A NOBREZA POVOOU O BRASIL – Ao contrário do que dizem alguns professores mal informados, não foram os degredados que povoaram nosso país no início da colonização, mas nobres de grandes linhagens. Só se conhece um degredado deste período, João Ramalho, enquanto são citados dezenas de nobres e heróis de grande porte. De uma só vez vieram para a Bahia, em 1624, 500 napolitanos, sendo que deste total dezenas eram nobres espanhóis, portugueses e italianos. Dentre os que aqui ficaram morando com a família destacam-se o Conde de Bagnuolo e o Conde de Sanfeliche, além de muitos outros.
De todas estas famílias da alta nobreza destaca-se a de Mem de Sá, que aqui fixou residência e deixou descendência num período em que o Brasil não oferecia comodidade e lucro nenhum a seus colonizadores, a não ser a catequese e civilização de nossos índios.
Vinha o nobre português já sabendo que aqui não encontraria comodidades, mas um trabalho árduo e martirizante. Num esboço biográfico de Mem de Sá, São José de Anchieta assim se refere ao estado das coisas no Brasil quando da chegada do grande governador:
“Envolta, há séculos, no horror da escuridão idolátrica, houve nas terras do Sul uma nação, que dobrava a cabeça ao jugo do tirano infernal, e levava uma vida vazia de luz divina. Imersa na mais triste miséria, soberba, desenfreada, cruel, atroz, sanguinária, mestre em trespassar a vítima com a seta ligeira, mais feroz que o tigre, mais voraz que o lobo, mais assanhada que o lebréu, mais audaz que o leão, saciava o ávido ventre com carnes humanas. Por muito tempo tramou emboscadas: seguia, no seu viver de feras, o exemplo do rei dos infernos, que por primeiro trouxe a morte ao mundo, enganando nossos primeiros pais. Dilacerava o corpo de muitos com atrozes tormentos, e, embriagado de furor e soberba ia enlutando os povos cristãos com mortes freqüentes”
Mais adiante, na mesma obra, São José de Anchieta completa a descrição do estado bárbaro e desumano dos nossos índios:
“(...) O bárbaro expandindo sua ira quebrantava as leis da natureza e os divinos preceitos do Pai onipotente cevando as queixadas bestiais em corpos humanos! Essa raça selvagem, sem a menor lei, perpetrava crimes horrendos contra os mandados divinos, proferindo impunemente ameaças contínuas e altivos discursos. Então com arrogância o índio sanhudo olhava para os cristãos, e estes, entrincheirados detrás de seus muros, tremiam de pavor vergonhoso: como quando lobos vorazes, que a fome impiedosa açula e avassala, rangendo os dentes, cobiçam, à ronda do aprisco, espostejar os tenros cordeiros e extinguir a sede ardente no sangue que sugam; lá dentro as ovelhas estremecem e fremem com medo das feras que rondam fora, mal confiadas no aprisco”
Para piorar, havia ainda a triste situação de alguns clérigos corrompidos, descrita anteriormente, que estimulava este estado de coisas em vez de combatê-lo. Tornava-se necessário fazer algo para pôr fim a tudo isto. Os padres da Companhia de Jesus, sozinhos, ainda pouquíssimos e divididos ao longo de terras tão extensas, necessitavam de um apoio maior par seu trabalho. Era necessário que surgisse um herói, um santo de grande quilate para dar início a este trabalho de suporte das missões jesuíticas. Quem seria este herói? Mem de Sá:
“Mas um dia o Pai onipotente volveu os olhares do reino da luz à noite das regiões brasileiras, às terras que suavam, aos borbotões, sangue humano. Então mandou-lhes um herói das plagas do Norte, um herói que vingasse os crimes nefandos, que banisse as discórdias, freasse o assassínio, bárbaro e contínuo, acabasse com as guerras horrendas, abrandasse os peitos ferozes e não sofresse impassível cevar-se em sangue de irmão queixadas humanas...”
(De Gesti Mendi de Saa” – Pe. Joseph de Anchieta, SJ – Edições Loyola, 1986, págs 127, 66 e 93)
Nenhum comentário:
Postar um comentário