“Eu me reporto às minhas recordações de meu tempo de infância, tão vivas para mim – e cada vez mais vivas à medida em que passa o tempo, porque cada vez mais elas se mostram para mim como contendo ensinamentos que eram sementes que a vida foi consolidando, e à qual foram dando força e explicação extraordinárias –, quando eu me reporto àquelas recordações do tempo de infância, eu me lembro de meu primeiro choque com a impureza, e o contraste que se estabeleceu, no meu espírito, entre a pureza e a impureza.
Há
algo de sublime na pureza, que me parece exceder tudo quanto da pureza se possa
dizer. A
palavra «imaculado», a palavra «limpo», a palavra «puro», a palavra «alvo», que outras palavras o vocabulário humano possa
ter, nenhuma dessas palavras exprime inteiramente qualquer
coisa de inconfundível que existe na pureza, mas que nós sabemos que
encontraremos no Céu, quando os nossos olhares se detiverem extasiados na
Virgem Maria.
Por outro lado, algo
de horroroso, de
cavernoso, de tenebroso, algo de execrando na impureza,
uma desordem fundamental, uma sordície fundamental, algo de recusável por
definição, de rejeitável
e de inteiramente rejeitável. E o mesmo se pode dizer do
igualitarismo que combate tudo quanto é qualidade, tudo quanto é categoria, tudo quanto é classe, tudo
quanto é sublime. O igualitarismo
quer que todas as coisas sejam chulas, que nenhuma delas tenha distinção, nem elevação, nem beleza. O
trivial, o comum, o ordinário, o deformado, o
desarranjado, o cacofônico: eis o falso paraíso do igualitarismo.
E então, nesse contraste entre a pureza, com todas as suas glórias, e o asco
da impureza; no confronto entre a humildade e o igualitarismo, eu
sentia vibrar em minha alma todo um universo feito de qualidades, um universo que
afirma o ser sobre o não ser, afirma a ordem sobre a desordem, afirma a categoria sobre o que não tem categoria e,
embevecido, considera uma série de categorias que vão se quintessenciando umas
às outras, subindo, galgando continuamente até ao mais alto, até um
ápice que é a categoria das categorias, a perfeição das perfeições, a classe das classes, a distinção das
distinções, o contrário absoluto daquilo que, se em termos filosóficos se
pudesse corretamente chamar, seria o mal absoluto, e que é uma forma majestosa,
grandiosa, régia,
uma forma que eleva, mas ao mesmo tempo tão
suave, tão amena, tão acolhedora, tão desejosa de conter tudo em seus braços, tão cheia de atração, que
nem se sabe bem direito dizer o que é.
Como
explicar o que há nesse universo, nessa concepção que é a luz de minha vida,
desde que eu sou menino? Nessa concepção que me fez perceber aquela verdade que é a única
verdade, em função da qual todas as verdades são verdades, e todas as verdades
seriam erro se ela não existisse”.
(Trecho de discurso pronunciado por ocasião do 60° aniversário de Dr.
Plínio Corrêa de Oliveira, 13.12.1968, a sócios e cooperadores da TFP).
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