“...Cada um dos Reis era seguido por quatro pessoas de sua
família, além de alguns criados de Mensor que levavam uma pequena mesa, um
carpete com adornos e outros objetos.
Os Reis seguiram José, e ao chegar sob o alpendre, diante da
gruta, cobriram a mesa com o carpete e cada um deles punha sobre ela as
caixinhas de ouro e os recipientes que tiravam de sua cintura. Assim ofereceram
os presentes comuns aos três. Mensor e os demais tiraram as sandálias e José
abriu a porta da gruta. Dois jovens do séquito de Mensor, que o precediam,
estenderam um tapete sobre o piso da gruta, retirando-se depois para trás,
seguindo-os outros dois com uma mesinha onde estavam colocados os presentes.
Quando estava diante da Santíssima Virgem, o rei Mensor depositou estes
presentes a seus pés, com todo respeito, pondo um joelho no chão. Atrás de
Mensor estavam os quatro de sua família, que se inclinavam com toda humildade e
respeito. Enquanto isso, Sair e Teokeno[1]
aguardavam depois, perto da entrada da gruta. Adiantaram-se por sua vez, cheios
de alegria e de emoção, envoltos na grande luz que enchia a gruta, apesar de
não haver ali outra luz a não ser o que é a Luz do mundo. Maria encontrava-se
recostada sobre o tapete, apoiada sobre um braço, à esquerda do Menino Jesus, o
qual estava recostado dentro da manjedoura, coberto com um lenço, cuja
manjedoura estava posta sobre um tablado alto. Quando entraram os Reis, a
Virgem colocou o véu, tomou o Menino em seus braços e cobriu-o com um véu
maior. O rei Mansor ajoelhou-se e oferecendo os dons pronunciou ternas
palavras, cruzou as mãos sobre o peito, e com a cabeça descoberta e inclinada,
rendeu homenagem ao Menino. Entretanto, Maria havia descoberto um pouco a parte
superior do Menino, o qual olhava com semblante amável a partir do centro do
véu que o envolvia. Maria sustentava sua cabecinha com um braço e o rodeava com
outro. O Menino tinha suas mãozinhas sobre o peito e as estendia graciosamente
a seu redor. Oh, quão felizes sentiam-se aqueles homens vindos do Oriente para
adorar ao Menino Rei!
Vendo isto dizia para mim: “Seus corações são puros e sem
mancha; estão cheios de ternura e de inocência como os corações dos meninos
inocentes e piedosos. Não se vê neles nada de violento, apesar de estar cheios
do fogo do amor”. Eu pensava: “Estou morta; não sou mais que um espírito: de
outro modo não poderia ver estas coisas que já não existem e que, sem embargo,
existem neste momento. Mas isto não existe no tempo, porque em Deus não há
tempo: em Deus tudo é presente. Eu devo estar morta; não devo ser mais que um
espírito”. Enquanto pensava estas coisas, ouvi uma voz que me disse: “Que te
importa tudo isto que pensas?... Contempla e louva a Deus, que é Eterno, e em
Quem tudo é eterno”.
Vi que o rei Mensor tirava de uma bolsa, presa à cintura, um
punhado de barrinhas compactas do tamanho de um dedo, pesadas, afinadas na extremidade,
que brilhavam como ouro. Era seu presente. Colocou-o humildemente sobre os
joelhos de Maria, ao lado do Menino Jesus. Maria pegou o presente com um
agradecimento cheio de sensibilidade e de graça, e o cobriu com a ponta de seu
manto. Mensor oferecia as pequenas barras de ouro virgem, porque era sincero e
caritativo, buscando a verdade com ardor constante e inquebrantável. Depois,
retirou-se, retrocedendo, com seus quatro companheiros, enquanto Sair, o rei
cetrino, adiantava-se com os seus e se ajoelhava com profunda humildade,
oferecendo seu presente com expressões muito comovedoras. Era um recipiente de
incenso, cheio de pequenos grãos resinosos, de cor verde, que pôs sobre a mesa,
diante do Menino Jesus. Sair ofereceu incenso porque era um homem que se
conformava respeitosamente com a vontade de Deus de todo coração, e seguia esta
vontade com amor. Ficou muito tempo ajoelhado, com grande fervor. Retirou-se e
adiantou-se Teokeno, o maior dos três, já de muita idade. Seus membros um tanto
endurecidos não lhe permitiam ajoelhar-se: permaneceu de pé, profundamente
inclinado, e colocou sobre a mesa um vaso de ouro que continha uma formosa
planta verde. Era um arbusto precioso, de tronco reto, com pequenas raminhas
crespas coroadas de formosas flores
brancas: a planta da mirra. Ofereceu a mirra por ser o símbolo da mortificação
e da vitória sobre as paixões, pois este excelente homem havia sustentado luta
constante contra a idolatria, a poligamia e os costumes degradantes de seus compatriotas. Cheio de emoção permaneceu longo tempo com
seus quatro companheiros ante o Menino Jesus. Eu tinha pena dos demais que
estavam fora da gruta esperando sua vez para ver o Menino. As frases que diziam
os reis e seus acompanhantes estavam repletas de simplicidade e fervor. No
momento de humilhar-se e oferecer seus dons diziam mais ou menos o seguinte: “Temos
visto sua estrela; sabemos que Ele é o Rei dos Reis; vimos para adorá-lo, para
oferecer-lhe nossas homenagens e nossos presentes”. Estava como fora de si, e
em suas simples e inocentes palavras encomendavam ao Menino Jesus suas próprias
pessoas, suas famílias, o país, os bens e tudo o que tinha para eles algum
valor sobre a terra. Ofereciam-Lhe seus corações, suas almas, seus pensamentos
e todas suas ações. Pediam inteligência clara, virtude, felicidade, paz e amor.
Mostravam-se cheios de amor e derramavam lágrimas de alegria, que caíam sobre
suas faces e suas barbas. Sentiam-se plenamente felizes. Haviam chegado até
aquela estrela, pela qual há milhares de anos seus antepassados haviam dirigido
seus olhares e suas ânsias com um desejo tão constante. Havia neles toda a
alegria da Promessa realizada depois de tão longos séculos de espera.
Maria aceitou os presentes com atitude de humilde ação de
graças. A princípio não dizia nada: somente expressava seu reconhecimento com
um simples movimento de cabeça, sob o véu. O corpinho do Menino brilhava sob as
pregas do manto de Maria. Depois a Virgem disse palavras humildes e cheias de
graça a cada um dos Reis, e deixou seu véu um tanto para trás. Aqui recebi uma lição muito útil e pensava: “Com
quão doce e amável gratidão recebe Maria cada presente! Ela, que não tem
necessidade de nada, que tem a Jesus, recebe os dons com humildade. Eu também
receberei com gratidão todos os presentes que me façam no futuro”. Quanta
bondade há em Maria e em José! Não guardavam quase nada para eles, tudo o
distribuíam entre os pobres.[2]
(Texto extraído da obra "Anna Catalina Emmerick - La Vida de Jesucristo y de su Madre Santíssima (desde el nascimiento de Maria Santíssima hasta la morte de San José) Segun las visiones de la Ven. Ana Catalina Emmericj - vol. II - Editorial Surgite - págs. 163/166)
[1] Mensor,
Sair e Teokeno, eram os nomes dos três, segundo essa versão, e Melquior,
Baltazar e Gaspar, segundo uma versão portuguesa
[2]
Sobre o destino que São José e Nossa Senhora deram aos presentes recebidos só
há conjecturas: teriam sido ofertados no Templo quando o Menino Jesus foi ser
circundado? Ou nas bodas de Caná? Ou
dado aos pobres como imagina Caterina Emmerich? Particularmente o ouro, teria
sido usado para fazer o cálice da Paixão, o Santo Graal? Quanto à mirra, por ser útil como perfume e
óleo para unções sacerdotais, ou unguento para embalsamamento, a planta pode
ter sido utilizada até mesmo na Paixão – será? Já o incenso, talvez perecível, pode ter sido
usado naquele mesmo dia. Ninguém o sabe e só saberemos, talvez, na outra
vida...
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