domingo, 10 de fevereiro de 2008

Orígenes e sua descrição dos Livros Sagrados




Orígenes foi um dos grandes escritores e teólogos do início do Cristianismo, tendo vivido no decorrer do século II a meados do III. Fez parte da chamada “escola alexandrina”. Ao lado de Santo Agostinho, Orígenes é um dos pensadores mais marcantes do Cristianismo, admirado até por São Jerônimo que traduziu várias de suas obras. Em sua obra histórica, a primeira “História Eclesiástica”, que ainda hoje é fonte de consulta sobre o início da Igreja, Eusébio de Cesaréia fala longamente sobre Orígenes. Sobre os livros sagrados que circulavam naquele tempo, diz Orígenes: “Há de se saber que são vinte e dois os livros do Antigo Testamento, como ensinam os hebreus; número que corresponde às letras que eles possuem. Velho Testamento “Estes são os vinte e dois livros segundo os hebreus: O primeiro que é chamado por nós de Genesis; mas pelos hebreus se chama Bresith, nome formado do começo do mesmo livro e que equivale a “no princípio”. Depois vem o Êxodus, em hebraico Vellesmoth, quer dizer, “estes são os nomes”. O terceiro Leviticus, em hebraico Vaiera, quer dizer, “e chamou”. O quarto Numeris, em hebraico Hammisphecodim. O quinto Deuteronomium, em hebraico Ellehabdabarim, quer dizer, “estas são as palavras” O sexto “Jesus filius Nave”, em hebraico “Jehosue ben Num”. O sétimo Judices e Ruth, reunidos em um só volume pelos hebreus com o título de “Sophetim”. O oitavo os livros primeiro e segundo dos Reis, reunidos em um só volume intitulado Samuel, isto é, “chamado por Deus “. O nono os livros terceiro e quarto dos Reis, que também agrupam em um volume chamado “Vammelech David”, quer dizer, “e o rei David”. O décimo os livros primeiro e segundo de Paralipomenon, reunidos por eles num só volume, ao que chamam “Dibre Haiamim”, quer dizer, “palavras dos dias”. O undécimo os livros primeiro e segundo de Esdras, com os quais formam um só livro que chamam Esra, quer dizer, “colaborador”. O décimo segundo o livro dos Salmos, em hebraico “Sepher Teilli,”. O décimo terceiro os provérbios de Salomão, em hebraico “Misloth”. O décimo quarto Ecdlesiastes, em hebraico Coheleth. O décimo quinto Canticum canticorum, em hebraico “Sirhasirim”. O décimo sexto Isaías, em hebraico “Iesaia”. O décimo sétimo Jeremias, Lamentationes e Epistola, num volume que chamam “Irmia”. O décimo oitavo Daniel, em hebraico Daniel. O décimo novo Ezechiel, entre hebreus “Ieezchel”. O vigésimo Job, chamado da mesma forma em hebraico. O vigésimo primeiro Esther, o mesmo que em hebraico. Fora deste índice estão os livros dos Macabeos, que eles chamam “Sarbet Sarbaneel”. Novo Testamento “Do mesmo modo, é sabido por tradição sobre os quatro Evangelhos, os únicos que sem controvérsia se admitem em toda a Igreja de Deus que está sob o céu, a saber: Que o primeiro Evangelho foi escrito por Mateus, primeiramente publicano, porém logo apóstolo de Jesus Cristo, e o publicou escrito em língua hebraica para os judeus convertidos à fé. Temos recebido da tradição que o segundo Evangelho foi de Marcos, o qual o levou às letras como Pedro o havia pregado. E por isso Pedro o reconhece como seu filho na Epístola Canônica, com estas palavras: “A Igreja que, escolhida como vós, mora em Babilônia, vos saúda, e meu filho Marcos (I Pedr V, 13). O terceiro Evangelho é de Lucas, escrito em favor dos gentios e recomendado por Paulo. O último Evangelho é de João. No livro V de “Expositiones in Evangelium Johanis”, escreve assim a respeito das epístolas dos apóstolos: “Aquele, a quem Deus fez idôneo para que fosse ministro do Novo Testamento, não somente de palavra e à letra, senão em espírito, a saber, Paulo, que levou o Evangelho desde Jerusalém e seus confins até o Ilírico, não escreveu a todas as Igrejas a que havia ensinado. . E ainda àquelas as quais escreveu, só o fez em poucas linhas. Pedro, sobre o qual como cimento foi edificada a Igreja de Cristo, contra a qual não hão de prevalecer as mesmas portas dos infernos, só deixou uma Epístola, admitida por acordo de todos. Porém concedamos que também é sua a segunda. Pois desta há dúvida. Que há de dizer-se do que se recostou sobre o peito de Cristo, de João? Este deixou certamente um Evangelho, ainda quando se confiasse que ele pôde escrever tantos livros quantos não poderia conter o orbe da terra. Escreveu ademais “Revelatio” (Apocalipse), obrigado a guardar silêncio, a não escrever inteiramente as vozes dos sete tronos. Também escreveu uma Epístola muito curta. Porém concedamos, se agrada, que escreveu uma segunda e outra terceira. Pois nem todos concedem que estas últimas são genuínas. Ambas contêm apenas cem versículos”. “Por último, acerca da Epístola aos Hebreus, pensa desta maneira nas homilias que escreveu a essa epístola: “O estilo da epístola que se intitula “Ad Hebraeos”, carece daquela rusticidade de linguagem que é própria do Apóstolo , pois ele se confessa rude e imperito na linguagem, isto é, na forma e regra de falar. Mas a epístola mostra grande elegância de linguagem grega na composição das palavras, como confessará quem quer que julgar competentemente a respeito da diferença de estilo. E ademais, contém sentenças admiráveis, de nenhuma maneira inferiores aos escritos apostólicos. Quem quiser que atentamente ler os escritos dos apóstolos, confessará que isto é muito verdadeiro. “Eu penso da maneira seguinte: as sentenças são do Apóstolo; porém a dicção e composição das palavras são de outro qualquer, o qual quis recordar os ditos do Apóstolo e como reduzir a comentário as coisas que havia ouvido do mestre. Portanto, se alguma igreja tem esta epístola por paulina, seja louvada por este motivo. Pois os maiores não ensinaram temerariamente que aquela é de Paulo. Quem a tenha escrito é só conhecido por Deus, a mim parece. Os escritores, cujos documentos têm chegado até nós, a atribuem uns a Clemente, bispo da cidade de Roma; outros a Lucas, que fez o Evangeho e os Atos dos Apóstolos”. (“História Eclesiástica” – Eusebio de Cesárea – Editora Nova, Buenos Aires p págs. 316/ 319).

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