a
alma verdadeiramente católica deseja ser
aconselhada por outrem, e ninguém mais do que Nossa Senhora para dar um bom
conselho. Entretanto, Ela, ao aconselhar, muitas vezes o faz
imperceptivelmente, despertando na alma desejos e pensamentos, desviando o espírito
das coisas vãs.
A Mãe
do Bom Conselho
Esta é uma invocação muito bonita, porque indica
Nossa Senhora em uma das tarefas mais maternas, mais próprias à Rainha do
Universo, que é exatamente a de dar o bom conselho.
Como Rainha do Universo, Nossa Senhora governa
tudo. O próprio de quem governa é não só dar ordens como também dar conselhos.
E para aqueles que amam verdadeiramente Nossa Senhora, todos os conselhos d’Ela
valem como ordem.
A invocação bem exata é Mãe do Bom Conselho; é a
Mãe considerada enquanto dando um conselho, uma orientação a um filho
espiritual d’Ela, a um filho gerado por Ela na ordem sobrenatural, como somos
todos nós.
Se quisermos penetrar mais a fundo, Nossa Senhora,
por sua intercessão onipotente, obtém de Deus para as almas perturbadas, que
não sabem o que fazer diante de certa emergência, o conselho de que necessitam,
a solução que procuram e que pareceria impossível alcançar; porque elas
analisam a situação e não encontram em seus recursos intelectuais uma
orientação rectrix a seguir, precisando, portanto, de um conselho para
saber como devem proceder.
Pedindo a Nossa Senhora do Bom Conselho, a Nossa
Senhora enquanto Mãe dos homens desvairados, que não sabem como se orientar,
Ela se compadece deles e os orienta.
Todos nós sabemos que o espírito humano é
susceptível de erro, de grandes perplexidades e muitas vezes não é capaz por si
mesmo de atinar com a solução de um problema que tenha diante de si. Nessa
situação, é necessário o conselho de uma mentalidade mais alta, que vê mais,
que irá explicar e traçar uma diretriz para seguir.
Habitualmente nós consideramos o conselho como uma
norma para a ação. Esse é o significado corrente da palavra conselho. E, nesse
sentido, cabe dizer que para toda espécie de ações, mesmo as interiores e
espirituais, Nossa Senhora pode dar um conselho, uma norma.
Por exemplo: uma pessoa solitária está com uma perplexidade
espiritual muito grande: continuará ou não a ter uma devoção? Deixará ou não de
se abster disto ou daquilo? Como fará? É um problema puramente interior,
relativo a um fazer que é um mero fazer do espírito e que não se traduz, a não
ser por vias de consequências, numa operação externa. O homem pode ter
perplexidades a esse respeito e, tendo-as, precisa de uma ajuda: um conselho
espiritual, um conselho para as dificuldades de apostolado, para os estudos,
para o trato com os outros, para tudo.
Necessidade
do conselho e seu papel nas instituições ocidentais
Nós podemos dizer que um dos frutos da Idade Média,
da Civilização Cristã, é o ter tornado bem clara essa necessidade do conselho
como uma norma de vida vigente até mesmo nas instituições civis ocidentais.
Se analisarmos a primitiva história das monarquias
pagãs do Oriente, mesmo das grandes como a do Egito, da Pérsia, da China, do
Japão, notamos que, em geral, o monarca era absoluto, tinha o poder de dispor
dos seus súditos como entendesse e quase não ouvia conselhos. De vez em quando
aparecia alguém que dava um parecer a respeito de determinada situação, mas o
conselho como uma instituição que o soberano
consultava com rotina, aquilo que nós chamamos de Conselho de Estado,
não existia. O monarca ficava no seu isolamento, resolvendo as coisas por si e
tomando as decisões.
Na Idade Média vemos aparecer a instituição do
Conselho. Reconhecendo a precariedade, a falibilidade do espírito humano, os
monarcas nomeavam Conselhos, órgãos coletivos diante dos quais o rei costumava
levar seus problemas mais importantes. Estes eram debatidos em reunião e o rei
aceitava ou não a solução proposta, mas habitualmente ele resolvia tudo com o
seu Conselho.
Essa ideia passou da monarquia para as outras
formas de governo que havia na Idade Média. As repúblicas aristocráticas
governam-se por Conselhos. Por exemplo, o famoso Conselho dos Dez de Veneza,
que assessorava o Doge e tinha um poder enorme; as repúblicas burguesas, as
cidades livres da Alemanha, eram governadas por Conselhos, sendo o burgomestre
a expressão de um Conselho eleito pela cidade. Assim foi se afirmando o
princípio de que ter um Conselho é o complemento natural de todo governo.
Pedir conselho, uma
postura católica por excelência
Mas, se os homens devem pedir conselhos uns aos
outros, se devem reconhecer que por si mesmos têm dificuldade de encontrar a
sua própria via em circunstâncias espinhosas, então é sobretudo verdade que
convém a eles, podendo se comunicar com Deus por meio da oração, que a Ele
peçam o conselho. Deve ser um dos hábitos de nossa vida espiritual, de nossa
piedade, pedirmos que Nosso Senhor nos ilumine e nos faça compreender aquilo
que devemos fazer.
É conhecido o fato, mais de uma vez mencionado por
mim, de São Tomás de Aquino: quando tinha problemas filosóficos muito delicados
e difíceis, que não conseguia resolver, ele introduzia a cabeça dentro do
Sacrário e ficava ali rezando para o Santíssimo Sacramento até que viesse a
solução desejada. Essa postura de alma de não só pedir conselho aos outros,
mas, sobretudo, pedi-lo a Deus, no campo natural e no campo sobrenatural, é a
postura católica por excelência.
Se nós vemos tantas pessoas que se curam de uma ou
outra doença, que vão a Aparecida e deixam objetos de cera para lembrar o milagre,
pedem graças de toda ordem e as recebem, às vezes graças materiais, Deus Nosso
Senhor, a fortiori, que Se encarnou para salvar as nossas almas – e não
para salvar os nossos corpos que a morte vai devorar -, Ele deseja nos dirigir,
nos fazer conhecer a verdade e o bem no campo espiritual.
O mais alto, o maia belo conselho é, evidentemente,
a Deus Nosso Senhor, autor de toda verdade, de todo bem e de toda luz, que
devemos pedir, e a atitude habitual de fazê-lo por meio de jaculatórias,
deveria ser comum e corrente entre nós em todas as nossas perplexidades.
Como
são os conselhos d’Ela?
Ora, Nossa Senhora é a intermediária de todas as
graças; é Ela quem leva a Deus Nosso Senhor os nossos pedidos e é Ela quem traz
para nós a graça do bom conselho, aquilo que Espírito Santo comunica a Ela e
que nós devemos saber para nossa orientação.
Como Nossa Senhora aconselha o íntimo de nossas
almas? Ela o faz pela voz da graça, por meio de uma iluminação interior, de um
discernimento especial, de uma palavra que vem de um bom amigo ou de um bom
diretor, enfim, de um livro que encontramos. Foi, por exemplo, o que aconteceu comigo com O
Livro da Confiança do Abbé Saint-Laurent, que tanto me ajudou nas vias da
confiança. Eu o comprei apenas para agradar a um vigário amigo e gentil que me
tinha convidado para ir a uma feira de livros.
De um modo ou de outro, Nossa Senhora nos faz
chegar o conselho que nós queríamos.
Em todas as ocasiões é sumamente importante a
invocação de Nossa Senhora enquanto Conselheira, enquanto Padroeira que pede a
Deus que os montes se movam e os rios alterem o seu curso para que a axiologia
do coração de seus filhos se desenvolva de um modo reto e satisfatório.
Conselhos
vindos pela união de almas
Os bons conselhos aparecem na alma sobretudo pela
voz da vocação. Sempre que ouvirmos algo em nosso interior ou fora de nós que
está na linha da vocação; sempre que sentimos um movimento que nos dá, de
repente, apetência de algum bem; sempre que a graça inspire dentro de nós
apreensão diante de algum mal; sempre que recebamos uma influência que nos
santifica, devemos tomar isso como um bom conselho.
O modo pelo qual nós recebemos de Nossa Senhora,
permanentemente, bons conselhos, é nos unindo àqueles que devem ser os planetas
em torno dos quais nós devemos gravitar como satélites. O satélite não sai da
órbita porque ele gira em torno de seu planeta. Assim também nós não saímos da
órbita se estamos unidos interiormente com os que devem nos aconselhar.
Não se trata apenas de pedir um conselho, mas de ter
uma tal união de almas, que, por assim dizer, ambos tenham o mesmo espírito, a
mesma mentalidade, a mesma vontade; seguir o que o planeta deseja, antes mesmo
de o ter manifestado.
Há um exemplo maravilhoso de união de almas que eu
estou lendo agora na vida de Santa Teresinha do Menino Jesus: são as relações
fraternas dela com Celina, irmã quatro anos mais velha do que ela. Durante
muito tempo, Celina não foi carmelita porque cuidava do pai, Monsieur Martin,
que estava muito doente. Santa Teresinha, já no Carmelo, se correspondia com
Celina, e as cartas dela indicam essa união de almas. Celina teve a glória, não
sei como qualificar, de ser, de algum modo, a inspiradora de Santa Teresinha. E
Santa Teresinha, pela união de almas, quase que continuamente tendendo para
Celina como para seu próprio polo. O que, evidente, nos dá uma vivíssima
desconfiança de que Celina também venha a ser canonizada.
Vê-se aí quase uma espécie de fusão de almas, uma
interpenetração por onde ambas vivem da mesma graça. E Santa Teresinha tem
trechos de uma beleza inimaginável a respeito disso.
Esses são os moldes pelos quais nós recebemos os
bons conselhos de Nossa Senhora. Os mais preciosos, fecundos e sadios dos bons
conselhos imponderáveis dentro da alma, são os que nos vêm por certas ideias,
movimentos interiores, sugestões que sentimos, os quais nos aproximam, nos
integram na nossa vocação, e isso pela ação direta de uma alma, levando-nos
para a santidade e para o bem.
Nós deveríamos pedir a Nossa Senhora que Ela, por
essa forma, nos encha dos conselhos maternais d’Ela para assim alcançarmos não
só a maior das uniões com Deus, mas sobretudo das uniões com Ela.
A Mãe
do Bom Conselho, auxílio dos contrarrevolucionários
Nossa Senhora do Bom Conselho é a Mãe dos aflitos –
aflitos, porque desorientados. Quem mais desorientados em nossos dias que o
contrarrevolucionário? Tudo no mundo cotidiano, no mundo revolucionário, no
mundo do caos, parece falar contra nós, mentir-nos e levar-nos para o erro e
para o mal. Que remédio há para isso a não ser um bom conselho? E quem o dá
neste mundo desvairado?
Ninguém mais e melhor do que Nossa Senhora do Bom
Conselho! Ela é, portanto, por excelência, a Mãe e a Conselheira do
contrarrevolucionário desgarrado nas aflições e nas penumbras, para não falar
nas trevas do mundo de hoje.
Cabe aqui uma resolução prática para nossa vida
espiritual: não fazermos nada de importante sem pedir a Ela um conselho. A
Nossa Senhora nós devemos pedir tudo e com frequência, mesmo as coisas
pequenas, porque Ela gosta de ser invocada também nas oportunidades
aparentemente secundárias. Não sabemos resolver uma coisa? Rezemos: “Minha Mãe,
aconselhai-me”.
O habitual pedido do bom conselho é uma postura
altamente recomendável para o contrarrevolucionário. Nós vivemos numa batalha
intelectual e doutrinária, somos envolvidos a todo instante pelas influências
da Revolução; e, ainda que sejamos bons contrarrevolucionários e procuremos
assumir com fidelidade a doutrina dada, sem embargo, a Revolução é de tal
maneira envolvente, que muitos se queixam de notarem em sua alma permeações
revolucionárias. Se assim é, haverá propósito melhor que o de pedir a Nossa
Senhora que nos consiga as luzes e os conselhos e nos advirta sempre, no
interior da alma, contra as coisas revolucionárias? Que Ela nos aconselhe
sempre: “Meu filho, aquilo é revolucionário, não aceite. Aquilo é heterodoxo[1],
não aceite. Aqui conduz ao mal, é imoral, não aceite”.
Nesse sentido, a invocação de Nossa Senhora do Bom
Conselho é idêntica à invocação de Nossa Senhora da Fidelidade
Contrarrevolucionária. É por meio das orações d’Ela que nós obteremos essa
fidelidade.
Nós podemos pedir a Ela que nos dê os conselhos não
só em toda ocasião de dúvida, mas também naquelas ocasiões nas quais não temos
dúvidas e nossa alma não se lembra de pedir, ou não tem vontade de receber os
conselhos que nem pensamos serem necessários. Imploremos que Ela nos abra os
olhos para aquilo que precisaríamos ver, dizendo: “Minha Mãe, dai-me o bom
conselho que Vós julgais conveniente, mesmo numa hora em que eu não perceba ser
aquele assunto importante”. Quer dizer, pedir para ser aconselhado
continuamente por Nossa Senhora.
Quantos praticam com muito resultado a devoção às
almas do Purgatório, pela qual pedem a elas que os acordem de manhã a tantas
horas? Se as almas do Purgatório, por uma pequena oração, nos indicam a hora
certa, quanto mais Nossa Senhora que é incomparavelmente superior a todos os
santos e, portanto, também às almas do Purgatório. Ela tem uma ciência de Deus
como ninguém; além do mais, Ela é Mãe de Deus e Onipotência Suplicante.
Bem entendido, esse conselho, no mais das vezes,
não virá de modo extraordinário... As almas do Purgatório quando acordam as
pessoas pela manhã, atuam discretamente. Nossa Senhora, a fortiori... Ela
não aparece, mas desperta na alma certo pensamento, desvia o espírito para
outro lado, nos faz notar, de repente, alguma coisa...
Às vezes eu vejo pessoas abatidas, tristes, com
perplexidades e eu tenho vontade de dizer: “Mas meu caro, por que você vem
pedir conselho a mim? Você já pediu a Nossa Senhora do Bom Conselho? Não é uma
coisa incomparável? Do que adiante eu lhe dar um conselho, se Nossa Senhora não
reforçar o meu conselho junto à sua alma? Simplesmente pelo valor lógico do meu
conselho, eu posso muito pouco. Pelo contrário, com o apoio d’Ela pode-se
tudo”.
Peçam sem cessar o auxílio d’Ela e obterão uma
renovação na sua vida espiritual, eficácia no seu apostolado, sagacidade nos
métodos de ação em todos os campos. Ela sabe tudo, pode tudo e para nós quer
tudo.
Padroeira
em momentos difíceis
É preciso admitir como provável que não
estejamos todo o tempo juntos, e que em muitas ocasiões, pessoas às quais
recorremos habitualmente para pedir um conselho não estarão ao nosso alcance.
Teremos que resolver nós mesmos, e haverá o perigo de o desânimo e o desengano
invadirem nossas almas e as fazerem cair no meio da via da confiança e do
sucesso.
Nossa Senhora do Bom Conselho será, por
excelência, nossa padroeira nesta via de encontrar o conselho que nos mantenha
confiantes, certos de que aquilo que é axiológico acontecerá, e por essa
maneira nos será dada a vitória.
Mais do que nunca, a festa de Nossa Senhora do
Bom Conselho é a festa dos contrarrevolucionários. É uma festa individual de
cada contrarrevolucionário, pois ele tem a alegria – que tão poucos homens na
Terra têm – de voltar-se para Ela e dizer: “Mãe do Bom Conselho, Vós não me
desamparareis. Tende pena de mim e dai-me uma orientação”.
(Extraído da revista “Dr. Plínio”, n. 326, maio
de 2025, págs. 20/24)
[1]
Heterodoxia é tudo aquilo que é contrário às normas, por exemplo, as heresias e
erros doutrinários contrários à Verdade revelada.
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