mesmo quando o
Padre Anchieta celebrava missa, numa pequena palhoça separada dos
índios, era repentinamente visitado por aquelas figuras sensuais e tentadoras.
Voltando seu olhar para os céus, o santo homem rogava insistentemente a
proteção da Virgem Maria. E fez uma promessa a Ela: caso saísse dali
intacto, sem cometer ou mesmo permitir no menor pecado contra a pureza, faria
um poema em homenagem à Santíssima Virgem Maria.
A respeito do
episódio, o seu biógrafo Charles Sainte-Foy teceu o seguinte comentário: “Compreendendo
o perigo em que estava e desconfiando de suas próprias forças, aumentou as
orações, os jejuns, as disciplinas, e conservou continuamente sobre si um duro
cilício que, atormentando-lhe a carne, enfraquecia-a e reprimia seu ardor.
Convencido de que, para conservar o precioso tesouro da pureza era preciso
redobrar a vigilância, observava com exatidão os menores movimentos da natureza
e sufocava em germe todos os que nele pudessem fazer enfraquecer a graça”.
E para mais
facilmente fugir das tentações, São José de Anchieta se refugiava na praia, e
lá mesmo riscava com uma vara os versos do famoso poema que mais tarde passou
para o papel.
A propósito de sua
fidelidade à Castidade, disse seu primeiro biógrafo, o padre Quirício
Caxa: “Imerso num fogo babilônico não foi sequer chamuscado por
aquelas chamas...”. Estava
ele sob uma proteção especial da Santíssima Virgem. Por isso não pecou.
“Foi depoimento comum dos índios – segundo o Padre Simão de Vasconcelos,
SJ, (cronista da época) – que viram, por vezes, nesta praia, uma avezinha
graciosamente pintada, a qual, com um brando voo, andava como fazendo festa,
enquanto José ia compondo e escrevendo, e lhe saltava, brincando, ora nos
ombros, ora na cabeça, ou para mostrar a José o cuidado que o céu tinha deles,
ou para mostrar aos índios como haviam de respeitá-lo. E assim compôs ele, de
memória, cada dia um pouco, o poema imortal “De Beata Virgine Dei Matre Maria”,
o longo e famoso “Poema da Virgem”.
[2] Relato extraído do livro “Santuário Mariano”, escrito por frei Agostinho de Santa Maria, a pedido do Bispo da Bahia, em 1711, narrando os milagres que ocorriam com as várias imagens de Nossa Senhora na Bahia.
[3]
Vida e Morte do Padre José de Anchieta”, de Quirício Caxa, Coleção Cidade do
Rio de Janeiro, vol.5
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