Dr. Plínio vai descrever a psicologia de um grande Santo, Santo Odilon cuja festa ocorre a 4 de janeiro. Nesse “Santo do Dia” ele se serve de um hagiógrafo contemporâneo do Santo, o padre Jardet.:
“...Portanto é documento direto, de quem
conheceu Santo Odilon. Os senhores podem, nessa descrição, ter a idéia do que
era um varão monacal e sacral da Idade Média. E fazer a comparação entre esse
tipo e o tipo do progressista por exemplo.
Para começar pelos seus menores méritos:
"Esse homem tinha um passo grave,
uma voz admirável."
Um passo grave: os senhores estão vendo
que é diferente do saltitar progressista, não é? É um homem que anda com passo
firme, pisando onde pisa, mas sem corre-corre.
"Ele falava bem; era uma alegria
vê-lo. Seu rosto angélico, seu olhar sereno, cada um de seus movimentos e de
seus gestos, todo ato de seu corpo exprimia a honestidade".
A "honestidade" na antiga
linguagem, não tinha o sentido de hoje, restrito à virtude por onde não se
rouba o que é dos outros. É a honestidade no sentido latino da palavra,
"honestas", que é a dignidade, a compostura e a elevação. Quer dizer,
um modo exterior de ser que corresponde à virtude interior. É isto.
"Cada dobra de suas vestimentas
revelava dignidade, o respeito de si mesmo e dos outros".
Os senhores vejam que beleza isto, um
frade, um monge, com sua grande túnica beneditina, e que não anda nunca a não
ser com esta dignidade, de tal maneira que qualquer dobra do seu traje revela o
respeito que ele tinha de si e dos outros. E esta alma cheia de respeito de si
e dos outros, como é uma alma diferente da alma revolucionária a que nós
estamos tão habituados.
"Tinha em si qualquer coisa de
luminoso que convidava a imitá-lo e a venerá-lo."
É bem o homem no qual está Deus e em que
transparece a graça. Aquele comentário de um advogado do Cura de Ars, quando
perguntaram: "o que é que vós fostes ver em Ars, o que vistes em Ars? E
ele respondeu: Eu vi Deus num homem." Aí os senhores estão vendo Santo
Odilon, esta espécie de presença, de transparência de Deus.
"A luz da graça que habitava nele,
brilhava, por assim dizer, no exterior manifestando o quilate de sua alma.
Porque o comportamento de uma alma, diz-se, transparece na apresentação do
rosto.
"Falemos brevemente de sua
aparência exterior. Era de porte mediano, seu rosto exprimia simultaneamente
autoridade e benevolência".
Isto é uma outra coisa profundamente
contra-revolucionária, porque para o revolucionário a autoridade nunca é
benevolente, e a benevolência jamais é autoritária. E para o
contra-revolucionário, não: a autoridade e a benevolência se aliam. Os senhores
estão vendo o rosto deste abade, que era um dos mais altos dignatários da
Igreja naquele tempo, e cuja fisionomia exprimia ao mesmo tempo autoridade e
benevolência.
"Com os mansos mostrava-se
sorridente, acolhedor; mas para com os orgulhosos e rebeldes tornava-se
terrível, a ponto de eles não poderem suportar o seu olhar".
Se ele vivesse hoje, incutiria medo no
revolucionário; o revolucionário chegando perto dele sentiria susto, sentiria
mal estar. Pelo contrário, os contra-revolucionários sentiram nele a bondade, o
acolhimento, a afabilidade.
"Nele a magreza acentuava a força e
a palidez era elegância".
Não sei se os senhores vêem que espécie
de homem é: quer dizer, asceta, esguio, magro, mas magro com elegância. Quer
dizer, há um jeito de ser magro, que o sujeito é desossado, uma
geringonça. Mas há um ser magro que é todo animado pela alma. E que toma uma
certa elegância. Ele é desse tipo. E a palidez nele era elegante. Há realmente
uns pálidos nos quais a palidez é doença. Mas há uns pálidos nos quais a
palidez é distinção, é quase uma cor de marfim, é uma coisa superior.
"Os cabelos brancos era uma
distinção. Seus olhos tinham um brilho singular que inspirava ao mesmo
tempo o espanto e o temor. Eram olhos acostumados às lágrimas, porque tinha
recebido a graça da compunção".
A graça da compunção é aquela pela qual
a gente se condói tanto com as coisas de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa
Senhora e da Igreja, que se chora por causa disto. Então, eram olhares que
tinham o brilho do pranto, que é um brilho suave, é um brilho doce, um brilho
convidativo. Os senhores podem imaginar a beleza ver esse homem passar da
consideração de Nossa Senhora, para um olhar terrível e fulminante, e depois
acariciar um doente ou um pobre... Que diferença de modulações de alma deveria
haver nisto, e que privilégio teria sido a gente conhecer esse homem.
"De seus movimentos, de seus
gestos, de seu passo, emanava uma espécie de autoridade, de gravidade e de
paz".
Os senhores vêem que coisa bonita:
autoridade, seriedade e paz. Isto aí é bem a imagem do superior e o ambiente
que o superior deve constituir em torno de si.
"Sua acolhida era um raio de
alegria e de graça, uma extraordinária surpresa para quem chegava. Era
perfeitamente senhor de si. Sem artifício, sem fraudes, a natureza tinha feito
dele qualquer coisa de admiravelmente harmônico e todo posto em ordem. Santo
Ambrósio tem razão em dizer que a beleza não tem lugar de virtude. Contudo,
desprezaremos essa graça?"
Quer dizer, Santo Ambrósio tinha razão
de dizer que o varão belo nem por isso é virtuoso. Mas, pergunta o biógrafo:
por causa disso desprezaremos a beleza que Deus quis dar a um de seus santos?
Santo Ambrósio era um desses homens assim. Os senhores vêem que é uma dessas
culminâncias da humanidade, que Deus cria de séculos em séculos para iluminar a
Igreja e para mostrar como deve ser um clérigo verdadeiro, inteiramente segundo
o espírito de Deus, ou como deve ser o perfeito católico.
"Primeiro na dignidade ele era
abade, ele se esforçava por ser igualmente o primeiro no trabalho, seguindo a
palavra da Escritura: "Jesus se pôs a operar e a ensinar". Grande
leitor, tinha freqüentemente um livro nas mãos, mesmo em viagem".
Não pensem os senhores que era a mesma
coisa viajar de avião lendo e viajar a cavalo naquele tempo; cavalo assim... e
com estradas péssimas e lendo... E depois, hoje livro é "pocket book";
naquele tempo, era um livraço assim... o sujeito ia carregando, ia andando a
cavalo, coisa dura, hein!...
"Enquanto cavalgava, refazia na
leitura as forças de sua alma".
Viagens terríveis, hein!... Mas ele ia
lendo e refazendo as forças da alma, enquanto andava a cavalo, gastava as
do corpo.
"Quando meditava os livros da
sabedoria mundana...
Quer dizer, os livros que não são
inspirados pela Igreja.
"...observava com sagacidade aquilo
que a voz divina dita ao legislador do Deuteronômio: "A cativa estrangeira
poderá tornar-se a esposa de seu vencedor arrasado e de garras cortadas.
Autorizado por esse exemplo, guardava na sua memória aquilo que de bom achava
nos livros dos filósofos. O resto, quer dizer, o amor e o cuidado dos bens
deste mundo, ele extirpava e alijava como coisa infecta e mortal".
Quer dizer, da literatura pagã, aquilo
que não servisse de suporte à doutrina católica, ele abandonava, desprezava.
"Perscrutava a Lei Divina com
espírito especulativo e penetrante. E sua aplicação à leitura santa, absorvia-o
a ponto de torná-lo, por instantes, alheio aos outros e até a si mesmo".
Ele esquecia até de si mesmo no meio
daquilo.
"Entregava-se, pode-se dizer, todo
inteiro ao livro Sacro. Lá, ele auferia das fontes do Salvador o que distribuía
em seguida gratuitamente. Ele rodeava-se de doutores, desejando sempre aprender
deles."
Quer dizer, enquanto todos o
consideravam um poço de ciência, disso ele não tinha vaidade, não se
considerando um grande homem.
"Mas perscrutava as coisas
divinas como uma criança, desejando com toda alma aprender sempre e sempre.
Ávido de leituras e incansável na oração, pode-se dizer que a toda hora
era útil aos outros e a si mesmo. Quando guardava o silêncio, estava com o
Senhor, mas, se falava, era sempre no Senhor ou do Senhor."
Vejam que magnífico elogio! Quer dizer
que quando ele se calava, estava com Deus. Quando ele falava, era de Deus e em
Deus. Quer dizer, apoiado por Deus e estimulado por Deus.
Isto aí é uma parte da personalidade
dele. Mas é tão longa a descrição, que creio que nós podemos validamente deixar
o resto para outro Santo do Dia.
(Plinio Corrêa de Oliveira - Santo do Dia, 22 de maio de 1972)
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