(São Vicente Ferrer foi poderoso taumaturgo, converteu milhares de judeus e muçulmanos e foram contados para sua canonização 873 milagres, enquanto seus cronistas afirmam que fez mais de 40 mil. Doutor Plínio comenta sobre este grande santo num "Santo do Dia")
Hoje é aniversário da morte de Francisco Marto, a quem Nossa Senhora apareceu em Fátima. Ele faleceu em 1919.
Amanhã será a festa
de São Vicente Ferrer, Confessor, “que contribuiu para a extinção do grande
cisma do Ocidente no século XIV”. A seu respeito, temos os seguintes dados:
“Vicente Ferrer
nasceu na Espanha, em 1357. Sua vocação foi anunciada a seus pais de forma
miraculosa, antes de seu nascimento. A seu batismo acorreu toda a cidade de
Valença, sendo seus padrinhos os membros do Conselho Municipal.
“Entrou para a
Ordem Dominicana aos 18 anos, revelando logo rara inteligência e dotes para a
pregação. Acompanhou o cardeal Pedro de Luna a Avinhão, sendo que algum tempo
depois este foi eleito papa sob o nome de Bento XIII, na época do grande cisma
que dividia a Igreja. O novo papa quis que Vicente fosse seu auxiliar, mas o
santo sabia que esta não era a sua missão. Assim deu início à grande obra de
evangelização como pregador.
“Percorreu a
França, Espanha, Itália e Inglaterra, esta última por especial pedido do rei
Henrique IV. Os pecadores mais endurecidos não resistiam às suas palavras,
assim como numerosíssimos judeus, muçulmanos e cismáticos se convertiam. A
ignorância e a corrupção dos costumes, coisas comuns da guerra e do cisma,
tornavam necessárias as missões de Vicente. Era preciso um apóstolo cuja voz
terrível pudesse abalar as consciências a fim de arrancar os pecadores às suas
desordens. O Santo tratava comumente somente dos temas mais assustadores do
cristianismo tais como o pecado, o juízo de Deus, o inferno e a eternidade.
Tinha, além disso, o dom de pronunciar seus discursos da maneira a mais patética.
Não se contentando em ser veemente, ele falava ainda de uma maneira
proporcionada à compreensão dos ouvintes. A santidade de sua vida dava nova
força às suas palavras.
“Sua fama chegou ao
reino mouro de Granada, cujo soberano Mohamed Yusuf III quis ouvi-lo. São
Vicente começou a promover tantas conversões que os ministros do rei, temerosos
do que sucederia à crença muçulmana, pediram-lhe que afastasse dali o grande
pregador.
“Depois de uma
existência toda consagrada a levar almas para Deus, pontilhada por milagres sem
conta e pela luta contra o doloroso cisma de Avinhão, que culminou pela
condenação pelo Santo do antipapa Pedro de Luna e a aceitação completa de
Martinho V, que fora escolhido pelo concílio de Constança, São Vicente veio a
falecer na Bretanha, em 1419, aos 62 anos de idade.”
Tenho a impressão
de que poucas coisas são tão bonitas na hagiografia quanto o nós situarmos a
missão do santo no panorama proposto pela RCR (Revolução e Contra-Revolução).
Segundo tal panorama, no século XIV, a Cristandade começava a decair. Era uma
decadência eclesiástica tremenda que se atestava pelo fato de haver ao mesmo
tempo papas exilados em Avinhão, que estavam sob a férula dos reis de França. E
um cisma tremendo: três papas que se combatiam reciprocamente, dos quais,
naturalmente, um só era válido. Mas estava de tal maneira a confusão na
Cristandade, que para cada pseudo-papa ou papa, havia santos que estavam do seu
lado. Os senhores compreendem o que significava, para isso ser possível, a
putrefação toda do clero. Mas esta acarretava, por sua vez, como conseqüência,
a degenerescência dos fiéis. E era toda a Idade Média que entrava em
decomposição, de caráter mais moral do que intelectual; era uma explosão de
orgulho e de sensualidade que começava, a qual devia depois gerar os desvios
intelectuais que são os erros da Revolução.
Então a Providência
manda, muito adequadamente, para essa época, um santo que foi grande na sua
Ordem como, por exemplo, foi grande na sua esfera própria, São Tomás de Aquino.
Porque se se pode dizer, de um lado, que São Tomás de Aquino foi Doutor Comum,
o filósofo dos filósofos, o teólogo dos teólogos, pode-se dizer que como
pregador popular – depois dos Apóstolos – ninguém excedeu provavelmente São
Vicente Ferrer, nem mesmo, no século XIX, Santo Antônio Maria Claret, que foi
um pregador assombroso.
São Vicente Ferrer
dizia de si mesmo que era o “Anjo do Apocalipse”, que tinha vindo para anunciar
a derrocada da Civilização Cristã e o começo do fim do mundo. E de fato ele
lutou enormemente para a moralização dos costumes, lutou para que exatamente
essa decadência moral se sustasse.
Essa ficha
biográfica que acabei de ler aqui é muito sintomática, porque menciona as
conversões que São Vicente Ferrer obteve, mas como fatos colaterais, não digo
secundários, mas de uma importância menor dentro do conjunto de sua obra. O
grande fato era o poder de sua pregação, por onde sacudia as consciências meio
adormecidas e por onde ele era, por excelência, o santo oposto à tibieza.
Porque esse tipo de santo que fala sobre inferno, pecados, que tonitroa, que
pede o castigo do Céu, é exatamente o santo chamado sobretudo para falar às
almas tíbias, porque de outro modo não poderia converter. Então compreendemos o
número colossal de conversões que operou. Porém essas conversões, por mais
numerosas que tenham sido, foram insuficientes. Delas não nasceu um movimento,
uma onda organizada para combater a Revolução que surgia. E o resultado é que
converteu muitas almas, mas não a sociedade enquanto tal. Em outros termos, ele
não foi tão ouvido pelos homens de seu tempo quanto era devido. São Vicente
Ferrer foi o dique que a Providência levantou, mas que a maldade
Mas na abertura
dessa torrente que começa a cair para o abismo, fica de pé sua figura
grandiosa, anunciando as catástrofes que provinham do fato de ele não ter sido
ouvido. Exatamente como de um profeta do Antigo Testamento anunciando desgraças
ao povo de Deus, porque não tinha ouvido o enviado de Deus.
Assim, fica sua
imensa figura pairando sobre o firmamento da Igreja no fim de um pórtico que é
o fim da Idade Média e que pode ser considerado o começo da Revolução.
Aí está a imensa
figura de São Vicente Ferrer e a explicação histórica de seu estilo de pregar,
dos dons com que foi favorecido e da missão que recebeu de Deus.
(Plínio Corrêa de Oliveira - Santo do Dia, 04 de abril de 1966)
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