sábado, 26 de abril de 2025

MÃE DO BOM CONSELHO VEM AO BRASIL ATRAVÉS DE UM ANJO

 



O Padre José de Campos Lara, natural de Itu, São Paulo, era jesuíta e acompanhou o drama que se passou com seus irmãos na Companhia de Jesus quando foi perseguida e fechada no século XVIII. No ano de 1785, passeava certo dia meditando numa praia deserta, quando de repente se deparou com um jovem portando um quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho.  O jovem se aproximou do padre e ofereceu-lhe o quadro, pintado a óleo, dizendo que o levasse para o Brasil, pois no lugar onde Nossa Senhora fosse venerada através daquele quadro surgiria um grande colégio jesuíta.

Perplexo, o Padre José começou a argumentar para o jovem que não tinha recursos para fazer a viagem. O jovem lhe disse que havia um navio naquelas proximidades, cujo comandante o deixaria viajar gratuitamente até o Brasil. O padre ficou consolado com a notícia dada pelo jovem, e também pelo fato de se oferecer a oportunidade de construir um colégio jesuíta em Itu, haja vista que a Companhia de Jesus estando extinta a construção de tal colégio significava o seu retorno à atividade.  Mas, ao tentar agradecer ao estranho jovem, este misteriosamente desapareceu. Notando que se tratava de um Anjo, o padre foi confiante procurar o referido navio, onde achou gratuitamente passagem até o Brasil como lhe dissera o Anjo.

A restauração da Companhia de Jesus e a construção do colégio em Itu só se cumpriram porém após a morte do Pe. José, mais de oitenta anos depois da aparição do Anjo. (Extraído do livro “Mater Boni Consilii” – de João S. Clá Dias, pág 67 a 82.)

quinta-feira, 24 de abril de 2025

DOUTOR, PROFETA E APÓSTOLO NA CRISE CONTEMPORÂNEA

 



 

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Se alguém me pedisse para indicar um apóstolo-tipo para nossos tempos, eu responderia sem vacilação, mencionando o nome de um missionário... falecido há precisamente 239 anos! E, dando tão desconcertante resposta, teria a sensação de estar fazendo algo de perfeitamente natural. Pois certos homens, colocados na linha do profético, estão acima das circunstâncias temporais.

Basta exemplificar com Elias. Dentro de cem anos, os que hoje vivemos teremos sido superados pela marcha do tempo como estão hoje os homens de há cem anos atrás. Seremos atrasados, anacrônicos, mofados. Daí a duzentos, a trezentos anos, estaremos mais ou menos tão incrustados no reino da morte, das sombras e da História, quando as múmias egípcias que aguardam nas salas do British Museum o dia do Juízo Final. E o que dizer de nossa "situação" daqui a mil anos? Pois alguém há, vivo, vivíssimo, e que será a última palavra do apóstolo moderno, não hoje, mas no fim do mundo quando nós estivermos imersos na mais total anacronicidade. Alguém que viu dias muito anteriores aos de D. Pedro II, Pio IX e Napoleão III. Anteriores até a S. Luiz, a Carlos Magno, a Átila, o que direi, a Augusto e a Jesus Cristo. É o Profeta Elias! Apóstolo moderno, sim, e moderníssimo, não porque esteja escrito dele que participará do espírito e das tendências dos homens que então viverem, mas porque será mandado por Deus como o varão idealmente adequado a combater de frente a corrupção do século em que voltará a esta terra. Elias será moderno, não por ter tomado o espírito e a forma dos derradeiros anos da História - não vos conformeis com este século, adverte S. Paulo - mas porque será adaptado e adequado ao tempo. Adaptado, no sentido de que será "apto" a fazer-lhe bem. Adequado, sim, no sentido de que disporá dos meios adequados a corrigi-lo. E por isto mesmo moderníssimo. Pois ser moderno não é necessariamente parecer-se com os tempos, e muitas vezes pode até ser o contrário. Mas, para um apóstolo, ser moderno é estar em condições de fazer o bem no século em que vive...

Sem equiparar a Elias, Profeta incumbido de uma missão oficial, S. Luiz Maria Grignion de Montfort, em cujos escritos há luzes proféticas impressionantes, mas de um valor meramente privado, certa analogia existe entre um e outro. E é nos termos desta analogia que o Santo francês é um modelo de apóstolo para nossos dias, e os séculos vindouros.

*   *   *

São Luiz Maria Grignion de Montfort nasceu em Montfort-la-Canne, França, em 1678. De família pobre, faltavam-lhe recursos para custear os estudos necessários ao Sacerdócio, ao qual desde cedo aspirava. Dirigiu-se a Paris, onde exerceu o ofício de velar cadáveres na Paróquia de S. Sulpício em certas noites da semana, para pagar sua pensão no Seminário. Depois de um curso brilhante, foi ordenado Sacerdote em 1700.

Dado o vulto das dificuldades que se depararam a seu apostolado na França, e movido pelo desejo de anunciar o Evangelho aos gentios, S. Luiz Maria dirigiu-se a Roma para pedir uma diretriz ao Papa Clemente XI. Este determinou-lhe que retornasse à sua pátria, a fim de se dedicar a pregar à população católica necessitada de catequese e edificação. Entregando-se inteiramente a essa atividade durante os dez anos que ainda viveu, o Santo insistia particularmente sobre a renúncia à sensualidade e ao mundanismo, o amor à mortificação e à Cruz, e a devoção filial a Nossa Senhora. Como terceiro dominicano que era, difundiu largamente o Rosário.

Vítima dos ataques enfurecidos dos calvinistas e dos jansenistas, foi objeto de severas medidas da parte de um número não pequeno de Bispos franceses, que não o queriam por missionário em suas Dioceses.

A morte lhe veio quando ele contava apenas 43 anos de idade.

Fundou duas Congregações Religiosas a Companhia de Maria e as Filhas da Sabedoria.

Entre seus escritos, assinala-se o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, uma das mais altas obras da mariologia em todos os tempos, e talvez a mais alta delas. Este livro admirável foi deixado por ele em manuscrito, e desapareceu misteriosamente depois de sua morte, reaparecendo de maneira providencial em nossos tempos.

Leão XIII o beatificou em 1888. Pio XII, gloriosamente reinante, o inscreveu no catálogo dos Santos.

Esta é uma visão a "vol d’oiseau" da vida deste grande Santo.

Quanta riqueza se nos depara num exame mais atento dos principais aspectos dessa vida.

*   *   *

A Renascença desencadeou na Europa uma sede de diversões, de opulência, de prazeres sensuais, que impeliu fortemente os espíritos a subestimar as coisas do Céu, para se ocupar muito mais com as da terra. Daí, nos séculos XV e XVI, um declínio sensível da influência da Religião na mentalidade dos indivíduos e das sociedades. A esse indiferentismo nascente, somou-se não raras vezes uma antipatia contra a Igreja, discreta e apenas perceptível em uns, mais pronunciada em outros, e levada em alguns ao extremo de uma hostilidade militante. Tal estado de espírito concorreu sensivelmente para a eclosão do protestantismo, e para as manifestações de racionalismo e cepticismo tão freqüentes entre os humanistas. Do indiferentismo nascia naturalmente o livre pensamento.

Mas estes fermentos não atacaram desde logo toda a sociedade. De início, dominaram apenas certos elementos de alta influência na vida intelectual, na nobreza e no Clero, com o apoio de um certo número de soberanos. Aos poucos, entretanto, foram alcançando os tecidos mais profundos do corpo social. Ao tempo de S. Luiz Grignion, pode-se afirmar que sua influência se notava em todos os campos: a política se laicizara, a antiga sociedade orgânica e cristã fora semi-deglutida pelo absolutismo do Estado neo-cesáreo e neo-pagão, minguara a influência da Religião na vida de todas as classes sociais, principalmente nas elites, uma tendência geral para costumes mais frouxos, mais "livres", mais fáceis ganhava todos os ambientes, a sede de prazer e de lucro crescia, o mundanismo pompeava até em certo número de casas religiosas, o mercantilismo estendia seus tentáculos para dominar toda a existência. Em linhas gerais, o quadro era bastante parecido com o de nossos dias.

 

DIFERENÇAS CONSIDERÁVEIS

Entretanto, se a analogia é profunda, evidente, indiscutível, seria impossível passar-se daí para uma equiparação absoluta. O corpo no qual os fermentos agiam nos séculos XV, XVI e mesmo XVII, era ainda o corpo robusto da velha Cristandade gerada pela Idade Média. Um sem número de instituições, de hábitos mentais, de tradições, de usos, de leis refletia ainda o espírito da sociedade orgânica e cristã de outrora. Se a monarquia absoluta pressagiava o socialismo hodierno, ela se personificava contudo nos Reis pela graça de Deus, que ainda se consideravam Pais de seus povos no bom e velho estilo de S. Luiz IX. Se a vida internacional fora secularizada com os tratados de Westphalia, ainda existiam tais ou quais vestígios da Cristandade, uma família de Reis e povos cristãos dotados da consciência de formar um todo à parte, face ao mundo gentílico. Se a sociedade era mundana, as disputas religiosas - como as que se travaram entre Jesuítas e jansenistas - encontravam nela uma ressonância que jamais teriam em nossos dias. Se os costumes eram frouxos na corte e nas cidades, havia a isto numerosas e retumbantes exceções. Nos degraus do trono, no próprio trono o escândalo de um Luiz XIV, por exemplo, era de algum modo reparado por sua emenda e sua vida modelar depois do casamento com Mme. de Maintenon e a queda de Mlle. de La Vallière o era por sua penitência exemplar no Carmelo. Mme. de Montespan por sua vez morria cristãmente, o Duque de Borgonha, neto de Luiz XIV, se destacava por sua piedade, e a família real ainda teria no século XVIII ao lado da vergonha da vida de Luiz XV, a ilustração das virtudes pouco comuns do Delfim Luiz, da Carmelita Madame Louise de France, e da Princesa Clotilde de Sabóia, ambas filhas do Rei, e falecidas em odor de santidade. Assim, por mais rigorosas que sejam as analogias entre o século XVI e o século XX, haveria manifesto exagero em afirmar que a vida política e social já se encontrava então inteira ou quase inteiramente laicizada e paganizada.

Entretanto, na história dos Tempos Modernos, isto é, nos séculos XVI, XVII e XVIII, é fora de dúvida que os fermentos nascidos do neo-paganismo renascentista se revelaram cada vez mais vigorosos, e isto trouxe a imensa explosão de 1789.

 

TEMPOS PRECURSORES DOS NOSSOS

Considerando-se estes fatos do ponto de vista do Santo Padre Leão XIII na Encíclica "Parvenu à la 25.ème Année", a Revolução Francesa foi uma conseqüência do protestantismo. E por sua vez produziu o comunismo. Ao igualitarismo e liberalismo religioso do frade apóstata de Witemberg, sucedeu o igualitarismo e liberalismo político-social dos sonhadores, dos conspiradores e dos facínoras de 1789. E a este segue-se o igualitarismo totalitário, social e econômico, de Marx.

A revolução protestante foi uma forma ancestral da Revolução Francesa, como esta o foi do comunismo hodierno. E cada uma destas formas ancestrais já tinha em si todas as toxinas da que se lhe seguiu. São três moléstias, sucessivamente mais graves, provocadas pelo mesmo vírus. Ou são três fases sucessivamente mais graves da mesma moléstia. Ou três etapas de uma omnímoda e universal Revolução.

 

UM PROFETA APARECE NO CURSO DA REVOLUÇÃO

Ora, S. Luiz Grignion de Montfort foi, neste processus histórico, um verdadeiro profeta. No momento em que tantos espíritos ilustres se sentiam inteiramente tranqüilos quanto à situação da Igreja, embalados num otimismo displicente, tíbio, sistemático, ele sondou com olhar de águia as profundezas do presente, e predisse uma crise religiosa futura, em termos que fazem pensar nas desgraças que a Igreja sofreu durante a Revolução, isto é, a implantação do laicismo de Estado, o estabelecimento da "Igreja Constitucional", a proscrição do culto católico, a adoração da deusa razão, o cativeiro e morte do Papa Pio VI, os massacres ou deportações de Sacerdotes e Religiosas, a introdução do divórcio, o confisco dos bens eclesiásticos, etc.. Mais ainda. Para alento e alegria nossa, o Santo profetizou uma grande e universal vitória da Religião Católica em dias vindouros.

 

MARTELO DA REVOLUÇÃO

Mas além de profeta, S. Luiz Grignion de Montfort foi missionário e guerreiro. Missionário, causticou ele implacavelmente o espírito neo-pagão, fazendo quanto podia para afastar o povo fiel do mundanismo e de tudo quanto constituía o mau espírito nascido da Renascença. A região evangelizada por ele foi tão profundamente imunizada contra o vírus da Revolução, que se levantou de armas na mão contra o governo republicano e anti-católico de Paris. Foi a Chouannerie. Se S. Luiz Grignion tivesse estendido sua ação missionária a toda a França, provavelmente teria sido outra a sua História, e a História do mundo.

Ora, porque não a evangelizou inteira?

Orador sacro eficientíssimo, pregava a palavra de Deus com um desassombro extraordinário. Isto lhe valeu o ódio, não só dos calvinistas, mas de uma das seitas mais detestáveis e mais influentes que até hoje tenham existido infiltradas na Igreja, isto é, os jansenistas. Seria longo enunciar as múltiplas e complexas razões por que o jansenismo, com suas aparências de austeridade embora, é legitimo produto da crise religiosa do século XVI. O certo é que esta seita, dispondo de deplorável influência sobre muitos fiéis, Sacerdotes e até Bispos, Arcebispos, Cardeais, seguia uma linha de pensamento e de ação nociva a toda restauração da vida religiosa, afastava as almas dos Sacramentos, e combatia vivamente a devoção a Nossa Senhora.

S. Luiz Grignion de Montfort, pelo contrário, tinha à SSma. Virgem a devoção mais ardente, e até compôs em louvor dela o "Tratado da Verdadeira Devoção", que constitui hoje o fundamento mais forte de toda a piedade mariana profunda. De outro lado, por suas missões, aproximava o povo dos Sacramentos, afervorava-o no Rosário, em uma palavra fazia obra diametralmente oposta às intenções dos jansenistas.

Isto lhe trouxe, nos próprios meios católicos, uma perseguição aberta, que lhe valeu as maiores humilhações. Causa pasmo que, enquanto tantos Prelados, clérigos, e leigos, em nome da caridade se mostravam irritados ou apreensivos com a justa severidade da Santa Sé em relação aos jansenistas, não tivessem penalidades, atos de hostilidade, nem humilhações que bastassem contra S. Luiz Maria. Pode-se dizer que foi um dos Santos mais desprezados e humilhados que houve nestes vinte séculos de vida da Igreja. Por fim, só em duas Dioceses lhe foi permitido exercer seu ministério. Mas, novo Inácio de Loyola, sentindo com serenidade o ímpeto contra sua pessoa, dos vagalhões do ódio anti-católico disfarçado com ares de piedade, não se perturbou. E, humilhado até o fim, até o fim lutou.

Ora, este Santo extraordinário deixou uma prece admirável, contendo ensinamentos e luzes especiais para nossa época. É a que compôs pedindo Missionários para a sua Congregação. Neste mês de maio nos é útil lembrar a figura angélica deste sumo paladino da Virgem. No mês de junho, consagrado ao Coração de Jesus, pensamos expor e comentar sua admirável oração.

Nesta oração, como esperamos mostrar no próximo número, vê-se que para S. Luiz Maria seus tempos eram precursores de uma imensa crise que se estende até hoje, e irá até a instauração do Reino de Maria. E ele próprio se nos afigura como o modelo, a prefigura dos apóstolos suscitados para lutar nessa crise, e vencer a batalha por Maria Santíssima. É esta a sublime e profunda atualidade de S. Luiz Maria Grignion de Montfort para os apóstolos de nossos dias.

Tema de meditação fecundo neste mês em que a Santa Igreja celebrará pela primeira vez - no dia 31 - a festa tão grata às almas forte e profundamente piedosas, da Realeza de Maria.

 

(“Catolicismo” Nº 53 - Maio de 1955)

 

segunda-feira, 21 de abril de 2025

QUARTO CENTENÁRIO DA INVASÃO E EXPULSÃO DOS CALVINISTAS HOLANDESES NA BAHIA

 



Estamos comemorando o quarto centenário da expulsão dos holandeses na Bahia, ocorrido em maio de 1625. Data tão significativa era para ser comemorada festivamente por nosso povo, memória importantíssima de nossa história.

A propósito dessa data, publicamos a seguir o texto de nosso artigo estampado na revista “Catolicismo” (setembro de 1995), comentando sobre a invasão de 1624 e demais investidas dos holandeses, expulsos do território baiano por aguerridos defensores da Fé católica

Catolicismo publicou três estudos (julho/ 86, janeiro e fevereiro) sobre as invasões holandesas ocorridas no Brasil no século XVII. Durante 30 anos tentaram os hereges criar um enclave, usando então Pernambuco como cabeça-de-ponte para implantar a religião "reformada" protestante.

No presente artigo poremos em realce apenas as investidas calvinistas contra a cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, sede do Governo-Geral do Brasil e importante ponto estratégico.

Será preciso lembrar que, desde 1580, Portugal havia sido anexado ao reino da Espanha. Desta forma, o território brasileiros e demais colônias lusas ficaram sob domínio da coroa espanhola até 1640, quando Portugal recobrou sua independência.

 

A resistência contra a tomada de Salvador

Uma armada invasora holandesa, composta de 26 naus grandes e 13 mercantes, postou-se diante da capital baiana em abril de 1624.

Subjugada a cidade, os invasores entregaram-se a saques, profanações e sacrílegos[1]. Os desterrados, que constituíam a maioria da população, calculando-se dez mil só de portugueses, refugiaram-se pelas cercanias. Os fazendeiros e donos de engenhos acolhiam a todos com caridade, não faltando comida e abrigo aos que os procuravam.

Dispersos pelos matos, resolveram os luso-brasileiros assentar arraial na aldeia indígena do Espírito Santo.

Diogo de Mendonça Furtado, Governador-Geral do Brasil, havia sido preso e enviado à Holanda. Assim, o governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque, em consequência do sistema de sucessão adotado na época, passou a ser a maior autoridade encarregada de coordenar a resistência armada. Contudo, devido à grande distância e difícil comunicação com Recife, O' povo baiano aclamou capitão-mor o Bispo Dom Marcos Teixeira, posteriormente denominado Bispo Guerreiro.

Imediatamente Dom Marcos transformou a aldeia do Espírito Santo em acampamento de retirantes e Quartel General da resistência anticalvinista. Não obstante ser o local muito acanhado, ergueram-se uma capela e algumas frutificações.

As táticas denominadas de assaltos, sob o comando do Bispo, serviram de modelo para a formação do que mais tarde se denominou companhias de emboscadas (guerrilhas, em termos atuais), por ocasião da expulsão definitiva dos holandeses de Pernambuco, em 1654, cognominada Insurreição Pernambucana.

Entendendo que a tomada da cidade fora castigo do Céu, devido aos vícios e pecados de seus habitantes, Dom Marcos passou a fazer rigorosas penitências, com vigílias e jejuns, de modo a se tomar exemplo para todas as classes sociais de seu bispado.

 

O milagre da cruz

Certa ocasião, os hereges atacaram a Ilha de Itaparica em busca de mantimentos, desembarcando num engenho em cuja entrada havia um cruzeiro de madeira. Vendo a cruz, odiada por todo herege, os invasores nela aplicaram algumas cutiladas. A cruz milagrosamente se torceu, virando-se para um lado, parecendo indicar o caminho a seguir pelos batavos. Estes depararam-se então com um dos nossos comandantes, chamado Afonso Rodrigues da Cachoeira, o qual, com a ajuda de alguns índios, matou oito dos hereges. O fato milagroso ocasionou tanta veneração votada àquela cruz, que dela fizeram-se relíquias responsáveis por muitas curas.

A brava resistência aos invasores criou condições propícias para o enfraquecimento do inimigo e a grandiosa vitória da armada espanhola-lusitana, que veio libertar a Bahia no ano seguinte.

 

A resposta da nobreza

Ao chegar a Portugal e Espanha, a notícia da invasão holandesa causou profunda comoção. Parecendo sair de um letargo, portugueses e espanhóis aprestaram-se logo a organizar uma expedição para libertar a Bahia. Determinou o rei de Espanha a todos os sacerdotes que celebrassem missas, rezassem uma novena e ladainhas nessa intenção. Em Lisboa, o Santíssimo Sacramento ficou exposto à adoração pública, em súplica pela concretização da expedição.

Dirigiu o rei da Espanha, com data de 7 de agosto de 1624, carta a seus governadores espalhados pelo vasto império, convocando todas as naus disponíveis para dirigir-se ao Brasil, já a 20 do mesmo mês, para expulsar os invasores.

A campanha pela libertação da Bahia empolgou nobres e plebeus, lusos e espanhóis.

Dom Afonso de Noronha, do Conselho do Estado e antigo Vice-Rei da Índia, foi o primeiro a se alistar. Em seguida, inscreveram-se mais de 100 fidalgos.

 

A reconquista da cidade do Salvador

As notícias sobre a vinda da armada para libertar a Bahia já tinham chegado aos ouvidos dos holandeses, que com muito afã se prepararam para o confronto. Também eles aguardavam a chegada de uma armada de socorro mandada por Amsterdã.

Ao contrário da invasão de 1624, a reconquista da Bahia, um ano depois, deparou com uma praça bem fortificada pelos holandeses e disposta a tudo para não se entregar. Foi construído um forte novo com uma fornalha de três bocas, onde se esquentavam pelouros e se faziam outros fogos para o combate; foram assestadas 92 peças de artilharia, e ainda diversas trincheiras disseminadas pela cidade, algumas das quais muito bem fortificadas. Na praia firam erguidos sete baluartes, alguns capazes de conter 100 mosqueteiros. Além do mais, possuíam os batavos 22 navios de guerra bem equipados.

Anteriormente à chegada da armada, os católicos mantinham os holandeses sob intenso cerco, não os deixando sair da cidade "nem para pegar um limão". A 29 de março de 1625, dia da fundação da cidade, véspera do Domingo da Ressurreição, chegou a expedição espanhola-lusa a Salvador, sendo o desembarque efetuado imediatamente.

Já em terra, os combatentes distribuíram-se com suas companhias pelos montes principais que circundavam a cidade, recolhendo-se em casas ou barracos de palha. Nobres e soldados, todos trabalhavam na preparação do assédio à cidade.

Os capitães das mais nobres estirpes luso-espanholas estavam ali presentes, porque o ideal da nobreza exige uma vida inteiramente dedicada ao sacrifício pela Fé católica e pelo Rei.

 

Rendição holandesa e desagravo pelas profanações

No início de maio de 1625, um ano após a invasão batava em território baiano, entravam os católicos triunfantes na cidade de São Salvador. Arriada a bandeira dos holandeses, hastearam as de Portugal e Espanha.

A rendição dos holandeses ficou para sempre marcada na memória de nosso povo. Até hoje se conserva a mesa onde foi assinada a rendição, no mesmo lugar, que é a magnífica sacristia do Convento do Carmo, em Salvador. Na contra-capa da presente edição, apresentamos foto desse local, ora transformado em Museu.

Haviam sido profanados vários lugares dedicados à prática da Religião: o Colégio dos jesuítas transformado em mercado, a igreja contígua, em adega, e outras igrejas utilizadas como armazéns de pólvoras etc. Haviam também sido enterrados nas igrejas, principalmente na Catedral, os corpos dos comandantes holandeses mortos em combate. Após o desfile de vitória, esses restos mortais foram dali removidos, sendo as igrejas re-consagradas ao culto divino.

 

Resolvem os holandeses invadir a Bahia novamente

Depois dessa primeira invasão da Bahia, terminada em 1625, voltaram os calvinistas a atacá-la, em março de 1627, quando o almirante Piet Heyn, praticando pirataria na costa e burlando-se dos canhonaços disparados da cidade, conseguiu atacar uma frota de 26 navios mercantes e roubar grande parte da mercadoria, principalmente açúcar.

Os holandeses haviam se apoderado de Olinda e Recife desde 1630. Ao saber das desavenças existentes entre o Conde de Bagnuolo e o novo Governador-Geral, Pedro da Silva, Maurício de Nassau decidiu atacar Salvador. O conde de Bagnuolo era um nobre napolitano que havia tomado parte na expedição contra os holandeses, em 1625.

 

Mais uma tentativa frustra de tomar a Bahia

Assim, vindo de Pernambuco com 35 navios bem armados e seis mil homens, em abril de 1638 chegava Nassau a Salvador. Porém, foi ele sucessivamente repelido, pois as forças luso-brasileiras da Bahia estavam não só melhor preparadas, como também com espírito mais aguerrido.

Os combates duraram aproximadamente um mês, e já no dia 25 de maio, após sucessivas derrotas, resolveu Nassau fugir vergonhosamente, sem ter obtido uma vitória sequer. Pela firmeza da resistência, o governardor Pedra da Silva recebeu o título de o "Duro".

Tendo perdido boa parte de seu exército nessa expedição, ficou o chefe holandês com seu prestígio irremediavelmente comprometido.

 

País dividido e protestante?

E assim, mais uma vez, o território brasileiro foi salvo da dominação dos hereges. Primeiramente devido à proteção especial da Divina Providência. Depois, em virtude da atuação de homens que manifestaram possuir um espírito característico da mais alta nobreza: nobres pelo sangue e nobres por sua bravura.

A esses valorosos deve o Brasil haver-se mantido fiel à Religião verdadeira e forjado sua nacionalidade, como também preservado sua unidade territorial, sem as divisões ocorridas em tantos outros países.

É nosso dever agradecer tais dádivas providenciais e pedir a Deus e à Padroeira nacional, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que nossa Pátria continue a se manter fiel àqueles princípios pelos quais lutaram tantos heróis do passado, cuja firmeza na luta e fortaleza na Fé tornaram possível perpetuar no Brasil o verdadeiro espírito católico”.

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FONTES DE REFERÊNCIA:

I Francisco Adolpho Varnhagen, História Geral do Brasil, Ed. e & Laemmert, Rio, 1874.

2. Robert Southey, História do Brasil. Ed. Garnier, Rio, 1862.

3. Gaspar Barleus, História dos feitos (de Maurício de Nassau) praticados durante oito anos no Brasil. Ed "Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1980.

 

 



[1] Segundo testemunho dos próprios holandeses, que diziam isso para se vangloriar, os invasores levaram para a Holanda 7 navios carregados de riquezas – objetos de ouro e prata, além sedas e outros tecidos de luxo – demonstrando assim que Salvador era a maior e mais rica cidade das Américas, sendo que toda essa riqueza tinha vindo de Portugal.


domingo, 20 de abril de 2025

CONCLUSÃO DAS BODAS DE CANÁ: PROPÓSITOS DE CASTIDADE NO INÍCIO DO MATRIMÔNIO

 

 

Após as festividades de casamento, vejam como Catarina de Emmerich descreve os propósitos dos noivos no final da festa:

“Ao terminar o banquete de bodas aproximou-se de Jesus a o noivo a sós, e falou com Ele, cheio de humildade, e declarou como todas as suas paixões haviam se  apaziguado; e não sentia já desejos, e se propunha a viver em continência com sua esposa, se ela o consentisse; e chegando a esposa, dizendo o mesmo com Jesus, os chamou a ambos e lhes falou do matrimônio e da pureza que tanto agrada a Deus e dos frutos múltiplos da castidade e do espírito. Falou de muitos profetas e de santos, pessoas que haviam vivido em castidade e haviam oferecido a Deus Pai sua carne, e que estes adquiriam filhos espirituais, convertendo a homens perdidos, os quais haviam conduzido para o bem, e que esta descendência é santa e grande. Tudo isto o explicou com parábolas de semear e de colher. Eles fizeram então um voto de castidade e de viver como irmãos, pelo período de três anos. Ajoelharam-se diante do Senhor, que os abençoou.

Na tarde do quarto dia das festas foram conduzidos ambos esposos a sua casa com uma solene comitiva de convidados. Levavam uma espécie de candelabro com diversas luzes formando uma letra; adiante iam meninos levando duas coroas de flores, uma fechada e outra aberta, e desprendiam delas flores diante da casa dos esposos. Jesus estava já em casa e os recebeu e os abençoou. Os sacerdotes estavam presentes, mas desde que viram a maravilha nas bodas, mostraram-se humildes.

No sábado ensinou Jesus na sinagoga de Caná por duas vezes. Falou referindo-se às festas de bodas, à obediência e aos piedosos sentimentos dos esposos. Quando saiu da sinagoga se viu rodeado de pessoas que lhe pediam de joelhos compaixão pelos enfermos. Operou aqui duas curas milagrosas. Um homem havia caído de uma torre, havia morrido, e tinha todos os membros despedaçados. Jesus se aproximou e ordenou os membros, tocou as feridas e lhe mandou levantar-se e ir pra casa; o qual o fez muito alegre, depois de haver dado graças a seu Salvador. Este homem tinha mulher e filhos. Foi levado também a um possuído do demônio que, estando furioso, havia sido amarrado a uma pedra. Jesus o libertou do demônio e de suas ataduras. Curou também vários gotosos e uma mulher hidrópica, pecadora. Foram sete os que curou. Algumas pessoas não puderam vir para as festas de bodas e como ouviram dizer que depois do sábado ia retirar-se dali, já não quiserem deter-se mais. Os sacerdotes, depois que viram o milagre das bodas lhe deixaram obrar, e estas curas se fizeram na presença deles. Os discípulos não estavam presentes”.   

 

(Transcrito da obra inédita “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, de minha autoria, página 396. Traduzido de “Visiones e Revelaciones de la Ven. Ana Catalina Emmerick”, de Clemens Brentano, Bernardo E. Overberg y Guilhermo Wesener”, tomo IV – La primera pascua de Jerusalém – Editorial Surgite - pág. 44)

 

sábado, 5 de abril de 2025

QUE SAUDADES DA VELHA ESQUERDA!

 



Saudades da esquerda? Como é que se pode ter saudades de uma coisa tão ruim?  É que minha saudade é apenas por causa de certos fatores dignos de nota, e que hoje a esquerda não tem mais. Embora cheia de erros de filosofia a esquerda no passado tinha pensadores, havia alguns que ainda botavam a cabeça para funcionar, embora iludidos e tentando iludir os demais.

Lembro bem que no meu tempo de colégio, quando frequentava o Liceu do Ceará, passava pela Praça do Ferreira antes de pegar meu ônibus e lá encontrava uma turma entusiasmada em debates ideológicos. Naquele tempo a esquerda tinha pensadores. Havia um líder estudantil, chamado “Parangaba” (comunista tão finório que terminou seus dias de vida em Cuba), diretor do DCE do Liceu, que era um dos principais elementos dos debates, ao lado de outros personagens do povo. Discutia-se temas como liberdade, propriedade privada, socialização da economia, poder estatal, imperialismo americano (sem falar no imperialismo russo, é claro)  etc. Após as discussões todo mundo ia para sua casa com as mesmas concepções, com exceção de um ou outro jovem. Eu, apesar de muito jovem , ouvia os debates, mas nunca me simpatizava por aquelas ideias esquerdistas, havia algo de bom senso que o impedia. E era esse o comportamento de toda a sociedade, toda a opinião pública, a qual nunca aprovava os ideais da esquerda quando estes eram apresentados de forma direta e com sinceridade.

Apesar de tudo, naquele tempo o pessoal da esquerda ainda pensava. Alguns deles tinham alguma ideia na cabeça, mesmo errada e levando ao caos.

Hoje, tudo mudou. É bem verdade que se trata de um fenômeno generalizado em toda a sociedade: as pessoas não conseguem mais pensar antes de tomar qualquer atitude, agem somente por impulsos. Sim, mas o pessoal da esquerda anda na pior situação de broncura intelectual. Intelectuais de esquerda de hoje, quem são? Além de alguns professores de escolas públicas, com emprego garantido pelo resto da vida, quem mais? Ciro Gomes no Brasil? Macron na França? Biden nos Estados Unidos? Maduro na Venezuela? Que miséria! Que pobreza intelectual! Eu diria que não se deve citar Lula porque ele nem é de esquerda propriamente dito, pertence ao partido dos oportunistas simplesmente. É mais vazio do que o caos do espaço.

Mas, essa mudança não foi abrupta, não foi repentina, foi feita aos poucos.  Primeiramente, após a queda do muro de Berlim, pararam de pregar a república sindicalista, o poder estatal comunista pleno, com promoção em escala mundial para o “socialismo capitalista chinês” (onde os magnatas do capitalismo mundial passaram a aplicar seu dinheiro), dando ênfase ao movimento ecológico. O partido verde passou a ser a vedete, embora com poucos seguidores. Chegaram até a proscrever as siglas do PC em alguns países, pois o termo comunista só causava repulsa na população. Em vez de socialismo, em vez de PC e outras siglas assustadoras, passaram a incrementar LGBT, feminismo, etc. E, de sigla em sigla, o movimento esquerdista perdeu seu colorido ideológico principal, ficando completamente vazio de sentido filosófico econômico e social.

Que defendem eles hoje? Em vez de discursos ideológicos inflamados como outrora o que se vê hoje são mulheres mal vestidas, algumas despidas, junto com alguns homens também seminus, a maioria cheio de tatuagens, manifestando-se como se fossem os bárbaros dos tempos pré medievais. Os expoentes da esquerda passaram a ser representados por arruaceiros tipo “Black blocs”, por aqui, enquanto que na Europa e Estados Unidos eles compunham um violento grupo de agitação social indefinido. Ideias: nada! Sim, há algumas ideias que não se podem chamar como tais, pelo conteúdo de coisas desconexas e antinaturais, como ideologia de gênero, homossexualismo, aborto, promíscuo uso de drogas, etc. Ideias de comportamento social ou até mesmo o próprio socialismo de estado é coisa morta. E quando o fazem, como o MST, caem logo no isolamento social. A esquerda hoje não age na sociedade como quem prega ideias, mas como grupo que faz agitação com convulsões sociais, visando não o poder mas espalhar o caos na sociedade.

O poder, pelo menos o poder, deveria ser esse o objetivo principal.  Mas em 1968, na revolução de Sorbonne, em Paris, pregaram a derrubada do próprio poder. Alguns chegaram a pregar “abaixo o poder!”. Também criaram “slogans” até um pouco inteligentes, como o famoso “é proibido proibir” e tantos outros. Hoje, não se vê nada disso a não ser palavreados idiotas e sem sentido, feitos por quem não consegue mais botar o cérebro para funcionar. A esquerda continua um fenômeno de elite, tão podre quanto as elites modernas, mas destituída hoje da capacidade intelectual das elites do passado. Tudo indica que a força principal que lhes alimenta é o PCC, tanto o daqui (o Primeiro Comando da Capital) quanto o da China (Partido Comunista Chinês), mas ambos pensando unicamente em dinheiro.

O exemplo mais frisante dessa morte ideológica da esquerda é a guerra sem quartel que eles faziam (e ainda fazem) contra o ex presidente Bolsonaro, nomeando-o gratuitamente de genocida e dando razão aos que condenam o medicamento que estava curando o povo da covid. Envolviam-se com a pandemia, um problema sanitário, com fanatismo invulgar, e nada mais. Ideias, zero! Pois é: tomara que a esquerda aprenda a pensar e volte a mostrar claramente suas ideias ao povo: só assim eles enterrarão mais rapidamente seus conceitos com a rejeição popular. Descolados do povo, eles nunca mais conseguirão defender claramente seus ideais.

Ah, esqueci de frisar: nas décadas passadas eles pensavam um pouco, mas também agiam muito, pois foi quando fizeram várias guerrilhas genocidas tentando tomar o poder. Ainda bem que fracassaram completamente e, hoje, até mesmo tais guerrilhas faliram por falta de apoio popular. A única saída deles, caso o Brasil volte para as mãos de um presidente conservador, será novamente a guerrilha, talvez até comandada pelas quadrilhas de traficantes. Idealismo, porém, nada!