Nos primeiros séculos, a Igreja só tinha mestres
semelhantes aos Apóstolos. Os catequistas eram seus doutores. Esta função
divina de ensinar, de maneira simples e familiar, a Doutrina Cristã era a mesma
que os bispos herdaram de Jesus Cristo; consideravam-na peculiar à sua
qualidade de pais e pastores. Quando, com o aumento do número de fiéis,
viram-se constrangidos pela força das circunstâncias a passar essa tarefa a
outros, tiveram o cuidado de escolher, para tão nobre missão, os homens mais
capacitados e virtuosos de sua igreja.
Os mais destacados
doutores dos primeiros séculos da Igreja ufanaram-se da função de catequista e
da preparação dos catecúmenos para o batismo.
São Cirilo, bispo de Jerusalém, Santo Ambrósio, arcebispo de Milão, São
Gregório de Nissa e Santo Agostinho até compuseram livros, que ainda
conservamos, para orientar os catequistas e ensinar-lhes o método de
transmitirem os princípios da fé às crianças
e aos adultos que se preparavam para o batismo.
Na igreja de Alexandria
funcionava uma célebre escola de catequistas para instruir os catecúmenos.
Pantenus, São Clemente de Alexandria e Orígenes, que sucessivamente a
dirigiram, deram à escola tanta fama, que para ela acorriam pessoas das mais
longínquas regiões. Nela, São Gregório
Taumaturgo aprendeu os rudimentos da fé e fez progressos tais, que o tornaram
célebre pelos séculos afora.
Entre as honrarias da
Igreja de Constantinopla, o registro dos serviçais menciona a de catequista,
cujas funções eram instruir o povo e todos os que abandonavam a heresia para
retornar ao seio da Igreja Católica. Orígenes foi encarregado da doutrina aos
catecúmenos já aos dezoito anos quando ainda era leigo. Em Cartago, São Cipriano nomeou para o mesmo
serviço um mestre de retórica chamado Optato.
Declara-o nestes termos: “Nomeamos Optato, um dos leitores, mestre dos
catecúmenos”. Duzentos anos depois, o diácono Deogratias exercia idêntica
função na mesma igreja, e foi a seu pedido que Santo Agostinho compôs o belo
livro intitulado: “De catequizandis rudibus”[1]. Tudo isso comprova que se confiava
essa tarefa ora a um diácono, ora a um sacerdote e, às vezes, até a um simples
leigo e que, na seleção de catequistas, olhava-se menos a posição social da
pessoas do que seus talentos, virtudes e dons particulares.
Isso continuou até que,
tendo a maioria dos homens abraçado o cristianismo, a falta de catecúmenos fez
desaparecer aos poucos a função de catequista. Em tal situação, os pais e as
mães e, na falta deles, os padrinhos e as madrinhas assumiram o encargo de
ensinar a doutrina às crianças. Ao mesmo tempo, os bispos fundaram escolas para
instruir a juventude na religião e nas ciências humanas. A criação, nas igrejas
catedrais, do título de “écolâtre”, ou chanceler, remonta àquela época. Os que
eram investidos dessa dignidade deviam supervisionar as escolas primárias e
tinham o direito de: nomear os mestres e as mestras de primeiras letras e
dar-lhes posse; resolver e julgar eventuais divergências; e, elaborar estatutos
e regulamentos para as escolas primárias e exigir-lhes exata observância.
Foi daí que surgiu a “Escolástica”. O termo “Escolástico” vem do latim
“Scholasticus”, que designava o clérigo dirigente da escola vinculada à igreja
catedral. Na França medieval, a palavra
latina foi deformada para “scolastre”, gerando o termo francês “Écolâtre”. No início do Cristianismo era muito comum se
determinar que alguém ensinasse o Catecismo, sendo depois regulamentada aquela
função com a designação de um clérigo que, futuramente, ficou dirigindo a
escola vinculada à igreja principal, ou catedral. No decorrer dos anos, o termo foi evoluindo
até tomar o significado que tem hoje: nome de um método de ensino utilizado
nas escolas e universidades medievais a partir do século XI. Várias etapas
compõem esse método. A primeira consiste em comentar e explicar os autores,
isto é, os escritores considerados autoridades na matéria tratada. A isso
chama-se “lectio”, na verdade uma exposição que começa com a análise do texto,
de sua correção e significação. A seguir, uma discussão (“disputatio”), onde se
estabelece a sentença, isto é, o ensinamento que se pode tirar do texto. A
partir do momento em que esse texto é posto em questão, surge a terceira fase
do método (‘questio”) na qual alunos e mestres apresentam a conclusão do que
examinaram (“determinatio”), sempre dirigida pelo professor. Então, “lectio”,
“disputatio”, “questio”, e “determinatio” formam o caminho percorrido pela
Escolástica para se chegar á Verdade, que seria a “conclusio”. Duas vezes por ano, os professores organizavam
uma reunião chamada “quodlibet”, em que propunham o debate de um tema sugerido
por qualquer pessoa presente. A Escolástica tornou-se, com o tempo, o nome que
sintetiza as doutrinas teológicas e filosóficas dominantes na Idade Média, cujo
cume foi atingido com o Tomismo.
A maioria dos concílios
medievais, notadamente os de Châlons-sur-Saône (813), Aix-la-Chapelle (816),
Paris (829), Meaux (845), Troflé (909), e Latrão (1179 a 1198), recomendavam
encarecidamente a fundação de escolas e obrigaram os párocos a ensinarem o
catecismo ao povo.
Apesar do empenho da
Igreja, ainda havia muita ignorância religiosa.
Jean Charlier, conhecido como Jean de Gerson, ou simplesmente como
Gerson, (1363-1429) famoso reitor da Universidade de Paris e teólogo notável,
teve que escrever um livro , “Traité du zèle pour attirer les petits enfants à
Jésus-Christ” (Tratado do zelo para levar as criancinhas à Jesus Cristo), com
objetivo de catequizar as crianças. Ele
próprio, reitor e teólogo de fama, exerceu as funções de catequista em Lion,
tendo por isto sido julgado como pessoa de mente fraca.
Anos depois, o Concílio de
Trento promulgava vários decretos cujos objetivos eram a catequese. Num deles cada vigário era obrigado a dar o
catecismo às crianças, aos domingos e dias de festa. Numerosos concílios
provinciais confirmaram e publicaram os decretos do Concílio de Trento,
obrigando por sua vez seus pastores a serem catequistas de suas paróquias. Na
Itália, São Carlos Borromeu foi o primeiro a apoiar a medida, ordenando
inclusive que as crianças fossem chamadas ao catecismo pelo toque do sino.
Nos dias atuais a
catequese (dar aulas de catecismo) é função quase exclusiva dos leigos, havendo
pouquíssima (ou quase nula) participação de sacerdotes ou religiosos de modo
geral nesta sublime missão. Da mesma forma, o catecismo dedicado às crianças
não sofreu substanciais modificações didáticas, sendo que a última data ainda
do tempo de São Pio X. João Paulo II autorizou a atualização do Catecismo da
Doutrina Cristã, mas não é voltado inteiramente para crianças e sim para
pessoas já instruídas e adultas.
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