O mundo moderno perdeu a noção do pecado, não somente o pecado individual, mas, principalmente o pecado coletivo ou social, que é cometido hoje de uma forma avassaladora. As pessoas acham tudo normal, e aqueles que censuram as modas e os modos do mundo de hoje são incompreendidos e às vezes vistos como fanáticos ou exagerados. Pio XII já dizia em seu tempo que o homem havia perdido a noção do pecado.
Para sabermos o que ele queria dizer com isso precisamos analisar o que a Igreja define como pecado. As pessoas não se notam em estado de pecado, individual ou coletivo, por desconhecerem o seu significado. E essa ignorância é decorrente do fato de não se falar hora nenhuma em pecados na sociedade moderna. Pecado geralmente é visto como uma palavra antiquada e sem sentido para a vida que se leva hoje em dia. O modo de se vestir e de falar, a maneira como todos se comportam em sociedade, os festejos, os hábitos, enfim, tudo o que gira em redor do homem moderno existe em função apenas de una cousa; lhe dar prazer e felicidade. A roupa que se veste é boa ou má se for motivo ou não de prazer, se for agradável aos sentidos ou, até, aos chamados baixos instintos. Até o modo de falar chega ao ponto de tornar os palavrões como coisa corriqueira e normal. O comportamento social, este sim é o que mais convida ais prazeres da carne, pois só é bom o que leva a tais gozos, como as praias, os jogos e as diversões, e é mal o que estraga tais prazeres. É prazer pelo prazer. Pessoas que agem assim perderam, pois, a noção do pecado. Perderam, também, a noção do Bem e do Mal. E dizem: "mas, o gozo é pecado?, gozar a vida é pecado? Se fosse assim Deus não teria deixado o prazer para o homem nesta vida! Nada neste mundo é pecado!"
E neste raciocínio passam a viver como se existissem apenas para o prazer e como se Deus não existisse. Nada daquilo que Deus determinou para os homens é cumprido, ou poderia até ser cumprido desde que não estrague os prazeres. Quem vive assim imagina que não tem nenhuma obrigação para com Deus e tudo faz nesta vida como se Ele não existisse. É um desprezo total ao seu Criador!
É bom que se saiba que Deus deixou para os homens o direito de desfrutar gozos de coisas lícitas e o uso destas coisas em si mesmas não é um bem nem um mal. O que as fazem tornar-se más é o fato de seu mau uso afastarem Deus dos homens. O prazer, o gozo, a fruição das coisas lícitas em si mesmo não é pecado desde que não nos afastem de Deus. E prazer só pelo prazer nos afasta de Deus, nos faz esquecer que vivemos nu vale de lágrimas, num campo de provas e submissos aos preceitos divinos. Nos esquecemos, no prazer, até de nosso fim último, que é "amar e servir a Deus neste mundo e gozá-lo para sempre no outro". Se nos afastamos, pois, de Deus e desta finalidade, pecamos. E quando pecamos e achamos aquilo natural é porque perdemos a noção do pecado ou mesmo a noção do Bem e do Mal.
E quem, pecando neste estado, tem consciência do que está fazendo? Pode ser que não tenha consciência, isto é, não sabe se aquele ato é um mal, é pecado, não é permitido por Deus, mas tem culpa dessa ignorância, pois se chegou àquele ponto é porque já cometeu tantos pecados que para ele aquilo se tornou rotineiro e normal. Por isso o homem não deve procurar o prazer, procurando às vezes fugir da dor e do sofrimento, os quais são fontes de Sabedoria que nos faz afastar do pecado e nos aproximar de Deus!
A ociosidade (tida como o símbolo maior do prazer) é a fonte de todos os vícios. Se não ocuparmos o nosso tempo todo com trabalho, sacrifícios, renúncias, orações, estudos, etc, fatalmente cairemos na ociosidade e muito em breve estaremos cheios de todos os vícios. O que é o pecado? Em sua natureza o pecado é um ato de ofensa a Deus, é uma desobediência à sua vontade, à suas leis, é a recusa de cumprir seus preceitos. Poderemos, entretanto, praticar um pecado sem que tenhamos exercido um ato visível sequer, até mesmo pela inércia quando isso for contra a vontade divina. É bem o caso da ociosidade, que é uma inércia do corpo? Mas, é a mente? Pecamos também por pensamentos. ⁷ Se for possível ficarmos inertes, tanto no corpo quanto na mente, em total ociosidade, até mesmo sem pensar em nada, estaremos cometendo um grande pecado contra Deus, pois esta atitude foi tomada antes por uma decisão da vontade de ficar alheio e insensível a Ele. Existem grandes pecados cometidos por omissão, e em geral nestes pecados as pessoas não precisam nem pensar, nem falar e nem agir, basta ficar inerte... Deus que não quer que sejamos inertes, quer que sejamos ativos, reflexo d'Ele mesmo, que é a própria ação por excelência. A inércia é a negação do ser, um pecado contra a Criação e o Criador.
Por que, então, não devemos pecar contra Deus? Em primeiro lugar precisamos ver quais os graus de pecados e depois vamos ver as razões pelas quais os mesmos não devem ser cometidos. Em grau mais elevado existe o pecado consciente, declarado, daquele que conhece bem Deus e sua Lei, mas resolveu revoltar-se contra Ele. É o caso dos anjos rebeldes, os demônios, que jazem no inferno, dos apóstatas (os que renegam a Fé após abraçá-la, conhecê-la) e dos hereges e cismáticos (que negam deliberadamente verdades reveladas e se rrvoltam contra a Autoridade constituída por Deus na sua Santa Igreja). Depois, em plano inferior, existem os pecados menores, mas em graus ofensivos também a Deus, cometidos por aqueles que não vigiaram, nem rezaram, caindo em tentação. Foram iludidos por falta da graça divina. Pode haver, também, nesta mesma faixa outro tipo de pecadores composto por aqueles que não conhecem a natureza do pecado que estão cometendo, e o praticam inconscie9ntemente. Às vezes pensam que estão agindo corretamente, pois a "verdade" que elegeram para seguir é aquela que lhes agrada. Geralmente estas pessoas são as que formam o grupo dos que conciliam o Bem com o Mal a fim de adormecer suas consciências. Pensam que estão agindo corretamente, mas na realidade estão pecando contra Deus.
Agora, respondemos à pergunta: por que não devemos pecar contra Deus? Em primeiro lugar porque Deus, infinitamente Bom e Amável, não merece que O odiemos, e o pecado sendo um ato de rejeição é um ato odioso contra o nosso Criador. Em segundo lugar, como decorrência deste ato de ódio contra Deus, d'Ele nos afastamos e passamos a sofrer as consequências disso. A primeira consequência é deixarmos de cumprir nossa finalidade enquanto seres criados por Ele para Seu serviço e Sua glória. É a morte da alma, a perca da graça que é a participação na própria vida divina.
Ao pecarmos perdemos a nossa finalidade como homem e como filho de Deus. O nosso fim último é desvirtuado, morre. Depois, então, perdemos a amizade de nosso Criador, suas graças, seus favores, entrando até em luta contra Ele. Estes são os motivos principais, fundamentais, pelos quais não devemos pecar: por ser Deus nosso Criador infinitamente amável e bondoso. Ainda que o pecado não nos fizesse nenhum mal, e como sua consequência não fôssemos condenados ao inferno e não tivéssemos a nossa natureza decaída, mesmo assim não devemos pecar pelo que Deus representa para nós, nosso Pai misericordioso sumamente amável e bondoso. No entanto, há muitas consequências maléficas decorrentes do pecado e a primeira é a decadência de nossa natureza, isto é, nos tornarmos indignos de sermos filhos de Deus e participarmos de sua vida e de sua glória. Todos os bens, materiais e espirituais, são perdidos por nós em decorrência do pecado.
Outras consequências decorrem da Justiça divina nos deixando sujeito aos seus castigos, indo das penalidades materiais nesta vida até à condenação eterna na outra.
Segundo São Boaventura o homem está sujeito a sete juízos de Deus, os quais são: primeiro juízo - da ligadura ou atadura espiritual; segundo juízo-o da obcecação; terceiro juízo - o da obstinação; quarto juízo - o do abandono da providência divina; quinto juízo - o da dissipação dos bens materiais e espirituais; sexto juízo - o da desesperação; sétimo juízo - o da condenação éterna.
ORAÇÃO PARA NÃO CAIR NOS SETE JUÍZOS DE DEUS
Meu Jesus, meu Senhor e meu Deus; como está escrito, Vós sois meu Rei e meu Juiz: "Rex, qui sedet in solio iudicii, dissipat omne maluco intuitu suo" (Prov 20, 8) - O Rei, que está sentado no seu trono de justiça, dissipa todo o mal só com seu olhar. Está escrito também que "Qui credit in eum, non judicatur, qui autem no credit, iam judicatur est, quia non credit in nomen Unigenti Filii Dei" (jo 3, 18) - Quem nele crê não é julgado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no Unigenito Filho de Deus.
Rogo-Vos, pois, humildemente, pela intercessão de vossa Mãe, Maria Santíssima, e de São Miguel Arcanjo, que me conceda a graça de jamais cair nos vossos juízos.
1º Juízo - O da Ligadura
Livrai-me, Senhor, de cair no juízo da ligadura ou atadura espiritual, pelo qual a alma fica inclinada para o Mal e com dificuldades para a prática do Bem. Por este juízo a alma perde o gosto pela oração, sem a qual poderá se perder.
Rogo-Vos, por vosso sangue derramado em vossa Circuncisão, significando que pela efusão daquele Sangue Sacratíssimo Vós havieis de ser meu Salvador. Como vosso Sangue tem valor infinito, já naquele momento resgataste minha alma do poder da ligadura espiritual e subjugastes todo o 0mundo e o próprio inferno.
Lembrai-Vos, Senhor, que vosso choro naquele momento foi acalentado pelo Santíssimo seio da Vossa Mãe, pelo que destes a Ela todo o poder misericordioso de nos livrar de vossos juízos.
2º Juízo - O da obcecação
Livrai-me, Senhor, de cair no juízo da obcecação pelo qual o pecador fica com cegueira de espírito e nada tem por pecado.
Rogo-Vos pelo Sangue que derramastes em vossa agonia no Horto das Oliveiras. Ai do coração sem ventura que vendo vosso suor de sangue não se derrete! Considera, alma minha, a íntima angústia de que era atormentado aquele mansíssimo Cordeiro, quando todo corpo destilava sangue de todos os seus poros. E tudo isto para que eu não caísse no juízo da cegueira de espirito!
Lembrai-Vos, Senhor, que ao contemplar espiritualmente vossa agonia no Horto, vossa Mãe Santíssima rogou por todos os corações obcecados, pedindo que vosso Sangue ali derramado lhes fosse útil e lhes amolecesse.
3º Juízo - O da obstinação
Livrai-me, Senhor, de cair no juízo da obstinação, aquele que faz o coração ficar duro como pedra e não sentir o temor de Vós e vossa presença nem com ameaças e promessas de castigos.
Rogo-Vos, pois, pelo Sangue derramado em vossa Sagrada Face, quando aqueles verdugos obstinados, insensíveis à vossa Bondade Vos feriram com socos. Com mãos sacrilegas a feroz canalha queria se fartar com pescoções, bofetadas e cuspidas na vossa Sagrada Face. E Vós lhes mostrou aquela Face cheia de hematomas e sangue misturado com imundícies a fim de que cessasse toda obstinação no coração humano.
Lembrai-Vos, Senhor, do consolo que tiveste quando Santa Verônica enxugou vossa Face, e por aquele momento abençoado fazei-me arrependido e de coração brando e bondoso para coVosco, reparando os ultrajes feitos em vosso Rosto pelo arrependimento sincero de meus pecados.
4o Juízo - O do abandono
Livrai-me, Senhor, de cair no juízo do abandono, pelo qual a alma é exposta sem socorro à tentação e ao pecado, faltando-lhe a graça divina por causa da dureza do coração. Que o respeito humano nunca me faça ter vergonha de confessar meus pecados, sejam eles quais forem, e de me fazer testemunha de vossa graça, a fim de que Vós também não tenhais vergonha de mim e me abandone sem vosso amparo.
Rogo-Vos, pelo Sangue derramado em vossa Sagrada cabeça pela ignomíniosa coroa de espinhos, de cuja vergonha e dor não fugistes por causa do abandono em que ficaria minha alma. Sofrestes duplamente então: por ser aquela coroa instrumento de irrisão sofrestes o desamparo daqueles corações empedernidos e por ser de espinhos sofrestes a dor lancinante dos cardos enterrados em vossa cabeça.
Lembrai-Vos, Senhor, de que sois Rei, e pelos méritos e poder desta realeza jamais poderíeis deixar um vosso súdito no estado de abandono.
5o Juízo - O da dissipação
Livrai-me, Senhor, de cair no juízo da dissipação, pelo qual nada faz o homem de ordenado, dissipa todos os bens que possui (materiais e espirituais), nada nele prospera, nada fala retamente, tornando-se um inútil nesta vida
Rogo-Vos, pelo preciosíssimo Sangue derramado na flagelação. Que por aquele Sangue eu aprenda a sofrer com serena resignação os trabalhos que vêm do Céu e que minhas ações sejam de forma ordenada e com vistas ao Fim Último. Ajudai-me a fazer com que conserve e prospere os talentos recebidos de Deus.
Lembrai-Vos, Senhor, com que abundância correu vosso Sangue sagrado e da terrível fúria daqueles ímpios dissipadores, cuja raiva satânica impedia-os de ver a vossa Sagrada Majestade. Pelo olhar bondoso que Vos lançou vossa Santíssima Mãe, não permitais que eu caia jamais no juízo da dissipação.
6o Juízo - O da desesperação
Livrai-me, Senhor, de cair no juízo da desesperação, pelo qual o homem perde a virtude da Esperança vendo-se já condenado e privado da glória eterna. Sem essa virtude ninguém consegue ter a vida da Graça e obter a salvação eterna.
Rogo-Vos, pelo Sangue derramado dos cravos pregados em vossas mãos e vossos pés, com que resgatastes a Esperança para todos os pecadores.
Lembrai-Vos que ao ser pregado na Cruz Vós não perdoastes a Vós mesmo a fim de perdoar sempre a nós pecadores. Naquele momento, vossa Mãe Santíssima Vos lançou um olhar de misericórdia e pediu por todos aqueles que estavam prestes a perder a Esperança. Pelo que Ela Vos rogou, Senhor, façais que nunca me falte esta Virtude
7o Juízo - O da condenação eterna
Livrai-me, Senhor, do juízo da condenação eterna, o qual vem com a morte em estado de pecado mortal e a alma em estado de impenitência. Neste momento a alma é separada para sempre da glória eterna.
Rogo-Vos, pelo Sangue que jorrou do vosso Sagrado Coração, traspassado pela lança de Longinos, o qual, num instante, viu-se curado da ligadura, da cegueira de espirito ou obcecaçao, da obstinação, do abandono, da dissipação, da desesperação e da condenação eterna.
Lembrai-Vos, Senhor, de que Vós deixastes exaurir todo o sangue e água daquele Coração terno e amoroso a fim de salvar a minha alma. Lembrai-Vos também das promessas que fizestes à Santa Margarida Maria Alacoque de que vosso Sagrado Coração nunca nos deixaria ao desamparo. Jamais, pois, Ele permita que eu morra com o juízo de vossa eterna condenação. AMÉM
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