quarta-feira, 17 de setembro de 2025

PERANTE A CRISE ATUAL DA IGREJA DEVEMOS SORRIR OU CHORAR?






Apesar das enormes crises e sofrimentos do mundo atual há uma mentalidade predominante que só pensa em sorrir. Até autoridades de peso vivem no mundo dos sorrisos. A propósito do tema (sorriso ou choro), o site “Corazones.org” divulgou o seguinte texto:

A VIRGEM MARIA, SANTA CATARINA DE SIENA E AS LÁGRIMAS.

Santa Catarina de Siena, na sua famosa obra “O Diálogo”, tem um belo capítulo sobre as diferentes classes de lágrimas, seu valor e fruto. Esta Doutora da igreja distingue até cinco tipos de lágrimas:

1. Lágrimas más, que geram morte. São as que vêm do pecado e levam ao pecado: lágrimas de ódio, de inveja ou desespero, vêm de um coração confuso e afastado de Deus.

2. Lágrimas de medo pelos próprios pecados. São as que se levantam do pecado por medo do castigo: o medo fá-los chorar. A sua motivação não é perfeita, pois não há necessariamente arrependimento.

3. Lágrimas dos que, longe do pecado, começam a querer servir a Deus; mas, privados de consolação visíveis, choram por se verem com tanta incapacidade e tribulações.

4. Lágrimas dos que amam com perfeição a Deus e ao próximo, doendo-se das ofensas que são feitas a Deus e pena do dano do próximo, em completo esquecimento de se.

5 . Lágrimas de doçura, derramadas com grande suavidade pela união íntima da alma com Deus. São lágrimas de puro amor que derramam os santos nas mais altas cimeiras de perfeição cristã.


CHOROU MARIA SANTÍSSIMA?

A Virgem Maria sofreu muitas dores e dores. Simeão lhe anuncia que ¨ "uma espada sobreposição seu coração" (LC 2, 35). E os quatro evangelistas relatam eventos que não podiam menos de causar uma profunda dor em Maria.

O livro do Apocalipse descreve-nos a " Mulher vestida de sol, com a lua a seus pés e coroada com uma coroa de doze estrelas... e diz-nos que " gritava com dores de parto " (Ap 12,1 _ 2 . Estas dores são os que lhe produziram o parto sobrenatural da igreja e dos membros do corpo místico do seu filho. O parto onde Maria nos recebe a todos como filhos, aconteceu ao pé da cruz do seu amado filho Jesus. E Maria continuará a sofrer dores de parto até que o seu filho não tenha nascido em todos os corações dos homens.

Sabemos que Cristo chorou ao prever a ruína de Jerusalém (Lc 19,41) e que também, derramou lágrimas diante da dor de Marta e Maria pela morte de Lázaro (Jo 11,35). Da Santíssima. Virgem Maria, os Evangelhos não nos dizem explicitamente, mas ao nos narrar situações dolorosas em que ela participou plenamente na sua missão de associada ao trabalho redentor, ou seja, como Co-redentora, devemos concluir que se ela realmente sofreu, então deve ter chorado, derramado muitas lágrimas dos seus olhos tão puros.

Chorar não é imperfeição quando o motivo do choro é santo. Chorar não é efeito de fraqueza, mas de sensibilidade fina. Chorar a impulsos do amor divino é um dom de Deus, dom que só a grandes almas é concedido.

São Francisco de Assis, chorava tanto pelos seus pecados, que quando se visita a Basílica de Santa Maria de Los Angeles, onde se encontra a porciúncula e outros lugares cruciais para a vida do Santo, encontramos uma caverna que se chama a “Capela das Lágrimas¨. esta capela é a caverna onde São Francisco muitas vezes chorou ao contemplar tão pecador diante da santidade de Deus”. 

Aqui termina o  texto do site “Corazones.org”..


NOSSA SENHORA CHORA NOS DIAS ATUAIS?

Perante a situação da terrível crise por que passa a Igreja nos dias atuais, Nossa Senhora tem manifestado constantemente o quanto tem derramado suas lágrimas. E o exemplo mais característico foi o pranto derramado em Nova Órleans, no ano de 1972. Mas, não foi suficiente, pois desde então tem surgido vários outros prantos em várias partes do mundo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

QUEM REPRESENTA REALMENTE A OPINIÃO PÚBLICA?

Com a reviravolta causada pelas chamadas redes sociais o domínio da opinião pública não é mais de uma elite intelectual e política, agora está cada vez mais patente que é a manifestação mais ou menos espontânea dos cidadãos. A mídia oficial, representada pelos canais de TV abertas, revistas, jornais e rádios, já está ciente de que não consegue mais dominar e controlar a opinião pública. 

Quando essa elite intelectual mandava no pensamento coletivo ficava fácil a partidos de esquerdas, com elementos infiltrados nas mídias oficiais, manobrar e influir na opinião pública. Porém, hoje isso está ficando cada vez mais difícil para eles. É claro que ainda mantêm algum domínio, mas sem influir de modo preponderante no cômputo geral das opiniões de todos. Por isso, aqueles que pensam representar o pensativo coletivo apenas com base nas mídias oficiais, ou com base em elementos pertencentes aos chamados “movimentos sociais” (tipo CUT, MST, etc), erram redondamente e estão fadados a ficar na poeira histórica do passado. Estes grupos vivem para si mesmos, uns bajulando os outros e seus representantes, sem pertencer a quanta distância estão do pensamento coletivo.  Dizem para eles mesmos que representam o pensamento coletivo, enganam-se nessa miragem psicológica e não vêem a realidade bem palpável ante seus olhos.

Um exemplo: a esquerda nunca representou o pensamento coletivo, nunca foi produto do pensamento nacional, nunca representou a opinião pública, mas manteve-se nesse erro porque os elementos colocados em postos importantes da mídia oficial lhes alimentavam essa ilusão. 

Hoje, têm tudo para enxergar a realidade e reconhecer que não são reconhecidos pelo povo.

No entanto, é bom que se frise que as redes sociais também têm seus manipuladores. Mas, estes dificilmente conseguirão impor seu modo de pensar à maioria, hoje tão livre para dizer o que pensa e não seguir um figurino imposto pelas mídias oficiais. 

Finalmente, a população pode ver realmente o que é a tão decantada “liberdade de expressão”, festejada por juristas constitucionais como um dos maiores bens das democracias modernas, mas sem uma definição clara que evitasse sua manipulação pelas elites midiáticas do passado. 

Esperemos que surjam finalmente destas livres manifestações da opinião pública, agora possuída de uma liberdade de expressão completa, alguns princípios ordeiros e pacíficos para orientar os destinos de nosso povo.

domingo, 7 de setembro de 2025

QUAIS OS DESÍGNIOS DA PROVIDÊNCIA PARA O FUTURO DO BRASIL?





7 de Setembro, dia da nossa independência, é também celebrado o dia do Anjo da Guarda do Brasil. Como se sabe, a exemplo de cada pessoa, também as nações têm seus anjos protetores. Aproveitemos este dia para meditar sobre nosso futuro, o qual, com certeza, terá atuação intensa do nosso anjo protetor.

1. Por ser uma nação predestinada, onde provavelmente deve se iniciar o Reino de Maria (ou já se iniciou), deve ser também a mais provada;

2. Durante a "bagarre" o Brasil deve sofrer castigos que possam servir de exemplo para o mundo, isto é, fazendo surgir ou crescer aqui uma forte têmpera de um povo preparado para grandes lances históricos;

3. Assim, a temática esquerda-direita não tem tanta importância, a não ser momentaneamente, devendo permanecer na opinião pública uma pujante opinião católica capaz de influenciar o mundo; 

4. Deste modo, espera-se que a aparente vitória da esquerda, assumindo o poder no país, possa servir para provar o povo, que pode ficar decepcionado com seus líderes, mas se ficar fiel às suas tradições cristãs poderá superar todo impasse;

5. O que pode estar ocorrendo no momento: uma grande frustração e indignação da população a faz lutar contra as atuais situações de uma forma diferente, enfrentando problemas com garra e combatividade; surgirá, então, uma grande provação permitida pela Providência divina pelos seguintes motivos:

a) O povo vem cometendo grandes pecados coletivos, como o da sensualidade e do liberalismo, ou mesmo do relativismo, sendo merecedor de muitos castigos para que possa  reparar tais pecados;

b) Na contingência de ser tolhida sua liberdade deverá purgar o pecado do liberalismo, e o sofrimento o fará engrandecer mais a alma;  de outro lado, as privações econômicas o fará pecar menos sensualmente, isto é, a miséria como castigo pode levar um povo a reparar pecados de sensualidade;

c) Mas, sendo provado e reparando seus pecados, deverá surgir uma plêiade de católicos que possa levar a população a construir uma nova sociedade, nascida sob os escombros da velha então falida e arruinada. 

d) Num outro panorama em que haja grande progresso social e econômico o povo afundaria mais ainda nos pecados; por isso, a Providência permitiu a vitória da esquerda que vai promover grande decadência econômica e sofrimentos sem conta. Isso pode durar pouco tempo, mas com intensidade suficiente para produzir os efeitos que a divina Providência deseja para nosso povo. De outro lado, outros castigos, como pragas e desastres naturais, poderão produzir muitas mortes e despertar nas populações o temor de Deus, aproximando mais ainda as pessoas da Religião e de suas obrigações e necessidades espirituais. 

e) Por fim, o Reino de Maria virá após muita catequese, muito ensino dado às populações sobre a natureza de tais eventos e a necessidade de se arrepender de seus pecados, tanto individuais quanto sociais ou coletivos, reparando-os e mudando de vida. Os bons serão martirizados, como disse Nossa Senhora em Fátima, mas deixarão o legado de uma nova sociedade que servirá de modelo para o mundo. Como se viu, é a conjugação de vários fatores que poderá fazer este povo reconhecer seus pecados, pedir perdão e mudar de vida, e dentre estes fatores o domínio ignominioso da esquerda poderá produzir os frutos desejados pela Providência divina para educar as populações, assim como o povo hebreu viveu 4 séculos como escravos dos egípcios a fim de vencer seu orgulho e se privar de tantos pecados que cometiam, principalmente o da idolatria.

f) Há ainda uma questão: como a Providência pode permitir que membros do corpo místico do demônio obtenham o poder de governar um povo católico? Sim, pode permitir para a própria ruína deste corpo maldito, pois o Corpo Místico de Cristo continuará vivo e alimentado pelo poder e das graças divinas vencerá de qualquer  forma o corpo místico do demônio. Talvez isso até sirva para fazer crescer mais ainda o Corpo Místico de Cristo, pois o confronto atrairá muitas graças de Nossa Senhora para este povo. 

 A QUESTÃO DIREITA-ESQUERDA PERANTE A VISÃO RCR

O Senhor Doutor Plínio Corrêa de Oliveira nos ensinou a ver o papel preponderante da Revolução nos últimos acontecimentos. Podemos analisar tudo com base em seu livro "Revolução e Contra-Revolução" (RCR). Disse ele certa vez que a Revolução estava “morta”. Isso queria dizer que ela estava como uma cobra mortalmente ferida pela cabeça, embora ainda rastejando. E este rastejo pode ser visto nos seus últimos lances. Desesperada porque nunca conseguiu apoio popular às suas idéias, tramaram nova forma de ação. Essa nova modalidade dela pode ser sintetizada num livro escrito pelo americano Gene Sharp sob o título de “como fazer uma revolução pacífica”. Trata-se de um manual orientando como fazer a Revolução sem violência. Se alguém tiver o trabalho de confrontar o que diz aquele manual e como agem os “direitistas” de  hoje vai ver que há inteira consonância entre eles. Quer dizer: a Revolução resolveu queimar as etapas de avanço para tentar aplicar um retrocesso. Eles querem transparecer a idéia de que a Revolução seja “espontânea”, partida de grupos naturais sem qualquer influência de organizações políticas ou sociais. Primeiramente, este método é aplicado contra regimes políticos de esquerda, antipáticos à população e fácil de angariar opositores. Nota-se uma aparente teatralização destes governos de esquerda na América Latina, parecendo que agem de propósito com o fim de incrementar as ações “pacíficas” da direita. Muitos estranham suas atitudes pois só fazem lhes dar mais impopularidade e crescimento da indignação popular. O trabalho do STF no Brasil visou então estimular o crescimento popular da direita, despertando enorme reação popular contra o golpe que deram.  E no final, o que viria se a direita vencesse? Dizem que uma era de prosperidade. Mas, não é bem assim. Nos países onde venceu essa “revolução pacífica”, o que houve depois da queda do governo de esquerda foi o caos. O  caso característico foi a Colômbia, que teve um governo muito “direitista” que deu anistia às FARCs e contribuiu para eles tomarem o poder. Pois,  eles só levam em conta velhos chavões revolucionários “como o poder emana do povo” e ‘liberdade de expressão”. No Egito também usaram essa tática de “revolução pacífica”, derrubaram o governo, mas nada de bom surgiu depois, só o caos político e social. Observem que os seus elementos que falam na internet usam muitos palavrões e dão sinais de serem realmente filhos das trevas. A própria maçonaria já andou tomando ares de direitista e se pronunciando contra a esquerda. Não pode ser boa coisa.  Distoa desse manual (de fazer uma Revolução pacífica) o movimento violento surgido no Nepal  em setembro de 2025,  numa reaçao contra o regime de esquerda que quis controlar e reprimir as redes sociais. Por causa disso, entende-se a razão de Monsenhor João Clá e seus sacerdotes nada falarem sobre o assunto. A missão dos Arautos do Evangelho é evangelizar e nisso vamos preparando as populações para construir uma nova civilização. Os acontecimentos políticos passam, mas as instituições e as construções nascidas como fruto destas evangelizações vão ficar para sempre, além da boa formação moral e religiosa do povo.

PODEMOS PREVER NOSSO FUTURO?

A respeito da meditação acima vejamos o que diz o Livro da Sabedoria, cuja leitura foi feita na Santa Missa de hoje:

"Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Ou quem pode imaginar o desígnio do Senhor? Na verdade, os pensamentos dos mortais são tímidos e nossas reflexões incertas: porque o corpo corruptível torna pesada a alma tenda de argila oprime a mente que pensa. Mal podemos conhecer o que há na terra, e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos: quem, portanto, investigará o que há nos céus? Acaso alguém teria conhecido o Vosso desígnio sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses vosso Santo Espírito? Só assim se tornaram retos os caminhos dos que estão na Terra, e os homens aprenderam o que Vos agrada, e pela Sabedoria foram salvos" (Sab 9, 13-18).

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA IDADE MÉDIA

 NA IDADE MÉDIA HAVIA MAIS LIBERDADE DE EXPRESSÃO DO QUE NOS DIAS ATUAIS - Como se explica isso? As pessoas que emitiam seus conceitos, suas opiniões, naquele tempo, eram os religiosos em suas escolas e locais de estudo. Assim, entre os Escolásticos, por exemplo, os temas eram discutidos acaloradamente, ocasião em que se punha em ação um sistema de críticas e refutações a fim de se atingir o objetivo que era a elucidação do tema. Foi daí que surgiu entre eles a explicitação da finalidade da "Crítica", que era opor argumentos contrários no momento das discussões.

Hoje não se vê mais isso. Qualquer pessoa que quiser opor algum argumento de peso contra qualquer idéia, isto é, fazer uma crítica, é logo taxado de "preconceituoso", aquele que tem suas idéias refutadas fica cheio de melindres, simplesmente porque foi contraditado. E isso ocorre especialmente entre aqueles que abraçam ideais políticos, isto é, políticos partidários, geralmente cheios de fanatismos ideológicos, como os esquerdistas e simpatizantes.

Na Idade Média é claro que havia também estes fanáticos, mas eles diziam suas heresias e conceitos errados de uma forma clara e tranquila, da mesma forma que também eram refutados. Quando o sujeito insistia demais, a ponto de ir de encontro clamoroso aos conceitos morais e religiosos já aceitos por toda a sociedade, aí era que os governantes interferiam a fim de evitar que a praga se propagasse na sociedade.  O esclarecimento surgia depois dos debates e os assuntos eram aceitos porque houve honestidade nas discussões.

E hoje? ai daquele que tentar levar a público algum argumento contra qualquer desvio moral, como adultério, aborto, homossexualismo, etc., Será logo  taxado de preconceituoso, de intolerante, mesmo que use de mansidão no falar.


quinta-feira, 7 de agosto de 2025

SÃO DOMINGOS DE GUSMÃO, UM INOCENTE QUE IRRADIA LUZ ESPIRITUAL

 


 




São Domingos de Gusmão (cuja festa se celebra em agosto) e São Francisco de Assis, seu contemporâneo, foram dois luzeiros cujas vocações se interpenetram. Considera-se terem realizado o famoso sonho de Inocêncio III, no qual esse Papa viu a Basílica de São João de Latrão, que simbolizava a Cristandade, rachada e sendo sustentada, ora por São Domingos, ora por São Francisco. Dr. Plínio tinha por ambos profunda admiração, que se traduziu em numerosos comentários pervadidos de sentimentos de enlevo e veneração.

Na conferência que transcrevemos a seguir, ele analisa um afresco de Fra Angélico, no qual o insigne pintor dominicano procura retratar as perfeições morais de seu santo Fundador.

 

A Cristandade tendia já naquela época para a moleza, o relaxamento, a perda do senso do sacrifício, do sobrenatural, e se inundava dos bens materiais que o avanço da civilização proporcionava.

Foi neste contexto que, para barrar o progresso do mal, Deus suscitou as vocações de São Francisco e de São Domingos: o primeiro, pela caridade, e o segundo, pela lógica, lograram conjuntamente reerguer a Idade Média do século XIII. A Ordem dos Franciscanos devia praticar em grau exímio a humildade e a pobreza; a dos Dominicanos, combater num terreno mais intelectual o orgulho e a sensualidade.

Na conferência de hoje, pretendo voltar-me particularmente para São Domingos. Procuremos vê-lo pelos olhos de um de seus mais eminentes filhos espirituais, Fra Angélico.

Em um de seus célebres afrescos (página ao lado), ele representa São Domingos ainda muito moço, vestido de dominicano, numa atitude pensativa, meditando ao pé da Cruz.

A pintura mostra um personagem muito sereno e calmo. Mas, ao mesmo tempo, dentro da  serenidade e da calma dele, está se entregando a uma intensa atividade. Encontra-se numa pesquisa, numa interrogação. Sem tensões nem cansaços errados, a investigação de seu espírito se concentra num determinado ponto. De outro lado, nota-se nele uma atitude de enlevo e de amor.

No todo externo deste homem há algo de luminoso. Ele irradia uma luz que não é física, mas espiritual. Não se trata do viço da mocidade, também presente nele; é uma espécie de luz interior, mais ou menos indefinível, decorrente de uma extraordinária lucidez e de uma clara visão das coisas. 

Singular discernimento das almas

Tem-se a impressão de que, se um de nós olhasse o mundo de dentro dos olhos dele, veria o universo com alguns matizes completamente diferentes. Sobretudo, no que diz respeito às almas.

Examinando-as, procurando conhecer caráteres, esse homem está tão distante do lamaçal das atividades comuns, tão longe das paixões que habitualmente os homens têm, que ele, por diferença, percebe muito mais essas desordens e, por co-naturalidade, também discerne melhor o que há de bom nos homens. Ele tem uma visão muito mais penetrante do mundo das almas, do que uma pessoa comum.

Fortaleza, clareza de visão e equilíbrio

Uma objeção que se poderia fazer a esta figura é a seguinte: onde está presente dentro dela a  combatividade de espírito? Parece uma pessoa feita para concordar com tudo, e capaz apenas desse sorrisinho que esboça. E, a esse título, é uma pessoa que deve ser rejeitada por uma verdadeira formação.

Na realidade, imaginemos este homem fechando o livro e presenciando alguma cena de despudor insolente ou alguma extravagância, que se tornaram tão comuns nas ruas de hoje. Ele ficaria ou não profundamente chocado, e quereria empunhar um látego como aquele com que Nosso Senhor  expulsou os vendilhões do Templo? Certamente.

É na sua extrema inocência, na sua extrema candura que reside uma extrema clareza de visão, muita fortaleza e muito equilíbrio. Este homem é capaz de atitudes enérgicas, mas também, no intervalo  das batalhas, de sorrir e meditar sobre o Natal. Sem violências, sem choques interiores, ele passa de um estado de alma para outro.

Ele é, entretanto, um homem transparente para cada um de nós compreendê-lo. Um homem que poderíamos sondar, no mais íntimo de sua alma, para perguntarmos qual é o ponto de partida de todo esse equilíbrio que ele demonstra.

O ponto de partida é, antes de tudo, uma noção primeira da ordem. Porque esta é uma pessoa que  nunca perdeu a graça batismal. Isto está escrito na sua fisionomia. Não se poderia admitir, por exemplo, que lhe fizessem esta biografia: “Grande santo penitente. Viveu por muito tempo no meio de pessoas corrompidas e cometeu inúmeros assassinatos. Ei-lo depois de convertido”. A penitência tem aspectos mais sublimes, mas não tem o da inocência. Neste homem se discerne a graça batismal na sua candura originária, em sua beleza primaveril.

Certezas extraordinárias

A partir da fidelidade à graça batismal, há uma certa retidão por onde ele vê muito claramente que a verdade é a verdade, e o erro é o erro. E os primeiros princípios universais da lógica e do entendimento não passaram pelo menor abalo, no espírito dele. De maneira que ele possui naturalmente certezas extraordinárias.

Prestemos atenção em sua fisionomia: não há o menor grau de dúvida a respeito de nada. Ele nunca duvidou. Consideremos com que tranquilidade ele procura o seu caminho. Por quê? Porque ele anda a partir de certezas que nunca foram abaladas, e que lhe abrirão todas as portas.

De outro lado, com essa noção muito grande de todas as certezas, possui ele uma naturalidade e um modo categórico de condenar completamente o erro, e de se desfazer do mal de uma forma que não admite discussão: é, e está acabado!

Fé católica absoluta

Tomemos a fé católica deste homem, por exemplo. É uma fé total, absoluta! Ele acha evidente que a Igreja Católica seja verdadeira. Não há dúvidas para ele a esse respeito. É uma fé que nasce dessas certezas originárias, serenas e magníficas de quem nunca pecou contra a criteriologia, nunca pecou contra os próprios nervos, nunca pecou contra nada! E que progride na sua vida espiritual como o Rio Amazonas corre para o mar: caudaloso, enorme, tranquilo, arrastando tudo, empurrando o mar longe para frente. Não é um rio wagneriano com cascatas, com quedas d’água nem coisas semelhantes. Ele se dirige para o oceano em linha reta, e chega ao mar. O mar, neste caso, é o Céu!... 

Um profundo senso do divino

Outra coisa que há nele é o senso do divino, que se traduziria pouco mais ou menos num raciocínio da seguinte evidência:

“Eu existo. Contudo, é verdade também que antes de mim existiu uma quantidade enorme de seres. É verdade que, ao mesmo tempo em que eu existo, existe uma quantidade enorme de seres, e que depois de mim existirá outra quantidade enorme de seres. Há, portanto, um fluxo do existir dentro do qual, somando e subtraindo, eu sou uma gota, e não o centro dele.

“Por detrás desse fluxo de  existência há uma ordenação, uma regra, uma concatenação de fatos, uma sucessão de coisas que constituem um universo coordenado e uno. Esse universo que assim existe me dá a ideia de um Ser ainda maior do que ele e, portanto, um Ser Absoluto, Divino, que também existe. É Ele o Criador de tudo.”

É a primeira impostação da alma diante de Deus.

Este é um homem sem interesses individuais. Ele não tem vaidades, nem complexos, nem ambições. Ele tem o hábito de, no seu pensamento, nas suas reflexões, não reportar as coisas a si, mas a este absoluto que é Deus, e que é o centro para onde ele está voltado. 

Da inocência, o espírito apostólico

Então nós temos que, para este homem, rutila com clareza muito maior do que para o comum dos  homens a noção de que a verdade é a verdade, o erro é o erro, o bem é o bem, e o mal é o mal. Vamos dizer que este homem, de repente, se encontrasse com Lutero. Ele se diferenciaria do heresiarca por vários abismos sucessivos. Ele iria notando as divergências, e diria: “Não! Errado!”

E depois: “Vou pregar contra as ideias erradas de Lutero, pois não posso deixar que leve outros a seus erros! Nós não cabemos juntos no mundo!”

Donde nasceu o ímpeto desse espírito apostólico? Nasceu da candura originária, que é, em última análise, a boa ordem inicial de todo ser. Nasceu de todos os primeiros princípios da razão, de todos os primeiros impulsos dos nervos, de toda a graça do Batismo. Nasceu do senso do divino, e do respeito enorme por tudo o que existe, inclusive por si próprio, sentindo, por detrás, Deus que o envolve e que o transcende. Eis o ponto de partida desta alma inocente, que contém todo o resto.

“Paraíso originário” de todo batizado

Esse estado de alma é o “paraíso originário” que todo batizado tem, em grau maior ou menor do que São Domingos.

E aqui, ao término dos comentários sobre esta magnífica representação do Fundador dos dominicanos, parece-me apropriado ressaltar esta verdade: todos nós tivemos a inocência batismal. É ou não é verdade que todos nós, no fundo de nossas almas, sentimos saudades dos encantos do  tempo em que éramos inocentes?

Entretanto, como fomos feitos para viver dessa inocência, permanecem na alma mil cordas que ninguém vibrou, mil solicitações que não foram atendidas, mil possibilidades de expansão que de fato não foram aproveitadas, mil apetites feitos para a casa paterna que se vão saciar nas bolotas dos porcos. Resultado: mil remorsos indefinidos, não se está contente consigo mesmo, não se sente limpo diante de Deus.

Achamos que nossa existência é dura. É verdade. Porém, não agravamos nosso exílio, fechando as janelas que davam para o Céu? Há na Escritura uma lamentação de Deus, dirigida ao povo hebraico: “Vós transformastes o meu templo numa barraca para guardar frutas”. Não somos nós um templo do Espírito Santo, que transformamos em barraca para guardar frutas?

Olhando de frente nossa situação atual, lembremo-nos que tudo aquilo pode ser restaurado, desde que rezemos com confiança nesse sentido. Peçamos, pois, a Deus Nosso Senhor, por meio de Maria Santíssima, que nos limpe de nossos pecados e imperfeições, e restaure em nós aquela bondade derivada das graças que o Batismo infundiu em nossas almas.

 (Revista “Dr. Plínio”, n. 17, agosto de 1999, págs. 7/9)