A propósito de artigo estampado na revista “Dr.
Plínio” deste mês (fev/2023), com um resumo da vida de Madre Francisca do Rio Negro, ou
Madre Francisca de Jesus, damos a seguir os dados de duas personalidades
femininas brasileiras que se destacaram, uma como símbolo de nobreza e a outra
de santidade.
É natural que sejam poucas as mulheres brasileiras
de destaque na Europa, por ser o Brasil uma nação jovem, de cultura recente, e
que somente a partir do século XIX começou a mostrar uma elite emergente. Oriundas das famílias aristocráticas
bafejadas pela monarquia, destacamos aqui duas somente: a condessa Maria
Eugênia Monteiro de Barros e a Fundadora religiosa Francisca Carvalho do Rio
Negro, filha do Barão do Rio Negro, cujo nome religioso era Madre Francisca de
Jesus.
O Brasil, país jovem e governado por uma família
imperial muitas vezes aliada matrimonialmente à casa real francesa, não podia
escapar à regra geral. Na corte brasileira falava-se freqüentemente o francês,
os convites e menus eram feitos nesse idioma, o que acabou tornando moda entre
a aristocracia brasileira enviar os filhos a Paris em busca de cultura,
educação e status social. Alguns voltaram ao Brasil, procurando trazer para cá
o melhor que podiam da cultura francesa; outros, porém, de lá mesmo envidavam
esforços no mesmo sentido.
Foi o caso da Condessa Romana Maria Eugênia (título
agraciado pela Santa Sé), nascida a 13 de novembro de 1848, no Rio de janeiro,
casada com um dos chamados “barões do café”, Carlos Monteiro de Barros.
Seguindo o exemplo de seus irmãos e parentes, seu esposo rumou para as terras
roxas do Oeste paulista, explorando a fazenda São Carlos, no município de
Pirassununga. Logo, porém, D. Eugênia ficou viúva e resolveu transferir sua
residência para Paris. Tornou-se uma pessoa muito bem relacionada na França –
onde posou para o fotógrafo “Nadar” – alcunha do maior retratista do século
XIX, Gaspar Félix Toumachon. No estúdio particular daquele fotógrafo também
passaram figuras ilustres do calibre dos compositores eruditos Listz, Rossini e
Berliotz, da atriz Sara Bernadete, do escritor Victor Hugo, do ilustrador
Gustave Doré, entre outros. D. Maria Eugênia já era amiga intima da Condessa
D’Eu, a Princesa Isabel.
Embora morando na França, a Condessa Monteiro de
Barros projetou a construção de uma igreja dedicada ao Sagrado Coração de Jesus
num povoado brasileiro que ainda estava nascendo. Financiou inteiramente o
projeto de construção da igreja, que somente foi concluída em 29 de dezembro de
1922, quando não era mais viva. Em 9 outubro de 1888, convidadas pela Condessa
em nome da sociedade carioca, aportaram no Brasil as primeiras religiosas do
Colégio Nossa Senhora do Sion, fundado na França pelos sacerdotes católicos
Teodoro e Afonso Ratisbonne (convertidos por intercessão de Nossa Senhora das
Graças), irmãos e filhos de uma rica família de judeus de Estrasburgo. Inicialmente, abriram um pequeno e modesto
catecumenato para meninas judias, de famílias pobres, com o intuito de
instruí-las e educá-las na fé cristã. Para viabilizar o projeto, contaram com a
ajuda de duas senhoras que tinham acabado de fechar uma instituição de ensino
conhecida pela educação esmerada de meninas da alta sociedade francesa. Mais
tarde, por influencia de um padre, surge a idéia de fundar um colégio. Várias
famílias da aristocracia insistiam para que suas filhas estudassem no lugar. E
foi assim que se fundou o Colégio Sion de Paris (que D. Maria Eugênia conhecia
muito bem), primeiro de uma longa série que acabou se espalhando pelo mundo.
Coube à Condessa Monteiro de Barros entabular negociações com aquelas freiras
para abrir um colégio no Brasil, obtendo completo êxito.
Madre Francisca de Jesus viveu grande parte da sua
vida já no início do século XX. No entanto, toda a sua educação é oriunda ainda
dos reflexos da “Belle Époque”. Nasceu a
27 de março de 1877, no Rio de Janeiro. Era a penúltima dos dez filhos do barão
e baronesa do Rio Negro. Desde criança, alimentou uma religiosidade profunda e
mesmo mística. Era muito jovem quando seus pais se estabeleceram em Paris, onde
aprimorou mais ainda sua já refinada educação.
Tinha pouco mais de quinze anos de idade quando foi inspirada por Deus a
fazer, de uma forma particular, votos de perpétua virgindade. Isto lhe custou
lutas ingentes, tanto com sua família como até mesmo com seu confessor, pois
todos desejavam ardentemente que ela aceitasse um vantajoso casamento. Esta
luta durou mais de 14 anos, quando então seu pai a dispensou para seguir a vida
religiosa.
No entanto, não lhe era propício o ingresso numa
ordem religiosa. Madre Francisca tinha sonhos mais altos de uma vocação maior,
a de ser uma fundadora. E esta graça
brilhou para ela quando fez uma viagem ao Brasil, em 1909: em seu retorno,
procurou ousadamente uma audiência com o Papa (São Pio X), pedindo-o conselho
sobre seu plano de fundar uma congregação religiosa dedicada exclusivamente à
prece e imolação pelo Santo Padre. Apesar de todos os pareceres contrários,
tanto de familiares quanto de seu confessor, conseguiu a sonhada audiência com
o Papa, realizada no dia 13 de dezembro de 1910.
Para surpresa de todos, o Papa recebeu-a
benignamente em audiência particular, assistida pelo Cardeal espanhol Vives y
Tuto. Mais uma surpresa esperava a todos: o Papa não só aprovou seu plano como
a encorajou e exprimiu-lhe o desejo de que sua congregação fosse instalada ali
mesmo em Roma, e que as intenções de suas imolações e orações fossem não só
pelo Santo Padre mas por todos os sacerdotes da Igreja.
Obtida a anuência do Papa, Madre Francisca deu
início à sua congregação, que teve o nome de “Companhia da Virgem”. Ela
pretendia fundar uma Ordem que fosse como que o ramo feminino da Companhia de
Jesus. Após anos de ingentes esforços, finalmente em 1918 seu pequeno grupo de
religiosas adquire a primeira casa de recolhimento e a 12 de junho de 1921 era
fundado o primeiro mosteiro da nova Congregação, situado em Roma como pediu o
Papa. Seguiu a Regra de São Bento. Atualmente, tem um mosteiro no Brasil, em
Petrópoles.
Tal foi a grandeza da Obra realizada por Madre
Francisca de Jesus que sua vida mereceu uma hagiografia escrita pelo grande
teólogo Reginaldo Garrigou-Lagrange, um dos expoentes da luta contra o
Modernismo e seu último diretor espiritual, onde também o Autor transcreve os
escritos místicos da Madre, considerada uma vítima expiatória pelo papado. [1]
Deixou escrito para suas filhas espirituais alguns
conselhos sobre a Virgindade Consagrada.
Os informes acima buscamos num resumo do texto de
Garrigou-Lagrange feito pelo Dr. Plínio Corrêa de Oliveira.[2]
[1]
Vide “Madre Francisca de Jesus”, de Reginaldo Garrigou-Lagrange, Editora “Santa
Maria”, 1932
[2]
Legionário, 381, de 31 de dezembro de 1939 e revista “Dr. Plínio” n. 299, de
fevereiro de 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário