(Comentários sobre termos e expressões muito
usadas no português)
Relacionamos
a seguir algumas particularidades de nossa linguagem, de nosso idioma, que
merecem destaque, as quais devemos sempre ter cuidado em nossa maneira de
falar, especialmente se estivermos perante algum estrangeiro que não entende
bem nossa língua e nossos costumes.
ATRAVÉS
Termo que só pode ser usado quando se quer atravessar, transpor alguma coisa. Por exemplo: viajar através de vários países; a luz está passando através da janela; eu vejo através da fresta, etc. Em vez de através deve-se usar a expressão “por meio de” quando se quer dizer por intermédio de . Conversavam por meio de telefones, conseguiu a vaga por meio de concurso, etc. Afirmar que alguém conheceu outro “através” de um amigo comum, por exemplo, não está correto; o certo seria dizer “por meio de”.
“coisa” de português
A palavra “coisa” tem se prestado para mil e uma utilidades, há até aqueles que inventam o verbo “coisar” para definir uma ação imprecisa e nebulosa. “A coisa tá feia”, “não é qualquer coisa que me assusta”, “uma coisa é dizer, outra coisa é fazer”, “essa coisa”, etc. são expressões muito comuns para o uso dessa palavra. É muito comum também esta: “isso é coisa de fulano” ou “isso não é coisa que se faça”. Para se usar corretamente nossas palavras, nada melhor do que um dicionário. Vejam quantos significados há lá para a palavra “coisa”: objeto, assunto, negócio, ato, estado, condição, causa, mistério, motivo, propriedade, fato, realidade, o que existe ou pode existir, aquilo que queremos mencionar mas cujo nome ignoramos, “coisa-feita” é feitiçaria. Não dizer coisa com coisa é falar sem razão, sem nexo; “coisas-do-arco-da-velha” são coisas incríveis de se acreditar, e assim por diante. E quando o sujeito quer menosprezar alguma mulher diz que ela é uma “coisinha” ou mesmo “coisinha à toa”, mas quando quer elogiar diz que é uma “coisinha fofa”.
Entrar sem penetrar
Nem sempre quem
conjuga o verbo “entrar” é com a intenção de penetrar em alguma coisa ou
ambiente, por exemplo. Assim você pode entrar em acordo, alguém pode “entrar”
em sua vida, um doente pode entrar em coma, ou então, o mais comum, alguém pode
entrar na casa, num cômodo dela, por exemplo. A entrada também pode ter
significações diferentes, pois, embora o mais usado seja o lugar onde se entra,
uma porta ou um portão, pode ser também o prato de antepasto que se serve antes
da refeição principal. Usa-se também a expressão: “de entrada” fulano disse tal
coisa. A entrada, também, é o pagamento inicial que se faz de um débito. E
quando um avião “entra” em parafuso? É claro que não quer dizer que aquele
bicho enorme penetrou num instrumento tão pequeno como um parafuso, mas quer
dizer que está caindo em círculos, haja vista que o parafuso é formado por
roscas circulares e helicoidais.
Favas contadas
Nos povos antigos,
especialmente entre gregos e troianos, havia um costume de se utilizar favas na
contagem dos votos de suas eleições. Tais eleições eram comuns para escolher
jurados ou mesmo regentes, como os arcontes. O processo era assim: num pote
eram colocadas favas brancas misturadas com favas pretas. O escrutinador
chamava cada candidato pelo nome, este punha a mão no pote e tirava uma fava,
se esta fosse branca estava eleito, e sendo preta estava reprovado. Quando o
número de favas brancas, de candidatos eleitos, chegasse ao total exigido, era
concluída a eleição. Foi daí que surgiu o termo “favas contadas” para assinalar
uma situação em que tudo estava previsto ou predeterminado, pois o povo sempre
desconfiava que aquelas eleições sempre era arrumadas, eram “favas contadas
ORIGEM DA EXPRESSÃO "HIP-HIP-HURRA!"
Ninguém sabe ao
certo, mas existem hipóteses (todas bem esquisitas!). Uma delas remonta a
manifestações contra os judeus na Europa do final do século XIX. Durante os
protestos, a multidão gritava “Hep! Hep!” O grito seria adotado, mais tarde,
pelas tropas de Hitler. Alguns pesquisadores afirmam que “Hep” deriva da
expressão latina Hierosolyma Est Perdita, ou “Jerusalém está perdida”. De
acordo com essa versão, encontrada no livro The War Against Jews (A guerra
contra os judeus, inédito no Brasil), do historiador Dagobert Runes, a
interjeição “Hep” teria sido um grito de guerra dos cruzados medievais. A
palavra “Hurra”, por sua vez, seria derivada do eslavo “hu-raj”, que queria dizer
“ao paraíso”. Assim, a expressão completa significaria “Jerusalém está perdida
e estamos a caminho do paraíso”. Outros autores afirmam que as três letras HEP
eram entoadas pelos romanos seguidas do grito “Hurra!” (este sem significado
aparente) para celebrar o fim de um levante na mesma Jerusalém, no ano 70.
Mas poucos
estudiosos acreditam nisso. “Nenhuma dessas versões possui evidências
suficientes. ‘Hep’ pode ter sido apenas um grito dos pastores medievais para
conduzir seus rebanhos”, diz o historiador Robert Michael, da Universidade de
Massachusetts, em Darthmouth, Estados Unidos. (Fonte: Wikipedia)
Matar sem ser crime e fazer sem executar
O verbo matar não é
usado somente pelo assassino, mas para várias outras finalidades: matar a sede,
matar saudades, matar a curiosidade, matar o tempo, etc. Também se usa muito no
Nordeste o termo “matar o bicho” para designar o ato de beber uma cachaça. É o
mesmo que ocorre com o verbo “fazer”, o qual nem sempre é utilizado para se
executar alguma tarefa. Diz-se que está fazendo frio ou calor, diz-se que vai
fazer xixi, fazer cocô, mas nunca se ouviu dizer que alguém os fizesse, pois
tanto o frio quanto o calor, como o xixi e o cocô, já vêm prontos para nós,
foram feitos pela Natureza. E quando alguém diz, por exemplo, que está “fazendo
cera”, na realidade ele não está fazendo nada. E quem chega a “fazer falta”, ou
pode ser que é uma pessoa imprescindível ou algum jogador de futebol que
derruba a adversário.
Partir ou seguir viagem?
Um outro verbo que
pode prestar-se a diversas interpretações é o “partir”. Quando se diz que “o
trem partiu” está se querendo dizer que ele foi partido ao meio ou que seguiu
viagem? E a expressão “coração partido”, literalmente, quer dizer que o órgão a
que se refere foi rompido ao meio? Não, neste último caso quer dizer apenas que
a pessoa está sofrendo muito e por isso se diz que está com o coração partido.
E quando se diz “parto sozinho” quer dizer vai viajar sem companhia ou que vai
parir o filho sem assistência do médico? Mas, o verbo partir também é usado
para significar a origem de alguma coisa: “de onde partiu os boatos”, “a partir
de hoje”. Já o termo “partido”, acima referido em relação ao coração, tanto
pode significar algo quebrado, rompido, como algo de excelente como o “bom
partido” (que se refere a um bom casamento) e ao partido político, que não tem
nada de quebrado e sempre anda muito coeso e unido. E quando nos referimos à
partida de futebol, de voleibol ou de outro esporte qualquer? Realmente, a
palavra “partida” surgiu do termo “partir”, no sentido de iniciar um jogo. E
tudo começou na Idade Média, quando os aficcionados do xadrez popularizaram o
termo, o qual se tornou sinônimo de jogo.
pegar nEM SEMPRE quer dizer agarrar
Quando pegamos um
taxi ou um ônibus não quer dizer que o agarramos, mas quando pegamos uma caneta
ou qualquer objeto é porque realmente o temos em nossas mãos. Da mesma forma,
quando pegamos uma doença (e aí o termo é usado no sentido de transmitir a outrem),
como uma gripe, não quer dizer que agarramos a mesma, mas que ela fica conosco,
fica sim. Às vezes a pessoa pega a chorar, às vezes diz-se que a chuva pegou ou
que a televisão está pegando tal programa. O verbo é quase sempre usado para
designar algo que deve deitar raízes, como uma planta que deve pegar para
crescer e desenvolver-se. Daí também se originou o termo “pegadinha” para
designar um trote que se passa em alguém, e “pegada”, que é o rasto deixado no
caminho. E se você “pegou no ar” a lição do professor quer dizer que entendeu
tudo de uma só vez.
Pentear macaco
“Vai pentear
macaco” é uma expressão popular da língua portuguesa, usada no Brasil, e que
significa "vai cuidar da tua vida", "não amola", "cai
fora", "para de encher o saco", "vai ver se eu estou na
esquina". É usada para afastar alguém que está sendo chato ou
inconveniente: "O que é que você ainda está fazendo aqui? Vai pentear
macaco!".
A origem da
expressão tem várias versões diferentes. A mais plausível aponta que derivou do
provérbio português "mal grado haja a quem asno penteia", que surgiu
pela primeira vez em Portugal, no ano 1651. Nessa altura, escovar ou pentear
animais de carga (burros e jumentos, por exemplo), era um trabalho mal visto,
tendo em conta que estes animais não precisavam de estar com boa apresentação
para cumprirem a sua função. Como os portugueses até metade do século 17 não
conheciam a palavra "macaco", usavam o termo "bugio" para
identificar esse animal, e daí surgiu a expressão "vai bugiar", que é
uma expressão equivalente a "vai pentear macaco", e é usada até os
dias de hoje em Portugal e algumas partes do Brasil.
Outra versão diz que a expressão "pentear macaco" surgiu no tempo da escravatura e significava um castigo para os escravos, que tinham que dar banho e pentear uns aos outros.
Perder o rebolado
Expressão muito
usada no Brasil. O “rebolo”, no Nordeste, é algo que se atira em alguém ou em
outro objeto; sendo assim, pode-se dizer que tal objeto ao ser “rebolado”,
lançado ou arremessado, se erra o alvo “perde o rebolado”. Neste caso, o verbo
correto seria “rebolear”, mas não é usado no Nordeste. Há outro sentido, este
sim, mais corrente e mais correto: quando a pessoa “perde a graça”, isto é,
fica sem jeito perante alguma situação vexatória. Quando o dançarino está “se
rebolando”, que quer dizer “se requebrando”, se ele perder o ritmo, fica sem
graça e sai da dança. Assim também a pessoa quando fica sem jeito com alguma
situação de vexame: “perde o rebolado”.
Reagir ou estagnar
Reagir é
desenvolver uma ação contra outra, isto é, fazer uma reação. Até aqui o sentido
tem sido mais ou menos um só. No entanto, quando esta reação passa a se
constituir num sistema ou num pensamento estruturado, chamando-o de
“reacionário”, o termo passa a ter significado diferente, dizem que
“reacionário” é tudo aquilo ou aquele que é contra o progresso e a liberdade. E
se o sujeito passa a ser conivente com tudo, ficar indiferente a certa ação que
vem contra seus princípios, poderia muito bem ser chamado de “progressista”,
que, no caso, seria o oposto de “reacionário”. Embora tenha meras conotações
ideológicas, o termo foi pacificamente aceito nos dicionários que dão ao termo
o sentido acima. Quer dizer: até os lingüistas são influenciados por princípios
ideológicos.
Quem deseja sofrer?
Sofrer (do latim
“Sufferre”). É interessante o texto publicado na revista “Língua”, edição n.
89, de 2013. Nele, a palavra é comentada por um uso muito prosaico: aumento de
preços e outros valores. Dizia-se ali que um jornalista comentou certo aumento
dizendo que tal produto “sofreu aumento de preço”, e acrescenta: “Por que tanto
sofrimento? Que razões levam um redator a estabelecer relação entre aumentos de
preços ou salários e sofrimento? Talvez porque aumentos em geral resultem em
sofrimento...”
A palavra “sofrer”,
no caso, ganha outros significados: ganhar, receber, etc. Em vez de se dizer,
por exemplo, que tal produto “sofreu” aumento de preços deveria se dizer que
“ganhou”aumento de preços, ou “perdeu” se o preço foi diminuído. Mas, se um
time de futebol “sofre” uma derrota o outro poderia ter “sofrido” a vitória?
Qual a razão disso?
Por que se usa essa palavra com tal finalidade? Então o verbo sofrer pode
“sofrer” modificações em sua significação? Não, não há modificações em seu
significado, tantos são eles. Num dicionário encontramos a seguinte definição:
suportar, tolerar, padecer, admitir, etc; e lá consta o seguinte exemplo: “é um
argumento que não sofre dúvida”, cujo verbo (sofrer) poderia ser substituído
por “admitir”. Há também outras significações, como ter prejuízos, decair,
permitir, admitir, mais ou menos indiferentes ao padecimento humano.
Já a palavra “sofrível”, “sofre” também empregos diversos, podendo significar aquilo que se poder sofrer ou então algo que é suportável, razoável ou mesmo medíocre. Nada mais humilhante do que o professor dizer ao aluno que seu trabalho foi “sofrível”... faria o referido estudante sofrer muito com isso.
Tirar e deixar no lugar
O verbo “tirar” também tem algumas particularidades. Sacar, fazer sair de algum lugar, despir (tirar a roupa), descalçar (tirar o sapato), extrair (sacar algo de dentro de outra coisa, como tirar o leite da vaca), auferir (tirar proveito de algo), tirar uma reza (fazer uma oração), copiar (tirar cópia), extinguir o uso de algo (tirar de circulação, por exemplo), imprimir (tirar uma edição do livro, daí o termo “tiragem”), libertar (tirar da cadeia), deduzir (tirar uma conclusão), subtrair (tirar o dinheiro do caixa), dormir (tirar uma soneca), tirar a vida (matar), são as forma mais comumente usadas. Mas, há outras que não são comuns, mas, apesar de algumas dúvidas, soam corretas, pois subentendem que se tira algo que permanece no mesmo lugar: tirar a palavra do orador (o sujeito não fica mudo por causa disso), tirar a prova de uma conta (por exemplo, a “prova dos nove”), tirar a sorte (na loteria) e, a pior de todas, “tirar a pressão” (a arterial, “tirada” pelo médico), tirar uma foto. Oriunda do mesmo verbo há a expressão “tirada” para significar, na gíria, alguma afirmação estapafúrdia ou um dito gracioso. Fulano deu uma “tirada” é muito usado especialmente no Nordeste brasileiro. Também pode-se batizar uma criança de um nome “tirado” de algum almanaque.
Vir ou vim?
É comum ouvir essa
expressão: “Você vai vim?”. Quem conjuga o verbo, nesse caso, usando o termo
“vim” em vez de “vir”, certamente nunca freqüentou uma escola ou foi mal aluno
de português. Mesmo que se o usasse corretamente, “você vai vir”, estaria
correto? Talvez o mais certo seria dizer: “Você virá?”; aparentemente os termos
são oriundos do mesmo verbo, mas não: o termo “vir” não se refere ao verbo ir,
mas “chegar”, “comparecer”, etc.
Pior é quando se
diz assim: “Você vai poder vir pra reunião?”. Nesse último caso teremos, então,
três conjugações verbais numa mesma frase, quando o certo seria: “você poderá
vir para a reunião?”
No entanto, dizer
“vai vir” não está errado. Se a expressão “você vai vir” estivesse errada,
então seria errado dizer “Você vai fazer”, “você vai ficar” ou “o mundo vai
mudar”.
O barão de Itararé
criticava a complexidade de nosso idioma com essa frase: “botar a calça e
calçar a bota”, mas, seria correto dizer “botar a calça” ou “vestir a calça?”.
Nesse caso, o verbo botar teria dois sentidos: colocar e vestir. Até mesmo para
as galinhas, das quais se diz que “botam ovos”, não muito diferente de “põem
ovos”. “Botar”, “colocar” e “pôr”, são, pois, verbos com mesmo significado. No
caso do comentário de Itararé, houve apenas a coincidência das palavras bota e
calça pertencerem também à conjugação verbal dos verbos botar e calçar. No
entanto, nem sempre o termo “botar” pode significar “vestir”, pois a pessoa
pode “botar” a calça em qualquer lugar, seja num cabide, numa gaveta, ou, em
cima de si mesmo, o que seria vesti-la.
VOU TE CONTAR...
Pior do que isso
são expressões vulgares, hoje em uso, como essas: “eu nem te conto” e “vou te
contar”. Quando se diz “eu nem te conto” é porque a pessoa vai realmente contar
alguma coisa, e quando se diz “vou te contar” é porque nada vai dizer em
seguida. E quando se diz “pois sim” se quer dizer “não”, e ao se dizer “pois
não” quer dizer “sim”. Quem entende? Mas, nesse caso, a falha de linguagem é
ocasionada pela confusão mental das pessoas e não pelo próprio idioma.
É muito comum se usar essa expressão: "pare um pouco pra pensar", ou "preciso parar para pensar". Ora, para que possamos pensar não é preciso parar: parar o quê? Mesmo em atividade nossa mente não deixa de pensar.
O JEITINHO BRASILEIRO
Segundo reportagem da revista “Língua Portuguesa” (edição 89, de 2013), o linguista John Robert Schmitz (seria brasileiro com esse nome?), da Unicamp, afirma que “jeito” deriva do verbo “jacere” – jacio, jacere, jeci, jactum (lançar, arremessar), “objeto” ou “objeção” (o que está diante) e “sujeito” (por baixo). Lançar para fora (e, ex) é “ejetar”; para dentro é “injetar”. Temos “rejeição” àquilo que deve ser jogado fora (abjeto)..., etc.” Segundo a revista, “o jeitinho seria a extensão dessa ideia corporal para o âmbito das relações sociais”. A mesma revista expõe ainda a opinião de um filósofo, segundo o qual o jeitinho é uma predisposição em ser cooperativo. E concluía que o “jeitinho” não se confundiria com favorecimento ou privilégio, o que acho razoável.
O termo “jeitinho” é sempre utilizado
assim no diminutivo, pois seu nome normal não tem o mesmo significado. Um jeito
é a maneira de se resolver as coisas, mas o jeitinho é uma maneira toda
diferente, não é a forma normal.
Pelo fato disso ter
se disseminado de forma indiscriminada no Brasil, a saída para o “jeitinho”
encontrou lugar até na política e na economia. As empresas, as entidades
financeiras, os economistas e até as autoridades do governo sempre acham um
“jeitinho” para encobrir situações vexatórias ou algumas dificuldades perante o
grande público. Se alguma empresa ou banco vai apresentar prejuízo,
os diretores têm que arranjar um “jeitinho” para que tal não ocorra; se um
ministério está passando por dificuldades, às vezes problemas de corrupções e
escândalos, tem-se que arranjar um “jeitinho” para a coisa ficar encoberta. Se
os políticos que estão no poder aproveitam-se do cargo e roubam, são
aconselhados pelas autoridades que deem um “jeitinho” para que a coisa se
resolva de forma encoberta para que o nome e o prestígio do Governo não fiquem
comprometidos. Talvez tenha sido por isso que houve o famoso caso do
“mensalão”, quando dezenas de políticos foram pegos em contravenções
escandalosas, mas o Governo tentou a todo custo encobrir tudo. Aqui o
“jeitinho” se confunde com esperteza.
E chegou ao ponto
das próprias autoridades econômicas serem criticadas no exterior por procurarem
sempre arranjar o tal “jeitinho” para encobrir as mancadas e falhas do nosso
sistema político-econômico. O nosso ministro da fazenda chegou a ser chamado
pela mídia americana, em 2013, de “profissional do jeitinho” (lá a expressão
usada é “little way” – pequeno jeito), haja vista que o mesmo teria feito
várias manobras contábeis com o Tesouro Nacional com vistas a justificar o
cumprimento das metas fiscais programadas pelo Governo. A manobra foi
facilmente descoberta pelos economistas, e o “jeitinho” foi denunciado como
prática normal por aqui.
Mas, afinal, como
caracterizar uma situação em que o uso do “jeitinho” seja lícito e até
aconselhável?
Segundo alguns
historiadores, essa quase mania de tudo se resolver com um “jeitinho” não
nasceu aqui entre nós, mas seria uma herança de nossos bons colonizadores. E a
fórmula do “jeitinho” já era muito usada em Portugal desde os tempos do Rei Dom
João I (séc. XIV), mas não teria sido ele o principal responsável, e não teria
sido nenhum português, mas uma inglesa, a rainha Dona Filipa de Lencastre. Numa
época rigorosa, em que tudo se fazia com disciplina e rigor, era necessária
alguma fórmula caridosa de amortecer as tensões sociais, e isso a rainha o
fazia através do “jeitinho” muito peculiar de seu sexo e de sua religiosidade,
repetida pelos filhos e nobres da corte, logo se disseminando pela população e
sendo transposta para o Brasil.
Este “jeitinho”
português que a rainha tão bem praticava de modo correto era fruto da bondade,
virtude muito peculiar entre cristãos, e que procura sempre tentar amenizar o
sofrimento do próximo. Não é bem assim que pensam alguns povos que sofreram
muito fortemente os efeitos do humanismo e da Renascença, para os quais as
regras existem para serem aplicadas com rigor..
Dessa forma,
podemos caracterizar algumas situações em que o uso do “jeitinho” pode ser
lícito e até aconselhável, e outras em que as pessoas o usam mais como
esperteza para ludibriar e se sair de enrascadas. A maioria dos “jeitinhos”
lícitos são decorrentes do excesso da burocracia, onde há uma infinidade de
exigências com papéis, muitas delas absurdas e sem sentido. Por exemplo, se
você vai se matricular numa escola e, entre os papéis, há um que o funcionário
quer devolver porque não é uma cópia perfeita, ou por outro motivo, não custa
nada apelar para o “jeitinho” pedindo, por exemplo, que o funcionário aceite
aquele papel sob a promessa de vir depois trazer outro na forma exigida. Mas há
os casos em que o “jeitinho” pode se consumar numa ação criminosa, como pedir a
um policial para “deixar passar” alguma infração grave (às vezes sob promessa
de propinas) e os citados acima nos casos de situações econômicas complicadas.
LAVAR
A ALMA
Como
é que uma alma pode ser lavada? É claro que a expressão é utilizada em sentido
figurativo. Há muitos sentidos, sendo o mais comum o de natureza espiritual
pelo fato de referir-se ao espírito propriamente dito, quer dize, nossa alma.
Diz-se que lavar a alma é usada também com a ideia de uma purificação interior
em comparação com a do corpo que é lavado.
Geralmente se usa quando alguém sente um alívio perante uma situação
difícil ou, em muitos casos, quando é surpreendida com um grande benefício
inesperado. “O sujeito ficou de alma lavada quando soube que ganhara a causa...”.
Ou então quando a pessoa desabafa um sentimento recolhido por causa de alguma dificuldade:
ao superar tal impasse, diz: “agora estou de alma lavada porque disse tudo o
que pensava...”, etc.
PESAR
O verbo pesar significa medir o peso de uma coisa colocando-a numa balança. No entanto é muito utilizado com outro significado: o sentimento de tristeza, de comiseração, de pena; no caso de referir-se a tal sentimento por alguém que morre é chamado de “pêsames”, isto é, um pesar profundo. Também o pesar tem o sentido da sensação de mágoa ou de remorso por ter se arrependido por ter feito ou dito alguma coisa que feriu o próximo. Diz-se que tem pesar lamentando ter cometido algum erro ou algo que incomodou os demais. “É com pesar que peço desculpas por tais erros...”, etc.