(Sagração de Carlos Magno por São Leão III - de Jean Fouquet)
Hoje, 12 de junho, comemora-se a festa de São Leão III, o Papa que coroou Carlos Magno e restaurou o Império Romano debaixo da sacralidade católica. Transcrevemos a seguir o texto publicado por um site católico que bem expressa o fato, e a seguir comentários feitos por Dr. Plínio Corrêa de Oliveira:
A coroação de Carlos Magno como Imperador do
Ocidente pelo Papa Leão III, no dia 25 de dezembro de 800,
é um dos eventos mais significativos da história medieval. Este acontecimento
não apenas marcou a fundação do Sacro Império Romano-Germânico, mas
também selou uma aliança entre o poder papal e o poder secular que influenciaria
a política e a religião na Europa por séculos. A relação entre Igreja e
Estado que surgiu desse evento moldou o futuro da Cristandade na
Idade Média e teve impactos profundos na história da Europa.
Carlos Magno, rei dos Francos, havia expandido seu império
consideravelmente, unificando grande parte da Europa Ocidental sob
seu domínio. Seu governo, centrado na França, representava um
fortalecimento do cristianismo na região, e sua aliança com a Igreja foi
estratégica para consolidar seu poder. O Papa Leão III, que
enfrentava desafios em Roma devido à oposição local e ameaças de sua própria
perda de poder, viu em Carlos Magno um aliado crucial. A coroação de
Carlos Magno, portanto, não foi apenas uma questão de honra, mas uma estratégia
política para reforçar a autoridade papal.
O contexto dessa coroação estava ligado a uma série de
eventos que aconteciam em Roma. O Papa Leão III havia sido atacado e quase
morto por seus inimigos, que estavam tentando tomar o controle da cidade.
Quando ele fugiu para a corte de Carlos Magno, encontrou proteção e apoio, e
foi aí que surgiu a ideia de coroá-lo como imperador. Ao fazê-lo, o
Papa não só reconheceu a autoridade secular de Carlos Magno, mas também
reforçou a autoridade da Igreja sobre os assuntos do império
cristão. A coroação foi, assim, uma forma de afirmar que o Papa detinha o direito
de conferir o título imperial, uma prerrogativa que se tornaria uma
característica central da relação entre Igreja e Estado durante a Idade Média.
Ao ser coroado, Carlos Magno se tornou o primeiro imperador do
Sacro Império Romano-Germânico, um império que teria um grande impacto na
história da Europa. O termo “sacro” refletia a ideia de que o império tinha
uma legitimidade divina, baseada no apoio da Igreja.
Este evento também significava a tentativa de restaurar o que muitos viam como
o Império Romano, que havia caído séculos antes, mas agora em uma
forma cristianizada. A coroação de Carlos Magno representava,
portanto, o início de uma nova era, onde a Igreja e o império estavam profundamente
entrelaçados.
A relação entre o Papa Leão III e Carlos Magno tornou-se
a base de uma nova aliança entre o poder secular e o poder religioso.
O Papa não apenas coroou Carlos, mas também legitimou seu
império como o legítimo sucessor do Império Romano, conferindo-lhe uma autoridade
divina. Ao fazer isso, o Papa Leão III demonstrou que a Igreja tinha
o poder de conferir legitimidade aos governantes e de
influenciar a política do império cristão, uma ideia que perduraria por toda a
Idade Média.
Essa relação entre a Igreja e o império seria fundamental para a
política europeia nos séculos seguintes. A corona imperial conferia
a Carlos Magno uma responsabilidade espiritual além de sua
autoridade secular, o que significava que ele deveria proteger a Igreja e
defender o cristianismo em suas terras. Isso foi especialmente importante
porque, com o império sendo vasto e diversificado, a Igreja se
tornaria a instituição unificadora entre diferentes povos e
culturas, ajudando a manter a coesão do império.
Além disso, a coroação de Carlos Magno também teve
implicações religiosas e culturais. A Igreja desempenhou um papel central na
vida cotidiana do império, e os escritos religiosos e a educação
cristã se tornaram fundamentais para a administração imperial. A aliança
com o Papa também ajudou a estabelecer uma hierarquia religiosa que
visava consolidar a fé cristã em toda a Europa Ocidental.
Durante seu reinado, Carlos Magno incentivou a reforma religiosa,
fundando escolas monásticas e promovendo a preservação dos textos
clássicos e escritos cristãos.
A coroação de Carlos Magno por Papa Leão III, portanto,
foi um marco tanto no desenvolvimento da Igreja quanto no
do império secular. Esse evento simbólico fundou o que seria
conhecido como o Sacro Império Romano-Germânico, uma entidade que
duraria até 1806. A influência dessa aliança entre o papado e o império
ressoaria ao longo dos séculos, com a Igreja desempenhando um papel central na
política europeia, nas guerras, nas alianças e até nas lutas pelo poder entre
o Papa e os monarcas da Europa.
Em conclusão, a coroação de Carlos Magno por Papa
Leão III não foi apenas um ato de honra, mas uma manobra política
estratégica que deu origem ao Sacro Império Romano-Germânico. Essa
aliança entre a Igreja e o Império tornou-se
um pilar da idade medieval, moldando a política europeia e a
relação entre poder secular e religioso. A legitimidade divina conferida
ao império por parte da Igreja teve efeitos duradouros, influenciando o curso
da história da Europa e do cristianismo até os tempos modernos”.
“Todo
mundo sabe o lindíssimo fato de que no ano de 800 ele se achava na primeira
basílica papal, ou seja, na então igreja de São João de Latrão (hoje Basílica),
em Roma, genuflexo, rezando antes de o Papa entrar para celebrar a Missa de
Natal. Quando o Sumo Pontífice ingressou, veio trazendo uma coroa de ouro e, na
pessoa de Carlos Magno reconstituía o Império Romano esboroado, proclamando-o
Imperador. O povo aclamou: "Viva Carlos Magno, nosso Imperador!"
Estava restaurado assim o Império Romano, que haveria de durar cerca de mil
anos.
Esse
gesto é lindíssimo! É a Igreja reconhecendo e coroando na terra aquele que Deus
por certo terá coroado no Céu.
Há também
outro aspecto bonito a ser considerado: o poder de um Papa! O Império Romano é
uma instituição que não nasceu dos Papas. O senado romano foi quem criou a
grandeza romana e os imperadores romanos nasceram da decadência da república
romana, uma instituição pagã, portanto, mas que se cristianizou com
Constantino. O Papa se julgava e estava no poder de recompor o Império Romano.
Recompôs e fundou o Sacro Império Romano, ou seja, o Império Romano Sagrado,
feito para a defesa da Fé.
Nessa
noite de Natal, Pedro acabava de forjar para si um gládio de ouro, que era o
Sacro Império Romano Alemão, com a missão de defender a Fé por toda a
Cristandade...
Maravilhas,
belezas! Elas nos lembram dias tão diferentes dos que hoje vivemos. Mas há
certos ideais que nunca morrem, porque são diretamente deduzidos da Fé, e são
imortais como a Fé! E quando se ouve narrar fatos desses, a gente compreende
que a Historia do mundo não pode terminar simplesmente numa derrota de Deus.
Tem que haver uma monumental desforra. E a Revolução gnóstica e igualitária tem
que ser derrotada de maneira a se constituir o Reino de Maria, para o qual o
mundo foi criado. O mundo foi criado por Deus para que, em determinado momento,
o reino d’Ele sobre o mundo fosse pleno. É preciso que isto se realize.
Temos
então da recordação desses fatos uma esperança no futuro, e aquilo constitui -
usando a expressão norte-americana que achei tão boa - um “anacronismo
criativo”. Nada de mais anacrônico do que o Império de Carlos Magno, mas é um
anacronismo criador. A lembrança desse Império cria a esperança de um futuro,
cria a certeza de um futuro. Nós caminhamos para a restauração daquela ordem de
que Carlos Magno foi um símbolo.”
(Plínio Corrêa de Oliveira – Santo do Dia – 30 de
outubro de 1972)
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