“106.
Realize, veneráveis irmãos, estes nossos paternos votos, que sem dúvida são
também os vossos, e alcance-nos a todos verdadeiro amor para com a Igreja,
a Virgem Mãe de Deus, cuja alma santíssima foi mais repleta do divino
Espírito de Jesus Cristo que todas quantas saíram das mãos de Deus, e que
"em nome de toda a natureza humana" deu o seu consentimento para
que se efetuasse o "matrimônio espiritual entre o Filho de Deus e a
natureza humana". Ela foi que com parto admirável, porque fonte de
toda a vida celestial, nos deu Cristo Senhor nosso, já no seu seio virginal
ornado da dignidade de cabeça da Igreja; e recém-nascido o apresentou aos
primeiros dentre os judeus e gentios que o foram adorar qual Profeta, Rei e
Sacerdote. Foi ela que com seus rogos maternos "em Caná da
Galiléia" moveu o seu Unigênito a operar o admirável prodígio, pelo
qual "creram nele os seus discípulos" (Jo 2,11). Foi ela, a
Imaculada, isenta de toda a mancha original ou atual, e sempre intimamente
unida com seu Filho, que, como outra Eva, juntamente com o holocausto dos
seus direitos maternos e do seu materno amor, o ofereceu no Gólgota ao
Eterno Pai por todos os filhos de Adão, manchados pela sua queda miseranda;
de modo que a que era fisicamente Mãe da nossa divina cabeça foi, com novo
título de dor e de glória, feita espiritualmente mãe de todos os seus membros.
Foi ela que com suas eficacíssimas orações obteve que o Espírito do divino
Redentor, dado já na cruz, fosse depois em dia de Pentecostes conferido com
aqueles dons prodigiosos à Igreja recém-nascida. Ela finalmente, suportando
com ânimo forte e confiante imensas dores, verdadeira Rainha dos mártires,
mais que todos os fiéis, "completou o que falta à paixão de Cristo...
pelo seu corpo que é a Igreja" (Cl 1,24), e assistiu o corpo místico
de Cristo, nascido do Coração rasgado do Salvador, com o mesmo amor e
solicitude materna com que amamentou e acalentou no berço o menino Deus.
107.
Ela pois, Mãe santíssima de todos os membros de Cristo,) a cujo Coração Imaculado
confiadamente consagramos todos os homens, e que agora em corpo e alma
refulge na glória e reina juntamente com seu Filho, nos alcance dele que
sem interrupção corram os caudais da graça da excelsa cabeça para todos os
membros do corpo místico, e, como nos tempos passados, assim hoje proteja a
Igreja com seu poderoso patrocínio e lhe obtenha finalmente a ela e a toda
a humana sociedade tempos mais tranqüilos.
108.
Confiado nesta celeste esperança, como penhor das graças celestes e
atestado da Nossa particular benevolência, a todos e a cada um de vós,
veneráveis irmãos, e aos rebanhos a vós confiados, concedemos de todo o
coração a bênção apostólica.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 29 de
junho, festa dos Santos apóstolos Pedro e Paulo, no ano de 1943, V do nosso
pontificado. PIO PP. XII”
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