A
primeira referência bíblica do opróbrio que pesava sobre a mulher está no
Gênesis: "Multiplicarei os teus trabalhos, e (especialmente os de) teus
partos. Darás à luz com dor os filhos, e estarás sob o poder do marido, e ele
te dominará" (Gn 3, 16). Se a partir do pecado original, como castigo,
Deus colocou a mulher "sob o poder do marido", isso significa que
antes inexistia tal dominação, mas o casal vivia em estado de graças e na mais
completa inocência. Se ela foi criada,
Deus visava com isso o bem da própria mulher, cujo pecado havia sido maior e a
tornava objeto mais fácil das tentações.
Esta máxima bíblica, estabelecendo uma contundente desigualdade entre o
casal humano (pois Deus estabeleceu que a mulher obedecesse ao homem como
cabeça do casal) é o motivo principal da revolta do movimento feminista, odiando
toda e qualquer desigualdade, mesmo legítima e posta por Deus, e querendo impor
uma igualdade sonhada e quimérica, como o são todas as igualdades.
A respeito da Virgem Maria,
por exemplo, é importante que se veja o que o Anjo disse sobre Ela: “Bendita
entre todas as mulheres”. Segundo São Bernardo isto quer dizer: Bendita sobre
todas e mais que todas as mulheres, posto que tu foste Virgem, Mãe e Mãe de
Deus. Não há como não se referir a este fato lendo o que diz o Gênesis sobre o
opróbrio que caiu sobre a mulher. Pois o
fato de ser "bendita entre todas as mulheres" significa que sendo
Virgem antes e depois do parto a Mãe de Deus estava livre daquele opróbrio,
pois Ela haveria de ter um filho naquela condição. O que não ocorre com as
demais mulheres. Há n’Ela, portanto, uma singular e grandiosa desigualdade, que
a distingue de todas as mulheres que existiram e que existirão até o fim do
mundo.
As mulheres, no Antigo
Testamento, estavam submetidas a uma destas três situações: de opróbrio, de
pecado ou de suplício. A de opróbrio afetava às que não tinham filhos; neste
caso havia estado, por exemplo, Raquel, que a ela havia se referido quando
disse: “O Senhor me livrou do opróbrio em que me achava”. A de pecado alcançava
às que concebiam: esse é o sentido das palavras do Salmo 50: “Olha que em
maldade fui formado e em pecado concebeu minha mãe”. A de suplício recaia sobre
as parturientes, as quais, como se adverte no Gênesis, “parirão com dor”.
No entanto, a Sagrada
Escritura não se refere à mulher apenas com a idéia de opróbrio, pecado e
sofrimento. A importância da mulher é dada na Escritura enquanto corresponde às
graças divinas. Assim, lá se refere à mulher como vitoriosa, vencendo o demônio
em forma de serpente, quando diz: “Porei inimizades entre ti e a mulher, e
entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça, e tu
armarás ciladas ao seu calcanhar” (Gên 3, 15). A referência à "mulher"
é para que Deus seja glorificado nela através da vitória sobre o pecado, assim
como ela também foi a principal causadora.
São Paulo, em suas epístolas,
refere-se à situação da mulher em algumas oportunidades, como esta: “a mulher é a glória do homem. De fato, o
homem não foi feito da mulher, mas a mulher do homem. E o homem não foi criado
por causa da mulher, mas sim a mulher por causa do homem (I Cor 11, 3-15).
Argumento muito simples e coerente: há na família uma hierarquia posta por
Deus, tanto conforme a natureza a fez como também por causa das conseqüências do
pecado original, pela qual o homem é a cabeça, é o chefe e regedor de todos,
inclusive da mulher, pois foi esta criada, conforme São Paulo, “por causa do
homem”.
Por causa disso, pela boa
ordem das coisas "A mulher aprenda,
em silêncio, com toda a sujeição. Não permito à mulher que ensine, nem que
tenha domínio sobre o homem, mas esteja em silêncio, porque Adão foi formado
primeiro, e depois, Eva. Adão não foi seduzido, mas a mulher (é que, sendo)
seduzida, prevaricou. Contudo, salvar-se-á pela educação dos filhos, se
permanecer na fé, na caridade e na santidade, unidas á modéstia" (I Tim 2,
9-15). Quando diz “mulher não ensine” está se referindo à pregação da
liturgia ou homilia, pois isso sempre foi reservado aos sacerdotes até os dias
atuais.
Em outro lugar, lembra ele daqueles que fizeram votos de virgindade: Quem está sem mulher, está cuidando das coisas que são do Senhor, como há de agradar a Deus... E a mulher solteira e virgem cuida das coisas que são do Senhor, para ser santa de corpo e de espírito" (I Cor 7, 32-34).
O
apostolado das mulheres nas missões de São Paulo
No entanto, São Paulo teve várias mulheres
que colaboraram com ele em suas pregações. Não era diferente das palavras como
o Apóstolo considerava a presença feminina em seu apostolado. Eis um relato de
um respeitado biógrafo:
“Quem
haveria de pensar que o Evangelho faria sua entrada na Europa tão calada e
ocultamente? Não solenemente como no Areópago ante os filósofos, não
dramaticamente como em Chipre ante o homem de Estado, mas em forma de idílio
como uma manhã de verão fresca pelo rocio ou como uma deliciosa aurora no
Oriente. Estes suaves e contudo vigorosos tons de sentimento introduziu a
mulher no Evangelho já no tempo de Jesus. E em Filipos continua ecoando. Quando
o Evangelho veio para a Europa, chegou primeiramente para as mulheres, porque
os homens não estavam presentes, como também entre os samaritanos foi uma mulher
a que Jesus iniciou no mistério do reino de Deus. As mulheres foram as últimas
ao pé da cruz, na sepultura, assim as primeiras junto ao sepulcro vazio. Nas
tristes histórias de hipocrisias, ódios, perseguições, injúrias, deserções e
covardes fugas não encontramos no Evangelho mulher alguma. Os homens, como mensageiros
da fé,e missionários e defensores dos interesses religiosos estão, na verdade,
mais na luz do reverbero; porém, onde estaria a Europa cristã sem a mulher
cristã em casa como mãe, esposa, irmã, como auxiliadora virginal-maternal da miséria
de todas as classes? São Paulo teve para este lado da feminilidade uma profunda
compreensão e foi o primeiro em empregar a mulher ativamente na missão. Ele
aprecia a mulher dotada de gênio, como Priscila que instrui ao douto Apolo. Em
qualquer de suas cartas dispensa saudações e reconhecimento para as mulheres.
Reconhece os serviços de Cloe em Corinto, de Febe em Cencreas, a quem confia
sua carta aos romanos, e o ser pequena mulher a mãe de Rufo que foi também para
ele uma mãe. Quando escreve ao rico comerciante Filemon não esquece de saudar
sua esposa Apfia. Aprecia especialmente o trabalho da mulher de família e a
educação dos filhos, pela qual a mulher adquire o céu; aprecia as filhas
virgens de Filipe de Cesarea, dotadas de profecia; seu cuidado se dirige também
às boas viúvas, que se destacavam no campo da caridade e por isso eram mantidas
pela comunidade (I Tim 5, 3-16). Como profundo conhecedor do gênero humano tem
uma olhada para todos os bons lados do caráter feminino. As nobres mulheres de
Filipos como santas figuras estão às portas da Europa, como se quisessem
recordar a todas suas irmãs desta parte do mundo que as mulheres da Europa têm
na Igreja cristã um santo destino, de ser sacerdotisas, às quais se confiou em
primeiro lugar o sagrado fogo que fez feliz e grande a nossa parte do mundo.
Mas tampouco devemos esquecer àqueles nobres varões, como Epafrodito, a quem São Paulo chama seu “companheiro de armas, co-militante e colaborador”, que visita o Apóstolo preso em Roma e lhe traz presentes. Também Clemente e Sicigo (se realmente esta última palavra é um nobre mesmo) e muitos outros.estão ao lado daquelas mulheres, e em verdade com tal constância que São Paulo sabe estar escritos seus nomes no livro da vida (Fil. 4, 3)[1]
[1] “San Pablo – Heraldo de Cristo” – de Josef Holzner – Editorial Herder, Barcelona, 1956 – págs. 180/185
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